Testemunhos para a Igreja 1

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Capítulo 10 — Recusando a advertência

Por volta dessa época, fui submetida a uma severa provação. Se o Espírito de Deus repousava sobre alguém na reunião, e esse glorificava a Deus, louvando-O, alguns levantavam o brado de mesmerismo; se o Senhor era servido dar-lhe uma visão na reunião, alguns diziam que era efeito da agitação e do mesmerismo. Aflita e desanimada, eu ia muitas vezes sozinha a um lugar solitário para derramar o coração diante dAquele que convida os cansados e oprimidos para irem a Ele e encontrarem descanso. Enquanto minha fé requeria as promessas, Jesus parecia muito próximo. A suave luz do Céu brilhava em meu redor; parecia-me estar enlaçada pelos braços de meu Salvador e, ali, era arrebatada em visão. Mas quando relatava o que Deus me revelara, a mim sozinha, onde nenhuma influência terrestre podia afetar-me, ficava aflita e espantada ao ouvir alguns insinuarem que os que viviam mais perto de Deus estavam mais sujeitos de ser enganados por Satanás. T1 71.2

De acordo com esse ensino, nossa única segurança contra o engano seria permanecer distantes de Deus, em estado de apostasia. Oh, pensava eu, como se chegou a esta situação? A ponto de aqueles que honestamente buscam ao Senhor somente para reivindicar Suas promessas e suplicar por salvação, serem acusados de estar sob a nociva influência do mesmerismo? Pediremos pão ao nosso generoso Pai celeste, para recebermos uma pedra ou um escorpião? Essas coisas feriam meu espírito e oprimiam-me o coração com atroz angústia, próxima ao desespero. Alguns quiseram fazer-me crer que não havia Espírito Santo, e que todas as atuações que os santos homens de Deus haviam experimentado, eram apenas o efeito do mesmerismo ou do engano de Satanás. T1 71.3

Alguns haviam adotado opiniões extremistas acerca de certos textos das Escrituras, abstendo-se completamente do trabalho, e rejeitando todos aqueles que não queriam aceitar suas idéias sobre estes e outros pontos considerados deveres religiosos. Deus revelou-me em visão esses erros, e enviou-me para instruir Seus filhos errantes; mais muitos deles rejeitaram inteiramente a mensagem e acusavam de conformar-me com o mundo. De outro lado, os adventistas nominais acusavam-me de fanatismo, e eu era falsamente apresentada como a dirigente do fanatismo, para cuja repressão eu trabalhava constantemente. T1 72.1

Diferentes ocasiões foram marcadas para a vinda do Senhor, e insistia-se a tal respeito com os irmãos. O Senhor, porém, mostrou-me que elas passariam, pois o tempo de angústia deveria ocorrer antes da vinda de Cristo; e que cada vez que se marcasse uma data, e esta passasse, isto enfraqueceria a fé do povo de Deus. Por esse motivo eu era acusada de ser o mau servo que dizia: “O meu Senhor tarde virá.” Mateus 24:48. T1 72.2

Essas declarações referentes ao tempo determinado haviam sido publicadas trinta anos antes, e os livros que as continham haviam circulado por toda parte, entretanto, alguns pastores diziam estar bem familiarizados comigo, dizendo que eu havia fixado datas após datas para a volta do Senhor e todas passaram, portanto, minhas visões eram falsas. Indubitavelmente, muitos receberam essas mentirosas declarações como sendo verdade, mas ninguém que me conhecesse ou a meu trabalho podia, em sinceridade, fazer tais afirmações. Este é o testemunho que sempre dei, desde a passagem do tempo em 1844: “Datas serão fixadas, uma após outra, por diferentes pessoas e todas passarão; e a influência dessa marcação de tempo tenderá a destruir a fé do povo de Deus.” Se eu houvesse contemplado em visão um tempo definido e dado meu testemunho sobre ele, não poderia ter escrito e publicado, por causa desse mesmo testemunho, que todos os tempos que fossem determinados passariam, pois o tempo de angústia virá antes da vinda de Cristo. Certamente, nos últimos trinta anos, isto é, desde a publicação dessa declaração, nunca me inclinei a apontar um tempo para a volta de Cristo, e assim colocar-me sob a mesma condenação daqueles a quem tenho reprovado. Até 1845 eu não tive nenhuma visão, ou seja após a passagem do tempo de expectativa em 1844. Então me foi mostrado o que eu devia declarar. T1 72.3

