Testemunhos para a Igreja 1

117/123

Capítulo 115 — Ana More

No sábado seguinte reunimo-nos na igreja de Orleans, onde meu marido apresentou o caso de nossa saudosa irmã Ana More. Quando o irmão Amadon nos visitou no último verão, disse que a irmã More havia estado em Battle Creek e, não encontrando ali emprego, foi até o Condado de Leelenaw para morar com uma velha amiga, que com ela trabalhara nos campos missionários da África Central. Meu marido e eu sentimos que essa querida serva de Cristo fosse forçada a separar-se do convívio de seus irmãos de fé, e decidimos mandar buscá-la para morar conosco. Escrevemos convidando-a a encontrar-nos em Wright, onde tínhamos compromisso, e vir para casa conosco. Ela não foi a Wright. Eis sua resposta à carta que lhe enviamos, datada de 29 de Agosto de 1867, que recebemos em Battle Creek: T1 666.3

“Irmão White, recebi esta semana sua bondosa correspondência. Como o carteiro só vem aqui uma vez por semana e vai embora amanhã, apresso-me em respondê-la. Estamos aqui em meio à selva, por assim dizer. Um índio traz a correspondência a pé, às sextas-feiras, e volta às terças-feiras. Consultei o irmão Thompson sobre o melhor e mais seguro roteiro para chegar até aí é tomar um barco até Milwaukee, e então para Grand Haven. T1 666.4

“Como gastei todo o meu dinheiro para vir até aqui e fui convidada a ficar com a família do irmão Thompson, tenho ajudado a irmã Thompson nas tarefas domésticas e na costura, a um dólar e meio por semana de cinco dias, porque eles não querem que eu trabalhe para eles no domingo e eu não trabalho no sábado do Senhor, o único dia de repouso que a Bíblia reconhece. Eles não desejam que eu vá embora, apesar de nossa diferença de crenças. Ele diz que posso ficar com eles, com a ressalva de não divulgar minha crença entre seu povo. Convidou-me até para atender seus compromissos enquanto está em viagem de pregação. Assim tenho feito. A irmã Thompson precisa de uma governanta para seus filhos por causa das perigosas influências externas e por serem as escolas muito pervertidas. Ela não está disposta a enviar seus queridos à escola, enquanto não se tornarem cristãos, como diz ela. Seu filho mais velho, hoje com dezesseis anos, é um jovem piedoso e consagrado. Eles adotaram em parte a reforma de saúde e penso que a aceitarão plenamente dentro em breve. O irmão Thompson encomendou o Health Reformer (Reformador da Saúde). Mostrei-lhe alguns exemplares que tinha comigo. T1 667.1

“Tenho esperança de que ele aceite o santo sábado, e oro por isso. Sua esposa já o aceita. Ele é tremendamente inflexível quanto a seus costumes, e acha que está certo. Se eu pudesse ao menos convencê-lo a ler os livros que trouxe, como History of the Sabbath (História do Sábado) e outros. Mas ele os olha e diz que são falsos, e que lhe parecem ter o erro estampado em suas capas. Se, contudo, lesse com cuidado o significado de nossos princípios, creio que os aceitaria como verdades bíblicas e veria sua beleza e coerência. Não tenho dúvida de que a irmã T ficaria feliz em tornar-se já uma adventista do sétimo dia, se seu marido não se opusesse tão severamente a isso. Tive a impressão de que tinha uma obra a fazer antes de vir para cá, mas a verdade se acha presente na família, e se eu não puder levá-la mais adiante, parece que minha obra está concluída, ou quase concluída. Não quero sentir vergonha de Cristo nem dos Seus, em meio a esta “geração perversa”. Atos dos Apóstolos 2:40. Prefiro lançar minha sorte com os observadores do sábado e o povo escolhido de Deus. T1 667.2

“Necessito de pelo menos dez dólares para chegar até Greenville. O que, com o pouco que ganhei, poderia ser suficiente. Esperarei que os irmãos me escrevam e façam o que achar melhor em adiantar-me o dinheiro. Na primavera terei o suficiente para ir, e assim farei. Que o Senhor nos guie e abençoe em cada empreendimento, é o ardente desejo de meu coração. Que eu possa assumir a posição que meu Deus me destinou em Sua vinha moral, cumprindo com alegria cada dever, por penoso que possa parecer, de acordo com Seu consentimento, é meu sincero desejo e oração. T1 668.1

