Testemunhos para a Igreja 1

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Capítulo 113 — Pastores, ordem e organização

Alguns pastores têm caído no erro de pensar que não têm liberdade para falar, a menos que levantem a voz a um timbre agudo, falando alto e depressa. Eles devem entender que barulho e falar alto e depressa não são evidências da presença do poder de Deus. Não é a potência da voz que causa impressão duradoura. Os pastores devem ser estudantes da Bíblia e munir-se plenamente das razões de nossa fé e esperança. Então, com pleno controle da voz e das emoções, apresentá-las de tal modo que o povo possa calmamente pesar suas evidências e decidir sobre elas. E à medida que os pastores sentirem a força dos argumentos que apresentam em forma de solene e decisiva verdade, mostrarão zelo e fervor relativos ao conhecimento. O Espírito de Deus lhes santificará a alma e as verdades que apresentam a outros, “e o que regar também será regado”. Provérbios 11:25. T1 645.1

Vi que alguns de nossos pastores não sabem como preservar suas forças, de forma a poderem realizar grande quantidade de trabalho sem ficarem esgotados. Eles não devem orar tão alto e por tanto tempo a ponto de esgotar as energias. Não é necessário cansar a garganta e os pulmões em oração. Os ouvidos de Deus estão sempre atentos para ouvir as sinceras petições de Seus humildes servos. Ele não exige que cansem seus órgãos da fala ao se dirigirem a Ele. Perfeita confiança, firme segurança, a constante súplica pelas promessas de Deus, a fé singela de “que Ele existe, e que é galardoador dos que diligentemente “O buscam” (Hebreus 11:6) — eis o que importa para Deus. T1 645.2

Os pastores devem disciplinar-se e aprender como realizar maior volume de trabalho no breve período de que dispõem, e ainda ter considerável reserva de energias para que, se for requerido um esforço extra, tenham como dispor dela sem prejuízo para si mesmos. Por vezes é requerido que apliquem toda as energias que possuem em determinado ponto, e se eles já esgotaram previamente sua reserva de energias, e não têm condições de fazer frente a essa demanda, tudo quanto fizeram é perdido. Às vezes será preciso empregar todas as forças físicas e mentais para sustentar os mais fortes argumentos, para dispor as evidências na mais clara luz e apresentá-las ao povo da maneira mais enfática, dirigindo-lhes os mais fortes apelos. Quando as pessoas estão a ponto de abandonar as fileiras do inimigo e vir para o lado do Senhor, a batalha se torna mais severa e cruel. Satanás e seus anjos não toleram que alguém que tenha servido sob a bandeira das trevas, tome posição sob a bandeira ensangüentada do Príncipe Emanuel. T1 645.3

Foram-me mostrados exércitos opostos que haviam travado penoso combate. A vitória não fora conquistada por nenhum dos lados. Por fim os fiéis reconhecem que sua força e vigor estão-se dissipando e que serão incapazes de silenciar os inimigos, a menos que os ataquem e se apoderem de suas armas de guerra. É então que, com o risco da própria vida, reúnem todas as suas forças, e investem contra o inimigo. É uma batalha terrível, mas a vitória é conquistada e a fortaleza tomada. Se, no momento crítico, o exército estivesse tão exausto que lhe fosse impossível lançar a última carga e conquistar as fortificações inimigas, a batalha que se estendeu por dias, semanas e mesmo meses de lutas estaria perdida, e muitas vidas sacrificadas inutilmente. T1 646.1

Uma obra semelhante está perante nós. Muitos estão convencidos de que temos a verdade e, todavia, permanecem presos como com grilhões de ferro. Não ousam enfrentar as conseqüências de assumir uma posição ao lado da verdade. Muitos estão no vale da decisão, onde precisam ouvir apelos especiais, diretos e enfáticos, para que deponham suas armas de guerra e tomem posição ao lado do Senhor. Justamente nesse período crítico, Satanás os prende com fortíssimos laços. Se os servos de Deus estão todos exaustos porque esgotaram sua reserva física e mental, acham que nada mais pode ser feito e freqüentemente abandonam inteiramente o campo para iniciar atividades em outro lugar. Meios, tempo e trabalho, tudo ou quase tudo foi gasto sem qualquer resultado. Sim, é pior do que se nunca tivessem começado o trabalho naquele lugar, pois após o povo ter sido profundamente convencido pelo Espírito de Deus e levado ao ponto de decisão, e ser deixado a perder o interesse, e tomar decisão contrária às evidências, não pode outra vez tão facilmente ser levado a interessar-se no assunto. Terão, em muitos casos, tomado sua decisão final. T1 646.2

