História do Sábado
8 – O Sábado de Davi a Neemias
O silêncio de seis livros consecutivos da Bíblia acerca do sábado – Esse silêncio comparado com o que se encontra no livro de Gênesis – O cerco de Jericó – O dia em que o sol parou – Davi come os pães da proposição – O sábado do Senhor: como se relaciona com os sábados anuais e como se diferencia deles – Primeira referência ao sábado depois dos dias de Moisés – Alusões casuais ao sábado – O testemunho de Amós – De Isaías – O sábado é uma bênção para a humanidade – A condição para a reunião na terra santa – Não se trata de uma instituição local – Comentário sobre o quarto mandamento – O testemunho de Jeremias – Jerusalém seria salva se guardasse o sábado – Essa oferta graciosa é desprezada – O sábado diferenciado dos outros dias da semana – O sábado após o cativeiro babilônico – Hora de início do sábado – A transgressão do sábado causou a destruição de Jerusalém HS 65.1
Quando deixamos os livros de Moisés, há uma longa interrupção na história do sábado. Não se faz nenhuma menção a ele nos livros de Josué, Juízes, Rute, 1 Samuel, 2 Samuel e 1 Reis. Ele só volta a ser mencionado quando chegamos ao livro de 2 Reis.1 Contudo, no livro de 1 Crônicas, cuja narrativa é paralela à dos dois livros de Samuel, o sábado é mencionado2 com referência aos acontecimentos da vida de Davi. Todavia, isso significa um intervalo de 500 anos nos quais a Bíblia fica em silêncio a respeito do sábado. HS 65.2
Durante esse período, lemos a história do povo hebreu, desde a entrada na terra prometida até a coroação de Davi como seu rei, abrangendo vários detalhes da vida de Josué, dos anciãos e juízes de Israel, de Gideão, Baraque, Jefté, Sansão, Eli, Noemi e Rute, Ana e Samuel, Saul e Jônatas e Davi. Entretanto, mesmo em meio a todo esse relato minucioso, não há menção direta ao sábado. HS 65.3
Os antissabatistas, no desejo de provar a total negligência do sábado na era patriarcal, têm grande apreço pelo argumento de que o livro de Gênesis, embora apresente um relato preciso da origem do sábado no paraíso no fim da primeira semana do tempo, não registra nada relativo a sua observância na vida dos patriarcas – vale ressaltar que nesse livro se encontram narrados os acontecimentos de 2.370 anos. O que, então, eles teriam a dizer sobre o fato de que seis livros sucessivos da Bíblia, que abordam, com detalhes consideráveis, os acontecimentos de 500 anos, envolvendo muitas circunstâncias que convidam a uma alusão ao sábado, não o mencionam nem sequer uma vez? Será que o silêncio de um livro, apesar de relatar com clareza a instituição do sábado logo em seu início e trazer em seu registro quase 2.400 anos, prova que não havia guardadores do sábado antes de Moisés? O que, então, seria provado pelo fato de seis livros seguidos da Bíblia, restritos aos acontecimentos de 500 anos – um período correspondendo a cerca de um quinto daquele coberto pelo livro de Gênesis e com uma média de menos de cem anos por livro – guardarem total silêncio a respeito do sábado? HS 65.4
Ninguém faz menção a esse silêncio como evidência de que o sábado foi totalmente negligenciado durante esse período; mas por que não? Seria porque, quando a narrativa, após tamanho silêncio, menciona o sábado novamente, ela o faz de maneira casual, e não como uma nova instituição? Foi justamente esse o caso da segunda menção ao sábado no registro mosaico, isto é, sua referência após o silêncio de Gênesis.3 Seria porque o quarto mandamento havia sido concedido aos hebreus, ao passo que nenhum preceito do tipo fora dado anteriormente à humanidade? Não se pode admitir tal resposta, pois vimos que a essência do quarto mandamento foi entregue ao cabeça da família humana; também é certo que, ao partirem do Egito, os hebreus já tinham a obrigação de guardar o sábado em consequência de uma lei pré-existente.4 Logo, o argumento de que não houve guardadores do sábado de Moisés a Davi seria mais conclusivo do que dizer que não houve nenhum desde Adão até Moisés; contudo, ninguém tenta defender a primeira posição, ao passo que há muitos que tentam defender a segunda. HS 66.1