“ANA MORE.” T1 668.2

Ao receber sua carta, decidimos enviar à irmã More o dinheiro necessário, tão logo tivéssemos tempo. Antes, porém, de nos empenharmos nisso, decidimos ir até o Maine, para retornar em poucas semanas, quando lhe mandaríamos a quantia antes que o período de navegação encerrasse. E quando decidimos permanecer no Maine, New Hampshire, Vermont e Nova Iorque, escrevemos a um irmão desse Condado para falar com os líderes da igreja e consultá-los sobre a possibilidade de mandar buscar a irmã More e conseguir-lhe um lar até nossa volta. O assunto, porém, foi negligenciado até que o período de navegação se encerrou. Quando voltamos descobrimos que ninguém se interessara em ajudar a irmã More a vir para esta região, onde ela poderia ficar conosco assim que chegássemos em casa. Ficamos tristes e aflitos, e na reunião em Orleans, no segundo sábado após nosso retorno, meu marido apresentou o caso dela aos irmãos. Um breve relatório do que foi dito e feito com relação à irmã More, foi apresentado por meu marido na Review de 18 de Fevereiro de 1868, como segue: T1 668.3

“Nessa reunião apresentamos o caso da irmã Ana More, agora residindo temporariamente no Noroeste de Michigan, com amigos que não observam o sábado bíblico. Declaramos que essa serva de Cristo aceitou o sábado enquanto realizava trabalho missionário na África Central. Quando esse fato se tornou conhecido, ela foi dispensada de seus serviços e voltou para a América do Norte, em busca de lar e emprego com aqueles da mesma fé. Entendemos que ela não está contente onde se encontra atualmente. Ninguém em particular pode ser responsabilizado nesse caso. Mas nos parece que há falta de condições adequadas em nosso sistema organizacional para animar e auxiliar tais pessoas, aproveitando-as num campo de trabalho útil. Ou houve negligência no cumprimento do dever por parte desses irmãos e irmãs que tiveram o prazer de conhecer a irmã More. Por voto unânime ela foi convidada a residir com os irmãos desta região, até o tempo da Assembléia da Associação Geral, quando seu caso deve ser apresentado a nosso povo. O irmão Andrews, ali presente, apoiou plenamente a ação dos irmãos.” T1 669.1

Pelo que soubemos do frio e indiferente tratamento que a irmã More recebeu em Battle Creek, é evidente que, ao declarar que ninguém em especial era culpado no caso dessa irmã, meu marido assumiu uma postura bastante caridosa sobre o assunto. Quando todos os fatos se tornaram conhecidos, nenhum cristão pode ser responsabilizado, mas todos os membros dessa igreja que conheciam as circunstâncias em que a irmã vivia, e não manifestaram interesse individual por ela. Certamente era dever dos oficiais tomar providências e referi-las à igreja, se outros não se encarregassem do assunto. Mas cada membro dessa ou de qualquer outra igreja não deve achar que está livre de interessar-se em tais pessoas. Depois do que foi dito na Review acerca dessa abnegada serva de Cristo, cada leitor em Battle Creek, ao saber que ela chegara à cidade, teria sido desculpado se lhe fizesse uma visita pessoal e se informasse de suas necessidades. T1 669.2

A irmã Strong, esposa do Pastor P. Strong Jr., esteve em Battle Creek na mesma época que a irmã More. Ambas chegaram à cidade no mesmo dia e partiram na mesma hora. A irmã Strong, que está do meu lado, diz que a irmã More pediu que intercedesse por ela na obtenção de emprego, para que assim pudesse permanecer entre os observadores do sábado. A irmã More disse estar disposta a fazer qualquer coisa, embora preferisse ensinar. Pediu também ao Pastor A. S. Hutchins que apresentasse seu caso aos irmãos dirigentes do Escritório da Review e tentasse arranjar-lhe trabalho numa escola. Isso o irmão Hutchins fez alegremente. Mas nenhum encorajamento lhe foi dado, pois parecia não haver vaga. Ela também disse à irmã Strong que estava sem recursos e que, a menos que obtivesse emprego em Battle Creek, teria que voltar para o Condado de Leelenaw. Ela freqüentemente falava que lamentava o fato de ser obrigada a deixar os irmãos. T1 670.1

