Temperança

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Apêndice B — Típicas palestras sobre temperança por Ellen G. White

Capítulo 1 — Em Cristiânia, Noruega — 1886

No domingo, por solicitação do presidente da sociedade de temperança, falei sobre esse assunto. A reunião teve lugar no ginásio militar dos soldados, o maior salão da cidade. Foi colocada sobre o púlpito, à guisa de pálio, a bandeira americana, atenção que apreciei grandemente. Havia umas seiscentas pessoas ali reunidas. Entre elas, um bispo da igreja oficial, com uma porção de clérigos; grande parte da assembléia pertencia à melhor classe da sociedade. Te 267.1

A maneira de tratar — Iniciei o assunto do ponto de vista religioso, mostrando que a Bíblia está cheia de histórias referentes à temperança, e que Cristo relacionou-Se com a obra da temperança, já desde o princípio. Foi pela condescendência com o apetite que nossos primeiros pais pecaram e caíram. Cristo redimiu o fracasso do homem. No deserto da tentação Ele resistiu à prova em que o homem falhara. Enquanto Ele estava a sofrer a mais cruciante tortura da fome, fraco e emagrecido pelo jejum, estava ao lado Satanás com suas múltiplas tentações para assaltar o Filho de Deus, para aproveitar-se de Sua fraqueza e vencê-Lo, impedindo assim o plano da salvação. Cristo, porém, foi firme. Venceu em favor da raça, a fim de podê-los salvar da degradação da queda. Mostrou que, em Seu poder, é possível vencermos. Jesus Se compadece da fraqueza humana; veio à Terra a fim de trazer-nos força moral. Ainda que forte a paixão ou o apetite, é-nos possível ganhar a vitória, porque podemos ter força divina para unir a nossos fracos esforços. Aqueles que fogem para Cristo, terão uma fortaleza no dia da tentação. Te 267.2

A advertência da história bíblica — Mostrei a importância dos hábitos temperantes mediante citações de advertências e exemplos da história bíblica. Nadabe e Abiú eram homens que ocupavam posições santas; mas, pelo uso do vinho sua mente ficou tão obscurecida que não puderam distinguir entre as coisas sagradas e as comuns. Por oferecerem “fogo estranho”, menosprezaram o mandamento de Deus, e foram mortos por Seus juízos. Por meio de Moisés, o Senhor proibiu expressamente o uso de vinho e bebida forte pelos que deviam ministrar nas coisas santas, para que pudessem “fazer diferença entre o santo e o profano”, e pudessem ensinar “os estatutos que o Senhor lhes tem falado”. O efeito das bebidas intoxicantes é enfraquecer o corpo, confundir a mente, e aviltar a moral. Todos quantos ocupavam posições de responsabilidade deviam ser homens estritamente temperantes, a fim de que sua mente fosse clara para discriminar entre o direito e o erro, e assim pudessem possuir firmeza de princípios, e sabedoria para administrar justiça e mostrar misericórdia. Te 268.1

Esse mandamento direto e solene devia-se estender de geração a geração, até ao fim do tempo. Em nossos salões legislativos e cortes de justiça não menos que em nossas escolas e igrejas, necessitam-se homens de princípios; homens que se dominem a si mesmos, de vivas percepções e juízo são. Se a mente fica nublada ou os princípios são rebaixados pela intemperança, como pode o juiz dar uma justa decisão? Tornou-se incapaz de pesar as evidências ou entrar em investigação crítica; ele não possui força moral para erguer-se acima dos motivos de interesse próprio ou da influência da parcialidade ou do preconceito. E por isso talvez uma vida humana seja sacrificada, ou um inocente privado de sua liberdade ou do seu bom nome que é mais caro que a própria vida. Deus proibiu que aqueles a quem Ele confiou sagrados depósitos como mestres ou governadores do povo se incapacitem assim para os deveres de sua elevada posição. Te 268.2

