Estudos em Educação Cristã
Democracia Cristã e Autonomia dos Estudantes
Individualidade, originalidade e independência de pensamento e ação por parte dos estudantes são, enfim, destruídas pelo sistema papal de educação e outros sistemas dele derivados. Os promotores desse sistema têm a intenção de destruir esses elementos vitais de caráter, a fim de tornar o indivíduo um servo subserviente, cego e obediente aos mandatos de homens. O papado só pode prosperar se destruir essas faculdades humanas que nos assemelham a Deus. Individualidade, originalidade e independência de pensamento e ação são desenvolvidas pela educação cristã. Esse sistema pretende desenvolver mentes capazes de ser guiadas pelo Espírito Santo, embora esse caminho possa ser, às vezes, diametralmente oposto às leis humanas. Eles aprendem a receber ordens do Capitão do exército do Senhor, cuja mão está entre as engrenagens dos assuntos dos homens para impedir a confusão, anarquia e desobediência a qualquer organização que esteja baseada em princípios corretos. EEC 60.1
Deus estava preparando um povo que pudesse ser guiado completamente pelo Seu Espírito na proclamação do clamor da meia-noite. Somente aqueles treinados para tomar a iniciativa e ser autônomos ousariam romper, mediante o chamado de Deus, com os erros e costumes de Roma que se encontravam nas igrejas protestantes. EEC 60.2
“O clamor da meia-noite foi proclamado por milhares de crentes. Semelhante à vaga da maré, o movimento alastrou-se pelo país... Desapareceu o fanatismo ante essa proclamação, como a geada matutina perante o Sol a erguer-se... todos eram de um mesmo coração e espírito... Ele provocou desapego das coisas deste mundo, afastamento de controvérsias e animosidades, confissão de faltas... Eram enviados anjos do Céu para despertar os que se haviam desanimado e prepará-los para receber a mensagem... Não foram os mais talentosos os primeiros a ouvir e obedecer ao chamado, mas os mais humildes e dedicados. Lavradores deixaram as colheitas nos campos, mecânicos depuseram as ferramentas, e com lágrimas e regozijo saíram a dar a advertência. Os que anteriormente haviam dirigido a causa foram os últimos a unir-se a este movimento. As igrejas, em geral, fecharam as portas a esta mensagem, e numeroso grupo dos que a receberam cortou sua ligação com elas... Ia com ela um poder impulsor que movia a alma” (O Grande Conflito, p. 400-402). EEC 60.3
Não é necessária profunda reflexão para descobrir a causa do fracasso do sistema educacional das denominações protestantes em treinar homens e mulheres para participar do clamor da meia-noite. Todo o esquema de educação daquela época, com exceção do movimento de reforma que foi amplamente enfraquecido pela pressão dos líderes das igrejas populares, estava voltado a tornar os homens conservadores e receosos de deixar os modos tradicionais de ação; e, consequentemente, “as igrejas em geral fecharam suas portas contra esta mensagem”. Professores e pregadores protestantes, em harmonia com o papado, tinham por muito tempo atado a mente dos alunos e membros da igreja a credos, tanto na educação quanto na religião, até que seus adeptos se tornaram governados pela tradição, preconceito, intolerância e medo de seus líderes. Eles tinham perdido seu amor e poder de regerem a si próprios. Consequentemente, Deus não pôde guiá-los por Seu Espírito; a organização deles foi rejeitada. Eles haviam caído moralmente, e o segundo anjo os chamou de Babilônia. Por outro lado, algumas escolas dedicadas, e alguns reformadores educacionais e ministros, haviam treinado um pequeno grupo para apreciar o privilégio de serem governados pelo Espírito de Deus, conforme revelado em Sua Palavra. Eles haviam praticado o que lhes havia sido ensinado sobre o governo de si mesmo, chegando ao ponto de estarem dispostos a seguir a orientação do Espírito. Isso mostra que o verdadeiro governo de si mesmo não significa “faça como quiser”; e sim que o eu deve ser governado pela Palavra de Deus. Embora esse grupo tenha sido expulso das igrejas organizadas, tenha deixado suas colheitas, ferramentas e antigos empregos de todos os tipos para participar do que parecia, para aqueles que não tinham aprendido o autogoverno, um movimento fanático, todavia, foi a partir desse grupo que surgiu a maravilhosa Igreja Adventista do Sétimo Dia. E essa igreja é chamada para mostrar ao mundo um sistema de escolas, instituições e organizações de cristãos autônomos, tais como o mundo jamais viu antes. EEC 60.4
