Testemunhos para a Igreja 2
Capítulo 80 — Não há tempo de graça após a vinda de Cristo
Irmão O:
Enquanto eu estava descrevendo os perigos de outros, seu caso impressionou minha mente. Por vários meses procurei uma oportunidade de escrever-lhe e a outros; mas, meu constante trabalho impediu-me de escrever todos os testemunhos individuais a mim revelados. T2 686.5
Seu caso freqüentemente me tem preocupado, mas não me senti livre para escrever-lhe. Redigi muitos testemunhos que têm sido dados a outros, alguns dos quais, em muitos aspectos, aplicam-se a você. O objetivo da publicação dos testemunhos é que os que não foram por eles apontados individualmente, todavia se acham tão em falta quanto os reprovados, possam ser advertidos através das repreensões feitas a outros. Pensei não ser meu dever dirigir-me a você pessoalmente. Entretanto, quando escrevo testemunhos pessoais aos que estão em perigo de negligenciar seu dever para com a causa de Deus e assim causar dano, perda da própria alma, não me sinto livre para deixar de mencionar seu caso por escrito. T2 687.1
A última visão que me foi dada aconteceu há mais de dois anos. Fui instruída a destacar alguns princípios gerais, oralmente e por escrito, e ao mesmo tempo especificar os perigos, erros e pecados de alguns indivíduos, para que todos fossem advertidos, reprovados e aconselhados. Vi que todos devem fazer um exame minucioso de sua consciência para saber se não têm cometido os mesmos erros pelos quais outros foram repreendidos, e se as advertências feitas a outros não se aplicam também ao seu caso. Em caso afirmativo, devem sentir que esses conselhos e repreensões foram dados também a eles, e fazer deles uma aplicação tão prática como se estivessem sido dirigidos especialmente a eles. T2 687.2
Aqueles que amam naturalmente o mundo e têm sido remissos em seus deveres, podem ver as próprias faltas apontadas nos casos de outras pessoas que foram repreendidas. Deus intenta provar a fé de todos os que alegam ser seguidores de Cristo. Ele provará a sinceridade das orações de todos aqueles que dizem ser seu sincero desejo conhecer o próprio dever. Ele tornará claro o dever de cada um, dando a todos uma oportunidade de desenvolver o que está dentro do coração. O conflito entre o eu e a graça de Deus será severo. O eu lutará pela supremacia e se oporá à obra de levar a vida e os pensamentos, a vontade e as afeições, em sujeição à vontade de Cristo. Renúncia e cruz situam-se ao longo da estrada para a vida eterna, e por causa disso, “poucos há que a encontram”. Mateus 7:14. T2 687.3
Deus está provando o caráter de todos. Está testando o amor deles por Sua causa e pela proclamação da verdade que eles afirmam considerar de inestimável valor. O Esquadrinhador de corações está julgando, pelos frutos que produz, quem é verdadeiramente seguidor de Cristo; quem, a exemplo do Modelo divino, renunciará as honrarias e tesouros do mundo, e aniquilará a si mesmo, preferindo a aprovação divina e a cruz de Cristo, para que possa no final garantir as verdadeiras riquezas, o tesouro acumulado no Céu, a recompensa — a glória eterna. T2 688.1
Os que na realidade não desejam conhecer a si mesmos, permitirão que as reprovações e advertências se restrinjam aos outros, e não discernirão que seus casos são abordados, os próprios erros e perigos apontados. Motivos terrenos e egoístas cegam a mente e agem sobre o coração, para que ele não seja renovado à imagem divina. Aqueles que, apesar de sua natureza perversa, não resistirem à vontade de Deus, não serão deixados em trevas, mas serão renovados em conhecimento e verdadeira santidade, e se gloriarão até mesmo na cruz de Cristo. T2 688.2
Foi-me mostrado que, no devido tempo, Deus me porá no coração a responsabilidade de dizer a certos indivíduos, como Natã disse a Davi: “Tu és este homem.” 2 Samuel 12:7. Muitos parecem crer que os testemunhos são dirigidos a outros e, como Davi, determinam-lhes a sentença, quando deveriam estar examinando minuciosamente o próprio coração, analisando a própria vida e fazendo aplicação prática das severas reprovações e advertências dadas a outros. T2 688.3
