Testemunhos para a Igreja 6
Capítulo 27 — A obra espiritual do médico
Todos os que exercem a medicina podem, pela fé em Cristo, ter em sua posse uma cura do mais alto valor, um remédio para a alma enferma de pecado. O médico convertido e santificado pela verdade é registrado no Céu como um cooperador de Deus, um seguidor de Jesus Cristo. Mediante a santificação da verdade, o Senhor dá aos médicos e enfermeiras sabedoria e habilidade para tratar os enfermos, e essa obra vai abrindo a porta firmemente fechada de muitos corações. Homens e mulheres são levados a compreender a verdade necessária para a salvação. T6 229.1
Esse é um elemento que distingue a obra para este tempo. A obra médico-missionária é como o braço direito da terceira mensagem angélica, que deve ser proclamada ao mundo caído; e os médicos, os administradores, e os obreiros em qualquer ramo, desempenhando-se fielmente de sua parte, estão fazendo a obra da mensagem. Assim o som da verdade irá a toda nação, tribo, língua e povo. Nesse trabalho, os anjos fazem uma parte. Despertam alegria e melodia espirituais no coração dos que foram libertados do sofrimento, e ascendem a Deus ações de graças dos lábios de muitos que receberam a preciosa verdade. T6 229.2
Todo médico em nossas fileiras deve ser cristão. Unicamente os que são genuínos cristãos bíblicos se podem desempenhar devidamente dos altos deveres de sua profissão. T6 229.3
O médico que compreende a responsabilidade de sua posição sentirá a necessidade da presença de Cristo com ele em sua obra em benefício daqueles por quem foi feito tal sacrifício. Subordinará tudo aos mais elevados interesses que dizem respeito à vida que pode ser salva para a eternidade. Fará tudo ao seu alcance para salvar tanto o corpo como a alma. Procurará fazer justamente a obra que Cristo faria se estivesse em seu lugar. O médico que ama a Cristo e as pessoas por quem Cristo morreu, buscará fervorosamente levar para o quarto do doente uma folha da árvore da vida. Ele procurará partir o pão da vida com o sofredor. Não obstante os obstáculos e dificuldades a serem enfrentados, essa é a obra sagrada e solene da profissão médica. T6 229.4
A verdadeira obra missionária é aquela em que a obra do Salvador é mais bem representada, mais exatamente copiados os Seus métodos, Sua glória melhor promovida. A obra missionária que falha em atingir essa norma, é registrada no Céu como deficiente. É pesada na balança do santuário e achada em falta. T6 230.1
Os médicos devem procurar encaminhar o espírito dos doentes para Cristo, o Médico da alma e do corpo. Aquilo que os profissionais da saúde apenas podem tentar fazer, Cristo realiza. O agente humano se esforça para prolongar a vida. Cristo é a própria vida. Aquele que passou pela morte a fim de destruir o que tem o império da morte, é a Fonte de toda vitalidade. Há bálsamo em Gileade, há Médico. Cristo suportou morte angustiosa, sob as mais humilhantes circunstâncias, para que pudéssemos viver. Depôs Sua vida preciosa a fim de vencer a morte. Mas surgiu da tumba, e as dezenas de milhares de anjos que vieram assistir o retomar Ele a vida que depusera, ouviram-Lhe as palavras de triunfante alegria quando Ele Se ergueu do fendido sepulcro de José, proclamando: “Eu sou a ressurreição e a vida.” T6 230.2
A pergunta “Morrendo o homem, porventura tornará a viver?” foi respondida. Ao sofrer a pena do pecado, baixando à sepultura, Cristo iluminou a sepultura para todos quantos morrem na fé. Deus em forma humana, trouxe à luz vida e salvação pelo evangelho. Morrendo, assegurou Cristo a vida eterna a todos que nEle crêem. Morrendo, condenou o originador do pecado e a infelicidade de sofrer a pena do pecado: a morte eterna. T6 230.3