O caráter capaz de transmitir o clamor da meia-noite tinha de ser desenvolvido nas escolas cristãs de treinamento manual, ou na escola prática da vida. O líder desse movimento, Guilherme Miller, “o profeta-fazendeiro”, como Cristo e João Batista, foi educado na última. Seu biógrafo, um homem bem qualificado para julgar o valor do sistema de educação popular das igrejas, escreveu: EEC 61.1
“Qual teria sido o efeito do que é hoje chamado de curso regular de educação? Teria ele pervertido Miller, como fez com milhares? Ou teria feito dele um instrumento de um bem maior na causa de Deus? Teria ele realizado seu trabalho de forma adequada, de disciplinar, ampliar e enriquecer a mente, deixando, no decorrer do processo, sem danos suas energias naturais, seu senso de dependência e responsabilidade para com Deus? Ou será que tal sistema o teria colocado nas fileiras apinhadas daqueles que se contentam em compartilhar a honra de repetir as tagarelices, quer verdadeiras ou falsas, que passam por verdades nas escolas ou seitas que fizeram delas o que são? Pensamos que teria sido difícil pervertê-lo; mas permanecendo onde muitos dos que haviam sido considerados alunos de grande potencial haviam sido arruinados por esse processo educacional, ele teria estado em grande perigo. Ele poderia ter se tornado, aos olhos dos mestres da época e do ponto de vista exterior, melhor preparado para uma grande obra; mas duvidamos que tivesse sido um indivíduo melhor para ser usado como instrumento da Providência. Há aqueles que sobrevivem ilesos a um curso regular; há aqueles que são beneficiados por ele ao ponto de chegarem ao nível de pessoas com capacidade normal, coisa que nunca poderiam alcançar sem ajuda especial. E há a terceira classe que é uma representação estereotipada do que tal educação faz deles; se eles são erguidos do lamaçal pela educação que recebem, por outro lado, não ficam mais perto do Céu do que as escolas onde foram preparados. Qualquer que pudesse ter sido o resultado de algum programa de educação no caso de Guilherme Miller, tal oportunidade estava além de seu alcance; ele foi privado desse benefício; ele escapou da perversão” (James S. White, Sketches of the Christian Life and Public Labors of William Miller, p. 15-16). EEC 61.2
Foi esse Guilherme Miller, “o profeta-fazendeiro”, que mais tarde proclamou a mensagem do primeiro anjo para Oberlin. Na experiência do clamor da meia-noite foi vista a futilidade de depender de homens que não foram treinados para o governo de si mesmos. Cada adventista do sétimo dia está se aproximando de sua prova final, assim como ocorreu com as igrejas protestantes em 1844. A nossa prova virá com o alto clamor, a chuva serôdia. Aqueles que não foram treinados no governo de si mesmos, aqueles que são incapazes de depender de seus próprios esforços para o sustento, que não estão fazendo da Bíblia sua base de estudos, e da fisiologia a base de cada esforço educacional, todos os que, em outras palavras, “não entendem a verdadeira ciência da educação”, não terão parte no reino de Deus ou no alto clamor. EEC 62.1
O caráter necessário para o alto clamor é semelhante àquele do clamor da meia-noite: — EEC 63.1
“Assim será proclamada a mensagem do terceiro anjo. Ao chegar o tempo para que ela seja dada com o máximo poder, o Senhor operará por meio de humildes instrumentos, dirigindo a mente dos que se consagram ao Seu serviço. Os obreiros serão antes qualificados pela unção de Seu Espírito do que pelo preparo das instituições de ensino. Homens de fé e oração serão constrangidos a sair com zelo santo, declarando as palavras que Deus lhes dá” (O Grande Conflito, p. 606). EEC 63.2