Irmão O, tem-me sido revelado que suas afeições estão mais sobre os tesouros da Terra do que supõe. Você tem estado confuso acerca de suas percepções do dever. E quando o Espírito de Deus age sobre sua mente e quer levá-lo ao que está de acordo com a vontade e reclamos divinos, outras influências, que não se harmonizam com a obra de Deus para este tempo, impedem-no de atender às sugestões da vontade divina. O resultado é que sua fé não é aperfeiçoada pelas obras. Suas afeições devem ser desviadas dos tesouros terrestres. Às vezes, quando, contrariamente a seus desejos e opiniões, os recursos passaram de você para as fileiras do inimigo, ficando assim perdidos para a causa de Deus, o irmão se mostrou muito perplexo e aborrecido. Os talentos de recursos lhe têm sido confiados pelo Mestre, a fim de serem usados para Sua glória. Você é Seu mordomo, e deve ser muito cauteloso para não negligenciar o dever. O irmão é naturalmente um homem amante do mundo e estará inclinado a requerer como seus os recursos postos sob seu cuidado. Mas, logo mais você ouvirá: “Presta contas da tua mordomia.” Lucas 16:2. T2 688.4
Os filhos de Deus são sábios quando confiam unicamente naquela sabedoria que procede do alto, e não têm outro poder senão aquele que vem de Deus. A separação da amizade e espírito do mundo nos é necessária se quisermos estar unidos ao Senhor e habitar nEle. Nossa força e prosperidade consistem em estarmos ligados ao Senhor, escolhidos e aceitos por Ele. Não há comunhão entre luz e trevas. Deus pretende que Seu povo Lhe seja peculiar, separado do mundo e exemplo vivo de santidade, para que o mundo possa ser iluminado, convencido ou condenado, de acordo como tratar a luz que lhe é enviada. A verdade que foi trazida à compreensão, a luz que brilhou sobre o coração, julgará e condenará caso seja negligenciada ou abandonada. T2 689.1
Nesta época degenerada, o erro e as trevas são preferidos em lugar da luz e da verdade. As obras de muitos professos seguidores de Cristo não suportarão a prova, quando examinadas à luz que agora brilha sobre eles. Por isso, muitos não virão para a luz temendo que suas obras sejam manifestas, porque não foram feitas em Deus. A luz descobre, torna manifesto, o mal oculto nas trevas. Homens mundanos e os servos de Cristo podem, de fato, ser semelhantes exteriormente, mas são servidores de dois mestres cujos interesses estão em total oposição. O mundo não compreende ou discerne a diferença, porém, há uma imensa distância, uma vasta separação entre eles. T2 689.2
Cristo diz: “Porque não sois do mundo, antes Eu vos escolhi do mundo.” João 15:19. Os verdadeiros seguidores de Cristo não podem fruir a amizade do mundo e, ao mesmo tempo, ter sua vida escondida com Cristo. As afeições devem ser desviadas dos tesouros da Terra e transferidas para o tesouro celestial. Quão difícil foi para o jovem rico, que tinha muitas posses, afastar suas afeições desse tesouro mundano, mesmo com a promessa de vida eterna como recompensa. T2 690.1
Quando tudo o que temos e somos não é consagrado a Deus, interesses egoístas cerram-nos os olhos à importância da obra, e os recursos que Deus requer são retidos. Aquele, porém, que nos concedeu recursos para o progresso de Sua causa, retirará Sua mão prosperadora e de algum modo espalhará os recursos retidos, ficando assim perdidos para o seu possuidor e para a causa de Deus. Não são preservados para este mundo, nem para o vindouro. Deus é roubado e Satanás triunfa. O Senhor deseja que você examine cuidadosamente o próprio coração, irmão O, e remova dele o amor ao mundo. Morra para o eu e viva para Deus. Então estará entre aqueles que são a luz do mundo. T2 690.2
Foi-me mostrado que você estava acariciando errôneos pontos de vista com respeito ao futuro, os quais lembram a perniciosa opinião da Era Vindoura. Algumas vezes até partilha essas idéias com outros. Mas elas não estão em harmonia com a corporação. Você não está fazendo uma aplicação correta da Escritura. Quando Jesus Se levantar no santíssimo, e tirar Suas vestes de Mediador, vestindo-Se dos trajes de vingança em lugar dos trajes sacerdotais, estará concluída a obra em prol dos pecadores. Chegará então o período de tempo em que sairá o decreto: “Quem é injusto faça injustiça ainda; ... e quem é justo faça justiça ainda; e quem é santo seja santificado ainda. E eis que cedo venho, e o Meu galardão está comigo para dar a cada um segundo a sua obra.” Apocalipse 22:11, 12. T2 690.3
