História do Sábado
9 – O Sábado de Neemias a Cristo
Grande mudança no povo judeu a respeito da idolatria e da transgressão do sábado após o retorno de Babilônia – Decreto de Antíoco Epifânio contra o sábado – Massacre de mil guardadores do sábado no deserto – Massacre semelhante em Jerusalém – Decreto dos anciãos judeus acerca da resistência aos ataques no sábado – Outros martírios – Vitórias de Judas Macabeu – Como Pompeu capturou Jerusalém – Ensino dos mestres judeus sobre o sábado – Estado da instituição sabática por ocasião do primeiro advento do Salvador HS 75.1
Um período de quase cinco séculos se passou entre a época de Neemias e o início do ministério do Redentor. Durante esse período, ocorreu uma drástica mudança no povo judeu. Anteriormente, eles haviam sido, em alarmante medida, idólatras e rebeldes transgressores do sábado. Mas depois que voltaram de Babilônia, nunca mais foram culpados, no menor grau que seja, de idolatria. O castigo do cativeiro curou esse mal.1 De maneira semelhante, mudaram a conduta em relação ao sábado e, durante esse período, sobrecarregaram a instituição sabática com ordenanças excessivamente opressivas e rigorosas. Um breve resumo desse período será suficiente. Durante o reinado de Antíoco Epifânio, rei da Síria, 170 a.C., os judeus foram muito oprimidos. HS 75.2
“O rei [Antíoco] baixou um decreto, determinando que o reino inteiro formasse um só povo, e cada qual deixasse de lado seus costumes particulares. Todas as nações obedeceram ao decreto do rei. Entre os israelitas, muitos gostaram da religião do rei e passaram a oferecer sacrifícios aos ídolos e a profanar o sábado.”2 HS 75.3
A maior parte dos hebreus permaneceu fiel a Deus e, por isso, foi obrigada a fugir a fim de salvar a própria vida. O historiador continua: HS 75.4
“Muitos que amavam a justiça e o direito desceram para o deserto e aí ficaram com seus filhos, mulheres e rebanhos, pois a perseguição contra eles aumentava. Denunciaram aos oficiais do rei e à guarnição estabelecida em Jerusalém, na Cidade de Davi, que algumas pessoas tinham desobedecido às ordens do rei e descido para as cavernas do deserto. Um grande número desses soldados do rei correu atrás deles e os alcançou. Esses soldados se acamparam em volta deles e se organizaram para atacá-los num dia de sábado. Tudo pronto, lhes disseram: Agora chega! Saiam daí, façam aquilo que o rei mandou, e a vida de vocês estará salva. Eles responderam: Não sairemos, nem cumpriremos a ordem do rei, profanando o dia de sábado. Então os soldados começaram a atacá-los sem demora. Eles, porém, não reagiram, não atiraram uma única pedra, nem mesmo fecharam a entrada dos seus esconderijos. Disseram apenas: Vamos morrer com a consciência limpa. O céu e a terra são testemunhas de que vocês estão nos matando injustamente. Assim mesmo, os soldados os atacaram em dia de sábado. E eles morreram, com suas mulheres, crianças e rebanhos. Eram cerca de mil pessoas.”3 HS 75.5
Na própria cidade de Jerusalém, ocorreu um massacre semelhante. O rei Antíoco enviou Apolônio com um exército de 22 mil soldados: HS 76.1
“Ao chegar a Jerusalém, Apolônio, simulando atitude pacífica, aguardou até o dia santificado do sábado. Surpreendeu os judeus em repouso, mandando os soldados fazer um desfile militar. Ordenou então que matassem todos os que saíam para ver o desfile. Depois, percorrendo a cidade com armas, provocou terrível massacre.”4 HS 76.2
Levando em conta esses terríveis atos de execução, Matatias, homem grande e honrado, pai de Judas Macabeu, juntamente com seus amigos, tomou a seguinte decisão: HS 76.3
“Lutaremos abertamente contra todo aquele que nos atacar em dia de sábado. Assim não morreremos todos, como nossos irmãos em seus esconderijos.”5 HS 76.4
Contudo, alguns foram martirizados depois disso por guardarem o sábado. Por isso, lemos: HS 76.5
“Outros, que tinham saído juntos para os arredores da cidade, para as cavernas, a fim de aí celebrarem às escondidas o sábado, após serem denunciados a Filipe, foram queimados juntos, pois concienciosamente haviam decidido ajudar-se a honrar o mais sagrado dia.”6 HS 76.6
Depois disso, Judas Macabeu fez grandes conquistas em defesa dos hebreus e na resistência à terrível opressão do governo sírio. Sobre uma dessas batalhas, lemos: HS 76.7