Então a irmã More escreveu ao Sr. Thompson dizendo que aceitava a oferta de morar com sua família e ficou esperando pela resposta. A irmã Strong andou, juntamente com ela, procurando um lugar para ficar até receber a resposta do Sr. Thompson. Num certo lugar foi-lhe dito que só podia ficar de quarta até sexta-feira de manhã, pois teriam de sair de casa. Essa irmã contou o caso da irmã More a uma sua irmã carnal que morava nas proximidades e que também guardava o sábado. Ao voltar, disse à irmã More que podia ficar com ela até sexta-feira de manhã, pois sua irmã dissera que não era conveniente hospedá-la. Mas a irmã Strong percebeu que a verdadeira desculpa se devia ao fato de a irmã More ser uma estranha na cidade. Essa irmã podia hospedá-la, mas não quis. T1 670.2

A irmã More pediu conselho à irmã Strong sobre o que fazer. A irmã Strong era quase desconhecida em Battle Creek, mas pensou que podia acomodar Ana na família de um irmão pobre, conhecido seu, que se havia mudado recentemente do Condado de Montcalm. Conseguiu sucesso. A irmã More permaneceu até terça-feira, quando partiu para o Condado de Leelenaw, via Chicago. Ali conseguiu dinheiro emprestado para completar a viagem. Alguns, pelo menos, de Battle Creek, estavam a par de suas necessidades, pois em resultado de tornar-se conhecida ali, não gastou nada em sua breve estada no Instituto. T1 670.3

Logo que voltamos do Leste, meu marido, tomando conhecimento de que nada do que pedíramos em relação à irmã More fora atendido, escreveu-lhe dizendo que viesse ter conosco o mais breve possível. Eis sua resposta: T1 671.1

“Leland, Condado de Leelenaw, Michigan, 20 de Fevereiro de 1868. T1 671.2

“Caro irmão White, recebi sua carta de 3 de Fevereiro. Estou com a saúde abalada por não estar acostumada a esses rigorosos invernos do Norte, com neve de noventa centímetros a um metro e vinte de altura. Nossa correspondência é trazida por um carteiro com sapatos de neve. T1 671.3

“Não me parece ser possível estar com os irmãos até a chegada da primavera. As estradas já são péssimas mesmo sem neve. Dizem que o melhor a fazer é esperar que até as rotas de navegação se abrirem, e então ir até Milwaukee, e daí para Grand Haven, onde devo tomar o trem até o ponto mais próximo da casa de vocês. Eu esperava estar entre nosso amado povo no último outono, mas esse privilégio não me foi permitido. T1 671.4

“As verdades em que acreditamos parecem mais e mais importantes, e nossa obra de preparar um povo para a vinda do Senhor não pode ser retardada. Precisamos não apenas possuir nossas vestes nupciais, mas ser fiéis em recomendar o preparo a outros. Gostaria de poder estar com os irmãos, mas parece impossível, ou pelo menos impraticável, em vista de meu delicado estado de saúde, empreender sozinha tal viagem em pleno inverno. Quando será a Assembléia Geral de que o irmão falou? E onde? Suponho que a Review informará oportunamente. T1 671.5

“Creio que minha saúde ficou abalada desde que passei a guardar o sábado sozinha em meu frio quarto. Creio também que não poderia observá-lo onde todas as formas de trabalho e conversação mundana eram a ordem do dia, como ocorre entre os observadores do domingo. Penso que o sábado é o dia mais laborioso para aqueles que observam o primeiro dia da semana. Realmente, não me parece que os mais leais observadores do domingo guardem qualquer dia adequadamente. Oh! quanto anseio estar novamente com os observadores do sábado! A irmã White gostará de ver-me com o vestuário da reforma. Que ela faça o favor de enviar-me um modelo, o qual lhe pagarei quando aí chegar. Entendo que devo estar vestida adequadamente quando estiver em seu meio. Gosto muito desse vestuário. A irmã Thompson acha que gostaria de adotar o vestuário da reforma. T1 672.1

