Testemunhos para a Igreja 1

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Capítulo 114 — Trabalhos adicionais

Experiências de 23 de Dezembro de 1867 a 1 de Fevereiro de 1868

Farei agora um resumo dos incidentes ocorridos, e talvez não possa dar melhor idéia de nossos trabalhos até o tempo do encontro de Vermont, do que referindo aqui o teor de uma carta que escrevi a nosso filho em Battle Creek, em 27 de Dezembro de 1867: T1 653.1

“Meu querido filho Edson: Estou agora assentada à escrivaninha do irmão D. T. Bourdeau, em West Enosburgh, Vermont. Após o encerramento de nosso encontro em Topsham, Maine, estava excessivamente cansada. Enquanto arrumava minha mala, quase desmaiei de cansaço. O último trabalho que realizei ali foi convocar a família do irmão A e ter uma entrevista especial com eles. Falei-lhes palavras de exortação e conforto, e também de correção e conselho a um de seus membros. Tudo que eu disse foi plenamente aceito e seguido de confissão, pranto e grande alívio ao casal A. Essa me é uma obra penosa e muito cansativa. T1 653.2

“Após já estarmos no vagão, deitei e descansei por cerca de uma hora. Tínhamos um compromisso naquela noite, em Westbrook, Maine, para reunirmos com os irmãos de Portland e arredores. Ficamos hospedados no lar da bondosa família do irmão Martin. Eu não estava conseguindo ficar sentada, mas, tendo-me sido solicitado que estivesse na reunião da noite, fui à escola sentindo que não tinha forças para erguer-me e falar ao povo. O prédio estava repleto de ouvintes interessados. O irmão Andrews iniciou a reunião e falou pouco tempo. Seu pai, em seguida, fez algumas observações. Então eu me levantei, e tendo dito umas poucas palavras, senti-me revigorada. Todas as minhas fraquezas pareciam haver-me deixado, e falei durante quase uma hora com perfeita liberdade. Senti inexprimível gratidão por esse auxílio da parte de Deus, justamente no tempo que mais necessitava. Na noite de quarta-feira, falei com desembaraço por quase duas horas sobre as reformas de saúde e do vestuário. Ter minhas forças assim tão inesperadamente renovadas, quando me sentira completamente esgotada antes dessas duas reuniões, foi-me motivo de grande animação. T1 653.3

“Apreciamos estar com a família do irmão Martin e esperamos ver seus queridos filhos entregar o coração a Cristo, e, juntamente com seus pais, combaterem o bom combate cristão e receberem a coroa da imortalidade quando a vitória for alcançada. T1 654.1

“Na quinta-feira fomos novamente a Portland e jantamos com a família do irmão Gowell. Tivemos uma conversa particular com eles e esperamos obter dela bons resultados. Sentimos um profundo interesse pela esposa do irmão Gowell. Este coração de mãe foi ferido ao ver seus filhos sofrerem, morrerem e serem postos na silenciosa sepultura. Tudo vai bem com os que dormem. Que essa mãe também busque a verdade e acumule tesouros no Céu, para que, quando o Doador da vida libertar os cativos da grande prisão da morte, pai, mãe e filhos possam encontrar-se novamente, e os rompidos laços da família possam ser reatados para sempre. T1 654.2

“O irmão Gowell nos levou de carruagem até a estação. Tivemos apenas tempo suficiente de tomar o trem antes que partisse. Viajamos cinco horas e nos encontramos com o irmão A. W. Smith, na estação de Manchester. Ele nos esperava para conduzir-nos até sua casa naquela cidade. Ali pretendíamos descansar por uma noite, mas eis que muita gente estava esperando para nos receber. Tinham vindo de Amherst, cerca de quatorze quilômetros e meio de distância de Manchester, para passar a noite conosco. Tivemos uma reunião agradável, e esperamos, proveitosa para todos. Recolhemo-nos às dez horas. Cedo, na manhã seguinte, deixamos o confortável e hospitaleiro lar do irmão Smith, para prosseguir até Washington. Foi uma viagem lenta e tediosa. Desembarcamos em Hillsborough, onde encontramos uma carruagem esperando para nos levar a Washington, cerca de dezenove quilômetros distante. O irmão Colby tinha um trenó e cobertores, assim viajamos confortavelmente até a poucos quilômetros de nosso destino. A partir daí não havia neve suficiente para o trenó prosseguir. O vento começou a soprar e durante os últimos três quilômetros lançou granizo em nossos rostos e olhos, produzindo dor e quase nos enregelando. Afinal encontramos abrigo no lar aprazível do irmão C. K. Farnsworth. Sua família fez tudo ao seu alcance para nos proporcionar conforto, e tudo foi preparado para que descansássemos o máximo possível. Mas não conseguimos repousar muito. T1 654.3

