Testemunhos para a Igreja 1

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Capítulo 116 — Cozinha saudável

Durante os últimos sete meses estivemos em casa apenas quatro semanas. Em nossas viagens nos assentamos à roda de diferentes mesas, desde Iowa até o Maine. Algumas pessoas a quem visitamos seguem a melhor luz que possuem. Outras, que têm as mesmas oportunidades de aprender a viver saudavelmente, dificilmente deram os primeiros passos na reforma. Elas lhe dirão que não sabem como cozinhar dessa nova maneira. Mas estão sem desculpas nessa questão, pois na obra How to Live (Como Viver) estão muitas receitas excelentes e a compra desse livro está ao alcance de todos. Não digo que o método culinário ensinado ali seja perfeito. Poderei brevemente fornecer um pequeno trabalho mais de acordo com o que penso. Mas, How to Live ensina uma arte culinária muito mais avançada do que qualquer pessoa poderia encontrar, mesmo entre alguns adventistas do sétimo dia. T1 680.2

Muitos não consideram esta uma questão de dever, por isso não procuram preparar alimento adequadamente. Este pode ser feito de maneira simples, saudável e fácil, sem usar banha, manteiga ou alimentos cárneos. A habilidade deve estar ligada à simplicidade. Para isso, as mulheres devem ler e, depois, transformar pacientemente em prática o que leram. Muitas estão sofrendo por não quererem dar-se ao incômodo de fazer isso. Digo a estas: É tempo de despertarem as suas energias entorpecidas e pôr-se em dia com a leitura. Aprendam a cozinhar com simplicidade e, não obstante, de maneira a conseguir o mais saboroso e saudável alimento. T1 681.1

Pelo fato de ser errado cozinhar apenas para agradar o paladar ou satisfazer o apetite, ninguém deve nutrir a idéia de que esteja certo um regime alimentar improvisado. Muitos estão debilitados pela doença e carecem de alimentos nutritivos, em abundância e bem cozidos. Temos visto freqüentemente pão integral pesado, azedo e apenas parcialmente assado. Isso é falta de interesse de aprender, e de cuidado em desempenhar-se do importante dever de cozinhar. Às vezes encontramos broas ou biscoitos, secos, não assados, e outras coisas dessa espécie. E depois as cozinheiras lhe dirão que se acham em condições de cozinhar bem no estilo antigo, mas, para dizer a verdade, seus familiares não gostam de pão de farinha integral; que eles morreriam de fome vivendo dessa maneira. T1 681.2

Tenho dito a mim mesma que não me admira isto. É a maneira de prepararem o alimento o que o torna tão sem sabor. Comer tal alimento levaria certamente a pessoa à dispepsia. Essas pobres cozinheiras, e os que têm de comer o seu alimento, dirão solenemente que a reforma de saúde não se lhes adapta. O estômago não tem poder para transformar em bom, o pão pobre, pesado e azedo; ao contrário esse pão pobre transformará em doente o estômago são. Os que usam tal alimento sabem que estão diminuindo o vigor. Não há uma causa? Algumas dessas pessoas se dizem reformadoras, mas não o são. Elas não sabem cozinhar. Preparam bolos, batatas e pão de farinha integral, mas há sempre a mesma rotina, com pouca variação, e o organismo deixa de ser fortalecido. Parece-lhes inútil o tempo empregado em obter uma experiência cabal no preparo de alimento saudável e saboroso. Alguns agem como se aquilo que comem fosse perdido e que tudo o que põem no estômago para enchê-lo faz tão bem quanto o alimento preparado com muito mais esmero. É importante que apreciemos o alimento ingerido. Se não o saboreamos mas comermos mecanicamente, não seremos nutridos como ocorreria se apreciássemos a comida. Somos feitos daquilo que comemos. Para produzir uma boa qualidade de sangue, devemos comer o tipo certo de alimento, preparado de maneira correta. T1 681.3

É dever religioso para os que cozinham aprenderem a preparar alimento saudável em diferentes maneiras, de modo a serem ingeridos com prazer. As mães devem ensinar seus filhos a cozinhar. Que ramo da educação de uma jovem pode ser tão importante como esse? A comida tem que ver com a vida. O alimento escasso, empobrecido, mal preparado, está continuamente empobrecendo o sangue mediante o enfraquecimento dos órgãos que o fazem. É altamente essencial que a arte culinária seja considerada uma das mais importantes matérias na educação. Poucas são as boas cozinheiras. As jovens acham que é descer a uma baixa ocupação tornar-se cozinheira. Não é assim. Elas não encaram a questão do devido ponto de vista. O conhecimento acerca do preparo do alimento saudável, do pão em especial, não é ciência inferior. T1 682.1

Em muitas famílias encontramos dispépticos e a razão freqüente disso é um pão empobrecido. A dona de casa decide que ele não deve ser jogado fora e todos o comem. É essa a maneira de usar um pão malfeito? Vocês o porão no estômago para ser convertido em sangue? Tem o estômago capacidade para transformar um pão ácido em bom artigo? Pesado em leve? Pão mofado em fresco? T1 682.2