Instruções a Manoá e a Zacarias — Há lição para os pais nas instruções dadas à mulher de Manoá, e a Zacarias, pai de João Batista. O anjo do Senhor trouxe as novas de que Manoá devia ser pai de um filho que devia libertar a Israel; e, em resposta à ansiosa pergunta: “Como se há de criar o menino, e que fará ele?” o anjo deu especiais direções para a mãe: “De nenhum produto da vinha poderá ela comer, não beba vinho nem bebida que possa embriagar, e não coma cousa alguma imunda. Guarde tudo quanto lhe ordenei.” [Trad. Brasileira.] A criança será afetada, para bem ou mal, pelos hábitos da mãe. Ela própria deve ser controlada por princípios, e precisa observar temperança e abnegação, caso busque o bem-estar de seu filho. E os pais da mesma maneira que as mães são incluídos nessa responsabilidade. Ambos transmitem os próprios característicos, mentais e físicos, suas disposições e apetites, a seus filhos. Em resultado da intemperança paterna, são os filhos muitas vezes carecidos de força física e de capacidade mental e moral. Os bebedores de bebidas alcoólicas e os amantes do fumo transmitem sua insaciável sede, o sangue inflamado e os nervos irritados em herança a seus descendentes. E como os filhos têm menos poder para resistir à tentação do que o tiveram seus pais, cada geração cai mais baixo que a anterior. Te 269.1

A indagação de cada pai e mãe deve ser: “Que faremos à criança que nos há de nascer?” Muitos são inclinados a tratar esse assunto levianamente, mas o fato de que um anjo do Céu foi enviado àqueles pais hebreus duas vezes com instruções dadas da maneira mais explícita e solene, mostra que Deus o considera de grande importância. Te 269.2

Quando o anjo Gabriel apareceu a Zacarias, predizendo o nascimento de João Batista, foi esta a mensagem que trouxe: [Ele] “será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo”. Deus tinha importante obra para o prometido filho de Zacarias; obra que demandaria mente ativa e vigorosa ação. Ele precisava possuir constituição física sã, e resistência mental e moral; e era para assegurar-lhe essas qualificações necessárias que seus hábitos deviam ser cuidadosamente regulados já desde a infância. Os primeiros passos na intemperança são muitas vezes dados na meninice e adolescência; mui diligentes esforços, portanto, devem ser dirigidos no sentido de esclarecer os pais quanto a sua responsabilidade. Os que põem vinho e cerveja em sua mesa estão cultivando nos filhos o apetite para a bebida forte. Insisto em que os princípios de temperança sejam introduzidos em todos os detalhes da vida doméstica; que o exemplo dos pais seja uma lição de temperança; que a abnegação e o domínio próprio sejam ensinados aos filhos e feitos respeitar por eles o quanto possível, mesmo desde o berço. Te 269.3

A juventude índice da sociedade futura — O futuro da sociedade é indicado pela juventude de hoje. Neles vemos os futuros mestres, legisladores e juízes, os dirigentes e o povo que determinam o caráter e o destino da nação. Quão importante, pois, é a missão dos que devem formar os hábitos e influenciar a vida da geração nascente! Lidar com a mente é a maior obra que já foi confiada a homens. O tempo dos pais é demasiado valioso para ser gasto na satisfação do apetite ou na perseguição de riquezas ou das modas. Pôs-lhes Deus nas mãos a preciosa mocidade, não somente para ser preparada para um lugar de responsabilidade nesta vida, mas para as cortes celestes. Cumpre-nos manter em vista a vida futura, e trabalhar de maneira que, ao chegarmos às portas do Paraíso, possamos dizer: “Eis-me aqui, com os filhos que me deu o Senhor.” Te 270.1

Mas no trabalho de temperança há deveres impendentes sobre os jovens, os quais ninguém pode fazer por eles. Ao passo que os pais são responsáveis pelo cunho de caráter bem como quanto à educação e preparo que dão a seus filhos e filhas, ainda permanece verdade que nossa posição e utilidade no mundo dependem, em alto grau, de nossa própria conduta. Te 270.2