As escolas jesuítas ensinavam a seus alunos obediência cega. Não era requerido do estudante dirigir-se a Deus pedindo sabedoria a respeito de sua conduta. Seu professor assumia essa responsabilidade. O autogoverno verdadeiro, que pode ser definido como colocar a conduta em harmonia com os princípios de Deus expressos em Sua Palavra, era absolutamente negligenciado. Os terríveis efeitos do sistema papal de disciplina escolar foram vistos durante a mensagem do primeiro anjo. Os alunos que seguiram cegamente seus mestres, ao invés dos princípios divinos, estavam presos aos costumes, tradições, organizações e líderes num momento em que o Espírito de Deus os estava chamando a seguir a verdade. Como preparação para o alto clamor, é-nos dito: EEC 63.3
“O plano das escolas que iremos estabelecer nestes anos finais da obra precisa ser de uma ordem completamente diferente daqueles que temos instituído” (“The Madison School,” p. 28). EEC 63.4
“O objetivo da disciplina é ensinar à criança o governo de si mesma” (Ellen G. White, Educação, p. 287). EEC 63.5
“Não tendo nunca aprendido a governar-se, os jovens não admitem restrições a não ser as exigências dos pais ou professor. Removidas estas, não sabem como fazer uso de sua liberdade, e com frequência se entregam a condescendências que vêm a ser sua ruína” (Ibid., p. 288). EEC 63.6
“Eles não deveriam ser levados a pensar que não podem ir e vir sem serem vigiados” (Ibid., p. 289). EEC 63.7
“Levem os jovens a sentir que eles merecem confiança, e poucos haverá que não procurarão mostrar-se dignos dessa confiança... É melhor pedir do que ordenar. Aquele a quem assim nos dirigimos tem a oportunidade de se mostrar leal aos princípios retos. Sua obediência é o resultado de sua escolha, em vez de coação. As regras que governam a sala de aulas deveriam, tanto quanto possível, representar a voz da escola... Assim ele sentirá a responsabilidade de fazer com que as regras que ele próprio ajudou a formular sejam obedecidas. As regras devem ser poucas e bem consideradas; e uma vez feitas, cumpre que sejam executadas” (Ibid., p. 290). EEC 63.8
“Os que desejam governar a outrem devem primeiramente governar-se a si mesmos” (Ibid., p. 292). EEC 64.1
“A cooperação deve ser o espírito da sala de aulas, a lei de sua vida... Que os mais velhos ajudem aos mais novos, os fortes aos fracos. Isso fomentará o respeito próprio e o desejo de ser útil” (Ibid., p. 285). EEC 64.2
Jefferson, o pai da democracia, sabendo que o governo de si mesmo não era ensinado nas escolas de sua época, e que a democracia não pode existir no Estado a menos que seus princípios sejam primeiramente ensinados e praticados na escola, introduziu este princípio na Universidade da Virgínia. EEC 64.3
“É geralmente conhecido que na Universidade da Virgínia existe um sistema notável de disciplina própria por parte dos alunos, pelo qual tem se mantido com sucesso uma alta disposição de ânimo, bem como um tom varonil de autoconfiança ” (Thomas Jefferson and the University of Virginia, p. 94). EEC 64.4
O governo de si mesmo é contrastado com o que é chamado de “espionagem professoral”. EEC 64.5
“O governo de si mesmo estabeleceu um espírito franco e amável de cooperação entre mestre e aluno. Ele reprimiu todas as práticas infames de fraude em sabatinas orais e exames, e promoveu um espírito de independência e autorrespeito” (Idem). EEC 64.6
O colégio Oberlin achou necessário, na formação do tipo certo de missionários, desenvolver um sistema de autodisciplina ou autogoverno. Em Oberlin EEC 64.7
“o sentimento democrático, o espírito de igualdade, a ausência de classes e castas baseadas em meras distinções artificiais são tão marcantes na instituição quanto o que pode ser visto no vilarejo... O corpo docente... nunca procurava assenhorear-se dos alunos como sendo superior a eles, nem insistia numa especial demonstração de honra, reverência ou mesmo respeito... Eles desempenhavam o papel de irmãos mais velhos para seus alunos” (The Story of Oberlin, p. 398). EEC 64.8
Os títulos eram desconhecidos, e os alunos abordavam seus professores como ‘irmão Finney’ ou ‘irmão Mahan’. EEC 64.9
“O governo de si mesmo era o ideal. A juventude reunida devia aprender a usar a liberdade ao ser deixada livre. Uma disposição mental correta no ambiente público deveria ser a força controladora” (Ibid., p. 409). EEC 64.10
