Testemunhos para a Igreja 2

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Capítulo 81 — Responsabilidade pela luz recebida

Foi-me mostrado o caso do irmão P. Ele vem há algum tempo resistindo à verdade. Seu pecado não é rejeitar aquilo que crê sinceramente ser um erro, mas não pesquisar diligentemente o assunto e obter conhecimento daquilo a que se está opondo. Supôs que os adventistas observadores do sábado, como corporação, estavam em erro. Essa opinião estava em harmonia com seus sentimentos, e ele não via a necessidade de descobrir as coisas por si mesmo, mediante diligente pesquisa das Escrituras com fervorosa oração. Se tivesse feito isso, poderia estar muito mais adiantado em seu conhecimento. Ele tem sido demasiado vagaroso para aceitar as evidências, e negligente demais em pesquisar as Escrituras para ver “se estas coisas eram assim”. Atos dos Apóstolos 17:11. Paulo não considerou dignos de elogios aqueles que resistiam a seus ensinos, até que, compelidos por esmagadora evidência, decidiram em favor da doutrina que o apóstolo recebeu de Deus e lhes ensinou. T2 695.1

Paulo e Silas trabalharam na sinagoga judia em Tessalônica com algum sucesso; mas os judeus descrentes estavam bastante insatisfeitos, criaram confusão, fazendo um grande tumulto em oposição a eles. Os dedicados apóstolos foram obrigados a deixar Tessalônica de noite e ir para Beréia, onde foram alegremente recebidos. E assim elogiaram os bereanos: “Estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim. De sorte que creram muitos deles.” Atos dos Apóstolos 17:11, 12. T2 695.2

O irmão P não conseguiu ver a importância vital da questão. Não sentiu preocupação em pesquisar cuidadosamente, sem qualquer auxílio humano, a fim de descobrir o que é a verdade. Ele confiou muito no Pastor P, e não sentiu a necessidade de aprender dAquele que é “manso e humilde de coração”. Mateus 11:29. O irmão P não é suscetível ao ensino, mas confia em si mesmo. Nosso Salvador não tem palavras elogiosas para aqueles que, nestes últimos dias, são tardos de coração para crer, mais do que teve para o duvidoso Tomé, que se orgulhava de não crer nas evidências que os discípulos transmitiram, de que Cristo havia realmente ressurgido e lhes aparecera. Disse Tomé: “Se eu não vir o sinal dos cravos em Suas mãos... e não puser a minha mão no Seu lado, de maneira nenhuma o crerei.” Cristo concedeu a Tomé a evidência que ele disse precisar, mas reprovou-o, dizendo-lhe: “Não sejas incrédulo, mas crente.” Tomé deu-se por convencido. Jesus lhe disse: “Porque Me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram!” João 20:25, 27, 29. T2 696.1

A atitude do irmão P fez dele um homem fraco. Ele permaneceu por certo tempo em oposição a quase tudo, exceto o sábado. Ao mesmo tempo em que comungava com os transgressores dos mandamentos, era ainda requisitado pelos adventistas que estavam em direta oposição ao sábado do quarto mandamento. Ele não tinha condição de ajudá-los porque ele mesmo estava indeciso. Sua influência, pelo contrário, confirmou muitos na incredulidade. Com toda a ajuda, evidência e estímulo que recebera, desagradou ao Senhor por seu afastamento, enquanto fortalecia as mãos daqueles que guerreavam contra Deus por sua oposição à verdade. T2 696.2

