O Sábado e o Domingo nos Primeiros Três Séculos: o Testemunho Completo dos Pais da Igreja

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Testemunho de Anatólio, Bispo de Laodiceia

Esse pai escreveu por volta de 270 d.C. Ele participou da discussão da questão se a festa da Páscoa deveria ser celebrada no décimo quarto dia do primeiro mês, o mesmo dia em que os judeus observavam a Páscoa, ou se ela deveria ser observada no próximo suposto dia do Senhor. Nessa discussão, ele usa o termo dia do Senhor, em seu primeiro cânone, uma vez, citando-o de Orígenes; em seu sétimo, duas vezes; em seu décimo, duas vezes; em seu décimo primeiro, quatro vezes; em seu décimo segundo, uma vez; em seu décimo sexto, duas vezes. Esses são todos os casos onde ele utiliza o termo. Nós citamos alguns daqueles que lançam alguma luz sobre o significado desse termo usado por ele. Em seu sétimo cânone, ele diz: “A obrigação da ressurreição do Senhor ordena guardar a festa pascal no dia do Senhor”. Em seu décimo cânone ele usa a seguinte linguagem: “A festa solene da ressurreição do Senhor pode ser celebrada apenas no dia do Senhor”. E também “que não deveria ser lícito celebrar o mistério da Páscoa do Senhor em nenhum outro tempo senão no dia do Senhor, no qual teve lugar a Sua ressurreição da morte, e no qual também fez surgir para nós, a causa da alegria eterna”. Em seu décimo primeiro cânone ele diz: “Foi no dia do Senhor que a luz nos foi mostrada no princípio, e agora também no fim, o conforto de todo o presente e o símbolo de todas as bênçãos futuras”. Em seu décimo sexto cânone, ele diz: “Nossa consideração pela ressurreição do Senhor, que teve lugar no dia do Senhor, nos levará a celebrá-la de acordo com o mesmo princípio”. SDS 98.1

O leitor pode estar curioso para saber por que uma controvérsia teria surgido a respeito do dia apropriado para a celebração da Páscoa na igreja cristã, quando nenhuma celebração assim jamais fora ordenada. A explicação é essa: A festa era celebrada unicamente sob a autoridade da tradição, e haviam, nesse caso, duas tradições diretamente conflitantes, como é demonstrado em detalhes no décimo cânone desse pai. Um grupo herdou sua tradição de João, o apóstolo, e defendia que a festa pascal devia ser celebrada todos os anos, “sempre que chegasse o décimo quarto dia da lua, e o cordeiro fosse sacrificado pelos judeus”. Mas o outro grupo herdou sua tradição dos apóstolos Pedro e Paulo, e defendia que essa festa não devia ser celebrada nesse dia, mas no suposto dia do Senhor seguinte. E então levantou-se uma feroz controvérsia, que foi decidida em 325 d.C., pelo Concílio de Niceia, a favor de São Pedro, que tinha ao seu lado seu pretenso sucessor, o poderoso e astuto bispo de Roma. SDS 98.2

O termo “dia do Senhor” nunca tinha sido aplicado ao domingo até os anos finais do segundo século. E Clemente, que é o primeiro a fazer tal aplicação, apresenta o verdadeiro dia do Senhor como sendo constituído de cada um dos dias da vida cristã. E essa opinião é compartilhada por outros depois dele. SDS 99.1

Mas depois que entramos no terceiro século, o nome “dia do Senhor” é frequentemente aplicado ao domingo. Tertuliano, que viveu na época em que primeiro encontramos essa aplicação, declara francamente que a festa do domingo, à qual ele dá o nome de dia do Senhor, não tinha autoridade bíblica, mas que era fundamentada na tradição. Mas não deveriam as tradições do terceiro século ser consideradas autoridade suficiente para chamar o domingo de dia do Senhor? Os próprios homens daquele século, que assim falam acerca do domingo, com toda a força incentivam a observância da festa da Páscoa. Devemos aceitar essa festa, que eles nos apresentam sob a autoridade de sua tradição apostólica? Como se nos ensinassem a insensatez de acrescentar a tradição à Bíblia, como parte das nossas regras de fé; acontece que existem desde o início do segundo século, duas tradições diretamente conflitantes sobre qual dia deveria ser guardado para a Páscoa. Um grupo herdou sua tradição de São João, o outro herdou a sua de São Pedro e São Paulo! E é muito notável que, embora cada um desses grupos afirme saber por meio de um ou outro desses apóstolos, que eles tinham o dia certo para a Páscoa, e que o outro grupo tinha o dia errado, nunca houve nenhuma reinvindicação de algum desses pais que o domingo é o dia do Senhor porque João, na ilha de Patmos, assim o chamou! Se os homens, no segundo e terceiro séculos, estavam totalmente errados em suas tradições a respeito da Páscoa, como certamente estavam, devemos considerar as tradições do terceiro século como autoridade suficiente para afirmar que o título “dia do Senhor” pertence ao domingo por autoridade apostólica? SDS 99.2