“No sábado seu pai falou na parte da manhã e, depois de um intervalo de cerca de vinte minutos, eu apresentei um testemunho de reprovação a vários que usavam fumo, e também ao irmão Ball que havia apoiado nossos inimigos, ridicularizando as visões e publicando coisas amargas contra nós no Crisis (Crise), de Boston, e no Hope of Israel (Esperança de Israel), um jornal publicado em Iowa. A reunião da noite seria na casa do irmão Farnsworth. A igreja estava presente e ali seu pai pediu ao irmão Ball que apresentasse suas objeções às visões, e nos desse uma oportunidade para respondê-las. Assim passamos parte da noite. O irmão Ball manifestou muita obstinação e espírito de oposição. Ele admitiu ter ficado satisfeito em alguns pontos, mas manteve-se irredutível. O irmão Andrews e seu pai falaram claramente, explicando assuntos que foram malcompreendidos e condenando a conduta injusta para com os adventistas observadores do sábado. Todos sentimos que havíamos feito o melhor naquele dia para enfraquecer as forças inimigas. Nosso encontro se prolongou até depois das dez da noite. T1 655.1

“Na manhã seguinte assistimos novamente as reuniões na igreja. Seu pai falou na parte da manhã. Mas pouco antes dele falar, o inimigo fez um pobre e fraco irmão achar que tinha grande preocupação pela igreja. Ele andou sobre o banco, falou, gemeu e gritou, possuído por algo terrível que ninguém conseguia compreender. Nós estávamos tentando fazer com que aqueles que professavam a verdade vissem seu estado de terrível escuridão e infidelidade perante Deus, e confessassem humildemente seu extravio, tornando-se ao Senhor em arrependimento para que Ele Se voltasse para eles e curasse suas apostasias. Satanás procurou impedir esse trabalho fazendo com que esse pobre e conturbado homem desgostasse aqueles que desejavam agir com bom senso. Levantei-me e dei um franco testemunho a esse homem. Ele não comera por dois dias e Satanás o enganou, fazendo com que cometesse excessos. T1 656.1

“Em seguida seu pai pregou. Tivemos uns breves momentos de intervalo, e então tentei falar sobre as reformas de saúde e do vestuário, e dei um claro testemunho àqueles que estavam estorvando o caminho dos jovens e dos descrentes. Deus me ajudou a falar claramente ao irmão Ball, e dizer-lhe, no nome do Senhor, o que ele havia feito. Ele ficou muito impressionado. T1 656.2

“Tivemos novamente uma reunião noturna na casa do irmão Farnsworth. O tempo esteve tormentoso durante as reuniões, mas o irmão Ball não faltou a nenhuma delas. O mesmo assunto foi tratado — o exame da conduta que ele havia seguido. Se alguma vez o Senhor ajudou um homem a falar, certamente Ele inspirou o irmão Andrews naquela noite a pregar sobre o tema do sofrimento por amor a Cristo. Falou sobre Moisés, que ‘recusou ser chamado filho da filha de Faraó, escolhendo, antes, ser maltratado com o povo de Deus do que por, um pouco de tempo, ter o gozo do pecado; tendo, por maiores riquezas, o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa’. Hebreus 11:24-26. O Pastor Andrews mostrou que este era um dos muitos exemplos em que ‘o vitupério de Cristo’ foi estimado acima das riquezas e honras mundanas, dos pomposos títulos, da coroa e glória de um reino. O olho da fé fixou-se na glória futura, e a recompensa foi tida como de tal valor que fez as coisas ricas deste mundo parecer como de nenhum valor. Os filhos de Deus ‘experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões. Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos a fio de espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados’ (Hebreus 11:36, 37), mas, sustidos pela fé e esperança, consideraram leves essas aflições; tinham o futuro, a vida eterna, como de valor tão grande que achavam ser pequenos os próprios sofrimentos, em comparação com a futura recompensa. T1 656.3