O irmão P podia agora ser um homem forte, exercendo influência, juntamente com o povo de Deus no Maine, e tido em alta estima por causa de suas obras. Mas ele se inclina à idéia de que sua relutância possui virtude especial, antes que um pecado do qual precisa arrepender-se. Ele tem sido lento em aprender as lições que Deus pretende ensinar-lhe. Não tem sido um estudante apto e não cresceu em experiência na verdade presente, o que o qualificaria a assumir o peso da responsabilidade, houvesse ele diligentemente aceito a luz concedida. Foi-me mostrada uma época em que o irmão P fez esforços para subjugar-se e restringir seu apetite, então pôde, com mais facilidade, ser paciente. Ele era irritadiço, depressivo, agitado e exaltado. Seus hábitos de comer e beber tinham muito a ver com tal condição. As baixas paixões estavam no controle, predominando sobre as mais elevadas faculdades mentais. A temperança faria muito ao irmão P. Mais exercício físico e trabalho são necessários à sua saúde. Quando fez esforços para controlar-se, começou a melhorar, mas não recebeu toda a bênção que teria recebido se tivesse iniciado antes. T2 697.1

Em lugar de ajuntar com Cristo para a verdade, ele recuou por muito tempo; não progrediu e permaneceu diretamente no caminho do progresso de outros, espalhando por toda parte. Sua influência atrapalhou o progresso da obra que Deus dera a Seus servos. T2 697.2

As idéias do irmão P sobre ordem e organização têm estado em direta oposição ao plano organizacional de Deus. Há ordem no Céu a qual deve ser imitada pelos que na Terra são herdeiros da salvação. Quanto mais os mortais se aproximarem da ordem e harmonia do Céu, mais perto estarão da condição aceitável diante de Deus, que os tornará súditos do reino celeste e os qualificará para a trasladação da Terra ao Céu, tal qual Enoque em seu preparo para ser trasladado. T2 697.3

O irmão P deve precaver-se. Há falta de ordem em sua vida. Ele não se acha em conformidade com as restrições, cuidado e diligência, que são necessários para preservar a harmonia e unidade de ação. Sua experiência e educação em termos religiosos nos últimos anos têm prejudicado seus queridos filhos, e especialmente o povo de Deus. As obrigações que o Céu impõe sobre um pai, em especial um pastor, ele não cumpriu. O homem que não tem senão um débil senso de sua obrigação como pai, para estimular e impor ordem, disciplina e obediência, falhará como ministro e pastor do rebanho. A mesma falha que caracteriza sua administração do lar será mais notória na igreja de Deus. Erros ficarão impunes em virtude dos desagradáveis resultados que acompanham as reprovações e os fervorosos apelos. T2 698.1

É necessária uma grande reforma na família do irmão P. Deus não Se agrada com a desordem ali reinante, pois escolhem seu caminho e seguem os próprios planos. Essa condição familiar poderá contrariar sua influência onde quer que ele seja conhecido. Isso também tem efeito desencorajador sobre aqueles que desejam ajudá-lo no sustento da família. Esse problema é um insulto à causa. O irmão P não restringe seus filhos. Deus não Se agrada com o comportamento desordenado, tumultuoso e grosseiro deles. Tudo isso é resultado, ou maldição, da plena liberdade que os adventistas têm reivindicado ser seu bendito privilégio desfrutar. O irmão e a irmã P desejam a salvação de seus filhos, mas vi que Deus não realizaria um milagre para sua conversão, enquanto houver deveres recaindo sobre os pais, dos quais eles não têm senão pouca consciência. Deus deixou uma obra para esses pais realizarem, a qual têm devolvido para o Senhor fazer por eles. Quando o irmão e a irmã P sentirem a obrigação que lhes pesa sobre os ombros, unirão seus esforços para estabelecer ordem, disciplina e salutares limites em sua família. T2 698.2

Irmão P, você tem sido indolente em assumir as responsabilidades que todo pai deve assumir em sua família; e como resultado, a responsabilidade que tem sido transferida para a mãe é muito pesada. Você tem estado muito disposto a eximir-se dos cuidados e obrigações no lar e fora dele. Quando, no temor de Deus, e com solenidade mental em vista do Juízo, você resolutamente assumir a responsabilidade que o Céu lhe determinou, e quando fizer tudo o que puder de sua parte, então poderá orar inteligentemente, em Espírito e em fé, para que Deus faça por seus filhos aquele trabalho que está além da capacidade humana executar. T2 699.1