Daniel, um nobre exemplo — Em parte alguma encontraremos ilustração mais compreensiva e eloqüente da verdadeira temperança e das bênçãos que a acompanham do que na história do jovem Daniel e seus companheiros na corte de Babilônia. Quando eles foram escolhidos para ser instruídos nas letras e na língua dos caldeus, para “viverem no palácio do rei”, este lhes determinou “a ração de cada dia, da porção do manjar do rei, e do vinho que ele bebia”. “E Daniel assentou no seu coração não se contaminar com a porção do manjar do rei, nem com o vinho que ele bebia.” Não somente esses mancebos declinaram o beber o vinho do rei, mas abstiveram-se das iguarias de sua mesa. Obedeceram à lei divina, tanto a natural como a moral. A seus hábitos de renúncia aliavam-se a sinceridade de propósito, a diligência e a firmeza. E os resultados manifestam a sabedoria de sua orientação. Te 271.1

Deus honra sempre o direito. Os jovens mais promissores de todas as terras sujeitadas pelo grande conquistador, haviam-se reunido em Babilônia; todavia entre todos eles, os cativos hebreus não tinham rival. A figura ereta, o passo firme e flexível, o semblante sereno, mostrando a pureza do sangue, os sentidos não embotados, o hálito incontaminado — tudo era testemunho dos bons hábitos, insígnia de nobreza com que são honrados pela Natureza aqueles que são obedientes a suas leis. E quando sua capacidade e suas aquisições foram provadas pelo rei ao fim daqueles três anos de preparo, nenhum foi achado “como Daniel, Hananias, Misael e Azarias”. Sua pronta percepção, sua linguagem escolhida e correta, seus extensos e variados conhecimentos, testificaram do equilíbrio de resistência e do vigor de suas faculdades mentais. Te 271.2

A história de Daniel e seus companheiros foi registrada nas páginas da Palavra Inspirada para benefício da juventude de todos os séculos que se sucedessem. Todos os que quisessem conservar equilibradas suas faculdades para o serviço de Deus, precisariam observar estrita temperança no uso de todas as Suas generosas dádivas, bem como abstinência total de todas as satisfações prejudiciais ou aviltantes. O que homens têm feito, homens podem fazer. Ficaram aqueles nobres hebreus firmes em meio de grande tentação, e deram nobre testemunho em favor da verdadeira temperança? A juventude de hoje pode dar testemunho semelhante, mesmo sob circunstâncias assim desfavoráveis. Oxalá fossem eles estimulados pelo exemplo daqueles jovens hebreus; pois todos quantos quiserem podem, como eles, fruir o favor e as bênçãos de Deus. Te 272.1

Dinheiro que poderia haver feito bem — Há ainda outro aspecto da questão da temperança, que devia ser cuidadosamente considerado. Não somente é o uso de estimulantes contrários à natureza, desnecessário e pernicioso, como é extravagante e esbanjador. Uma soma imensa é assim dissipada a cada ano. O dinheiro gasto com fumo sustentaria todas as missões do mundo; os meios mais do que desperdiçados com bebidas fortes, educariam a mocidade ora sendo levada pela corrente para uma vida de ignorância e de crime, e prepará-la-ia para realizar nobre serviço para Deus. Milhares e milhares de pais existem que gastam seu ordenado na satisfação do próprio eu, roubando a seus filhos o alimento e a roupa, bem como os benefícios da educação. E multidões de professos cristãos estimulam essa prática mediante seu exemplo. Que prestação de contas será feita a Deus por tais desperdícios de Sua munificência? Te 272.2

O dinheiro é um dos dons a nós confiados para alimentar o faminto, vestir o nu, atender ao aflito, e transmitir o evangelho aos pobres. Como, porém, é tal obra negligenciada! Quando o Senhor vier para ajustar as contas com Seus servos, não dirá a muitos: “Quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a Mim”? Em todo o nosso redor há trabalho a fazer para Deus. Nossos meios, nosso tempo, nossas forças e influências, são necessários. Lançaremos nós mãos dessa obra, e viveremos para glorificação de Deus e bênção a nosso semelhante? Edificaremos o reino de Deus na Terra? Te 272.3

Há necessidade agora de homens como Daniel — homens que possuam a abnegação e a coragem de ser radicais reformadores pró-temperança. Cuide cada cristão de que seu exemplo e influência estejam do lado da reforma. Sejam os ministros do evangelho fiéis em fazer soar ao povo as advertências. E lembrem-se todos de que nossa felicidade em dois mundos depende do justo aproveitamento de um deles. — Historical Sketches of Foreign Missions of the Seventh Day Adventist, 207-211. Te 273.1