Vários fatos, narrados na história desse período de cinco séculos, chamam nossa atenção. O primeiro deles se encontra no relato do cerco de Jericó.5 Por ordem divina, os hebreus deram a volta na cidade todos os dias por sete dias; no último dia, deram a volta sete vezes. Então, por intervenção divina, os muros caíram diante deles e a cidade foi tomada em um ataque. Um desses sete dias certamente foi o sábado do Senhor. O povo de Deus não teria, então, transgredido o sábado ao agir assim? Deixemos os fatos seguintes responderem: HS 66.2
1. O que eles fizeram, nessa situação, foi por ordem direta de Deus; HS 66.3
2. O que o quarto mandamento proíbe é nossa própria obra: “Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus”. Aquele que reservou o dia para Si tinha o direito de Se apropriar dele para realizar Seu serviço da maneira que achasse melhor; HS 66.4
3. O ato de dar a volta na cidade foi uma procissão estritamente religiosa. A arca da aliança do Senhor foi carregada diante do povo; e, perante a arca, marcharam sete sacerdotes tocando trombetas de chifre de carneiro; HS 66.5
4. A cidade não poderia ser muito grande; do contrário, rodeá-la sete vezes no último dia, e ainda sobrar tempo para sua destruição completa, teria sido impossível; HS 66.6
5. Tampouco se pode acreditar que os hebreus, carregando a arca à frente deles por ordem de Deus, a qual continha nada mais nada menos do que os dez mandamentos do Altíssimo, estariam violando o quarto mandamento, que diz: “Lembra-te do dia de sábado, para o santificar”. Com certeza, um dos sete dias nos quais o povo deu a volta em Jericó era o sábado; mas não é necessário supor que foi justamente o dia em que a cidade foi tomada. Nem se trata de uma conjectura razoável quando todos os fatos do caso são levados em consideração. Acerca desse episódio, o Dr. Clarke faz a seguinte observação: HS 66.7
“Não parece que poderia haver alguma transgressão do sábado pelo simples fato de o povo rodear a cidade, junto com a arca e os sacerdotes tocando as sagradas trombetas. Isso nada mais era do que uma procissão religiosa, realizada por ordem divina, na qual nenhum trabalho servil foi feito.”6 HS 67.1
Sob a palavra de Josué, aprouve a Deus deter a rotação da Terra e fazer o sol ficar parado por um tempo, a fim de que os cananeus fossem derrotados diante de Israel.7 Esse grande milagre não teria atrapalhado o sábado? De maneira nenhuma! Pois o aumento de um dos seis dias por intervenção divina não impediria a chegada do sétimo, nem poderia destruir sua identidade, muito embora o adiasse. O caso representa uma dificuldade para aqueles que defendem a teoria de que Deus santificou a sétima parte do tempo, e não o sétimo dia; nesse caso, o sábado não teria ficado com a totalidade da sétima parte do tempo. Contudo, não há dificuldade nenhuma para aqueles que creem que Deus separou o sétimo dia para ser guardado quando chegasse, em memória de Seu próprio descanso. Um dos seis dias recebeu porção de tempo maior do que até então e desde então; contudo, isso não conflita nem um pouco com o sétimo dia, que chegou do mesmo jeito. Além disso, todas essas coisas aconteceram enquanto homens inspirados estavam em ação; e consistiram em direta providência divina. Também se deve lembrar, de modo especial, que tudo isso ocorreu numa época em que ninguém nega que o quarto mandamento estava em pleno vigor. HS 67.2
O caso de Davi, ao comer o pão da proposição, é digno de nota, visto que provavelmente aconteceu no sábado, e também porque foi citado em uma conversa memorável de nosso Senhor com os fariseus.8 A lei dos pães da proposição ordenava que doze pães fossem colocados sobre a mesa pura do santuário, perante o Senhor, todos os sábados.9 Quando os pães frescos eram colocados perante o Senhor a cada sábado, os velhos eram retirados e consumidos pelos sacerdotes.10 Tudo indica que os pães da proposição, dados a Davi naquele dia, haviam sido retirados da presença do Senhor, para que pães quentes fossem colocados em seu lugar; logo, aquele dia era o sábado. Por isso, quando Davi pediu pão, o sacerdote disse: “Não tenho pão comum à mão; há, porém, pão sagrado”. Davi respondeu: “Em alguma maneira é pão comum, quanto mais que hoje se santificará outro no corpo!” (ARC). E o escritor sagrado acrescenta: “Então, o sacerdote lhe deu o pão sagrado, porquanto não havia ali outro pão, senão os pães da proposição, que se tiraram de diante do Senhor, para se pôr ali pão quente, no dia em que aquele se tirasse” (ARC). Todas as circunstâncias, nesse caso, favorecem o ponto de vista de que isso aconteceu no sábado: HS 67.3