O irmão P não tem feito uso prudente dos recursos. O sábio discernimento não o tem influenciado tanto quanto as vozes e desejos de seus filhos. Não dá o devido valor aos recursos que tem em mãos, nem os despende prudentemente com as coisas mais necessárias que precisa para conforto e saúde. A família inteira está necessitando melhorar neste aspecto. Muitas coisas são necessárias na família para comodidade e conforto. A falta de apreciar ordem e método na organização dos assuntos familiares leva à destruição e contribui para a improdutividade. Cada membro da família deve sentir que sobre ele repousa a responsabilidade individual de fazer sua parte em ajudar no conforto, ordem e regularidade do lar. Não deve trabalhar um contra o outro. Todos devem empenhar-se unidos na boa obra de se encorajarem mutuamente; devem exercer gentileza, longanimidade e paciência; falar em tom calmo e baixo, evitando confusão, e cada um fazendo o melhor para aliviar o fardo da mãe. As coisas não mais devem ser deixadas ao léu, com todos se eximindo dos deveres, deixando para outros fazerem aquilo que eles podem e devem fazer. Essas coisas podem parecer insignificantes, mas quando colocadas juntas, causam grande desordem e atraem o desagrado divino. É a negligência das coisas pequenas, as ninharias, que envenenam a felicidade da vida. A fiel execução das coisas pequenas compõe a soma de felicidade a ser obtida nesta vida. Aquele que é fiel no pouco, é fiel também no muito. Aquele que é infiel ou injusto nas pequenas coisas, o será também nas grandes. Cada membro da família deve compreender exatamente a parte que dele se espera em união com os outros. Todos, desde a criança de seis anos e daí para cima, devem compreender que deles se requer que desempenhe sua parte nos encargos da vida. T2 699.2

Há importantes lições que esses filhos devem aprender, e é melhor que aprendam agora do que mais tarde. Deus atuará por esses queridos filhos em união com os esforços sábios e bem dirigidos de seus pais, e torná-los-á aprendizes na escola de Cristo. Jesus deseja que esses filhos estejam separados das vaidades do mundo, que deixem os prazeres do pecado e escolham o caminho da humilde obediência. Se agora ouvirem o gracioso convite, aceitando a Cristo como Seu Salvador e prosseguirem em conhecer o Senhor, Ele os purificará dos pecados e lhes comunicará graça e força. T2 700.1

Prezado irmão P, as lições que você aprendeu em meio às perturbadoras influências que existem no Maine, têm sido extremamente prejudiciais à sua família. Você não tem sido prudente em sua conversação como Deus requer. Não tem se demorado acerca da verdade em sua família, diligentemente ensinando aos filhos os princípios e mandamentos de Deus ao levantar-se e assentar-se, ao sair e ao entrar. Você não tem apreciado seu trabalho como pai nem como pastor. T2 700.2

Não tem cumprido zelosamente seu dever para com os filhos. Tampouco dedicado tempo suficiente ao culto familiar nem exigido a presença de toda a família. A palavra marido* significa laço de união. Todos os membros da família se centralizam no pai. Ele é o legislador, ilustrando na própria varonilidade as importantes virtudes: energia, integridade, honestidade, paciência, coragem, diligência e prestatividade. O pai é em certo sentido o sacerdote da família, apresentando ante o altar de Deus o sacrifício da manhã e da tarde. A esposa e os filhos devem ser encorajados a unir-se nesta oferenda e também a participar dos cânticos de louvor. De manhã e de tarde o pai, como sacerdote da família, deve confessar a Deus os pecados cometidos por ele mesmo e pelos seus filhos durante o dia. Tanto os pecados de que se tem conhecimento, como aqueles que são secretos e que só Deus conhece devem ser confessados. Esse procedimento, zelosamente seguido pelo pai quando presente, ou pela mãe quando o pai está ausente, resultará em bênçãos sobre a família. T2 701.1