“[...] dada a palavra de ordem – Auxílio de Deus –, Judas partiu contra Nicanor, comandando a primeira divisão. Como o Todo-poderoso Se tornou seu aliado, eles liquidaram mais de nove mil, enquanto feriram e mutilaram mais da metade do exército de Nicanor, obrigando todos os outros a fugir. Tomaram o dinheiro dos que tinham vindo com a intenção de comprá-los. Perseguiram os fugitivos por longo tempo, mas desistiram por estar ficando tarde, pois era véspera do sábado. Por isso, não continuaram a persegui-los. Após terem tomado as armas deles e despojado os cadáveres dos inimigos, celebraram o sábado de maneira extraordinária, louvando e agradecendo ao Senhor que nesse dia os libertou, marcando assim o início da Sua misericórdia para com eles. Passado o sábado, repartiram os despojos dos inimigos entre os mutilados, viúvas e órfãos. Repartiram entre si e seus filhos tudo o que sobrou.”7 HS 76.8
Depois disso, os hebreus, ao serem atacados pelos seus inimigos no sábado, derrotaram-nos com grande matança.8 HS 77.1
Por volta de 63 a.C., Jerusalém foi cercada e tomada por Pompeu, general romano. A fim de que isso acontecesse, foi necessário encher uma imensa vala e levantar um aterro sobre o qual pudessem colocar as armas de ataque. Josefo faz o seguinte relato sobre o evento: HS 77.2
“Caso não tivéssemos nossa prática, desde os dias de nossos antepassados, de descansar no sétimo dia, esse aterro nunca teria sido concluído, por causa da oposição que os judeus teriam feito; pois, embora nossa lei nos dê licença para nos defender, no sábado, daqueles que começam a lutar contra nós e a nos atacar, ela não nos permite que combatamos os inimigos enquanto fazem qualquer outra coisa. Quando os romanos compreenderam isso, nos dias que chamamos de sábados, eles não lançavam nada contra os judeus, nem iniciavam qualquer batalha de arremesso contra eles, mas construíam seus aterros, levando as máquinas de guerra avante, para poderem empreender a execução nos dias seguintes.”9 HS 77.3
Com base nisso, pode-se pereber que Pompeu tomava o cuidado de não fazer nenhum ataque contra os judeus aos sábados, durante o cerco, mas nesse dia preenchia a vala e subia o aterro, para poder atacá-los no dia depois de cada sábado, isto é, no domingo. Josefo conta ainda que os sacerdotes não deixavam de ministrar no templo quando pedras eram arremessadas pelas máquinas de Pompeu, mesmo “que algum acidente infeliz acontecesse”. O historiador relata também que, quando a cidade foi tomada e os inimigos se arremessaram sobre ela, cortando a garganta dos que estavam no templo, os sacerdotes, mesmo assim, não fugiram, nem cessaram as ofertas e os sacrifícios costumeiros. HS 77.4
Essas citações da história judaica são suficientes para mostrar que ocorreu uma mudança extraordinária no povo, no que se refere ao sábado, após o cativeiro babilônico. Uma breve menção ao ensino dos mestres judaicos sobre o sábado, na época em que nosso Senhor deu início a Seu ministério, conclui este capítulo: HS 77.5
“Eles listaram cerca de 40 trabalhos principais, os quais afirmavam ser proibidos no sábado. Sob cada uma dessas categorias de trabalho, havia numerosos trabalhos secundários, que, segundo eles, também eram proibidos. [...] Dentre os principais trabalhos proibidos estavam o arar, o semear, o colher, o debulhar, o limpar, o moer, etc. Na categoria do moer, estava incluído o quebrar ou o dividir coisas que antes estavam unidas. [...] Outra de suas tradições era a de que, visto que debulhar no sábado era proibido, esmagar as coisas, uma espécie de debulha, também não era permitido. Naturalmente, era transgressão do sábado andar na grama verde, pois ela seria esmagada ou debulhada. Da mesma forma, como um homem não podia caçar no sábado, não podia pegar uma mosca, pois se tratava de uma espécie de caça. Como não era permitido transportar carga no sábado, não se podia levar água a um animal com sede, pois esta era um tipo de carga; mas havia permissão para derramar água em um cocho e levar o animal até ele. [...] Contudo, se uma ovelha caísse em um poço, eles a tirariam prontamente e a levariam a um lugar seguro. [...] Eles diziam que era permitido ministrar aos doentes a fim de aliviar seu sofrimento, mas não com o propósito de curar a doença. Podiam cobrir um olho enfermo, ou ungi-lo com bálsamo para aliviar a dor, mas não curar o olho.”10 HS 77.6
Assim, a mudança de conduta do povo judeu em relação ao sábado foi surpreendente; e esses eram os ensinos dos doutores da lei em relação ao dia de guarda. A instituição mais misericordiosa de Deus para a humanidade havia se tornado em fonte de angústia; o que Deus ordenara para ser um deleite e uma fonte de alento, transformara-se em um jugo de escravidão. O sábado, feito para o homem no paraíso, era agora uma instituição extremamente opressiva e penosa. Era tempo de Deus interferir. Entra em cena então o Senhor do sábado. HS 78.1