“O irmão Andrews usou a ilustração de um fiel cristão que estava para ser martirizado por causa de sua fé. Um irmão de fé estivera conversando com ele a respeito do poder da esperança cristã, se esta seria forte o suficiente para sustentá-lo enquanto sua carne estivesse sendo consumida pelo fogo. Esse irmão pediu ao condenado que lhe desse um sinal indicando se a fé e a esperança eram mais fortes do que o fogo consumidor. Como estivesse esperando ser a próxima vítima, achou que isso o fortaleceria para enfrentar a fogueira. O crente que estava prestes a ser executado prometeu dar-lhe um sinal. Ele foi levado ao local da fogueira em meio aos insultos e zombarias da multidão ociosa e curiosa, ali reunida para testemunhar à execução do cristão. A lenha foi trazida e o fogo ateado. O irmão que antes conversara com o condenado fixou os olhos sobre o moribundo mártir, sentindo que dependia muito do sinal. O fogo ardia continuamente. A carne já estava carbonizada, mas o sinal não vinha. Seus olhos não se desviaram, em momento algum, da cena dolorosa. Os braços já estavam queimados. Não havia nenhum sinal de vida. Todos pensavam que o fogo havia feito sua obra e que já não havia mais vida naquele corpo. Mas, eis! Em meio às chamas, seus braços ergueram-se ao Céu. O cristão que observava, cujo coração já se desalentara, vendo o alegre sinal, sentiu uma vibração percorrer-lhe o corpo e renovar-lhe a fé, a esperança e a coragem. Derramou então lágrimas de alegria. T1 657.1

“Enquanto o irmão Andrews falava dos braços carbonizados erguendo-se entre as chamas, ele próprio chorava como criança. Quase toda a congregação foi levada às lágrimas. A reunião encerrou-se quase às dez horas. As nuvens escuras dissiparam-se totalmente. O irmão Hemingway levantou-se e disse que havia estado em completa apostasia, usando fumo, opondo-se às visões e perseguindo a esposa por crer nelas, mas prometeu não mais fazer isso. Pediu perdão à mulher e a todos nós. Sua esposa falou, muito comovida. Sua filha e muitos outros presentes se levantaram para orar. Ele declarou que o testemunho dado pela irmã White parecia ter vindo diretamente do trono divino, e que ele nunca mais ousaria opor-se a ele. T1 658.1

“O irmão Ball então disse que se as coisas eram como nós as víamos, seu caso era muito mau. Confessou que sabia ter estado em apostasia e que fora uma pedra de tropeço para os jovens. Agradecemos a Deus por essa confissão. Queríamos seguir viagem na segunda-feira cedo, a fim de cumprir um compromisso em Braintree, Vermont, reunindo-nos com cerca de trinta observadores do sábado. Mas fazia muito frio e o clima estava tempestuoso para percorrermos quarenta quilômetros, após termos trabalhado tanto. Finalmente decidimos permanecer e continuar o trabalho em Washington, até que o irmão Ball se decidisse pela verdade ou contra ela, e a igreja tivesse esse caso resolvido. T1 658.2