A razão por que os jovens do presente não são mais inclinados para a religião é que sua educação é defeituosa. Não se exerce para com os filhos verdadeiro amor quando se lhes permite tolerar paixões ou quando a desobediência a suas determinações é deixada sem punição. Quando a haste é torta, a árvore cresce inclinada. Você ama muito a tranqüilidade. Não tem se dedicado o suficiente. Requer-se permanente esforço; constante vigilância e fervorosa oração. Conserve a mente em atitude de oração, elevada para Deus; não seja indolente no trabalho, mas fervoroso “no espírito, servindo ao Senhor”. Romanos 12:11. T2 701.2

Em sua família você falhou em reconhecer a santidade do sábado e em ensiná-la a seus filhos, e recomendar-lhes a importância de observá-lo conforme o mandamento. Suas sensibilidades não estão desobstruídas nem prontas para discernir o alto padrão que devemos alcançar, a fim de sermos guardadores dos mandamentos. Mas Deus o ajudará em seus esforços, quando você levar o trabalho a sério. Você deve possuir perfeito controle sobre si mesmo para ter melhor sucesso em dominar seus filhos, quando eles se mostrarem indisciplinados. Há uma grande obra diante do irmão para reparar as negligências passadas; mas não se requer que a faça nas próprias forças. Anjos ministradores o ajudarão. Não desista do trabalho nem deixe de lado a obrigação, mas assuma-a com boa disposição e repare sua prolongada negligência. Você precisa ter mais alta compreensão dos reclamos de Deus com respeito ao Seu dia sagrado. Tudo o que possivelmente pode ser feito nos seis dias que Deus lhe deu, deve ser feito. Você não deve roubar a Deus em uma única hora do tempo santo. Grandes bênçãos são prometidas aos que colocam sobre o sábado um alto valor e compreendem as obrigações que sobre eles repousam com respeito à sua observância. “Se desviares o teu pé do sábado [de pisoteá-lo, desprezando-o], de fazer a tua vontade no Meu santo dia, e se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do Senhor digno de honra, e se o honrares, não seguindo os teus caminhos, nem pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falar as tuas próprias palavras, então, te deleitarás no Senhor, e te farei cavalgar sobre as alturas da terra e te sustentarei com a herança de Jacó, teu pai; porque a boca do Senhor o disse.” Isaías 58:13, 14. T2 701.3

Ao começar o sábado, devemos pôr-nos guarda a nós mesmos, a nossos atos e palavras, para que não roubemos a Deus, apropriando-nos para nosso próprio uso daquele tempo que pertence estritamente ao Senhor. Não devemos fazer nós mesmos, nem permitir que nossos filhos façam qualquer espécie de trabalho pessoal para subsistência, ou qualquer coisa que poderia ter sido feita durante os seis dias de trabalho. A sexta-feira é o dia de preparação. O tempo pode ser então dedicado a fazer os necessários preparativos para o sábado, a pensar e falar sobre isso. Coisa alguma que possa, aos olhos do Céu, ser considerada transgressão do santo sábado, deve ser deixada por dizer ou fazer no sábado. Deus requer, não somente que nos abstenhamos do trabalho físico no sábado, mas que a mente seja disciplinada de modo a pensar em temas santos. O quarto mandamento é transgredido mediante o conversar-se sobre coisas mundanas, ou leves e frívolas. Falar sobre qualquer coisa ou sobre tudo que nos vem à mente, é falar nossas próprias palavras. Todo desvio do direito nos põe em servidão e condenação. T2 702.1

Irmão P, você deve disciplinar-se para discernir a santidade do sábado do quarto mandamento, e trabalhar por elevar a norma na família e onde quer que tenha, por seu exemplo, rebaixado a mesma entre o povo de Deus. Deve neutralizar a influência que tem exercido a esse respeito, mudando suas palavras e ações. Você tem com freqüência deixado de lembrar “o dia do sábado, para o santificar”; tem-no esquecido muitas vezes, e falado suas próprias palavras no dia santificado por Deus. Não se tem acautelado, unindo-se, no sábado, à conversa profana sobre os assuntos comuns do dia, como ganhos e perdas, ações, colheitas e provisões. Nisto seu exemplo prejudica sua influência. Você precisa reformar-se. T2 703.1