Deus deu Sua Palavra a fim de que todos a examinem, para que aprendam o caminho da vida. Ninguém precisa errar, caso se submeta às condições de salvação estabelecidas na Palavra de Deus. O tempo de graça é concedido a todos, para que todos possam formar caráter para a vida eterna. Uma oportunidade será dada a todos para decidir pela vida ou pela morte. Os homens serão julgados segundo a medida de luz a eles concedida. Ninguém será responsável pelas trevas e erros em que anda, se não lhes foi levada a luz. Eles não pecaram em não aceitar aquilo que não lhes foi apresentado. Todos serão provados antes que Jesus deixe Seu lugar no santíssimo. Findar-se-á o tempo de graça de todos quando a intercessão pelos pecadores terminar, e forem vestidos os trajes de vingança. T2 691.1
Muitos há que nutrem a idéia de ser concedido um tempo de graça depois de Jesus deixar Sua obra como mediador no lugar santíssimo. Isso é engano de Satanás. Deus testa e prova o mundo pela luz que Se compraz em dar-lhe anteriormente à vinda de Cristo. Forma-se então caráter para a vida ou para a morte. Mas o tempo de graça daqueles que escolhem viver uma vida de pecado, e negligenciam a grande salvação oferecida, termina quando cessar a mediação de Cristo, antes de Seu aparecimento nas nuvens do céu. T2 691.2
Aqueles que amam o mundo, e cuja mente é carnal e se acha em inimizade para com Deus, lisonjear-se-ão com a idéia de que será concedido um período de graça depois de Cristo aparecer nas nuvens do céu. O coração carnal, tão avesso a submeter-se e a obedecer, iludir-se-á com essa agradável idéia. Muitos permanecerão em segurança carnal, continuando em rebelião contra Deus, lisonjeando-se de que haverá então um tempo de arrependimento do pecado, e uma oportunidade de aceitarem a verdade agora tão impopular e contrária a seus desejos e inclinações naturais. Quando não tiverem nada que arriscar, nada a perder por obedecer a Cristo e à verdade, então, pensam, aproveitarão a oportunidade da salvação. T2 691.3
Há nas Escrituras algumas coisas difíceis de entender e que segundo diz Pedro, “os indoutos e inconstantes torcem” (2 Pedro 3:16) para a própria perdição. Não podemos explicar nesta vida o sentido de todas as passagens das Escrituras; não há, porém, pontos vitais de verdade prática, que fiquem envoltos em mistério. Ao chegar, na providência de Deus, o tempo de o mundo ser provado quanto à verdade para aquele tempo, mentes serão despertadas pelo Seu Espírito para pesquisarem as Escrituras, mesmo com jejum e oração, até que se descubra elo após elo, e estes sejam ligados em perfeita cadeia. Todo fato que tem que ver de perto com a salvação de almas, será tornado tão claro, que ninguém precisa errar, ou andar em trevas. T2 692.1
Ao acompanharmos a cadeia de profecias, a verdade revelada para o nosso tempo tem sido claramente vista e explicada. Somos responsáveis pelos privilégios que desfrutamos, e pela luz que incide em nosso caminho. Os que viveram nas gerações passadas foram responsáveis pela luz que lhes foi concedida. Sua mente foi despertada acerca de vários pontos da Escritura que lhes serviram de prova. Não compreenderam, porém, as verdades que hoje entendemos. Não foram responsáveis pela luz que não tiveram. Tinham a Bíblia, como nós; mas o tempo para ser esclarecida a verdade especial quanto às cenas finais da história terrestre, é o das últimas gerações que vivem na Terra. T2 692.2
Verdades especiais foram adaptadas às condições das gerações à medida que existiram. A verdade presente, que é uma prova para o povo desta geração, não era prova aos das gerações que longe ficaram. Caso a luz que hoje brilha sobre nós relativamente ao sábado do quarto mandamento houvesse sido dada às gerações do passado, Deus os teria considerado responsáveis por essa luz. T2 693.1