“Faz mais de uma semana que não consigo dormir devido a dificuldades respiratórias ocasionadas, creio, pela chaminé do fogão que está quebrada e enche meu quarto de fumaça e gás na hora de dormir. Meu sono não é desfrutado num ambiente bem ventilado. Não achei, na ocasião, que a fumaça era tão nociva, nem considerei quão impuras eram as emanações produzidas pela mistura de lenha e carvão. Despertei com uma sensação de sufocamento tão grande que não conseguia respirar deitada, e passei o resto da noite sentada. Nunca antes havia sentido essa terrível sensação de asfixia. Comecei a recear que não pudesse dormir novamente. Portanto, pus-me nas mãos de Deus para viver ou morrer, rogando-Lhe que me poupasse, se ainda tivesse necessidade de mim em Sua vinha. De outro modo, não tinha mais vontade de continuar vivendo. Senti-me inteiramente reconciliada com a mão de Deus sobre mim. Mas também senti que as influências satânicas precisam ser resistidas. Por essa razão, ordenei a Satanás que se afastasse de mim, e disse ao Senhor que não ergueria minha mão para escolher nem a vida nem a morte, mas que O buscaria, pois Ele me conhece completamente. Meu futuro me é desconhecido, e portanto digo que a vontade do Senhor é melhor. A vida não tem importância para mim, assim como seus prazeres. Todas as suas riquezas e honras não são nada quando comparadas com a utilidade. Eu não as desejo. Elas não podem satisfazer ou preencher o doloroso vazio que me deixa o dever não cumprido. Não quero viver na inutilidade para ser uma nódoa ou um espaço em branco na vida. E embora pareça morte de mártir morrer assim, estou conformada se essa for a vontade de Deus. T1 672.2

“Eu havia dito à irmã Thompson no dia anterior: ‘Se eu estivesse na casa do irmão White, eles orariam por mim e eu seria curada.’ Ela me perguntou se não poderíamos mandar buscar o irmão e o Pastor Andrews, mas isso parecia impraticável, visto que eu não poderia, seguramente, sobreviver até que os irmãos chegassem. Eu sabia que o Senhor, com Seu grande poder e forte braço, poderia curar-me aqui, se isso fosse o melhor. Senti-me segura ao dizer isso a Ele. Sabia que Ele poderia enviar um anjo para resistir ‘o que tinha o império da morte, isto é, o diabo’ (Hebreus 2:14), e fiquei certa de que o faria, se isso fosse o melhor. Eu também achava que Ele poderia tomar, se fosse necessário, providências para a minha recuperação, e tive a certeza de que o faria. Logo melhorei e fui capaz de dormir um pouco. T1 673.1

“Assim você pode ver que ainda sou um exemplo vivo da misericórdia e fidelidade de Deus para com Seus filhos aflitos. ‘Porque não aflige nem entristece de bom grado os filhos dos homens.’ Lamentações 3:33. Mas algumas vezes as provas são necessárias como uma disciplina, para nos desapegar da Terra. T1 673.2

“‘E manda-nos buscar real felicidade
Além deste mundo passageiro.’
T1 673.3

“Agora posso dizer como o poeta: T1 673.4

“‘Senhor, não está sob meu domínio,
Se hei de viver ou de morrer.
Se a vida for longa, serei feliz
Para que possa ansiar obedecer;
Se curta for, por que ficaria eu infeliz?
Pois esse mundo terá de passar.
Cristo não me guia por lugares mais escuros
Do que Ele antes palmilhou.
Quem quer que venha ao Seu reino,
Precisa entrar por Sua porta.’
T1 673.5

“‘Vem, Senhor, quando a graça me fez
Teu bendito rosto ver;
Pois se Tua obra na Terra é suave,
Como será em Tua glória?
Alegremente cessarei minhas queixas,
E dias cansativos e pecaminosos,
Para me unir aos santos triunfantes
Que louvor entoam a Jeová!
Pouco sei desse porvir,
Meu olho da fé turvo está;
Mas basta confiar que Cristo tudo sabe,
E com Ele haverei de estar.
— Baxter.
T1 674.1

“Tive períodos de insônia na última noite e hoje me sinto indisposta. Ore para que seja cumprida a vontade de Deus em mim e através de mim, qualquer que seja ela, quer em minha vida ou através de minha morte. T1 674.2

Na esperança da vida eterna,

Ana More

“Se souber de algum modo de poder encontrar-me com você o mais breve possível, por favor informe-me. H. M.” T1 674.3

