Estudos em Educação Cristã

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Simplicidade nos Edifícios

A reforma na educação inclui os edifícios que abrigam uma instituição educacional. O espírito de centralização é uma característica imperativa do papado e, associado ao sistema de ensino papal da Europa medieval, normalmente se encontra uma arquitetura um tanto característica — trata-se de edifícios próprios das ordens monásticas: mosteiros sombrios e escuros, com os quais estão associados rosários, longas orações, Bíblias acorrentadas, capuzes, hábitos, barretes de formatura, vigílias noturnas, longos exames, conferição de títulos, rolos de pergaminho; trabalho de memória em lugar da razão; vista e não fé; pensamento em vez de ação. Boone diz: EEC 45.1

“A educação monástica procura, através do completo silêncio, colocar a alma em estado de imobilidade, a qual, mediante a escassez de todo tipo de intercâmbio de pensamento, finalmente se afunda em total apatia e antipatia para com toda a cultura intelectual” (The Philosophy of Education, p. 256). EEC 45.2

Pense na tentativa de ministrar esse tipo de educação num campo livre e aberto ou em edifícios com janelas abertas através das quais flua a brilhante luz solar, rodeados de pássaros cantando, equipes de trabalho, vacas leiteiras, de relva alta e ao som do martelo e da serra. Tais ambientes matam esse sistema educacional assim como a luz mata os germes. EEC 45.3

“Os erros cometidos no passado relacionados com a construção de edifícios deveriam ser advertências proveitosas para nós no futuro... Nossos planos referentes à construção e mobília de nossas instituições devem subordinar-se a um conhecimento verdadeiro e prático sobre o que significa andar humildemente com Deus. Nunca deveria ser considerado necessário dar aparência de riqueza... Não é o edifício grande e dispendioso, não é o mobiliário de luxo... que comunicarão à nossa obra influência e êxito” (Testemunhos para a Igreja, Vol. 7, p. 92, 93). EEC 45.4

Thomas Jefferson, em seu plano de dar uma educação democrática, descartou o sistema medieval de alojamento das escolas papais. EEC 45.5

“Em vez de construir um único e enorme edifício que poderia ter esgotado seus recursos e deixado pouco ou nada para outras despesas essenciais, eles acharam melhor erguer um prédio pequeno e separado para cada professor, com um recinto para suas palestras, e outros para suas próprias acomodações, conectando essas casas por uma série de dormitórios em condições, cada um, de abrigar apenas dois estudantes — uma provisão igualmente acolhedora para o estudo, bem como para a moral e a ordem” (Thomas Jefferson and the University of Virginia, p. 69). EEC 45.6

Das casas dos alunos é dito: “Elas consistiam em dormitórios de um andar, produzindo uma sensação agradável”, e esses edifícios tinham sua “área para plantio”. EEC 46.1

Tal sistema de alojamento requeria autocontrole. Colocava professores e alunos no mesmo nível; incentivava a simplicidade de vida; era econômico e apelava fortemente para aqueles que eram limitados na quantidade de dinheiro que poderiam gastar em edifícios escolares e equipamentos. Mas ainda outras razões são dadas para esse plano de pequenas unidades habitacionais. Jefferson disse: EEC 46.2

“O plano oferecia a vantagem adicional de maior segurança contra incêndio e infecções, e permitia o aumento dos edifícios em ritmo coerente com os recursos disponíveis, e de agregar a eles outras construções indefinidamente no futuro. ... Em vez de um imenso edifício, [sou a favor] de ter um pequeno prédio para cada professorado, mantendo-se a devida distância entre um e outro, e todos dispostos em torno de um quadrado que admita expansão e ligados por uma varanda, de modo que possam se locomover de uma escola para outra sem se molhar. Este plano, ao estilo de uma vila, é preferível do que um grande edifício único por diversas razões, principalmente por conta de incêndios, saúde, economia, paz e tranquilidade. Esse plano tinha sido aprovado no caso do Albemarle College” (Ibid., p. 69, 73). EEC 46.3

“Cabell também ficou completamente convencido da sensatez da política de construção da universidade. Até mesmo os inimigos da instituição reconheceram que os planos de Jefferson eram sábios”. [Um visitante influente] “foi conquistado pela universidade numa mera visita de inspeção, que o impressionou com a extensão e esplendor do estabelecimento. ... Não havia absolutamente nada na vizinhança de Charlottesville para atrair nem professores nem alunos. Jefferson foi compelido, pela necessidade da situação, a criar algo visível e impressionante que atraísse admiração” (Ibid., p. 100). EEC 46.4

Antes da inauguração da universidade, Jefferson escreveu sobre dez casas distintas para os professores, “cada uma com uma horta”, e “cento e nove dormitórios, cada um suficiente para dois estudantes” (Ibid., p. 101). EEC 46.5

Jefferson viu o efeito da arquitetura sobre a mente suscetível dos estudantes, e disse: EEC 46.6

“Minha parcialidade por essa divisão não está baseada em pontos de vista educacionais unicamente, mas infinitamente mais como meio para uma melhor administração do nosso governo, e para a eterna preservação dos princípios republicanos” (Ibid., p. 73). EEC 47.1

Os fundadores de Oberlin se alinharam com a verdade no que diz respeito a edifícios simples. EEC 47.2

