Testemunhos para a Igreja 4
Capítulo 16 — A tomada de Jericó
Após a morte de Moisés, Josué foi designado líder de Israel, para conduzi-los à Terra Prometida. Ele era bem qualificado para essa importante missão. Havia sido o primeiro-ministro de Moisés durante a maior parte do tempo em que os israelitas vaguearam pelo deserto. Ele vira as obras maravilhosas de Deus executadas por Moisés, e compreendia bem a disposição do povo. Fora um dos doze espias enviados para examinar a Terra Prometida, e um dos dois que deram um relatório fiel de suas riquezas, e que animaram o povo a prosseguir e a possuí-la na força de Deus. T4 156.2
O Senhor prometeu a Josué que estaria com ele como estivera com Moisés, e tornaria Canaã uma fácil conquista para ele, desde que fosse fiel em observar todos os Seus mandamentos. Josué estivera preocupado acerca da execução de seu encargo de conduzir o povo à terra de Canaã; mas essa promessa removeu os seus temores. Ele ordenou que os filhos de Israel se aprontassem para uma jornada de três dias, e todos os homens de guerra se preparassem para a batalha. “Então, responderam a Josué, dizendo: Tudo quanto nos ordenaste faremos e aonde quer que nos enviares iremos. Como em tudo ouvimos a Moisés, assim te ouviremos a ti; tão-somente que o Senhor, teu Deus, seja contigo, como foi com Moisés. Todo homem que for rebelde à tua boca e não ouvir as tuas palavras em tudo quanto lhe mandares morrerá; tão-somente esforça-te e tem bom ânimo. Josué 1:16-18. T4 156.3
Deus desejava que a passagem dos israelitas pelo Jordão fosse miraculosa. Josué ordenou que o povo se santificasse, pois pela manhã o Senhor iria efetuar maravilhas entre eles. No tempo designado, ordenou que os sacerdotes tomassem a arca contendo a lei de Deus, e a segurassem diante do povo. “E o Senhor disse a Josué: Este dia começarei a engrandecer-te perante os olhos de todo o Israel, para que saibam que assim como fui com Moisés assim serei contigo.” Josué 3:7. T4 157.1
Os sacerdotes obedeceram às ordens de seu líder e foram perante o povo transportando a arca do concerto. O exército dos hebreus assumiu o comando de marcha e seguiu este símbolo da presença divina. A ampla coluna alinhou-se ao longo da margem do Jordão, e, à medida que os pés dos sacerdotes mergulharam na beira do rio, a água foi interrompida a partir de cima, e o volume abaixo continuou a correr, deixando seco o leito do rio. Os sacerdotes atravessaram, transportando a arca de Deus, e Israel seguia após eles. Na metade do caminho sobre o Jordão, os sacerdotes receberam ordem de permanecer parados no leito do rio até que toda a multidão hebraica houvesse atravessado. Isso devia imprimir-lhes com maior eficácia na mente o fato de que o poder que detinha as águas do Jordão era o mesmo que capacitou seus pais a cruzarem o Mar Vermelho quarenta anos antes. T4 157.2
Muitos que passaram através do Mar Vermelho como crianças, agora, por um milagre semelhante, cruzavam o Jordão, homens de guerra, equipados para a batalha. Após todo o exército de Israel ter atravessado, Josué ordenou que os sacerdotes saíssem do rio. Quando eles, transportando a arca da aliança, puseram-se a salvo na margem do outro lado, Deus removeu a Sua poderosa mão, e as águas acumuladas desabaram numa tremenda torrente no leito natural do curso da água. O Jordão correu, um dilúvio irresistível, alagando todas as suas margens. T4 158.1
Mas antes que os sacerdotes saíssem do leito do rio, a fim de que esse maravilhoso milagre jamais fosse esquecido, o Senhor ordenou que Josué selecionasse homens de destaque de cada tribo para tomar pedras do leito do rio onde os sacerdotes haviam permanecido em pé e as transportassem sobre os ombros até Gilgal, e lá erigissem um monumento em lembrança do fato de que Deus havia feito Israel atravessar o Jordão sobre terra seca. Esse seria um contínuo memorial do milagre que o Senhor havia realizado por eles. Ao se passarem os anos, seus filhos indagariam a respeito do monumento, e vez após vez eles lhes relatariam essa maravilhosa história, até que ficasse indelevelmente gravada na mente deles para a posteridade. T4 158.2