Possuidor e doador da vida eterna, Cristo era o único Ser que podia vencer a morte. Ele é nosso Redentor; e bem-aventurado é todo médico que, no verdadeiro sentido da palavra, é um missionário, um salvador de almas por quem Cristo deu a vida. Tal médico aprende dia a dia do Grande Médico a cuidar e trabalhar pela salvação e cura de homens e mulheres. O Salvador acha-Se presente no quarto do doente, na sala de cirurgia; e Seu poder opera grandes coisas para glória do Seu nome. T6 231.1
O médico pode efetuar um nobre trabalho, desde que esteja ligado ao Grande Médico. Ele pode encontrar oportunidade de dirigir palavras de vida aos familiares do doente, cujo coração está cheio de simpatia pelo sofredor; e pode acalmar e erguer o espírito do paciente levando-o a olhar Àquele que pode salvar perfeitamente todos quantos se aproximam dEle em busca de salvação. T6 231.2
Quando o Espírito de Deus opera na mente do enfermo, levando-o a indagar a verdade, trabalhe o médico pela preciosa alma como faria Cristo. Não deve insistir com ele sobre qualquer doutrina especial, mas encaminhá-lo a Jesus como o Salvador que perdoa os pecados. Os anjos de Deus impressionarão a mente. Alguns se recusarão a ser iluminados pela luz que Deus deseja fazer brilhar nas recâmaras da mente e no templo da alma; muitos, porém, corresponderão a essa luz, e desses espíritos serão banidos o engano e o erro em suas diferentes formas. T6 231.3
Toda oportunidade de trabalhar, como fez Cristo, deve ser cuidadosamente aproveitada. O médico deve falar acerca das obras de cura realizadas por Cristo, de Sua benignidade e amor. Ele deve crer que Jesus é seu companheiro, que lhe está de fato ao lado. “Somos cooperadores de Deus.” 1 Coríntios 3:9. Nunca deve o médico negligenciar o encaminhamento do espírito dos doentes a Cristo, o Médico dos médicos. Uma vez que ele tenha o Salvador no coração, seus pensamentos serão sempre dirigidos ao Restaurador do corpo e da alma. Conduzirá a mente dos aflitos Àquele que pode restaurar, que, quando na Terra, restituía o enfermo à saúde, e curava a alma da mesma maneira que o corpo, dizendo: “Filho, perdoados estão os teus pecados. ” Marcos 2:5. T6 231.4
Jamais a familiaridade com o sofrimento deve fazer com que o médico se torne descuidoso ou destituído de compaixão. Em casos de doenças perigosas, o enfermo sente achar-se na dependência do médico. Olha-o como sua esperança terrestre, e o médico deve sempre encaminhar a alma tremente Àquele que lhe é superior, ao Filho de Deus, que deu a vida a fim de salvá-lo da morte, que Se compadece do sofredor e que, por Seu divino poder, dará habilidade e sabedoria a todos quantos as peçam a Deus. T6 232.1
Quando o paciente ignora qual o desenlace de seu caso, é a ocasião de o médico impressionar-lhe a mente. Não o deve fazer movido do desejo de distinguir-se, mas a fim de dirigir a alma para Cristo como um Salvador pessoal. Caso a existência seja poupada, há uma alma por quem cumpre ao médico cuidar. O paciente acha que o médico é a própria vida de sua vida. E para que fim deve essa grande confiança ser empregada? Sempre para ganhar uma pessoa para Cristo, e engrandecer o poder de Deus. T6 232.2
Quando a crise passar e manifestar-se o êxito, seja o doente crente ou não, devem ser consagrados alguns momentos para orar com ele. Essa é a oportunidade para exprimir o reconhecimento pela vida que foi poupada. O médico que segue essa orientação leva seu paciente Àquele de quem ele depende para viver. Palavras de gratidão podem brotar da parte do doente para com o médico, pois, por Deus, ele ligou essa vida com a sua; mas sejam os louvores e as ações de graças dados a Deus como Aquele que Se acha presente, embora invisível. T6 232.3