As mães negligenciam esse ramo na educação de suas filhas. Assumem uma carga de trabalho e cuidados e logo se cansam, enquanto a filha fica livre para fazer visitas, crochê ou pensar no próprio prazer. Esse é um amor equivocado, bondade desacertada. A mãe está prejudicando a própria filha por toda a sua vida. Numa idade quando ela deveria ser capaz de assumir algumas responsabilidades da vida, acha-se desqualificada. Ela não toma sobre si cuidados e obrigações. Vive livre de cargas, eximindo-se de responsabilidades, enquanto a mãe é pressionada por preocupações e cuidados, como uma carroça debaixo dos feixes. Isso não quer significar que a filha seja insensível, mas que é descuidosa e negligente ou teria notado a face cansada ou a expressão de dor no semblante materno, e procuraria fazer sua parte, buscando levar a parte mais pesada da carga e aliviar a mãe, que deve ficar livre de cuidados, ou jazerá sobre um leito de dor e depois, de morte. T1 682.3

Por que as mães são tão cegas e negligentes na educação de suas filhas? Tenho-me afligido ao visitar diferentes famílias e ver a mãe carregando pesado fardo, enquanto a filha, que mostra espírito alegre e tem um bom grau de saúde e vigor, sente-se livre de cuidados e responsabilidades. Quando há grandes reuniões e as famílias são sobrecarregadas com a vinda de muitas pessoas, tenho observado a mãe assumir as responsabilidades, com todos os cuidados sobre ela, enquanto as filhas estão assentadas tagarelando com seus jovens amigos, como num encontro social. Considero essas coisas tão erradas, que dificilmente consigo me omitir de falar às descuidadas jovens e dizer-lhes que vão trabalhar. Aliviem sua mãe. Conduzam-na a uma poltrona na sala de visitas e peçam que ela descanse e aprecie o convívio com seus amigos. T1 683.1

Mas as filhas não são as únicas culpadas nessa questão. A mãe também está em falta. Ela não ensinou pacientemente às filhas como cozinhar. Ela sabe que elas não têm conhecimento sobre cozinha, e portanto não pode sentir-se aliviada do trabalho. Ela precisa estar atenta a tudo o que requeira cuidado e atenção. As moças devem ser cabalmente instruídas na cozinha. Sejam quais forem suas circunstâncias na vida, aí está um conhecimento que pode ser posto em prática. É o ramo da educação que tem influência mais direta sobre a vida humana, especialmente daqueles que mais queridos nos são. Muita esposa e mãe que não teve a devida educação, e a quem falta habilidade na arte culinária, apresenta diariamente a sua família comida mal preparada, a qual vai firme e seguramente destruindo os órgãos digestivos, preparando deficiente qualidade de sangue, e trazendo com freqüência ataques agudos de doença inflamatória, causando morte prematura. Muitos foram levados à morte por comerem pão pesado e azedo. Foi-me relatado o caso de uma menina empregada que fez uma fornada de pão azedo e pesado. Para ver-se livre dele e ocultar o caso, atirou-os a um casal de grandes porcos. Na manhã seguinte, o dono da casa encontrou os animais mortos e, examinando a gamela, encontrou pedaços daquele pão pesado. Fez verificações, e a jovem confessou o que fizera. Não pensara no efeito que tal pão teria nos porcos. Se pão azedo e pesado mata porcos, que podem devorar cascavéis, e quase tudo quanto é detestável, que efeito terá no delicado órgão que é o estômago humano? T1 683.2

É dever religioso de cada moça e senhora cristã aprender sem tardança a preparar pão bom e de fácil digestão, de farinha de trigo integral. As mães devem fazer-se acompanhar de suas filhas ainda bem jovens, na cozinha, e ensinar-lhes a arte de cozinhar. A mãe não pode esperar que suas filhas compreendam os mistérios da conservação do lar sem instrução. Deve ela instruí-las paciente e carinhosamente, e tornar o trabalho o mais agradável possível por sua fisionomia alegre e encorajadoras palavras de aprovação. Se elas errarem uma vez, duas ou três, não as censurem. O desânimo antecipado está realizando sua obra e tentando-as a dizerem: “Não adianta, não sou capaz de fazer isto.” Esse não é o momento para censura. A vontade se está tornando enfraquecida. É necessário o incentivo de palavras encorajadoras, cordiais, esperançosas como: “Não se preocupe com os erros que cometeu. Você é apenas aprendiz, e deve considerar natural cometer erros. Experimente novamente. Ponha a mente no que está fazendo. Seja bem cuidadosa, e com certeza será bem-sucedida.” T1 684.1

Muitas mães não consideram a importância dessa espécie de conhecimento e, em lugar de terem a preocupação e o cuidado de ensinar seus filhos e tolerar suas faltas e erros enquanto aprendem, preferem fazer tudo elas mesmas. E, ao cometerem suas filhas alguma falta ao se esforçarem, elas as mandam embora dizendo: “Não adianta, você não sabe fazer isto ou aquilo. Você me deixa perplexa e me atrapalha mais do que ajuda.” T1 685.1

