Testemunhos para a Igreja 2

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Capítulo 51 — Poluição moral

Foi-me mostrado que vivemos em meio dos perigos dos últimos dias. Por “multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos se esfriará”. Mateus 24:12. A palavra “muitos” se refere aos professos seguidores de Cristo. Eles são afetados pela iniqüidade dominante, e se afastam de Deus; não é, porém, necessário que eles assim sejam afetados. A causa desse declínio é eles não se manterem limpos da iniqüidade. O fato de seu amor para com Deus estar esfriando por se multiplicar a iniqüidade, mostra que eles são em certo sentido participantes dessa iniqüidade, do contrário ela não lhes afetaria o amor para com Deus, e seu zelo e fervor em Sua causa. T2 346.1

Foi-me apresentado terrível quadro da condição do mundo. A iniqüidade alastra-se por toda parte. A licenciosidade é o pecado especial desta época. Jamais ergueu o vício a cabeça disforme com tal ousadia como o faz agora. O povo parece estar entorpecido, e os amantes da virtude e da verdadeira piedade acham-se quase desanimados por sua ousadia, força e predominância. A abundante iniqüidade não se limita apenas aos incrédulos e zombadores. Quem dera que assim fosse! mas não é. Muitos homens e mulheres que professam a religião de Cristo, são culpados. Mesmo alguns que professam estar esperando Seu aparecimento não estão mais preparados para esse acontecimento do que o próprio Satanás. Não se estão purificando de toda poluição. Têm por tanto tempo servido a sua concupiscência, que lhes é natural pensar impuramente e ter pensamentos corruptos. É tão impossível fazer com que sua mente demore nas coisas puras e santas, como seria desviar o curso do Niágara, e fazer com que suas águas jorrassem para cima. T2 346.2

Jovens e crianças de ambos os sexos se entregam à poluição moral, e praticam este repulsivo vício, destruidor do caráter e do corpo. Muitos professos cristãos se acham tão embotados pela mesma prática, que suas sensibilidades morais não podem ser despertadas para compreender que isso é pecado, e que se nisto continuam, os seguros resultados serão completa ruína do corpo e da mente. O homem, o ser mais nobre da Terra, formado à imagem de Deus, transforma-se em animal! Faz-se grosseiro e corrupto. Todo cristão terá de aprender a refrear as paixões, e a ser regido por princípios. A menos que assim aja, é indigno do nome de cristão. T2 347.1

Alguns que fazem alta profissão de fé, não compreendem o pecado do abuso próprio [masturbação] e seus resultados. O hábito longamente arraigado lhes tem cegado o entendimento. Eles não avaliam a excessiva malignidade deste degradante pecado que lhes enerva o organismo e destrói a energia nervosa do cérebro. Os princípios morais são demasiado fracos quando em luta com um hábito arraigado. Solenes mensagens vindas do Céu não podem impressionar fortemente o coração não fortalecido contra a condescendência com esse degradante vício. Os sensitivos nervos do cérebro perderam o saudável tono devido à estimulação doentia para satisfazer um desejo antinatural de satisfação sensual. Os nervos cerebrais que se comunicam com todo o organismo são os únicos meios pelos quais o Céu se pode comunicar com o homem, e influenciar sua vida mais íntima. Seja o que for que perturbe a circulação das correntes elétricas no sistema nervoso, diminui a resistência das forças vitais, e o resultado é um amortecimento das sensibilidades da mente. Em atenção a isso, como é importante que pastores e povo que professam piedade se apresentem limpos e imaculados quanto a tal vício degradante do caráter! T2 347.2

Minha alma se tem curvado em angústia, ao ser mostrada a débil condição do professo povo de Deus. A iniqüidade é abundante e o amor de muitos esfria. Não há senão poucos professos cristãos que consideram esse assunto em seu devido aspecto, e que mantêm sobre si mesmos o justo governo quando a opinião pública e o costume não os condena. Quão poucos refreiam suas paixões por se sentirem sob obrigação moral de fazê-lo, e porque o temor de Deus está diante de seus olhos! As faculdades mais elevadas do homem são escravizadas pelo apetite e por paixões corruptas. T2 347.3

Alguns reconhecerão o mal das condescendências pecaminosas, todavia se desculparão dizendo que não lhes é possível vencer as paixões. Isso é coisa terrível de ser admitida por qualquer pessoa que profere o nome de Cristo. “Qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniqüidade.” 2 Timóteo 2:19. Por que essa fraqueza? É porque as propensões sensuais têm sido fortalecidas pelo exercício, até que tomaram ascendência sobre as faculdades superiores. Homens e mulheres carecem de princípios. Estão morrendo espiritualmente, por haverem tão longamente nutrido seus apetites naturais, que sua capacidade de governar-se parece haver desaparecido. As paixões inferiores de sua natureza têm tomado as rédeas, e o que devia ser o poder dirigente se tem tornado o servo da paixão corrupta. A mente é mantida na mais baixa servidão. A sensualidade tem extinguido o desejo de santidade, e ressecado o viço espiritual. T2 348.1