1. Não havia pão comum com o sacerdote. Isso não é de se estranhar, visto que os pães da proposição deviam ser retirados da presença do Senhor a cada sábado e consumidos pelos sacerdotes; HS 68.1
2. O sacerdote não se ofereceu para fazer outro pão, o que não é de se estranhar se aceitarmos o fato de que se tratava do dia de sábado; HS 68.2
3. A surpresa do sacerdote ao encontrar Davi pode se dever, em parte, ao fato de ser sábado; HS 68.3
4. Isso também pode explicar a detenção de Doegue, naquele dia, perante o Senhor; HS 68.4
5. Quando nosso Senhor foi intimado a Se pronunciar acerca da conduta de Seus discípulos, que haviam colhido e comido espigas no sábado para saciar a fome, Ele citou esse caso de Davi, bem como o dos sacerdotes que ofereciam sacrifícios no templo, no sábado, para justificar Seus discípulos. Sua citação adquire propriedade e adequação extraordinárias se compreendermos que o ato de Davi ocorreu no sábado. Nessa perspectiva, a questão assume uma luz bem diferente daquela proposta pelos antissabatistas.11 HS 68.5
É importante chamar a atenção para uma distinção que nunca se deve perder de vista. A apresentação do pão da proposição e a oferta de holocaustos no dia de sábado, conforme ordenadas pela lei cerimonial, não faziam parte da instituição sabática original. Afinal de contas, o sábado foi criado antes da queda do ser humano, ao passo que os holocaustos e ritos cerimoniais do santuário foram introduzidos em consequência da queda. Enquanto tais ritos foram obrigatórios, eles necessariamente ligaram o sábado, até certo ponto, às festividades judaicas, em que sacrifícios semelhantes eram realizados. Esta ligação só é vista nos textos bíblicos que relatam a provisão feita para tais ofertas.12 Quando a lei cerimonial foi cravada na cruz, todas as festas judaicas deixaram de existir, pois a realização delas era ordenada por essa lei.13 Mas a anulação dessa lei só poderia eliminar os ritos que essa mesma lei havia anexado ao sábado, deixando a instituição sabática original exatamente da forma como fora estabelecida, no princípio, por seu Autor. HS 68.6
A primeira referência ao sábado, depois dos dias de Moisés, se encontra nas prescrições de Davi e Samuel acerca do ofício dos sacerdotes e levitas na casa de Deus. As Escrituras dizem o seguinte: HS 68.7
“Outros dos seus irmãos, dos filhos dos coatitas, tinham o encargo de preparar os pães da proposição para todos os sábados.”14 HS 68.8
Pode-se observar que essa é uma menção apenas casual ao sábado. Tal alusão, depois de um silêncio tão longo, é prova decisiva de que o sábado não fora esquecido, nem se perdera ao longo dos cinco séculos nos quais ele não é mencionado pelos historiadores sacros. Depois disso, nenhuma menção direta ao sábado é encontrada desde os dias de Davi até os do profeta Eliseu – um intervalo de cerca de 150 anos. Talvez o salmo 92 seja uma exceção a essa afirmativa, uma vez que seu título, tanto em hebraico quanto em português, declara que o mesmo foi escrito para o dia de sábado;15 e não é improvável que ele tenha sido composto por Davi, o mavioso cantor de Israel. HS 68.9
Quando o filho da mulher sunamita morreu, ela procurou o profeta Eliseu. Seu esposo, sem saber que o menino estava morto, lhe disse: HS 69.1
“Por que vais a ele hoje? Não é dia de Festa da Lua Nova nem sábado. Ela disse: Não faz mal.”16 HS 69.2
É provável que a menção aqui seja ao sábado do Senhor, pois o termo é usado três vezes em um contexto parecido.17 Se isso estiver correto, ela mostra que os hebreus tinham o costume de visitar os profetas de Deus nesse dia, para receber instruções divinas – uma prática que nos ajuda a compreender a natureza das palavras relativas a colher o maná: “ninguém saia do seu lugar no sétimo dia”.18 Uma alusão casual ao sábado é feita no relato da coroação de Joás ao trono de Judá,19 por volta de 778 a.C. No reinado de Uzias, neto de Joás, o profeta Amós usa a seguinte linguagem em 787 a.C.: HS 69.3