Os que não se acham inteiramente convertidos à verdade, deixam com freqüência que a mente lhes corra às soltas sobre negócios mundanos, e embora repousem dos trabalhos físicos no sábado, a língua fala do que está no coração; daí, essas conversas sobre gado, colheitas, prejuízos e lucros. Tudo isto é violação do sábado. Se a mente gira em assuntos mundanos, a língua o revelará; pois “da abundância do... coração fala a boca”. Lucas 6:45. T2 703.2

A esse respeito o exemplo, especialmente dos pastores, deve ser prudente. Devem, aos sábados, restringir-se conscienciosamente às conversas sobre assuntos religiosos — a verdade presente, o dever atual, as esperanças e temores dos cristãos, suas provações, conflitos e aflições; a vitória final e a recompensa a receber. T2 703.3

Os pastores devem colocar-se como reprovadores daqueles que deixam de lembrar-se do sábado para o santificar. Bondosa e solenemente, cumpre-lhes reprovar os que se empenham em conversação mundana no dia de sábado, professando ao mesmo tempo serem seus observadores. Devem estimular a consagração a Deus no Seu santo dia. T2 704.1

Ninguém se deve sentir na liberdade de gastar tempo santo inutilmente. Desagrada a Deus que os observadores do sábado durmam muito tempo no sábado. Eles desonram a seu Criador em assim fazer e por seu exemplo, dizem que os seis dias são demasiado preciosos para que os empreguem para descansar. Precisam ganhar dinheiro, mesmo que seja se privando do necessário sono, que recuperam dormindo durante as horas santas. Depois, desculpam-se, dizendo: “O sábado foi dado para dia de descanso. Não me privarei do repouso para ir à reunião; pois preciso descansar.” Essas pessoas fazem uso errado do dia santificado. Naquele dia especialmente, devem elas interessar sua família na observância do mesmo, e congregar-se na casa de oração com os poucos ou os muitos que ali houver. Devem dedicar o tempo e as energias a cultos religiosos, para que a divina influência os possa acompanhar durante a semana. De todos os dias semanais, nenhum é tão favorável aos pensamentos e sentimentos religiosos como o sábado. T2 704.2

Foi-me apresentado todo o Céu como a contemplar e observar no decorrer do sábado aqueles que reconhecem as reivindicações do quarto mandamento, e estão observando o sábado. Os anjos estavam anotando o interesse deles e o elevado respeito que nutrem por essa divina instituição. Aqueles que santificavam o Senhor Deus no próprio coração mediante uma estrutura estritamente religiosa da mente, e que buscavam aproveitar as horas santas em observar o sábado da melhor maneira que lhes era possível, e honravam a Deus ao chamar o sábado deleitoso — a esses, beneficiavam especialmente os anjos com luz e saúde, e era-lhes comunicada força especial. Por outro lado, porém, os anjos se desviavam dos que deixavam de apreciar a santidade do dia santificado por Deus, e deles removiam sua luz e força. Vi-os obscurecidos por uma nuvem, abatidos, e freqüentemente tristes. Sentiam a falta do Espírito de Deus. T2 704.3

Prezado irmão P, você deve ser sempre cauteloso em sua conversação. Chamou-o Deus para ser um representante de Cristo sobre a Terra, em Seu lugar rogando aos pecadores que se reconciliem com Ele? Essa é uma obra exaltada e solene. Quando você termina sua pregação no púlpito, o trabalho apenas começou. Você não está liberado das responsabilidades quando se encontra fora das reuniões, mas deve ainda manter sua consagração à obra de salvar almas. Você deve ser uma carta viva, “conhecida e lida por todos os homens”. 2 Coríntios 3:2. A comodidade não deve ser consultada. Não se deve pensar em prazer. A salvação de almas é o tema todo-absorvente. É para esse trabalho que o ministro do evangelho de Cristo é chamado. Ele precisa realizar boas obras fora das reuniões, e adornar sua profissão de fé por piedosa conversação e conduta séria. Freqüentemente, após o serviço de púlpito haver terminado e você ficar sentado em companhia de pessoas, junto à lareira, o irmão tem, por sua conversa não santificada, contrariado os esforços feitos no púlpito. Você deve viver o que ensina ser dever dos outros, e precisa assumir, como nunca o fez antes, a carga do trabalho, o peso da responsabilidade que deve repousar sobre todo ministro de Cristo. Confirme o trabalho feito no púlpito, apoiando-o com esforços particulares. Envolva-se em cuidadosa conversação sobre a verdade presente, avaliando com franqueza o estado mental dos participantes e, no temor de Deus, fazendo uma aplicação prática da importante verdade nos casos daqueles com quem se associa. Você falhou em instar “a tempo e fora de tempo”, em reprovar, admoestar, exortar, “com toda a longanimidade e doutrina”. 2 Timóteo 4:2. T2 705.1