Minha alma lamenta pelos jovens que estão formando o caráter nesta época degenerada. Tremo também por seus pais; pois me foi mostrado que, em geral, eles não compreendem suas obrigações de educar os filhos no caminho que devem trilhar. Consultam-se os costumes e a moda, e os filhos em breve aprendem a ser controlados por esses, e são corrompidos; enquanto os condescendentes pais se acham por sua vez entorpecidos, e dormindo quanto ao seu perigo. Mas bem poucos dos jovens se acham livres de hábitos corruptos. Eles são em grande parte liberados do exercício físico por medo de que trabalhem demais. Os próprios pais assumem responsabilidades que deviam estar sobre os filhos. O excesso de trabalho é mau; mas os resultados da indolência devem ser mais temidos. A ociosidade leva à condescendência com hábitos corruptos. O trabalho não consome a quinta parte do que o faz o pernicioso hábito da masturbação. Se o trabalho simples e bem regulado aborrece seus filhos, estejam certos, pais, há qualquer coisa mais que lhes está enervando o organismo e produzindo uma sensação de constante cansaço. Dêem trabalho físico a seus filhos, que exija atividade dos nervos e dos músculos. A fadiga resultante desse trabalho lhes diminuirá a inclinação para condescenderem com os hábitos viciosos. A ociosidade é uma maldição. Produz hábitos licenciosos. T2 348.2

Muitos casos me têm sido apresentados e, ao ter eu uma visão de sua vida interior, meu coração ficou acabrunhado e desgostoso, e com repugnância do apodrecimento do coração dos seres humanos que professam piedade e falam de trasladação para o Céu. Tenho-me perguntado freqüentemente: Em quem posso confiar? Quem está isento de iniqüidade? T2 349.1

Meu marido e eu assistimos uma vez a uma reunião em que nossa atenção foi solicitada para um irmão que sofria grandemente com a tuberculose. Achava-se magro e pálido. Ele pedia as orações do povo de Deus. Disse que a família estava doente, e que perdera um filho. Falava com sentimento acerca dessa perda. Disse que havia tempos esperava poder ver o irmão e a irmã White. Acreditava que, se orassem com ele, seria curado. Terminada a reunião, os irmãos chamaram-nos a atenção para o caso. Disseram que a igreja os estava ajudando, que a esposa estava doente, e lhe morrera o filho. Os irmãos se haviam reunido em sua casa, e orado pela família afligida. Nós estávamos muito fatigados, tínhamos sobre nós a preocupação do trabalho durante a reunião, e desejávamos ser dispensados. T2 349.2

Eu havia resolvido não me empenhar em oração por ninguém, a menos que o Espírito do Senhor assim indicasse. Havia-me sido mostrado que havia tanta iniqüidade, mesmo entre os professos observadores do sábado, que não desejava tomar parte em oração por pessoas cuja história me era desconhecida. Declarei minha razão. Foi-me assegurado pelos irmãos que, tanto quanto eles sabiam, ele era um irmão digno. Conversei alguns momentos com a pessoa que solicitara nossas orações a fim de obter a cura, mas não me pude sentir livre. Ele chorou e disse que esperara que viéssemos, e estava certo de que, se orássemos por ele, seria restaurado à saúde. Nós lhe dissemos que não estávamos familiarizados com sua vida; que preferíamos que aqueles que o conheciam orassem com ele. Ele insistiu conosco tão encarecidamente, que decidimos considerar seu caso, e apresentá-lo perante o Senhor aquela noite; e se o caminho nos parecesse aberto, havíamos de satisfazer-lhe o pedido. T2 349.3

Curvamo-nos naquela noite em oração, e apresentamos seu caso perante o Senhor. Rogamos que pudéssemos conhecer a vontade de Deus a seu respeito. Todo o nosso desejo era que Deus fosse glorificado. Queria o Senhor que orássemos por esse enfermo? Deixamos o caso com o Senhor, e recolhemo-nos para descansar. Num sonho o caso daquele homem me foi claramente apresentado. Foi mostrado o seu procedimento desde a infância, e que, se orássemos, o Senhor não nos ouviria; pois ele atendia à iniqüidade em seu coração. Na manhã seguinte o homem veio para que orássemos por ele. Nós o tomamos à parte e lhe dissemos que sentíamos ser forçados a recusar o seu pedido. Contei-lhe meu sonho, que ele reconheceu ser verdade. Ele praticava a masturbação desde a infância, e continuara nessa prática através de sua vida de casado, mas disse que procuraria romper com ela. T2 350.1