“Ouvi isto, vós que tendes gana contra o necessitado e destruís os miseráveis da terra, dizendo: Quando passará a Festa da Lua Nova, para vendermos os cereais? E o sábado, para abrirmos os celeiros de trigo, diminuindo o efa, e aumentando o siclo, e procedendo dolosamente com balanças enganadoras, para comprarmos os pobres por dinheiro e os necessitados por um par de sandálias e vendermos o refugo do trigo?.”20 HS 69.4
Essas palavras foram proferidas diretamente às dez tribos, revelando o triste estado de apostasia que logo resultou em sua destruição como povo. Cerca de 50 anos depois, no fim do reinado de Acaz, encontramos outra alusão ao sábado.21 Nos dias de Ezequias, em torno de 712 a.C., o profeta Isaías usa as seguintes palavras para mostrar a obrigatoriedade do sábado: HS 69.5
“Assim diz o Senhor: Mantende o juízo e fazei justiça, porque a Minha salvação está prestes a vir, e a Minha justiça, prestes a manifestar-se. Bem-aventurado o homem que faz isto, e o filho do homem que nisto se firma, que se guarda de profanar o sábado e guarda a sua mão de cometer algum mal. Não fale o estrangeiro que se houver chegado ao Senhor, dizendo: O Senhor, com efeito, me separará do Seu povo; nem tampouco diga o eunuco: Eis que eu sou uma árvore seca. Porque assim diz o Senhor: Aos eunucos que guardam os Meus sábados, escolhem aquilo que Me agrada e abraçam a Minha aliança, darei na Minha casa e dentro dos Meus muros um memorial e um nome melhor do que filhos e filhas; um nome eterno darei a cada um deles, que nunca se apagará. Aos estrangeiros que se chegam ao Senhor, para O servirem e para amarem o nome do Senhor, sendo deste modo servos Seus, sim, todos os que guardam o sábado, não o profanando, e abraçam a Minha aliança, também os levarei ao Meu santo monte e os alegrarei na Minha Casa de Oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no Meu altar, porque a Minha casa será chamada Casa de Oração para todos os povos. Assim diz o Senhor Deus, que congrega os dispersos de Israel: Ainda congregarei outros aos que já se acham reunidos.”22 HS 69.6
Essa profecia apresenta várias características interessantes: HS 70.1
1. Ela se refere a um tempo em que a salvação de Deus está próxima;23 HS 70.2
2. Ela mostra, de maneira muito clara, que o sábado não é uma instituição judaica, pois pronuncia uma bênção sobre todo homem que guardar o sábado, a despeito de sua nacionalidade; e então especifica o estrangeiro, isto é, o gentio,24 e faz uma promessa especial para ele, caso ele guarde o sábado; HS 70.3
3. Essa profecia se aplica a Israel quando estava no exílio, ou seja, durante a dispersão, pois promete reunir tanto eles quanto outros, isto é, os gentios, com eles. É claro que a condição para que eles sejam reunidos no santo monte de Deus deve ser cumprida, a saber, amar o nome do Senhor, ser servos Seus e deixar de profanar o sábado; HS 70.4
4. Conclui-se, portanto, que o sábado não é uma instituição local, passível de ser observada apenas na terra prometida, como o eram os sábados anuais,25 mas que ele foi feito para a humanidade, podendo ser guardado pelos exilados de Israel enquanto estes estivessem espalhados por todas as terras debaixo do céu.26 HS 70.5
Mais uma vez, Isaías fala do sábado, e o faz usando uma linguagem que o distingue, com muita ênfase, de todas as instituições cerimoniais. Ele diz: HS 70.6
“Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no Meu santo dia; se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do Senhor, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs, então, te deleitarás no Senhor. Eu te farei cavalgar sobre os altos da terra e te sustentarei com a herança de Jacó, teu pai, porque a boca do Senhor o disse.”27 HS 70.7
A linguagem empregada aqui constitui um comentário evangélico do quarto mandamento. Ela acrescenta ao mandamento do sábado uma promessa grandiosa e preciosa, que se apropria daquela terra prometida a Jacó, a saber, a Nova Terra.28 HS 71.1