“A reunião iniciou-se às dez horas da manhã de segunda-feira. Os irmãos Rodman e Howard estavam presentes. O irmão Newell Mead, que estava muito doente e tenso, quase igual a seu pai no passado, foi convidado a assistir à reunião. Uma vez mais foi abordada a condição da igreja e foi feita uma severíssima censura àqueles que se interpunham no caminho de sua prosperidade. Com os mais ferventes rogos, suplicamos que se convertessem a Deus e dessem meia-volta. O Senhor nos auxiliou nesse trabalho. O irmão Ball sentiu-se impressionado, mas ficou hesitante. Sua esposa sentiu muito por ele. Nossa reunião encerrou-se às três ou quatro horas da tarde. Todas estas horas, um após o outro, estivemos trabalhando diligentemente pela juventude inconversa. Marcamos nova reunião para a noite, com início às seis horas. T1 658.3

“Justamente antes de entrar para a reunião, foram-me revividas algumas cenas interessantes que me haviam sido mostradas em visão, e falei aos irmãos Andrews, Rodman, Howard, Mead e muitos outros que estavam presentes. Parecia-me que os anjos estavam fazendo uma abertura na nuvem, para deixar passar raios de luz do Céu. O assunto apresentado muito impressivamente foi o caso de Moisés. Exclamei: ‘Quem dera tivesse eu a habilidade de um artista para pintar a cena de Moisés sobre o monte!’ Sua força estava inalterada. Não ‘perdeu o seu vigor’, é a expressão da Escritura. ‘Seus olhos nunca se escureceram’ com a idade, porém, ele subiu ao monte para morrer. Deuteronômio 34:7. Os anjos o sepultaram mas o Filho de Deus logo desceu e o ressuscitou, levando-o para o Céu. Antes, porém, Deus deu-lhe uma visão panorâmica da terra da promessa, com Sua bênção sobre ela. Era como um segundo Éden. Foi-lhe mostrado Cristo em Seu primeiro advento, Sua rejeição pela nação judaica e morte de cruz. Moisés então viu o segundo advento de Cristo e a ressurreição dos justos. Eu também falei do encontro dos dois Adões — o primeiro Adão e Cristo, o segundo — quando o Éden florescer novamente na Terra. Os pormenores desses pontos eu pretendo dar no Testemunho n 14. Os irmãos quiseram que eu repetisse o mesmo assunto na reunião da noite. T1 659.1

“Nossa reunião durante o dia foi muito solene. Eu sentia tal fardo sobre mim no domingo à noite, que chorei alto por quase meia hora. Na segunda-feira foram feitos solenes apelos, e o Senhor os enviou para casa. Entrei na reunião de terça à noite um pouco mais aliviada. Falei durante uma hora com muita liberdade sobre temas que contemplara em visão, aos quais eu já fizera referência. Nossa reunião foi bastante espontânea. Os irmãos Howard e Rodman choraram como crianças. O irmão Andrews falou de maneira fervorosa, tocante e com lágrimas. O irmão Ball se levantou e disse que parecia ter dois espíritos sobre ele naquela noite, um dizendo: Você ainda pode duvidar de que esses testemunhos da irmã White procedem do Céu? O outro espírito apresentava à sua mente as objeções que fazia diante dos inimigos de nossa fé. ‘Oh! se eu me convencesse’, disse ele, ‘a respeito de todas essas objeções; se elas pudessem ser removidas, eu perceberia haver feito à irmã White um grande mal. Recentemente mandei um artigo para o jornal Hope of Israel. Se ainda o tivesse em mãos, jamais o enviaria!’ Ele se comoveu profundamente e chorou muito. O Espírito do Senhor estava presente na reunião. Anjos de Deus pareciam próximos, afastando os anjos maus. Pastor e povo choravam como crianças. Sentimos estar progredindo e que os poderes das trevas estavam recuando. Nossa reunião terminou bem. T1 659.2

“Marcamos ainda outra reunião para as dez horas da manhã do dia seguinte. Falei sobre a humilhação e glorificação de Cristo. O irmão Ball sentou-se próximo a mim e chorou durante todo o tempo em que eu falava. Preguei por cerca de uma hora, e então começamos nosso trabalho com os jovens. Os pais vieram à reunião trazendo os filhos consigo para serem abençoados. O irmão Ball se levantou e fez humilde confissão, dizendo que não vivera como deveria diante de sua família. Confessou aos filhos e à esposa que estivera em apostasia, e que não fora de nenhum auxílio, antes um estorvo, a eles. As lágrimas fluíam copiosamente. Sua vigorosa estrutura estava abalada e soluços embargavam-lhe a voz. T1 660.1