E não se cumpriu esse testemunho em cada detalhe? Os adventistas do primeiro dia têm marcado data após data, e, não obstante os repetidos fracassos, eles se munem de coragem para marcar novas datas. Deus não os tem guiado a esse respeito. Muitos deles rejeitaram o verdadeiro tempo profético e ignoraram o cumprimento da profecia, porque não sucedeu o evento previsto em 1844. Eles se voltaram contra a verdade e o inimigo tem exercido seu poder em lançar sobre eles poderosos enganos, para que creiam na mentira. A grande prova sobre o tempo aconteceu em 1843 e 1844; e todos os que marcaram data desde então, têm-se enganado a si mesmos e a outros. T1 73.1

Até minha primeira visão, eu não podia escrever. Minha mão tremente era incapaz de segurar firmemente a pena. Enquanto em visão, um anjo ordenava que a escrevesse. Eu obedecia e escrevia prontamente. Meus nervos eram fortalecidos e minha mão tornava-se firme. T1 73.2

Era muito penoso para mim, relatar aos que erravam o que, concernente a eles, me havia sido mostrado. Causava-me grande angústia ver outros perturbados ou entristecidos. E, sendo obrigada a declarar as mensagens, queria muitas vezes abrandá-las e fazê-las parecer tão favoráveis às pessoas quanto eu podia, e então ficava a sós e chorava em agonia de espírito. Eu olhava àqueles que pareciam ter apenas si mesmos para cuidar, e achava que, se estivesse em sua situação, não murmuraria. Era penoso descrever os testemunhos claros e incisivos a mim apresentados por Deus. Ansiosamente aguardava o resultado; e, se as pessoas reprovadas se rebelavam contra a reprovação, e mais tarde se opunham à verdade, eu me perguntava: Terei eu apresentado a mensagem exatamente como devia? Não haveria algum meio de os salvar? E então me oprimia o coração uma angústia tal que muitas vezes achava que a morte seria um bem-vindo mensageiro e a sepultura um suave lugar de descanso. T1 73.3

Não compreendia o perigo e pecado de tal procedimento, até que em visão fui levada à presença de Jesus. Ele me olhou com o semblante carregado, e desviou o rosto de mim. Não é possível descrever o terror e a agonia que então senti. Prostrei-me sobre o rosto diante dEle, mas não tinha ânimo para proferir uma palavra. Oh, quanto eu desejava ocultar-me e esconder-me daquela terrível expressão sombria! Pude compreender então até certo ponto quais serão os sentimentos dos perdidos, quando clamarem às montanhas e às rochas: “Caí sobre nós, e escondei-nos da face dAquele que está assentado no trono, e da ira do Cordeiro.” Apocalipse 6:16. T1 74.1

Imediatamente um anjo me mandou levantar, e o quadro que meus olhos viram dificilmente poderá ser descrito. Diante de mim havia uma multidão de cabelos desgrenhados e vestes despedaçadas, e cujo rosto era a própria expressão do desespero e terror. Achegaram-se a mim, e roçaram suas vestes nas minhas. Quando olhei às minhas vestes, vi que estavam manchadas de sangue. De novo caí como morta aos pés do meu anjo assistente. Não podia alegar uma desculpa, e desejava estar fora daquele santo lugar. O anjo me pôs de pé, e disse: “Este não é o seu estado agora; mas esta cena lhe foi apresentada para que você saiba qual será sua situação, se negligenciar declarar a outros o que o Senhor lhe revelou. Mas se for fiel até o fim, você comerá da árvore da vida, e beberá da água da vida. Você terá de sofrer muito, mas a graça de Deus lhe basta.” Então me senti disposta a fazer tudo que o Senhor exigisse de mim a fim de obter Sua aprovação, e não contemplar Sua terrível expressão de desagrado. T1 74.2