Como vigia sobre os muros de Sião, é necessária constante vigilância. Sua vigilância não deve diminuir. Eduque-se para ser capaz de apelar às famílias, junto à lareira. Você pode fazer muito mais nesse sentido do que apenas por seus trabalhos de púlpito. Vigie pelas pessoas como alguém que deve prestar contas. Não dê ocasião aos descrentes para o acusarem de ser descuidado em seu dever, pela negligência em apelar-lhes pessoalmente. Lide fielmente com eles e rogue-lhes que se submetam à verdade. “Porque para Deus somos o bom cheiro de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem. Para estes, certamente, cheiro de morte para morte; mas, para aqueles, cheiro de vida para vida.” 2 Coríntios 2:15, 16. Quando o apóstolo viu a magnitude do trabalho e as pesadas responsabilidades colocadas sobre o pastor, exclamou: “E, para essas coisas, quem é idôneo? Porque nós não somos, como muitos, falsificadores da Palavra de Deus; antes, falamos de Cristo com sinceridade, como de Deus na presença de Deus.” 2 Coríntios 2:16, 17. T2 706.1

Aqueles que distorcem a Palavra, semeando trigo e joio ou qualquer coisa que possam considerar evangelho, enquanto se opõem aos mandamentos de Deus, não podem apreciar os sentimentos do apóstolo ao tremer sob o peso da solene obra e de sua responsabilidade como ministro de Cristo, tendo sobre si o destino de almas por quem Cristo morreu. Na opinião de pastores que se autopromoveram ao ministério, isso não requer senão o preenchimento dos requisitos de um padrão trivial para tornar-se um pastor. Mas o apóstolo pôs em alto nível as qualificações necessárias a um pastor. T2 706.2

A conduta do pastor enquanto no púlpito deve ser ponderada, não descuidada. Ele não deve ser negligente com respeito à sua atitude. Deve adotar ordem e possuir refinamento no mais alto sentido. Deus requer isso daqueles que aceitam esse trabalho de tão grande responsabilidade, como receber as palavras de Sua boca e transmiti-las ao povo, advertindo e reprovando, corrigindo e confortando, conforme o caso exija. Os representantes de Deus na Terra devem estar em diária comunhão com Ele. Suas palavras devem ser selecionadas e saudável sua pregação. Palavras acidentais usadas pelos pastores que não pregam o evangelho em sinceridade, devem ser para sempre descartadas. T2 706.3

Foi-me mostrado, irmão P, que você é naturalmente irritável, facilmente se sente provocado, e lhe falta paciência e tolerância. Caso sua conduta fosse questionada ou se constrangido a tomar posição pela verdade, não se apressaria muito a fazê-lo. Não daria um passo porque outros desejavam que o fizesse. Você o faria quando quisesse. Se os seus ouvintes adotassem a mesma postura, você os consideraria culpados. Se todos fizessem como você fez, o povo de Deus precisaria de um milênio a fim de fazer o necessário preparo para o Juízo. Deus tem lidado misericordiosamente com sua relutância, mas isso não implica que os outros devam seguir seu exemplo, pois você está fraco e deficiente onde poderia ser forte e bem qualificado para o trabalho. T2 707.1