Ela está morta e ainda fala. Suas cartas, as quais tenho em meu poder, serão lidas com profundo interesse por aqueles que tomaram conhecimento de seu obituário, em número recente da Review. Ela poderia ter sido uma bênção a todas as famílias observadoras do sábado que apreciassem seu valor, mas está dormindo. Nossos irmãos de Battle Creek e arredores poderiam ter-lhe dado mais do que boas-vindas a Jesus na pessoa dessa piedosa mulher. Mas a oportunidade se foi. Não era conveniente. Eles não procuraram relacionar-se com essa irmã. Ela era de idade avançada e poderia ter sido um fardo. Sentimentos desse tipo excluíram-na dos lares dos professos amigos de Jesus, que estão esperando por Seu próximo advento, e a afastaram daqueles a quem ela amava, enviando-a àqueles que se opunham à sua fé no Norte de Michigan, durante o inverno mais frio, para morrer congelada. Ela morreu como mártir do egoísmo e da cobiça dos professos guardadores dos mandamentos. T1 674.4

A Providência dirigiu, nesse caso, uma terrível reprovação à conduta daqueles que não acolheram essa estrangeira. Ela não era realmente uma estrangeira. Sua respeitabilidade era do conhecimento de todos, todavia, não foi ela acolhida. Muitos hão de ficar aborrecidos quando se lembrarem da irmã More que esteve em Battle Creek, mendigando um lar entre o povo que ela escolheu. Eles, em imaginação, a seguirão até Chicago, para tomar dinheiro emprestado a fim de custear as despesas de sua viagem até o descanso final. E quando pensarem naquela sepultura, no Condado de Leelenaw, onde repousa essa preciosa exilada, que Deus tenha piedade daqueles que têm culpa em seu caso. T1 674.5

Pobre irmã More! Ela dorme, mas nós fizemos aquilo que nos estava ao alcance. Quando estivemos em Battle Creek, em Agosto passado, recebemos a primeira de suas duas cartas, mas não tínhamos dinheiro para enviar-lhe. Meu marido solicitou recursos a Wisconsin e Iowa e recebeu setenta dólares para cobrir nossas despesas, a fim de assistirmos às assembléias no Oeste realizadas no último mês de Setembro. Esperávamos ter meios para enviar a ela imediatamente, quando retornássemos do Oeste, para custear suas despesas de viagem até nosso novo lar, no Condado de Montcalm. T1 675.1

Os liberais amigos West nos deram os meios necessários, mas quando decidimos acompanhar o irmão Andrews ao Maine, o assunto foi protelado até nosso retorno. Esperávamos permanecer no Leste não mais do que quatro semanas, o que nos daria muito tempo para mandar buscar a irmã More após nossa volta, e recolhê-la em nossa casa antes que as viagens de navio se encerrassem. Quando decidimos ficar no Leste algumas semanas a mais do que havíamos inicialmente pretendido, não perdemos tempo em fazer contato com vários irmãos, recomendando-lhes que mandassem buscar a irmã More e lhe dessem acolhida até nossa volta. Digo que fizemos o que podíamos. T1 675.2

Mas, por que deveríamos nos interessar nessa irmã mais que nos outros? O que pretendíamos com essa cansada missionária? Ela não poderia fazer nosso trabalho doméstico, e tínhamos apenas um filho em casa para ela ensinar. E certamente, não se poderia esperar muito de alguém tão esgotado e que havia atingido sessenta anos de idade. Não teríamos nenhuma utilidade para ela, em particular, a não ser para trazer a bênção de Deus ao nosso lar. Havia inúmeras razões para nossos irmãos demonstrarem no caso da irmã More muito mais interesse do que nós. Nós nunca a havíamos visto antes e não tivemos quaisquer outros meios de conhecer sua história, sua devoção à causa de Cristo e da humanidade, mais do que todos os leitores da Review. Nossos irmãos de Battle Creek haviam conhecido essa nobre mulher, e alguns deles conheciam alguma coisa de suas intenções e necessidades. Nós não tínhamos dinheiro para ajudá-la; eles tinham. Estávamos já sobrecarregados de preocupações e necessitávamos em nosso lar de pessoas que possuíssem a força e vivacidade da juventude. Precisávamos de ajuda, em vez de ajudar outros. Mas a maioria de nossos irmãos estava em tal situação, que a irmã More não lhes teria exigido o mínimo cuidado e nem lhes teria sido um peso. Eles têm tempo, energia e estão relativamente livres de cuidados. T1 675.3