Se os pastores preservarem suas forças para, exatamente no momento em que tudo parecer desenrolar-se da maneira mais difícil, fazerem os mais diligentes esforços, os mais vigorosos apelos, os mais veementes pedidos e, como aguerridos soldados, no momento crítico, investirem contra o inimigo, obterão a vitória. As pessoas serão fortalecidas para romper as algemas de Satanás e fazer suas decisões para a vida eterna. O trabalho bem dirigido e no tempo certo tornará bem-sucedidos os esforços longamente desenvolvidos. Esse trabalho, mesmo se deixado por uns poucos dias, será um completo fracasso em muitos casos. Os pastores precisam dedicar-se ao trabalho como missionários e aprender como dirigir esforços a fim de obter a máxima vantagem. T1 647.1

Alguns pastores, no começo de uma série de reuniões, tornam-se muito zelosos e assumem encargos que Deus não lhes destinou, consomem assim suas forças cantando, orando e falando longamente e em alto volume. Esgotam-se e precisam ir para casa a fim de descansar. O que foi realizado através desse esforço? Literalmente nada. Os obreiros tinham entusiasmo e “zelo..., mas não com entendimento”. Romanos 10:2. Não demonstraram sábia estratégia. Andaram sobre a carruagem dos sentimentos, mas não houve nenhuma vitória sobre o inimigo. Não penetraram e conquistaram sua fortaleza. T1 647.2

Foi-me mostrado que os ministros de Cristo devem disciplinar-se para a guerra. Grande sabedoria é requerida no comando da obra de Deus, muito mais do que a que se exige de generais envolvidos em batalhas. Os ministros de Deus estão empenhados numa grande obra. Estão combatendo não meramente contra homens, mas contra Satanás e seus anjos. Requer-se aqui um sábio comando. Devem eles tornar-se estudantes da Bíblia e dedicar-se completamente à obra. Quando iniciarem o trabalho num lugar, devem ser capazes de dar as razões de nossa fé, não de maneira rude nem turbulenta, mas com mansidão e temor. O poder convincente está nos fortes argumentos apresentados na mansidão e temor de Deus. T1 647.3

Talentosos ministros de Cristo são requeridos na obra para estes últimos dias de perigo. Sejam eles poderosos em palavra e doutrina, familiarizados com as Escrituras e sabedores das razões de nossa fé. Minha atenção foi dirigida para estes versículos, cujo significado não tem sido compreendido por alguns pastores: “Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós.” 1 Pedro 3:15. “A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um.” Colossences 4:6. “E ao servo do Senhor não convém contender, mas, sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; instruindo com mansidão os que resistem, a ver se, porventura, Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade e tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em cuja vontade estão presos.” 2 Timóteo 2:24-26. T1 648.1

Requer-se que o homem de Deus, o ministro de Cristo, “seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra.” 2 Timóteo 3:17. Um pastor pomposo, cheio de dignidade própria, não é necessário nesta boa obra. É necessário, porém, decoro no púlpito. Um ministro do evangelho não deveria ser descuidado com sua atitude. Se é representante de Cristo, seu comportamento, atitude e gestos devem ser de tal caráter que não firam os espectadores. Devem os pastores possuir refinamento. Devem descartar todas as maneiras, gestos e atitudes descorteses, promovendo a humilde dignidade da posição. Cumpre-lhes vestir-se de modo coerente com a dignidade de sua posição. Sua linguagem deve em todos os sentidos ser solene e bem escolhida. Foi-me mostrado que é errado usar expressões grosseiras e irreverentes, contar anedotas para divertir, ou apresentar ilustrações cômicas para produzir riso. Sarcasmo ou brincadeiras com as palavras de um oponente estão completamente fora do método de Deus. Os pastores não devem achar que não podem melhorar sua voz e maneiras. Muito pode ser feito. A voz pode ser cultivada de tal maneira que o falar longamente não prejudique os órgãos vocais. T1 648.2