“Cada indivíduo tem total liberdade de dar o máximo de si mesmo, e é reconhecido pelo valor real que ele tem no coração ou mente. Os gritos de guerra e cores representativas de turmas vieram mais tarde e, ocasionalmente, bonés, bengalas e similares; em raros intervalos, roupas de gala, mas sem deixar de levar em conta o bom juízo e gosto e sem qualquer grande afastamento das modas de vestidos em voga em outros lugares da boa sociedade” (The Story of Oberlin, p. 399). EEC 65.1
Em Oberlin, EEC 65.2
“os regulamentos são poucos. Nenhuma vigilância especial estrita era aplicada. Sobre os ombros do estudante é posta grande parte de sua responsabilidade, com a consciência de que seu contínuo usufruto dos privilégios da escola devia depender de seu comportamento satisfatório... Nenhum sistema de monitoramento jamais foi adotado. Cada jovem presta relatórios semanais por escrito ao professor responsável com referência a seu sucesso ou fracasso no cumprimento dos deveres prescritos. As jovens se reportam à diretora” (Oberlin: The Colony and the College, p. 263-265). EEC 65.3
Isso soa muito parecido com o seguinte: EEC 65.4
“Devem os jovens ser impressionados com a ideia de que neles se tem confiança... Se os alunos recebem a impressão de que não podem ir e vir, sentar-se à mesa, ou estar em qualquer parte, mesmo em seu quarto, a não ser que sejam vigiados, que um olho crítico esteja constantemente sobre eles para desaprovar e denunciar, isso terá uma influência desmoralizadora, e a recreação em si não trará prazer. Esse conhecimento de uma vigilância contínua é mais do que uma tutela paterna, e muito pior... Essa vigilância constante não é natural e produz os males que está procurando evitar” (Christian Education, p. 46). EEC 65.5
Horace Mann fala sobre o governo de si mesmo: — Naqueles dias, quando as denominações protestantes fixando seu destino eterno, quando estavam decidindo se ouviriam a mensagem mundial do juízo, e se elas próprias se preparariam para o clamor da meia-noite, Horace Mann escreveu: “Um dos mais elevados e valiosos objetivos, para os quais as influências de uma escola devem conduzir, consiste em ensinar nossos filhos a exercer o governo de si mesmos”. O Sr. Mann teve a seguinte experiência em lidar com estudantes. Ele levou os jovens a entender EEC 65.6
“que ele os considerava como se fossem policiais de si mesmos”; E quando um monitor, que havia morado no dormitório masculino para manter a ordem, foi substituído por uma professora, Mann apelou para os alunos formandos, um dia após o culto na capela, indagando se eles não eram suficientemente fortes em poder moral para cuidar do prédio sem essa supervisão. Eles se levantaram ao mesmo tempo, aceitaram a responsabilidade com alegria e confiança, cumpriram o prometido e transmitiram esse espírito a seus sucessores” (Life and Works of Horace Mann, vol. 1, p. 438). EEC 65.7
O Sr. Mann, no entanto, estava sempre alerta para ajudar os alunos que buscavam governar-se a si mesmos através de uma palavra de advertência, ou avisando-os com antecedência sobre problemas iminentes. “Desde então, o orgulho e prazer do Sr. Mann era andar pelos corredores dos alojamentos dos jovens em qualquer hora do dia ou da noite, e levar visitantes com ele para convencê-los de que um verdadeiro espírito de honra e fidelidade poderia ser despertado nos moços” em matéria de autodisciplina. Certa vez ele escreveu: EEC 66.1
“Nosso dormitório, quase repleto de estudantes do sexo masculino, não tem monitor, preceptor ou supervisor. Nas horas de estudo, ele é tão quieto quanto nossa casa. Não temos nenhuma arruaça, nenhum incidente de bebidas ou licores intoxicantes, nem jogos de azar e nem de baralho, e podemos dizer que conseguimos quase totalmente... eliminar a profanidade e o uso do tabaco” (Ibid., p. 515). EEC 66.2
“Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos e sê sábio. Não tendo ela chefe, nem oficial, nem comandante, no estio, prepara o seu pão, na sega, ajunta o seu mantimento” (Provérbios 6:6-8). EEC 66.3