Ninguém, contudo, manifestou interesse em seu caso como nós o fizemos. Eu mesma falei à grande congregação antes de viajarmos para o Leste, no outono, acerca de sua negligência do caso da irmã More. Falei sobre o dever de conferir honra a quem ela é devida. Romanos 13:7. Parecia-me que a sabedoria havia se colocado tão distante dos prudentes, que eles não eram capazes de apreciar a dignidade moral. Disse àquela igreja que havia muitos ali que achariam tempo para reunir-se, cantar e tocar seus instrumentos musicais; que poderiam pagar um artista para fazer seu retrato ou ainda, gastar dinheiro em divertimentos. Mas eles nada tinham para dar a uma cansada missionária, que abraçara de coração a verdade presente e tinha vindo para viver com aqueles que possuíam a mesma fé preciosa. Aconselhei-os a parar e considerar o que deveríamos fazer. Propus que não tocassem seus instrumentos musicais por três meses e tomassem tempo para humilharem-se a si mesmos diante de Deus em exame íntimo, arrependimento e oração, até que tivessem consciência das reivindicações que o Senhor tem sobre Seus professos filhos. Meu coração agitou-se com o pensamento da injustiça que havia sido feita a Jesus na pessoa da irmã More, e falei a muitos sobre isso. T1 676.1

Isso tudo não foi feito às escondidas. E apesar do assunto ser de domínio público, acompanhado por grande e boa obra na igreja de Battle Creek, nenhum esforço foi feito por essa igreja para redimir o passado e trazer a irmã More de volta. E a esposa de um de nossos pastores declarou posteriormente: “Não vejo necessidade do irmão e da irmã White fazer tal espalhafato por causa da irmã More. Penso que eles não entenderam o caso.” Em verdade, nós não compreendemos a questão. Ela era pior do que supúnhamos. Se a tivéssemos entendido, nunca teríamos deixado Battle Creek até expor claramente diante da igreja seu pecado de obrigá-la a deixá-los, e até que fossem tomadas medidas para trazê-la de volta. T1 677.1

Um membro dessa igreja, conversando sobre o caso da irmã More, disse certa vez: “Ninguém acha que deve assumir responsabilidades em casos semelhantes. O irmão White sempre se encarregou deles.” Sim, é verdade. Ele os levava para sua casa até que cada cadeira e cama estivessem ocupados, e então ia até seus irmãos e pedia-lhes que cuidassem dos necessitados que excedessem à sua capacidade. Se eles necessitassem de recursos, ele os daria e convidaria outros a seguir-lhe o exemplo. Deve haver em Battle Creek homens que façam o que ele tem feito, ou a maldição de Deus cairá sobre essa igreja. Não há apenas um homem, mas pelo menos cinqüenta que podem fazer, ou pouco ou muito, como ele tem feito. Foi-nos dito que precisamos voltar para Battle Creek. Ainda não estamos prontos para isso. Provavelmente esse nunca será nosso dever. Ali suportamos pesadas cargas até não podermos mais. Deus suscitará homens e mulheres fortes para dividir esses cuidados entre si. Aqueles que se mudaram para Battle Creek e que aceitaram posições ali, não estão preparados para fazer esse tipo de trabalho, e seria mil vezes melhor que estivessem em outros lugares. Há aqueles que podem ver, sentir e alegremente fazer o bem a Jesus na pessoa de Seus santos. Que tenham oportunidade de trabalhar. Que aqueles que não podem fazer o mesmo, vão para onde não atrapalhem a obra de Deus. T1 677.2

Isso é especialmente aplicável àqueles que se encontram à testa da obra. Se eles erram, tudo dá errado. Quanto maior a responsabilidade, maior a ruína em caso de infidelidade. Se os irmãos dirigentes não cumprem fielmente seu dever, os liderados também não atenderão aos seus. Os líderes da obra em Battle Creek precisam ser exemplos do rebanho em todos os lugares. Se fizerem isso, terão grande recompensa. Se falharem e ainda permanecerem em seus cargos, terão uma terrível conta a prestar. T1 678.1

Tudo o que nos foi possível fazer, fizemos. Se tivéssemos tido recursos nos últimos verão e outono, a irmã More estaria agora conosco. Quando nos inteiramos de nossa real situação financeira, como registrada no Testemunho n 13, olhamos à questão com alegria e dissemos não querer assumir a responsabilidade dos recursos. Esse foi um erro. Deus desejava que tivéssemos recursos para podermos, como em tempos passados, ajudar onde era necessário. Satanás quer atar-nos as mãos nessa questão e levar outros a serem descuidosos, insensíveis e cobiçosos, para que essa obra impiedosa prossiga, como no caso da irmã More. T1 678.2