Quando todos os reis dos amorreus e os reis dos cananeus ouviram que o Senhor havia detido as águas do Jordão diante dos filhos de Israel, o coração deles derreteu de temor. Os israelitas haviam matado dois dos reis de Moabe, e sua miraculosa travessia sobre as águas impetuosas do Jordão encheu as pessoas de grande terror. Josué então circuncidou todo o povo que havia nascido no deserto. Após essa cerimônia, observaram a Páscoa na planície de Jericó. “Disse mais o Senhor a Josué: Hoje, revolvi de sobre vós o opróbrio do Egito.” Josué 5:9. T4 158.3
Nações pagãs haviam insultado ao Senhor e Seu povo porque os hebreus fracassaram em possuir a terra de Canaã, que esperavam herdar logo após deixar o Egito. Seus inimigos tinham triunfado porque Israel vagueara por tanto tempo no deserto, e orgulhosamente se erguiam contra Deus, declarando que Ele não era capaz de conduzi-los para a terra de Canaã. O Senhor agora havia significativamente manifestado o Seu poder e favor ao conduzir o Seu povo pelo Jordão em terra seca, e seus inimigos não mais podiam deles zombar. O maná que continuara até esse tempo, agora cessou; pois ao estarem os israelitas a ponto de possuir Canaã e comer dos frutos daquela boa terra, não mais havia necessidade dele. T4 158.4
Ao Josué retirar-se dos exércitos de Israel para meditar e orar para que a presença especial de Deus o acompanhasse, viu um homem de elevada estatura, trajado com roupas de combate, com uma espada erguida na mão. Josué não reconheceu nele um dos guerreiros de Israel, contudo ele não tinha a aparência de um inimigo. Em seu zelo aproximou-se dele, dizendo-lhe: “És tu dos nossos ou dos nossos inimigos? E disse Ele: Não, mas venho agora como Príncipe do exército do Senhor. Então, Josué se prostrou sobre o seu rosto na terra, e O adorou, e disse-Lhe: Que diz meu Senhor ao Seu servo? Então, disse o Príncipe do exército do Senhor a Josué: Descalça os sapatos de teus pés, porque o lugar em que estás é santo. E fez Josué assim.” Josué 5:13-15. T4 159.1
A glória de Deus santificava o santuário, e por essa razão os sacerdotes nunca entravam no lugar santificado pela presença de Deus com os sapatos nos pés. Partículas de poeira podiam apegar-se-lhes, o que profanaria o lugar santo; portanto, era requerido que os sacerdotes deixassem os sapatos no pátio antes de entrarem no santuário. No pátio, ao lado da porta do tabernáculo, havia uma bacia de bronze onde os sacerdotes lavavam as mãos e os pés antes de entrar no tabernáculo, para que toda a impureza pudesse ser removida. De todos os que oficiavam no santuário Deus requeria que fizessem preparativos especiais antes de entrar no lugar onde a Sua glória era revelada. T4 159.2
Foi o Filho de Deus que Se apresentou como um guerreiro armado perante o líder de Israel. Era Aquele que havia conduzido os hebreus através do deserto, envolvido em uma coluna de nuvem durante o dia e em uma coluna de fogo durante a noite. A fim de impressionar a mente de Josué de que Ele não era outro senão Cristo, o Excelso, disse: “Descalça os sapatos de teus pés.” Josué 5:15. Ele então instruiu Josué sobre que caminho seguir para apossar-se de Jericó. Todos os homens de guerra deviam receber ordens de rodear a cidade uma vez cada dia durante seis dias, e no sétimo dia deviam marchar ao redor de Jericó sete vezes. T4 159.3
Assim, Josué deu ordens aos sacerdotes e ao povo conforme o Senhor o instruíra. Ele dispôs os exércitos de Israel em perfeita ordem. Em primeiro lugar estava um seleto corpo de homens armados, vestidos com suas roupas de combate; agora não para exercer suas habilidades nas armas, mas apenas para crer e obedecer às instruções que lhes seriam dadas. A seguir vinham sete sacerdotes com trombetas. Depois vinha a arca de Deus, de ouro reluzente, tendo um halo de glória pairando sobre ela, transportada pelos sacerdotes nas ricas vestes peculiares que denotavam seu sagrado ofício. O vasto exército de Israel ia em perfeita ordem, cada tribo sob o seu respectivo estandarte. Assim rodearam a cidade com a arca de Deus. Nenhum som se ouvia senão os passos daquele poderoso exército e o solene toque das trombetas, ecoando entre as colinas e ressoando através das ruas de Jericó. T4 160.1