Os pastores devem ser amantes da ordem e praticantes da autodisciplina. Então poderão com êxito disciplinar a igreja de Deus e ensiná-la a trabalhar em harmonia, semelhante a uma companhia de soldados bem preparada. Se a disciplina e a ordem são necessárias para uma ação bem-sucedida no campo de batalha, elas são tanto mais requeridas na luta em que estamos empenhados, assim quanto maior é o nosso objetivo a ser alcançado, pois no conflito em que estamos envolvidos, interesses eternos estão em jogo. T1 649.1

Os anjos trabalham harmoniosamente. Perfeita ordem caracteriza todos os seus movimentos. Quanto mais atentamente imitarmos a harmonia e a ordem da multidão angélica, tanto mais bem-sucedidos serão os esforços desses agentes celestiais em nosso favor. Se não virmos necessidade de ação harmoniosa, e formos desordenados, indisciplinados e desorganizados em nosso modo de agir, os anjos, que são totalmente organizados e se movem em perfeita ordem, não conseguem agir com sucesso em nosso favor. Eles se afastam entristecidos, pois não estão autorizados a abençoar confusão, desordem e desorganização. Todos os que desejarem a cooperação dos mensageiros celestiais, devem trabalhar em uníssono com eles. Os que possuem a unção do alto desejarão em todos os seus esforços estimular a ordem, a disciplina, a unidade de ação, e então os anjos de Deus podem cooperar com eles. Mas nunca, nunca esses mensageiros celestiais darão seu endosso à irregularidade, desorganização e desordem. Todos esses males são resultado dos esforços de Satanás para enfraquecer nossas forças, destruir o ânimo e impedir a ação bem-sucedida. T1 649.2

Satanás bem sabe que o sucesso só pode acompanhar a ação ordeira e harmoniosa. Sabe que tudo quanto se acha ligado ao Céu está em perfeita ordem, que sujeição e perfeita disciplina marcam os movimentos da multidão angélica. É seu estudado esforço levar os professos cristãos o mais distante possível dos arranjos feitos pelo Céu. Portanto, ele engana mesmo o professo povo de Deus, e o faz crer que a ordem e a disciplina são inimigas da espiritualidade; que a única segurança para eles é deixar que cada um siga a própria conduta e aja independentemente do corpo de crentes, que está unido e trabalhando para estabelecer disciplina e harmonia de ação. Todos os esforços feitos para estabelecer ordem são considerados perigosos, uma restrição da justa liberdade e, conseqüentemente, devem ser temidos como papismo. Essas pessoas enganadas consideram virtude gabar-se de sua liberdade de pensar e agir independentemente. Não aceitarão nada do que qualquer homem diz. Não se submetem a nenhum homem. Foi-me mostrado que é obra especial de Satanás levar os homens a achar que é o plano de Deus que eles se tornem auto-suficientes e escolham a própria conduta, independentemente de seus irmãos. T1 650.1

Minha atenção foi dirigida para os filhos de Israel. Logo depois de deixarem o Egito, estavam organizados e mais plenamente disciplinados. Deus havia, por Sua especial providência, qualificado Moisés para permanecer à testa dos exércitos de Israel. Ele havia sido um poderoso guerreiro no comando dos exércitos egípcios, jamais sobrepujado por nenhum outro em dom de comando. O Senhor não permitiu que Seu santo tabernáculo fosse transportado descuidadamente por qualquer tribo. Foi tão minucioso em especificar a ordem que deveria ser observada no transporte da arca, quanto em designar uma família específica da tribo dos levitas para carregá-la. Quando era para o bem do povo e para a glória de Deus que erguessem as tendas em determinado lugar, Deus manifestava Sua vontade fazendo com que a coluna de nuvem repousasse diretamente sobre o tabernáculo, onde permanecia até que novamente lhes desse ordem para partir. Em todas as suas jornadas lhes era requerido observar perfeita ordem. Cada tribo conduzia um estandarte com o emblema da casa de seu pai, e cada tribo devia acampar sob a própria bandeira. Quando a arca era movimentada, os exércitos se deslocavam e as diferentes tribos marchavam em ordem sob seus pendões. Os levitas foram designados por Deus como a tribo que deveria levar a arca. Moisés e Arão marchavam logo adiante da arca e os filhos de Arão seguiam próximo a eles, cada um com suas trombetas. Eles recebiam instruções de Moisés, as quais deviam transmitir ao povo através do toque das trombetas. Estes instrumentos produziam sons especiais que o povo compreendia e atendia, movimentando-se de acordo com eles. T1 650.2