O irmão R pôde fazer pouco por você. Os esforços dele não foram sabiamente dirigidos. Ele errou em interessar-se especialmente por aqueles que acham dever tornar-se professores. Houvesse ele deixado de lado o caso de um pastor do Maine e trabalhado em novos campos onde não havia adventistas, muitos poderiam ter sido levados ao conhecimento da verdade. O irmão S tem progredido vagarosamente e ocupa uma posição mais aceitável a Deus com respeito à paciência, tolerância e persistência; todavia, há um trabalho maior a ser feito por ele antes que possa tornar-se um pastor bem-sucedido na causa e fazer avançar a obra de Deus. T2 707.2

O irmão R interessou-se entusiasticamente por seu caso, mas você se recusou ser ajudado por ele. Tempo e energia foram dedicados a você e assuntos foram preparados para seu especial benefício, visando remover o preconceito e convencê-lo a aceitar a verdade; até que sua indolência e incredulidade esgotaram a paciência do irmão R. Ele então mudou a tática de seu esforço, pressionando-o a tomar uma decisão e a agir de acordo com a luz e evidências que recebera. O zeloso esforço da parte dele foi classificado por você como insistente e opressor. Seu temperamento obstinado se manifestou; você se opôs a esse procedimento e rejeitou os esforços feitos para ajudá-lo. Nisso prejudicou a si mesmo, desanimou o irmão R e desagradou a Deus. Seus sentimentos para com o irmão R não foram cristãos. Você se gabou de ter resistido aos esforços dele em seu favor. O Senhor abençoou os esforços do irmão R em suscitar um povo no Estado do Maine. Esse trabalho foi fatigante e penoso, e você fez sua parte em torná-lo assim. Não entendeu quão difícil você tornou o trabalho daqueles a quem Deus enviou para apresentar a verdade presente ao povo. Eles esgotaram suas energias para levar o povo à decisão com respeito à verdade, enquanto você e outros pastores se colocaram diretamente em seu caminho. Deus estava trabalhando através de Seus pastores para atrair as pessoas à verdade, e Satanás estava atuando através de você e outros pastores para desencorajá-los e frustrar seus esforços. Os próprios homens que professavam ser sentinelas, e que, se tivessem permanecido no conselho de Deus, teriam sido os primeiros a receber a palavra de advertência e transmiti-la ao povo, estavam entre os últimos a aceitarem a verdade. O povo estava na frente de seus instrutores. Eles receberam a advertência antes mesmo das sentinelas, porque essas foram infiéis e dormiram em seu posto. T2 707.3

Irmão P, você deveria ter tido sentimentos de compaixão fraternal e amor pelo irmão R, pois ele merecia isso de sua parte, em vez de palavras de censura. Você deveria reprovar severamente a própria conduta porque foi encontrado lutando contra Deus. Mas você e outros divertiram-se às custas do irmão R ao você relatar os esforços desse pastor em seu favor e sua resistência aos mesmos, e deram muita gargalhada a respeito do assunto. T2 708.1

Convém a cada ministro de Cristo manter uma linguagem correta, que não possa ser condenada. Foi-me mostrado que uma solene obra deve ser realizada pelos ministros de Cristo. Ela não pode ser feita sem esforços de sua parte. Eles precisam sentir que têm uma obra a empreender em seu próprio favor, a qual ninguém pode fazer por eles. Devem buscar obter as qualificações necessárias para se tornarem hábeis ministros de Cristo. Que no dia de Deus eles possam ser absolvidos, livres do sangue dos pecadores, tendo cumprido todo dever no temor de Deus. Como recompensa, os fiéis subpastores ouvirão do Sumo Pastor: “Bem está, servo bom e fiel.” Mateus 25:21. Ele lhes colocará a coroa de glória sobre a cabeça e os convidará a entrar na alegria do seu Senhor. Que alegria é essa? É, juntamente com Jesus, contemplar os santos redimidos, revendo com Ele sua luta pelas almas, sua abnegação e sacrifício próprio; a privação de confortos, de ganhos seculares, de todo atrativo mundano; e a escolha da vergonha, do sofrimento, da humilhação, do extenuante esforço e da angústia de espírito quando os homens se opunham ao conselho divino, em prejuízo da própria alma. É trazer à lembrança a aflição de alma diante de Deus, seu pranto entre o alpendre e o altar, o terem se tornado “espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens”. 1 Coríntios 4:9. Tudo isso então findou, e os frutos de seu trabalho são vistos, pecadores salvos mediante seus esforços em Cristo. Os pastores que têm sido coobreiros com Cristo entram na alegria do seu Senhor e estão satisfeitos. T2 709.1

“Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que Lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-Se à destra do trono de Deus. Considerai, pois, Aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra Si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos. Ainda não resististes até ao sangue, combatendo contra o pecado.” Hebreus 12:24. Os pastores se esquecem muito do Autor de sua salvação. Eles pensam ter resistido bastante, quando suportam e sofrem tão pouco. Deus atuará em favor dos pastores se eles o permitirem. Mas, se sentirem que são corretos e que não necessitam de completa conversão, e não conhecerem a si mesmos e crescerem até a medida divina, Ele estaria melhor sem seus esforços do que com eles. T2 709.2

Deus requer que todo pastor alcance o padrão, que se apresente aprovado diante de Deus, “como obreiro que não tem de que se envergonhar”. 2 Timóteo 2:15. Se eles se recusarem a essa disciplina estrita, Deus os recusará e selecionará homens que não descansarão até estarem completamente “preparados para toda a boa obra”. Tito 3:1. Nosso coração é naturalmente pecaminoso e indolente no serviço de Cristo. Necessitamos estar constantemente prevenidos ou fracassaremos em suportar as dificuldades como bons soldados de Cristo. Não sentiremos a necessidade de dirigir vigorosos golpes contra os pecados que nos rodeiam, mas prontamente aceitaremos as sugestões de Satanás, e ergueremos um estandarte para nós mesmos em lugar do puro e exaltado estandarte que Deus levantou por nós. T2 710.1

Vi que os pastores guardadores do sábado do Maine falharam em tornar-se estudantes da Bíblia. Não sentiram a necessidade de empreenderem por si mesmos diligente estudo da Palavra de Deus, para que pudessem estar plenamente preparados para toda boa obra. Também não sentiram a necessidade de estimular seus ouvintes a examinarem as Escrituras. Se não houvesse um pastor adventista do sétimo dia no Maine para se opor ao conselho de Deus, tudo o que foi realizado poderia ter sido feito com metade do esforço despendido, e o povo teria sido trazido de seu estado confuso e conturbado para a ordem, e agora seria forte o suficiente para enfrentar as influências opositoras. Muitos lugares que ainda não foram penetrados poderiam ter sido visitados e neles executado um trabalho bem-sucedido, que teria conduzido muitos ao conhecimento da verdade. T2 710.2

Muito do trabalho feito no Maine foi realizado em favor dos pastores adventistas do sétimo dia, para conduzi-los a uma correta posição. Foi exigido trabalho árduo para contrafazer a influência que eles exerceram, enquanto em oposição ao conselho divino contra a própria alma e permanecendo no caminho dos pecadores. Não examinaram a si mesmos e impediram por preceito e exemplo aos que desejavam fazê-lo. Tem-se cometido um erro ao penetrar-se os campos onde há adventistas que geralmente não sentem qualquer necessidade de serem ajudados, mas se julgam em boas condições e aptos a ensinar outros. Os obreiros são poucos e suas forças precisam ser empregadas da melhor maneira possível. Muito mais pode ser feito no Estado do Maine, em especial onde não haja nenhum adventista. Novos campos devem ser abertos e o tempo até agora empregado em árduo trabalho pelos adventistas que não desejam aprender, deve ser dedicado a esses novos campos, indo-se aos caminhos e atalhos e trabalhando pela conversão dos descrentes. Se os adventistas vierem e ouvirem, que venham. Que o caminho esteja aberto para virem se assim o desejarem. T2 711.1