Surpresos e alarmados os vigias da condenada cidade observavam cada movimento, e tudo relatavam aos superiores. Não podiam imaginar o que significava toda essa demonstração. Jericó havia desafiado os exércitos de Israel e o Deus do Céu; mas quando contemplaram aquele poderoso exército marchando em torno de sua cidade uma vez por dia com toda a pompa e majestade de guerra, além da grandiosidade da arca sagrada e dos sacerdotes acompanhantes, o impressionante mistério da cena encheu de terror o coração tanto de príncipes quanto do povo. Então, novamente, verificaram suas fortes defesas, julgando-se certos de que podiam com êxito resistir ao mais poderoso ataque. Muitos ridicularizavam a idéia de que qualquer mal lhes pudesse sobrevir através dessas singulares demonstrações da parte de seus inimigos; mas outros ficavam espantados ao contemplarem a majestade e o esplendor da procissão que cada dia portentosamente lhes rodeava a cidade. Lembravam-se de que quarenta anos antes o Mar Vermelho havia se dividido diante desse povo e que uma passagem tinha sido recentemente aberta através do rio Jordão. Não sabiam que outras maravilhas Deus poderia efetuar por eles; contudo, mantiveram seus portões cuidadosamente fechados e os guardaram com poderosos guerreiros. T4 160.2
Durante seis dias o exército de Israel realizou o seu circuito ao redor da cidade. Chegou o sétimo dia, e, com a primeira luz da aurora, Josué colocou em ordem os exércitos do Senhor. Agora foram orientados a marchar sete vezes ao redor de Jericó, e, a um forte sonido de trombetas, gritar em alta voz, pois Deus lhes havia entregado a cidade. O imponente exército marchou solenemente ao redor dos condenados muros. A arca resplandecente de Deus refletia os primeiros alvores da manhã. Os sacerdotes com seus peitorais cintilantes e éfodes cravejados de jóias, e os guerreiros com suas armaduras reluzentes, apresentavam um espetáculo magnífico. Estavam silenciosos como mortos, a não ser pela cadência marcada de muitos pés e o toque ocasional da trombeta, quebrando o silêncio da madrugada. Os maciços muros de pedra sólida como que olhavam carrancudos para baixo, desafiando o cerco dos homens. T4 161.1
Subitamente, o vasto exército se detém. As trombetas ressoam estrondosamente fazendo a própria terra tremer. Em uníssono as vozes de todo o Israel cortam os ares com um poderoso brado. Os muros de pedra sólida com suas torres maciças e palácios vacilam e se erguem de seus fundamentos, e, com uma explosão como a de milhares de trovões, desabam em ruína disforme sobre a terra. Os habitantes e o exército do inimigo, paralisados de terror e surpresa, não oferecem resistência, e Israel marcha em frente e torna cativa a poderosa cidade de Jericó. T4 161.2
Quão facilmente os exércitos do Céu puseram abaixo os muros que pareciam tão temíveis aos espias que apresentaram o falso relatório! A palavra de Deus foi a única arma usada. O Poderoso de Israel havia dito: “Tenho dado na tua mão a Jericó.” Josué 6:2. Se um único combatente tivesse aplicado a sua força contra os muros, a glória de Deus seria diminuída e Sua vontade frustrada. Mas a obra foi deixada com o Todo-poderoso; e se os fundamentos dos palácios tivessem sido fixados no centro da terra, e seus cumes alcançassem a abóbada celeste, o resultado teria sido o mesmo ao Capitão do exército do Senhor conduzir suas legiões de anjos ao ataque. T4 161.3
Por muito tempo havia Deus designado dar a cidade de Jericó a Seu povo escolhido, e glorificar o Seu nome entre as nações da Terra. Quarenta anos antes quando havia conduzido Israel para fora da escravidão, Ele havia proposto dar-lhes a terra de Canaã. Mas pelas suas vis murmurações e ciúmes eles haviam provocado a Sua ira, e Ele os fizera andar por fatigantes anos no deserto, até que todos que O haviam afrontado com sua descrença não mais existissem. Na captura de Jericó, Deus declarou aos hebreus que seus pais poderiam ter possuído a cidade quarenta anos antes, caso tivessem confiado nEle como fizeram seus filhos. T4 162.1