Quando o templo de Deus foi aberto no Céu, João viu em santa visão uma classe de pessoas cuja atenção foi atraída, e que olhavam com reverente temor a arca, que continha a lei de Deus. A prova especial sobre o quarto mandamento não sobreveio senão depois que o templo de Deus foi aberto no Céu. T2 693.2
Aqueles que morreram antes de ser enviada luz sobre a lei de Deus e os reclamos do quarto mandamento, não foram culpados do pecado de violar o sábado do sétimo dia. A sabedoria e misericórdia de Deus em dispensar luz e conhecimento no tempo devido, como o povo a necessita, são insondáveis. Antes de Ele vir a julgar o mundo em justiça, envia uma advertência para despertar o povo e chamar-lhe a atenção para sua negligência quanto ao quarto mandamento, a fim de que seja esclarecido, e se arrependa de sua transgressão da lei de Deus, demonstrando lealdade para com o grande Legislador. Ele tomou providências para que todos possam ser santos e felizes, se assim o quiserem. A esta geração tem sido comunicada suficiente luz, para que conheçamos quais são nossos deveres e privilégios, e desfrutemos as preciosas e solenes verdades em sua simplicidade e poder. T2 693.3
Somos responsáveis somente pela luz que incide sobre nós. Os mandamentos de Deus e os testemunhos de Jesus estão nos servindo de prova. Se formos fiéis e obedientes, Deus Se deleitará em nós, e nos abençoará como Seu povo escolhido e peculiar. Quando existirem em abundância a fé, amor e obediência perfeitos, atuando no coração dos que são seguidores de Cristo, eles possuirão poderosa influência. Deles brotará luz, dissipando as trevas que os rodeiam, purificando e elevando todos quantos chegarem sob a esfera de sua influência, e levando ao conhecimento da verdade todos os que estiverem dispostos a ser esclarecidos e a seguir na trilha humilde da obediência. T2 693.4
Os que possuem mente carnal, não podem compreender a sagrada força da verdade vital de que depende sua salvação, devido a nutrirem no coração orgulho, amor ao mundo e à comodidade, egoísmo, cobiça, inveja, ciúmes, concupiscência, ódio e todo mal. Caso vencessem essas coisas, poderiam ser participantes da natureza divina. Muitos deixam as positivas verdades da Palavra de Deus, e negligenciam seguir a luz que lhes ilumina claramente o caminho; tentam descobrir segredos não plenamente revelados, conjecturar, falar e discutir acerca de questões que não são chamados a compreender, as quais não têm que ver especialmente com sua salvação. Milhares de pessoas têm sido assim iludidas por Satanás. Negligenciaram a fé e o dever presentes, os quais são claros e compreensíveis para todos quantos se acham na posse de suas faculdades de raciocínio; fixaram-se sobre teorias duvidosas e textos que não podiam compreender, e erraram com relação à fé; têm uma fé confusa. T2 694.1
Deus quer que todos façam uso prático dos positivos ensinos de Sua Palavra relativamente à salvação dos seres humanos. Caso eles sejam praticantes da Palavra, que é clara e poderosa em sua simplicidade, não deixarão de aperfeiçoar o caráter cristão. Santificar-se-ão mediante a verdade e pela humilde obediência à mesma, assegurarão a vida eterna. Deus quer servos que sejam verdadeiros, não só em palavras, mas em atos. Seus frutos manifestarão a genuinidade de sua fé. T2 694.2
Irmão O, você ficará sujeito às tentações de Satanás, caso continue a nutrir suas idéias errôneas. Terá uma fé confusa, e estará em risco de confundir a mente de outros. Deus requer que Seu povo seja unido. Seus pontos de vista peculiares se demonstrarão nocivos a sua influência; e caso continue a nutri-los e a falar neles, servirão afinal para separá-lo de seus irmãos. Se Deus tem luz necessária à salvação de Seu povo, Ele a comunicará, da mesma maneira que o fez com outras grandes e importantes verdades. Você deve deixar esse assunto em paz. Permita que Deus atue à Sua maneira, para realizar a Seu tempo e modo os Seus desígnios. Que Deus o habilite a andar na luz, “como Ele na luz está”. 1 João 1:7. T2 694.3