“O irmão James Farnsworth havia sido influenciado pelo irmão Ball e não estivera em plena união com os adventistas observadores do sábado. Ele fez confissão com lágrimas. Então fizemos um apelo às crianças, e treze delas manifestaram o desejo de tornar-se cristãs. Os filhos do irmão Ball estavam entre elas. Um ou dois haviam deixado a reunião, sendo obrigados a voltar para casa. Um rapaz de aproximadamente vinte anos caminhou cerca de sessenta e três quilômetros para nos ver e ouvir acerca da verdade. Nunca havia professado religião, mas tomou posição ao lado do Senhor antes de ir embora. Esta foi uma das melhores reuniões. No final, o irmão Ball foi até seu pai e confessou em lágrimas que havia procedido mal para com ele e rogava-lhe o perdão. Depois se aproximou de mim e confessou que havia sido muito injusto comigo. ‘A senhora pode perdoar-me e pedir a Deus que me perdoe?’ Asseguramos que lhe perdoávamos tão cabalmente quanto esperávamos ser perdoados. Despedimo-nos com muitas lágrimas, sentindo a bênção do Céu sobre nós. Não tivemos nenhuma reunião à noite. T1 660.2

“Na quinta-feira, levantamo-nos às quatro da manhã. Chovera à noite e ainda estava chovendo, todavia nos aventuramos a ir até Bellows Falls, situada cerca de quarenta quilômetros de distância. Os primeiros seis quilômetros foram extremamente difíceis, porquanto havíamos escolhido uma trilha isolada que evitava as íngremes colinas. Passamos sobre pedras e áreas cultivadas, e quase fomos lançados para fora do trenó. Por volta do amanhecer o temporal havia passado e pudemos viajar melhor até atingir a estrada pública. O clima estava muito agradável. Nunca tivemos um dia tão bonito para viajar. Quando chegamos a Bellows Falls, descobrimos que estávamos uma hora atrasados para o trem expresso, e urna hora adiantados para o trem-leito. Não pudemos chegar a St. Albans senão às nove da noite. Tomamos nossos assentos num belo vagão, almoçamos e procuramos aproveitar nossa singela viagem. A seguir preparamo-nos para dormir, se pudéssemos. T1 661.1

“Enquanto eu estava dormindo, alguém me sacudiu vigorosamente os ombros. Acordei e vi uma senhora de boa aparência inclinando-se sobre mim. Ela disse: ‘Você não me reconhece? Sou a irmã Chase. O trem está em White River. Desça por alguns minutos. Moro aqui perto e tenho vindo todos os dias desta semana e passado por todos os vagões para encontrá-la.’ Então me lembrei de haver almoçado em sua casa em Newport. Ela estava muito feliz em nos ver. Ela e sua mãe guardam o sábado sozinhas. Seu marido é chefe de trem. Ela falava rápido. Disse que apreciava muito a Review (revista), porquanto não havia reuniões ali. Queria livros para distribuir a seus vizinhos, mas tinha de conseguir todo o dinheiro que gastava em livros e periódicos. Tivemos uma entrevista proveitosa, embora curta, pois o trem partiu e tivemos de nos separar. T1 661.2

“Em St. Albans encontramo-nos com os irmãos Gould e A. C. Bourdeau. O irmão Bordeau possuía uma bela carruagem coberta e dois cavalos, mas a conduzia de modo tão vagaroso que só chegamos a Enosburgh depois de uma da madrugada. Estávamos exaustos e enregelados. Fomos deitar logo após as duas e dormimos até depois das sete. T1 662.1