No ano 601 a.C., 13 anos antes da destruição de Jerusalém por Nabucodonosor, Deus fez ao povo judeu uma graciosa oferta, por intermédio de Jeremias, de que, se guardassem o sábado, a cidade permaneceria para sempre. Ao mesmo tempo, testificou que, se não o fizessem, a cidade seria completamente destruída. Assim disse o profeta: HS 71.2
“Ouvi a palavra do Senhor, vós, reis de Judá, e todo o Judá, e todos os moradores de Jerusalém que entrais por estas portas. Assim diz o Senhor: Guardai-vos por amor da vossa alma, não carregueis cargas29 no dia de sábado, nem as introduzais pelas portas de Jerusalém;30 não tireis cargas de vossa casa no dia de sábado, nem façais obra alguma; antes, santificai o dia de sábado, como ordenei a vossos pais. Mas não atenderam, não inclinaram os ouvidos; antes, endureceram a cerviz, para não Me ouvirem, para não receberem disciplina.31 Se, deveras, Me ouvirdes, diz o Senhor, não introduzindo cargas pelas portas desta cidade no dia de sábado, e santificardes o dia de sábado, não fazendo nele obra alguma, então, pelas portas desta cidade entrarão reis e príncipes, que se assentarão no trono de Davi, andando em carros e montados em cavalos, eles e seus príncipes, os homens de Judá e os moradores de Jerusalém; e esta cidade será para sempre habitada. Virão das cidades de Judá e dos contornos de Jerusalém, da terra de Benjamim, das planícies, das montanhas e do Sul, trazendo holocaustos, sacrifícios, ofertas de manjares e incenso, oferecendo igualmente sacrifícios de ações de graças na Casa do Senhor. Mas, se não Me ouvirdes, e, por isso, não santificardes o dia de sábado, e carregardes alguma carga, quando entrardes pelas portas de Jerusalém no dia de sábado, então, acenderei fogo nas suas portas, o qual consumirá os palácios de Jerusalém e não se apagará.”32 HS 71.3
Essa graciosa oferta do Altíssimo ao povo rebelde não foi levada em conta, pois oito anos depois Ezequiel diz o seguinte: HS 71.4
“No meio de ti, desprezam o pai e a mãe, praticam extorsões contra o estrangeiro e são injustos para com o órfão e a viúva. Desprezaste as Minhas coisas santas e profanaste os Meus sábados. [...] Os seus sacerdotes transgridem a Minha lei e profanam as Minhas coisas santas; entre o santo e o profano, não fazem diferença, nem discernem o imundo do limpo e dos Meus sábados escondem os olhos; e, assim, Sou profanado no meio deles. [...] Ainda isto Me fizeram: no mesmo dia contaminaram o Meu santuário e profanaram os Meus sábados. Pois, havendo sacrificado seus filhos aos ídolos, vieram, no mesmo dia, ao Meu santuário para o profanarem; e assim o fizeram no meio da Minha casa.”33 HS 72.1
A idolatria e a transgressão do sábado, pecados constantes entre os hebreus no deserto e que lançaram as bases para sua dispersão da própria terra,34 permaneceram, desde então, no meio deles. E, agora que sua destruição pelo poder avassalador do rei de Babilônia era iminente, eles se encontravam tão profundamente envolvidos com esses pecados e outros semelhantes que não deram ouvidos à voz de advertência. Antes de entrarem no santuário de Deus no dia de sábado, eles primeiro matavam os próprios filhos em sacrifícios a ídolos!35 Assim, a iniquidade chegou ao seu auge e a ira caiu sobre eles com toda intensidade. HS 72.2
“Eles, porém, zombavam dos mensageiros, desprezavam as palavras de Deus e mofavam dos Seus profetas, até que subiu a ira do Senhor contra o Seu povo, e não houve remédio algum. Por isso, o Senhor fez subir contra ele o rei dos caldeus, o qual matou os seus jovens à espada, na casa do seu santuário; e não teve piedade nem dos jovens nem das donzelas, nem dos velhos nem dos mais avançados em idade; a todos os deu nas suas mãos. Todos os utensílios da Casa de Deus, grandes e pequenos, os tesouros da Casa do Senhor e os tesouros do rei e dos seus príncipes, tudo levou ele para a Babilônia. Queimaram a Casa de Deus e derribaram os muros de Jerusalém; todos os seus palácios queimaram, destruindo também todos os seus preciosos objetos. Os que escaparam da espada, a esses levou ele para a Babilônia, onde se tornaram seus servos e de seus filhos, até ao tempo do reino da Pérsia.”36 HS 72.3