“Para aumentar nossos meios de serviço... cuidaremos da simplicidade e durabilidade na construção de nossas casas, mobiliário, carruagens e de tudo quanto nos pertença” (The Story of Oberlin, p. 86). EEC 47.3

“Há um estilo asseado, simples e modesto de construção que se recomenda por si mesmo ao bom senso esclarecido de cada pessoa; certamente não será altamente estimado pelo mundo, tampouco é uma abominação diante do Senhor” (Oberlin: The Colony and the College, p. 359). EEC 47.4

O plano de pequenas unidades habitacionais para hospedagem dos estudantes também foi seguido por outras escolas. Temos o seguinte relato a respeito da Universidade de Oglethorpe, uma das principais instituições presbiterianas no início da história da Geórgia: EEC 47.5

“Havia uma fileira de dormitórios de um andar para a moradia de estudantes... Eles eram separados entre si por uma distância de 3,65 m, e cada um dividido em dois quartos de aproximadamente 5,5 m2 cada” (Charles E. Jones, Education in Georgia, p. 83). EEC 47.6

Isso aconteceu em 1837, quando os presbiterianos estavam lutando com a questão da “verdadeira ciência da educação” e decidindo a questão se iriam auxiliar na proclamação da última mensagem ao mundo. O objetivo da escola cristã é formar jovens para “suportar as dificuldades como bons soldados de Jesus Cristo”. Os governos seculares, ao treinar seus soldados, evitavam as comodidades e luxos cuja tendência é tornar os soldados indispostos a suportar as dificuldades do campo de batalha. Eles não estão aquartelados em modernos hotéis. Mas muitas vezes os prédios de uma escola são construídos e equipados para comodidade dos que ensinam, hospedam e alimentam os alunos, em vez de voltados à formação necessária para capacitar esses jovens a se tornar soldados para suportar as durezas. De modo geral, o uniforme, as boas maneiras, e a polidez das botas do jovem soldado recebem mais atenção do que a simulação de combate por parte de muitos oficiais que tiveram mais experiência em desfiles de moda do que no combate de trincheiras. Precisamos perguntar por que um grande percentual de alunos, após longo treinamento, prefere assumir um emprego numa instituição com comodidades modernas, onde a boa comida, as roupas e um salário lhes são garantidos, ao invés de serem pioneiros em um empreendimento que exigirá que eles se mantenham grandemente mediante seus próprios recursos? Até que ponto as grandes e bem equipadas instituições são responsáveis por isso? Nestes últimos dias, as escolas que ensinam os alunos a se contentar com comida e vestuário simples, incentivam o espírito de sacrifício e lhes propiciam a capacidade de dizer: “De agora em diante, a terra que será minha pátria é a que mais precisa da minha ajuda”, são essas que serão as mais procuradas pelos estudantes que esperam triunfar no alto clamor. EEC 47.7

Foi sobre esse princípio que Thomas Jefferson construiu edifícios escolares simples em que se pudesse preparar uma classe de promotores dos princípios da democracia nos Estados Unidos — e praticamente cada governo do mundo tem sido influenciado por esses princípios. EEC 48.1

Os professores em geral, quando pensam numa escola de treinamento, têm em mente grandes edifícios equipados com modernas instalações e conveniências, requerendo um enorme gasto financeiro. Vocês, estudantes, não têm diante de si tais construções. A escola de vocês raramente seria reconhecida como uma instituição educacional por qualquer um que tenha uma concepção comum de uma escola de treinamento. A capela, as pequenas salas de conferências, o restaurante, as oficinas, as pequenas unidades habitacionais e outros edifícios agrupados em torno da fazenda constituem as instalações da escola. Nossas instalações são, via de regra, mais simples do que as que muitos de vocês têm em seus próprios lares. Qual é o resultado? Um grande número de estudantes desta instituição captou a visão e reconheceu a possibilidade de construir uma escola com recursos limitados. Como resultado, cerca de 30 pequenos centros estão provendo educação a centenas de crianças fora das instituições oficiais da igreja. Se esses mesmos estudantes tivessem recebido seu treinamento numa escola bem equipada e dispendiosa, não há dúvida de que o número de escolas seria consideravelmente menor. EEC 48.2

Mais uma vez, a pessoa comum, quando pensa em um sanatório, tem em sua mente uma de nossas grandes instituições com todas as conveniências modernas. Vocês têm presenciado diante de vocês um pequeno centro de saúde formado por três unidades pequenas, com um andar cada, feitas com estrutura de madeira, ligadas por varandas cobertas e equipadas com tanta simplicidade que poderiam servir de modelo de construção em quase qualquer missão. Vocês têm visto como este sanatório está cheio de pacientes, e com uma lista de pessoas aguardando uma vaga. A concepção de muitos passou por uma revolução graças a esse pequeno sanatório, e várias casas de saúde estão vindo à existência para serem dirigidas de modo semelhante. EEC 48.3

Esses dois exemplos são citados para mostrar que a influência sobre a mente dos estudantes causada pelos edifícios e equipamentos que os circundam é incalculável. A luz foi dada aos protestantes antes de 1844 para orientá-los na construção de edifícios, equipamentos e mobiliários, na dieta, no vestuário e no ambiente, para que, de maneira simples, um grande exército pudesse ser capaz de cobrir a Terra com essa poderosa mensagem — o clamor da meia-noite. EEC 49.1