“Sábado de manhã. Há um grande afluência de pessoas ali, apesar do mau estado das estradas, que não permite o tráfego de trenós nem de carruagens. Estou indo para a reunião e devo despender algum tempo ali. Seu pai fala esta manhã, e eu à tarde. Que o Senhor nos ajude, é nossa oração. Veja que longa carta eu escrevi. Leia essa carta a quem se interessar, especialmente ao vovô e à vovó White. Como você vê, Edson, temos bastante trabalho a fazer. Espero que não se esqueça de orar por nós. Seu pai tem trabalhado duro, muito duro, até sacrificando sua saúde. Ele algumas vezes percebe a especial bênção de Deus, e isso lhe dá vigor e ânimo para o trabalho. Não temos podido descansar desde que viemos do Leste. Temos empregado todas as nossas forças no trabalho. Que o Senhor abençoe nossos débeis esforços em favor de Seu amado povo. T1 662.2

“Edson, espero que você adorne sua profissão de fé com uma vida bem ordenada e piedosa conversação. Oh, seja fervoroso! Zeloso e perseverante no trabalho. Vigie em oração. Cultive humildade e mansidão. Isto receberá a aprovação de Deus. Esconda-se em Jesus. Que o amor-próprio e o orgulho sejam sacrificados, e você, meu filho, seja suprido de rica experiência cristã, útil para qualquer posição que Deus queira confiar-lhe. Procure fazer uma obra completa, de coração. Uma experiência superficial não passará pela prova do Juízo. Busque uma transformação completa. Que suas mãos não estejam manchadas, o coração maculado, o caráter rebaixado, pelas corrupções do mundo. Mantenha-se diferente. Deus apela: ‘Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e Eu vos receberei; e Eu serei para vós Pai, e vós sereis para Mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso.’ 2 Coríntios 6:17, 18. ‘Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus.’ 2 Coríntios 7:1. T1 662.3

“Recai sobre nós a obra de obtermos perfeita santidade. Quando Deus vir que estamos fazendo tudo ao nosso alcance, então nos dará ajuda. Os anjos nos auxiliarão e seremos fortes mediante Cristo. Não negligencie a oração secreta. Ore por você mesmo. Cresça na graça. Avance. Não fique onde está nem recue. Para a frente, à vitória! Anime-se no Senhor, meu caro rapaz! Lute contra o grande adversário somente um pouco mais, e então o livramento virá e a armadura será deposta aos pés de nosso amado Redentor. Suplante cada obstáculo. Se o futuro parecer um tanto nebuloso, espere e creia. As nuvens desaparecerão e a luz novamente brilhará. Louve ao Senhor, diz meu coração, louve ao Senhor pelo que Ele tem feito por você, por seu pai e por mim. Inicie corretamente um novo ano.” T1 663.1

Sua mãe,

E. G. W.

A reunião de West Enosburgh, Vermont, foi de profundo interesse. Achei muito bom voltar a encontrar velhos e experientes amigos daquele Estado. Uma grande e boa obra foi realizada em curto espaço de tempo. Esses amigos eram pessoas geralmente pobres, trabalhando por suas necessidades básicas num lugar onde um dólar é ganho com muito mais empenho do que dois no Oeste, todavia, foram liberais conosco. Muitos detalhes dessa reunião foram publicados na Review, e a carência de espaço nestas páginas impede sua repetição. Em nenhum Estado, os irmãos têm sido mais verdadeiros para com a causa do que no velho Vermont. T1 663.2

Em nossa viagem para Enosburgh, paramos para passar a noite com a família do irmão William White. O irmão C. A. White, seu filho, apresentou-nos o assunto da patente de sua máquina dupla de lavar e torcer, e pediu conselho. Como eu havia escrito contra nosso povo envolver-se em direitos de patente, ele quis saber justamente qual era minha opinião sobre essa patente. Falei-lhe francamente sobre o que quis e não quis dizer naquilo que havia escrito, e também o que queria dizer. Não disse que estava errado tudo quanto se relacionasse com direitos de patente, pois isto seria quase impossível, visto que a maioria das coisas com que temos de lidar diariamente são patenteadas. Nem pretendi transmitir a idéia de que era errado registrar patente, fabricar e vender qualquer artigo merecedor de patente. O que eu queria que nosso povo entendesse é que é errado permitir ser enganados e defraudados por homens que vão de um lado a outro do país vendendo direitos de propriedade para esta ou aquela máquina ou produto. Muitos desses artigos não são de nenhum valor nem de real benefício. E aqueles que os vendem são, com poucas exceções, uma classe de enganadores. T1 664.1