No leito de enfermidade Cristo é com freqüência aceito e confessado; e isto será mais comum no futuro do que tem sido no passado, pois o Senhor fará uma obra rápida em nosso mundo. Nos lábios do médico devem estar palavras de sabedoria, e Cristo regará a semente semeada, fazendo com que dê fruto para a vida eterna. T6 233.1
Perdemos as mais preciosas oportunidades por negligenciar dizer uma boa palavra a seu tempo. Demasiadas vezes um talento precioso que poderia produzir mil vezes mais, é deixado inútil. Caso não estejamos alerta para o áureo privilégio, ele passará. Foi permitido que alguma coisa impedisse que o médico fizesse a obra que lhe era designada como ministro da justificação. T6 233.2
Não há muitos médicos piedosos para ministrarem em sua profissão. Há muito trabalho a ser feito, e os pastores e os médicos devem trabalhar em perfeita união. Lucas, autor do Evangelho que traz o seu nome, é chamado “o médico amado” (Colossences 4:14), e os que fazem obra semelhante à sua, estão vivendo o evangelho. T6 233.3
Inúmeras são as oportunidades do médico para advertir o impenitente, animar o desconsolado e sem esperança, e prescrever para saúde da mente e do corpo. Ao instruir assim o povo nos princípios da verdadeira temperança e, como guardião de almas, aconselhar aos que se acham física e mentalmente enfermos, o médico está desempenhando sua parte na grande obra de preparar um povo para o Senhor. Eis o que a obra médico-missionária tem de realizar em sua relação para com a terceira mensagem angélica. T6 233.4
Os pastores e os médicos devem trabalhar harmonicamente e com zelo para salvar almas que estão sendo emaranhadas nas redes de Satanás. Cumpre-lhes dirigir homens e mulheres a Jesus, sua justiça, sua força, e a saúde de sua expressão. Cumpre-lhes cuidar continuamente das pessoas. Alguns há que estão lutando com fortes tentações, em perigo de serem vencidos na luta contra os agentes satânicos. Serão essas pessoas passadas por alto, sem lhes dar assistência? Ao notar uma pessoa em necessidade de auxílio, deve-se iniciar uma conversa com ela, mesmo não a conhecendo. Deve-se orar com ela. E encaminhá-la a Jesus. T6 233.5
Essa obra pertence tão certamente ao médico como ao pastor. Mediante esforço público e particular, o médico deve procurar atrair almas a Cristo. T6 234.1
Em todos os nossos empreendimentos e em todas as nossas instituições, Deus deve ser reconhecido como o Obreiro Mestre. Os médicos devem conduzir-se como representantes de Cristo. A fraternidade médica tem feito muitas reformas, e cumpre-lhes avançar ainda mais. Aqueles que têm nas mãos a vida de criaturas humanas, devem ser educados, dignos, santificados. Então o Senhor operará por meio deles com poderosa força para glorificar Seu nome. T6 234.2
*****
A obra de Cristo em favor do paralítico é uma ilustração da maneira pela qual devemos trabalhar. Por meio dos amigos ouvira ele falar de Jesus, e pedira para ser levado à presença do Poderoso Restaurador. O Salvador sabia que o paralítico andava torturado pelas sugestões dos sacerdotes, de que Deus o havia rejeitado por causa de seus pecados. Portanto, Sua primeira obra foi dar-lhe paz de espírito. “Filho”, disse, “perdoados estão os teus pecados”. Essa certeza encheu-lhe o coração de paz e alegria. Mas alguns dos presentes começaram a murmurar, dizendo em seu coração: “Quem pode perdoar pecados, senão Deus?” Marcos 2:7. Então, para que soubessem que o Filho do homem tinha poder de perdoar pecados, Cristo disse ao enfermo: “Levanta-te, toma o teu leito, e vai para tua casa.” Marcos 2:11. Isso mostra como o Salvador ligava a obra da pregação da verdade e a de curar os doentes. T6 234.3