Dessa forma, os primeiros esforços das aprendizes são repelidos e, o primeiro erro arrefece de tal forma o seu interesse e ardor em aprender que elas temem fazer outra experiência e estão dispostas a costurar, fazer tricô, limpar a casa, qualquer coisa, menos cozinhar. Aqui a mãe está em grande falta. Ela deve instruí-las pacientemente para poderem, pela prática, obter uma experiência que removeria a ineficácia e remediaria os desajeitados movimentos da ajudante inexperiente. Aqui acrescento alguns trechos do Testemunho n 10, publicado em 1864: T1 685.2

“As crianças que foram mimadas e servidas, esperam sempre isto; e caso sua expectativa não se realize, ficam decepcionadas e perdem o ânimo. Essa mesma disposição se manifestará através de toda a sua vida; serão incapazes, dependendo do auxílio de outros, esperando que outros os favoreçam, e lhes façam concessões. E caso encontrem oposição, mesmo depois de atingirem a idade adulta, julgam-se maltratados; e assim atravessam penosamente o caminho pelo mundo, mal sendo capazes de levar as próprias cargas, murmurando e irritando-se freqüentemente porque tudo não vai à medida de seus desejos. T1 685.3

“Pais imprudentes estão ensinando a seus filhos lições que se lhes demonstrarão nocivas, e plantando ao mesmo tempo espinhos para os próprios pés. Julgam que, mediante o satisfazer aos desejos dos filhos, e deixá-los seguir as próprias inclinações, podem granjear-lhes o amor. Que erro! As crianças assim mimadas crescem sem restrições aos seus desejos, insubmissas na disposição, egoístas, exigentes e autoritárias, um tormento para si mesmas e para os que as cercam. Em grande parte, os pais têm nas mãos a futura felicidade de seus filhos. Repousa sobre eles a importante obra de formar o caráter dos mesmos. Os ensinos ministrados na infância os acompanharão através da vida. Os pais semeiam as sementes que brotarão e darão frutos, seja para bem, seja para mal. Eles podem habilitar seus filhos e filhas para a felicidade ou para a miséria. T1 685.4

“As crianças devem ser ensinadas desde muito cedo a serem úteis, a servirem a si mesmas e aos outros. Muitas filhas nestes tempos, podem sem remorso ver sua mãe labutando, cozinhando, lavando ou passando, enquanto elas se sentam na sala de visitas e lêem histórias, fazem tricô, crochê ou bordados. Têm o coração tão insensível como uma pedra. Mas onde se origina esse mal? Quais são os que têm a principal culpa nesse ponto, em geral? Os pobres e enganados pais. Passam por alto o futuro de seus filhos, e em seu errôneo afeto, deixam-nos sentar-se ociosamente, ou fazer o que é de pouca importância, que não exige exercício mental ou dos músculos, e depois desculpam as indolentes filhas por serem fracas. Que as tornou fracas? Em muitos casos, foi a errônea conduta dos pais. A devida quantidade de exercício em torno da casa, melhoraria tanto a mente como o corpo. Mas os filhos são desprovidos disto devido às falsas idéias, até que ficam avessos ao trabalho. Isto é desagradável, e não se harmoniza com as idéias que eles nutrem sobre a gentileza. Julga-se impróprio de uma dama e mesmo vulgar, lavar louça, passar ou estar a um tanque de lavar roupa. Tal é o ensino da moda que se ministra aos filhos nesta época infeliz. T1 686.1

“O povo de Deus deve ser governado por princípios mais elevados que os mundanos, que procuram pautar toda a sua conduta segundo a moda. Os pais tementes a Deus devem preparar os filhos para uma vida de utilidade. ... Preparem-nos para assumir responsabilidades enquanto jovens. Se seus filhos forem desabituados ao trabalho, cansar-se-ão depressa. Queixar-se-ão de dor no lado, dor nas costas, cansaço dos membros; e vocês correm o risco de, por dó, fazer vocês mesmos o trabalho, do que deixá-los sofrerem um pouco. Que seja a princípio bem leve a responsabilidade a pesar sobre as crianças, e depois, dia a dia, aumentar, até que possam fazer a devida porção de trabalho sem se cansar. A inatividade é a maior causa de dor no lado e dor na costas entre as crianças.” T1 686.2

“As mães devem levar consigo as filhas para a cozinha, e ensiná-las pacientemente. Sua constituição ficará melhor por fazer esse trabalho; seus músculos adquirirão vigor e resistência, e serão mais saudáveis suas meditações, e mais elevadas, quando chegar o fim do dia. Talvez se achem fatigadas mas quão doce é o repouso depois de uma justa medida de trabalho! O sono, o suave restaurador da natureza, revigora o corpo fatigado, e prepara-o para os deveres do dia seguinte. Não dêem a entender a seus filhos que não importa se eles trabalham ou não. Ensinem-lhes que seu auxílio é necessário, seu tempo é valioso, e que vocês contam com seus serviços.” T1 687.1