Alguns de nossos próprios irmãos se envolveram na venda de produtos patenteados, mesmo crendo que eles não eram aquilo que pareciam ser. É incrível que muitos de nosso povo, alguns dos quais já plenamente advertidos, ainda permitam ser enganados pelas falsas declarações desses vendedores de direitos de patente. Algumas patentes são realmente valiosas e poucos têm obtido proveito delas. É minha opinião, porém, que onde um dólar foi ganho, cem se perderam. Não se deve depositar confiança nessas garantias de direito de patentes. E o fato é que aqueles que se envolvem com elas, com poucas exceções, são inequivocamente enganadores e mentirosos, tornando difícil para um homem honesto que apresenta um produto legítimo, obter o crédito e o patrocínio que merece. T1 664.2

O irmão C. A. White apresentou sua máquina de lavar e torcer ao grupo, incluindo os irmãos Bourdeau, Andrews, meu marido e eu, e não pudemos senão olhar com favor para ela. Ele nos presenteou com uma unidade, a qual o irmão Corliss, do Maine, nosso empregado, montou em poucos instantes e a pôs a funcionar. A irmã Burgess, do Condado de Gratiot, nossa empregada doméstica, ficou muito contente com a máquina. Ela funciona bem e é rápida. Uma mulher débil, que tenha filho ou marido para acionar essa máquina, pode lavar grande quantidade de roupa em poucas horas, enquanto que ela nada mais fará do que supervisionar o trabalho. O irmão C. A. White enviou circulares a um grande número de pessoas, e quem tiver interesse poderá dirigir-se a nós, incluindo a postagem. T1 665.1

Nossa próxima reunião foi em Adams Center, Nova Iorque. Foi um grande encontro. Houve muitas pessoas nesse lugar e adjacências cujos casos me haviam sido mostrados e por quem eu sentia profundo interesse. Eram homens de moral digna. Alguns tinham tal condição de vida que tornava a cruz da verdade presente difícil de suportar, ou pelo menos eles pensavam assim. Outros, de meia-idade, foram educados desde a infância para guardar o sábado, mas não suportaram a cruz de Cristo. Estes se achavam numa posição da qual parecia difícil movê-los. Eles precisam ser sacudidos da confiança em suas boas obras e levados a sentir sua condição de perdidos sem Cristo. Não podíamos abandonar essas pessoas e trabalhamos muito para ajudá-las. Por fim, mudaram de pensamento e desde então tenho-me alegrado em receber boas notícias sobre todos eles. Esperamos que o amor do mundo não lhes exclua o amor de Deus do coração. O Senhor está convertendo homens ricos e trazendo-os para nossas fileiras. Se prosperarem na vida cristã, crescerem na graça e finalmente colherem rica recompensa, haverão de usar suas riquezas para fazer avançar a causa da verdade. T1 665.2

Depois de deixar Adams Center, ficamos alguns dias em Rochester e fomos para Battle Creek, onde permanecemos durante o sábado e o domingo. Dali retornamos para casa, onde passamos o sábado seguinte e o domingo, reunidos com irmãos de diversos lugares. T1 666.1

Meu marido tratou da questão do livro em Battle Creek, e essa igreja deu um nobre exemplo. Na reunião de Fairplains, ele falou sobre a colocação, nas mãos de todos os que não podiam comprar, de obras como Spiritual Gifts (Dons Espirituais), Appeal to Mothers (Apelo às Mães), How to Live (Como Viver), Appeal to Youth (Apelo à Juventude), Sabbath Readings (Leituras Sabáticas) e os diagramas com a Key of Explanation (Chave de Interpretação). O plano recebeu apoio geral. Mas acerca desse importante trabalho, falarei oportunamente. T1 666.2