Esse homem tinha um hábito longamente arraigado a vencer. Estava na metade da existência. Seus princípios morais estavam tão fracos que, quando postos em conflito com a condescendência há tanto arraigada, eram vencidos. As paixões inferiores haviam adquirido ascendência sobre a natureza superior. Interroguei-o quanto à reforma da saúde. Disse que não podia vivê-la. Sua esposa jogaria fora a farinha integral, caso ela fosse introduzida em casa. Essa família havia sido ajudada pela igreja. Haviam-se feito orações em seu favor também. Seu filho morrera, a esposa estava doente, e o marido e pai deixava seu caso sobre nós, para o levarmos perante o puro e santo Deus, para que Ele operasse um milagre e o restabelecesse. As sensibilidades morais desse homem estavam amortecidas. T2 350.2

Quando os jovens adotam práticas vis enquanto o espírito é tenro, eles nunca obterão força para desenvolver plena e corretamente personalidade física, intelectual e moral. Ali estava um homem que se degradava diariamente, e todavia ousava arriscar-se a entrar na presença de Deus, e pedir um acréscimo da força que ele vilmente dissipara, e que se concedida, consumiria em sua concupiscência. Que paciência a de Deus! Se Ele lidasse com o homem segundo seus caminhos corruptos, quem poderia viver à Sua vista? Que seria se houvéssemos sido menos cautelosos e levado diante de Deus o caso desse homem, enquanto ele praticava iniqüidade, teria o Senhor ouvido e atendido? “Porque Tu não és um Deus que tenha prazer na iniqüidade, nem contigo habitará o mal. Os loucos não pararão à Tua vista; aborreces a todos os que praticam a maldade.” Salmos 5:4, 5. “Se eu atender à iniqüidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá.” Salmos 66:18. T2 351.1

Esse não é um caso isolado. Mesmo as relações matrimoniais não foram suficientes para preservar esse homem dos hábitos corruptos de sua adolescência. Quisera poder convencer-me de que casos como o que apresento são raros; sei, porém, que são freqüentes. Os filhos nascidos de pais dominados por paixões corruptas, são sem valor. Que pode ser esperado de filhos tais, senão que desçam mais baixo na balança, que seus pais? Que se pode esperar desta geração? Milhares são vazios de princípios. Esses mesmos transmitem a sua descendência as próprias paixões miseráveis, corruptas. Que herança! Milhares arrastam a existência destituída de princípios, manchando seus companheiros e perpetuando suas baixas paixões ao transmiti-las aos filhos. Tomam a responsabilidade de neles gravar o próprio caráter. T2 351.2

Volto mais uma vez aos cristãos. Se todos quantos professam obedecer à lei de Deus estivessem isentos de iniqüidade, meu coração sentir-se-ia aliviado; não o estão, porém. Mesmo alguns que professam guardar todos os mandamentos de Deus são culpados do pecado de adultério. Que posso eu dizer que lhes desperte as amortecidas sensibilidades? Os princípios morais, estritamente observados, tornam-se a única salvaguarda do ser humano. Se já houve tempo em que o regime alimentar devesse ser da mais simples qualidade, esse tempo é agora. Não devemos pôr carne diante de nossos filhos. Sua influência é reavivar e fortalecer as mais baixas paixões, tendo a tendência de amortecer as faculdades morais. Cereais e frutas preparados sem gordura, e no estado mais natural possível, devem ser o alimento para as mesas de todos os que professam estar-se preparando para a trasladação ao Céu. Quanto menos estimulante o regime, tanto mais facilmente podem as paixões ser dominadas. A satisfação do paladar não deve ser considerada sem levar em conta a saúde física, intelectual ou moral. T2 352.1

A condescendência com as paixões inferiores levará muitíssimos a fechar os olhos à luz; pois temem ver pecados que não estão dispostos a abandonar. Todos podem ver, se quiserem. Caso prefiram as trevas em vez da luz, nem por isso será menor a sua culpa. Por que não lêem os homens e mulheres, tornando-se mais versados nessas coisas que tão decididamente afetam sua resistência física, intelectual e moral? Deu-lhes Deus uma habitação para que dela cuidem, e a conservem nas melhores condições para Seu serviço e Sua glória. Seu corpo não lhes pertence. “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai pois a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.” 1 Coríntios 6:19, 20. “Não sabeis vós que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo.” 1 Coríntios 3:16, 17. T2 352.2