Vemos marginalizados, viúvas, órfãos, pobres dignos e pastores em necessidade e muitas oportunidade de usar os recursos para a glória de Deus, a divulgação de Sua causa e o alívio dos santos sofredores, e eu desejo ter meios e usá-los para Deus. A experiência de quase um quarto de século em longas viagens, sentindo a condição daqueles que necessitam de ajuda, qualificam-nos a fazer cuidadoso uso do dinheiro de nosso Senhor. Tenho comprado meu próprio material de escritório, pago minha postagem e despendido muito de minha vida escrevendo para o bem de outros, e tudo o que recebi por esse trabalho, o qual me cansou e me desgastou, não pagaria a décima parte de minhas despesas postais. Quando me oferecem recursos, eu os recuso, ou aceito para fins caritativos como a Sociedade de Publicações. Não mais farei assim. Cumprirei meu dever como sempre o fiz, mas meus receios de receber recursos para usá-los para Senhor se desfizeram. O caso da irmã More despertou-me plenamente para ver a obra de Satanás em desprover-nos de recursos. T1 678.3

Pobre irmã More! Quando ouvimos que estava morta, meu marido sentiu terrivelmente. Ambos sentimos como se ela fosse nossa querida mãe por cuja companhia nosso coração ansiava. Alguns podem dizer: “Se estivéssemos em lugar daqueles que sabiam algo das necessidades e anseios da irmã, não teríamos agido como eles.” Espero que vocês nunca sintam o remorso que alguns devem experimentar, os quais estiveram muito interessados nos próprios negócios e eximiram-se de assumir qualquer responsabilidade em seu caso. Que Deus tenha piedade daqueles que estavam tão receosos de ser enganados, que negligenciaram uma digna e abnegada serva de Cristo. A observação que se tornou uma desculpa para essa negligência foi: Temos sido enganados tantas vezes que temos medo de estranhos. Não nos instruíram, nosso Senhor e Seus discípulos, a sermos muito cuidadosos e não recebermos estranhos, a fim de não cometermos erros e sermos enganados, e tendo problemas ao cuidar de uma pessoa indigna? T1 679.1

Paulo exorta os hebreus: “Permaneça a caridade fraternal.” Hebreus 13:1. Ninguém ache que haverá tempo em que essa exortação não seja necessária, quando o amor fraternal será extinto. Ele continua: “Não vos esqueçais da hospitalidade, porque, por ela, alguns, não o sabendo, hospedaram anjos.” Hebreus 13:2. Por favor, leiam (Mateus 25), do verso 31 em diante. Leiam-no, irmãos, da próxima vez que vocês tomarem sua Bíblia nas devoções familiares da manhã ou da tarde. As boas obras realizadas por aqueles que serão bem-vindos ao reino, foram feitas para Cristo na pessoa de Seu povo sofredor. Aqueles que realizaram essas boas obras não acharam que estavam fazendo algo por Cristo. Achavam que não era mais que seu dever para com a humanidade sofredora. Os que estão à mão esquerda do Senhor não compreendem que haviam insultado a Cristo negligenciando as necessidades de Seu povo. Negligenciaram, porém, fazer algo por Jesus na pessoa de Seus santos, e por esse relaxamento sofrerão punição eterna. Um ponto definido desse desleixo é assim mencionado: “Sendo estrangeiro, não Me recolhestes.” Mateus 25:43. T1 679.2

Essas coisas não dizem respeito apenas a Battle Creek. Estou aflita pelo egoísmo existente entre os professos guardadores do sábado em todos os lugares. Cristo foi preparar-nos mansões eternas e ainda Lhe recusamos um lar por poucos dias, na pessoa daqueles Seus santos que estão marginalizados? Ele deixou Seu lar na glória, Sua majestade e alto comando, para salvar o homem perdido. Tornou-Se pobre para que por Sua pobreza nos tornássemos ricos. Submeteu-Se a insultos para que o homem pudesse ser exaltado e proveu um lar incomparável em seus encantos, e duradouro como o trono de Deus. Os que finalmente vencerem e se assentarem com Cristo em Seu trono, seguirão o exemplo de Jesus e espontânea e alegremente se sacrificarão por Ele na pessoa de Seus santos. Aqueles que não fizerem isso de livre vontade, irão para o castigo eterno. T1 680.1