Quando os hebreus estavam no cativeiro na Babilônia, Deus propôs restaurá-los à própria terra e novamente lhes dar uma cidade e um templo, em circunstâncias de glória maravilhosa.37 Uma vez que a condição da proposta foi desconsiderada,38 a glória oferecida nunca foi herdada. Na oferta, havia várias alusões ao sábado do Senhor e também às festas dos hebreus.39 Uma delas é digna de nota especial, pela clareza com que distingue o sábado dos outros dias da semana: HS 72.4
“Assim diz o Senhor Deus: A porta do átrio interior, que olha para o oriente, estará fechada durante os seis dias que são de trabalho; mas no sábado ela se abrirá e também no dia da Festa da Lua Nova.”40 HS 73.1
Seis dias da semana são chamados, por inspiração divina, de dias “de trabalho”; o sétimo é chamado de sábado do Senhor. Quem ousaria confundir uma distinção tão evidente? HS 73.2
Depois que os judeus voltaram do cativeiro na Babilônia e seu templo e sua cidade foram restaurados, eles reuniram todo o povo em assembleia solene e narraram em um discurso ao Altíssimo todos os grandes eventos da providência divina em sua história passada. O testemunho que eles deram a respeito do sábado é este: HS 73.3
“Desceste sobre o monte Sinai, do céu falaste com eles e lhes deste juízos retos, leis verdadeiras, estatutos e mandamentos bons. O Teu santo sábado lhes fizeste conhecer; preceitos, estatutos e lei, por intermédio de Moisés, Teu servo, lhes mandaste.”41 HS 73.4
Desse modo, todo o povo foi lembrado dos grandes acontecimentos do monte Sinai: a entrega das dez palavras da lei de Deus e o conhecimento de Seu santo sábado. A congregação inteira ficou tão impressionada com as consequências de sua desobediência, no passado, que entrou em solene aliança de obediência a Deus.42 E assim comprometeram-se uns com os outros: HS 73.5
“De que, trazendo os povos da terra no dia de sábado qualquer mercadoria e qualquer cereal para venderem, nada comprariam deles no sábado, nem no dia santificado; e de que, no ano sétimo, abririam mão da colheita e de toda e qualquer cobrança.”43 HS 73.6
Durante a ausência de Neemias, no período em que ele voltou para a corte persa, tal aliança foi, pelo menos parcialmente, esquecida. Onze anos se passaram e Neemias deu o seguinte testemunho acerca do estado das coisas, por ocasião de seu retorno, por volta de 434 a.C.: HS 73.7
“Naqueles dias, vi em Judá os que pisavam lagares ao sábado e traziam trigo que carregavam sobre jumentos; como também vinho, uvas e figos e toda sorte de cargas, que traziam a Jerusalém no dia de sábado; e protestei contra eles por venderem mantimentos neste dia. Também habitavam em Jerusalém tírios que traziam peixes e toda sorte de mercadorias, que no sábado vendiam aos filhos de Judá e em Jerusalém. Contendi com os nobres de Judá e lhes disse: Que mal é este que fazeis, profanando o dia de sábado? Acaso, não fizeram vossos pais assim, e não trouxe o nosso Deus todo este mal sobre nós e sobre esta cidade? E vós ainda trazeis ira maior sobre Israel, profanando o sábado. Dando já sombra as portas de Jerusalém antes do sábado,44 ordenei que se fechassem; e determinei que não se abrissem, senão após o sábado; às portas coloquei alguns dos meus moços, para que nenhuma carga entrasse no dia de sábado. Então, os negociantes e os vendedores de toda sorte de mercadorias pernoitaram fora de Jerusalém, uma ou duas vezes. Protestei, pois, contra eles e lhes disse: Por que passais a noite defronte do muro? Se outra vez o fizerdes, lançarei mão sobre vós. Daí em diante não tornaram a vir no sábado. Também mandei aos levitas que se purificassem e viessem guardar as portas, para santificar o dia de sábado. Também nisto, Deus meu, lembra-Te de mim; e perdoa-me segundo a abundância da Tua misericórdia.”45 HS 73.8
Esse texto bíblico é um testemunho explícito de que a destruição de Jerusalém e o cativeiro babilônico foram consequências da profanação do sábado. Trata-se de uma confirmação notável das palavras de Jeremias, já mencionadas, nas quais o profeta revelou aos judeus que, se eles santificassem o sábado, sua cidade permaneceria para sempre; mas, se persistissem na transgressão desse dia, ela seria completamente destruída. Neemias dá testemunho do cumprimento da profecia de Jeremias acerca da violação do sábado; e a história do sábado no Antigo Testamento termina com seu solene apelo em prol desse dia. HS 74.1