Os trombeteiros tocavam um sinal especial para chamar a atenção do povo, então todos ficavam atentos e obedeciam ao som emitido. Não havia confusão de sons no toque das trombetas, portanto não havia desculpas para confusão nos movimentos. O comandante de cada companhia dava instruções definidas sobre os movimentos que deviam fazer, e ninguém que prestasse atenção ignorava o que fazer. Se alguém falhasse no cumprimento das exigências dadas pelo Senhor a Moisés e por Moisés ao povo, era punido com a morte. Ninguém podia alegar ignorância sobre a natureza das ordens, pois isso apenas evidenciaria desconhecimento voluntário e receberia a justa punição pela transgressão. Se alguém desconhecesse a vontade de Deus concernente a si, seria por culpa própria. Tinha as mesmas oportunidades de obter conhecimento como as outras pessoas, portanto, seu pecado de desconhecer, de não entender, era tão grande à vista de Deus como se tivesse ouvido e depois transgredido. T1 651.1

O Senhor designou uma família especial da tribo de Levi para transportar a arca. Outros levitas foram especialmente apontados por Deus para transportar o tabernáculo, seus móveis e utensílios, e também armá-lo e desarmá-lo. E se algum homem, por curiosidade ou falta de ordem, saísse de seu lugar e tocasse qualquer parte do santuário ou sua mobília, ou mesmo se aproximasse de algum trabalhador ali, sofreria a morte. Deus não permitia que Seu santo tabernáculo fosse transportado, montado e desmontado indiscriminadamente por qualquer tribo que escolhesse esse trabalho, mas pessoas eram escolhidas, as quais sabiam apreciar o caráter sagrado da obra na qual estavam empenhadas. Esses homens apontados por Deus eram instruídos a apresentar ao povo a especial santidade da arca e tudo quanto a ela pertencia, para que não olhassem para essas coisas sem compreender-lhes a santidade, e assim fossem apartados de Israel. Todas as coisas pertencentes ao lugar santíssimo tinham de ser olhadas com reverência. T1 652.1

As viagens dos filhos de Israel foram fielmente descritas. O livramento que o Senhor realizou em seu favor, sua perfeita organização e especial ordem, seu pecado de murmuração contra Moisés e desse modo contra Deus, suas transgressões, rebeliões, punições; seus cadáveres espalhados no deserto por causa da má vontade em submeter-se aos sábios desígnios de Deus, todo esse quadro fiel nos é mostrado como advertência, a fim de que não sigamos seu exemplo de desobediência e fracassemos como eles. T1 652.2

“Mas Deus não Se agradou da maior parte deles, pelo que foram prostrados no deserto. E essas coisas foram-nos feitas em figura, para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram. Não vos façais, pois, idólatras, como alguns deles; conforme está escrito: O povo assentou-se a comer e a beber e levantou-se para folgar. E não nos prostituamos, como alguns deles fizeram e caíram num dia vinte e três mil. E não tentemos a Cristo, como alguns deles também tentaram e pereceram pelas serpentes. E não murmureis, como também alguns deles murmuraram e pereceram pelo destruidor. Ora, tudo isso lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos. Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia.” 1 Coríntios 10:5-12. Deixou o Senhor de ser um Deus de ordem? Não. Ele é o mesmo tanto na presente dispensação como na passada. Diz Paulo: “Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz.” 1 Coríntios 14:33. Ele é tão específico hoje como então. Deseja que aprendamos lições de ordem e organização a partir da perfeita ordem instituída nos dias de Moisés para benefício dos filhos de Israel. T1 652.3