A história do antigo Israel é escrita para nosso benefício. Paulo declara: “Mas Deus não Se agradou da maior parte deles, pelo que foram prostrados no deserto. E essas coisas foram-nos feitas em figura, para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram.” “Ora, tudo isso lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos. Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia.” 1 Coríntios 10:5, 6, 11, 12. T4 162.2
Muitos que, a exemplo do antigo Israel, professam observar os mandamentos de Deus, têm coração incrédulo enquanto exteriormente observam os estatutos divinos. Conquanto favorecidos com grande luz e preciosos privilégios, não obstante perderão a Canaã celestial, tal como os rebeldes israelitas deixaram de entrar na Canaã terrestre que Deus lhes havia prometido como recompensa por sua obediência. T4 162.3
Como um povo, falta-nos fé. Poucos, nestes dias, seguiriam as orientações dadas através dos servos escolhidos de Deus tão obedientemente quanto os exércitos de Israel na tomada de Jericó. O Capitão do exército do Senhor não Se revelou a toda a congregação. Comunicou-Se somente com Josué, o qual relatou esta entrevista aos hebreus. Restava-lhes crer ou duvidar das palavras de Josué, seguir as ordens dadas por ele em nome do Capitão do exército do Senhor, ou rebelar-se contra Suas ordens e negar a Sua autoridade. Eles não podiam ver o exército de anjos, reunido pelo Filho de Deus, que conduzia a Sua caravana; e poderiam ter raciocinado: “Que movimentos mais sem sentido são estes e que ridícula atividade de marchar diariamente ao redor dos muros da cidade, tocando trombetas de chifres de carneiro! Isso não pode ter qualquer efeito sobre essas sólidas fortificações.” T4 162.4
Mas o próprio plano de continuar essa cerimônia durante tanto tempo antes da derrocada final dos muros, concedeu oportunidade para aumentar a fé entre os israelitas. Eles deviam ficar inteiramente impressionados com a idéia de que sua força não estava na sabedoria do homem nem em seu poderio, mas somente no Deus de sua salvação. Assim se acostumariam a colocar-se fora de questão, e descansar plenamente em seu divino Líder. T4 163.1
Aqueles que hoje professam ser povo de Deus se conduziriam dessa maneira sobre circunstâncias semelhantes? Sem dúvida muitos prefeririam seguir os próprios planos, e sugeririam outros caminhos e meios de realizar o desejado fim. Seriam vagarosos em submeter-se a um arranjo tão simples, um plano que não refletia sobre eles nenhuma glória a não ser o mérito da obediência. Questionariam a possibilidade de uma poderosa cidade ser conquistada dessa maneira. Mas a lei do dever é suprema. Deve dominar a razão humana. A fé é o poder vivo que avança sobre toda barreira, supera todos os obstáculos e planta a sua bandeira no coração do acampamento inimigo. T4 163.2
Deus fará coisas maravilhosas por aqueles que confiam nEle. É porque Seu professo povo confia tanto na própria sabedoria, e não dá ao Senhor oportunidade de revelar Seu poder em benefício dele, que não tem mais força. Em toda emergência Ele ajudará os Seus filhos crentes, se eles depositarem sua inteira confiança nEle e Lhe obedecerem implicitamente. T4 163.3
Há profundos mistérios na Palavra de Deus; há mistérios inexplicáveis em suas providências; há mistérios no plano da salvação que o homem não pode compreender. Mas a mente finita, forte em Seu desejo de satisfazer sua curiosidade e resolver os problemas do infinito, negligencia seguir o claro roteiro indicado pela vontade revelada de Deus, e espreita os segredos ocultos desde a fundação do mundo. O homem formula as suas teorias, perde a simplicidade da verdadeira fé, torna-se demasiado importante em seu próprio conceito para crer nas declarações do Senhor, e se envolve nas próprias pretensões. T4 163.4
Muitos que professam nossa fé estão nessa posição. São fracos e impotentes porque confiam na própria força. Deus atua poderosamente por um povo fiel, que obedece a Sua palavra sem questionar ou duvidar. A Majestade do Céu, com Seu exército de anjos, arrasou os muros de Jericó sem ajuda humana. Os guerreiros armados de Israel não tiveram motivo de gloriar-se em suas realizações. Tudo foi feito mediante o poder de Deus. Que o povo renuncie ao eu e ao desejo de agir segundo os próprios planos, que se submeta humildemente à vontade divina, e Deus renovará sua força e dará liberdade e vitória a Seus filhos. T4 164.1