Testemunhos para a Igreja 8
Capítulo 4 — Nossa responsabilidade
Há ocasiões em que uma visão distinta é apresentada a mim acerca da condição da igreja remanescente, uma condição de indiferença apavorante em relação às necessidades de um mundo a perecer por falta de conhecimento da verdade para este tempo. Então eu tenho horas, e às vezes dias, de intensa angústia. Muitos aos quais foram confiadas as verdades salvadoras da mensagem do terceiro anjo fracassam em perceber que a salvação de pessoas é dependente da consagração e atividade da igreja de Deus. Muitos estão usando as suas bênçãos a serviço do ego. Oh, como meu coração dói porque Cristo é envergonhado pelo seu comportamento não-cristão! Mas, depois que a agonia passa, eu me sinto como que trabalhando mais que nunca para despertá-los a fim de que ponham em prática um esforço desinteressado para a salvação de seus companheiros humanos. T8 24.1
Deus tornou Seu povo os mordomos de Sua graça e verdade, e como considera Ele a negligência deles em dar essas bênçãos aos membros da raça humana? Suponhamos que uma colônia distante da Grã-Bretanha esteja em grande angústia por causa de escassez e guerra ameaçadora. Multidões morrendo de fome, e um inimigo poderoso está se reunindo na fronteira, ameaçando acelerar o trabalho de morte. O governo nacional abre seus depósitos; a caridade pública é acionada; e o socorro flui por diversos canais. Uma frota é reunida com os preciosos meios de vida e é enviada ao cenário do sofrimento, acompanhada pelas orações daqueles cujo coração está interessado em ajudar. E durante algum tempo a frota dirige-se rápida a seu destino. Mas, tendo perdido a terra de vista, o ardor desses encarregados de levar comida aos sofredores famintos enfraquece. Embora comprometidos em um trabalho que os faz colaboradores dos anjos, eles perdem as boas impressões com as quais haviam começado. Por meio de maus conselheiros, penetra a tentação. T8 24.2
Um grupo de ilhas acha-se em seu curso e, embora longe de seu destino, eles decidem aproximar-se. A tentação que já se manifestara torna-se mais forte. O espírito egoísta de ganho fácil passa a possuir as mentes. Vantagens mercantis se lhes apresentam. Os encarregados da frota determinam-se a permanecer nas ilhas. O propósito original de misericórdia desaparece-lhes de vista. Eles se esquecem das pessoas famintas às quais haviam sido enviados. As mercadorias confiadas a eles são usadas para o seu próprio benefício. São desviados os meios de beneficência para os canais de egoísmo. Eles permutam os meios de subsistência por ganho egoísta, e deixam os seres semelhantes a morrer. Os gritos dos que perecem ascendem ao Céu, e Deus escreve em Seu registro a história do roubo. T8 24.3
Pense no horror de seres humanos morrendo porque aqueles a quem foi designada a responsabilidade dos meios de alívio se provaram infiéis ao encargo recebido. É difícil para nós imaginarmos que uma pessoa pode ser culpada de tão terrível pecado. Entretanto, sou instruída a dizer a você, meu irmão, minha irmã, que os cristãos estão repetindo esse pecado diariamente. T8 25.1
No Éden, o homem caiu de seu elevado estado e por causa da transgressão se tornou sujeito à morte. Foi percebido no Céu que os seres humanos estavam perecendo e a compaixão de Deus foi acionada. A um custo infinito Ele vislumbrou um meio de socorro. Ele “amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3:16. Não havia esperança para o transgressor, exceto por causa de Cristo. Deus “viu que ninguém havia e maravilhou-Se de que não houvesse um intercessor; pelo que o Seu próprio braço lhe trouxe a salvação, e a Sua própria justiça o susteve.” Isaías 59:16. T8 25.2
O Senhor escolheu um povo e o fez depositário da Sua verdade. Era o Seu propósito que, pela revelação do Seu caráter através de Israel, fossem os homens atraídos a Ele. A todo o mundo seria levado o convite do evangelho. T8 25.3
Por intermédio do serviço sacrifical, Cristo seria enaltecido perante as nações, e todos que olhassem para Ele viveriam. T8 26.1
Mas Israel não cumpriu o propósito de Deus. Esqueceram-se de Deus e perderam a visão de seu alto privilégio como representantes dEle. As bênçãos que eles tinham recebido não trouxeram bênçãos para o mundo. Todas suas vantagens foram utilizadas para a própria glorificação. Eles roubaram a Deus do serviço que deles requeria, e roubaram dos membros da raça humana a orientação religiosa e um exemplo santo. T8 26.2
Deus finalmente enviou Seu Filho para que revelasse aos homens o caráter do Invisível. Cristo veio e viveu neste planeta uma vida de obediência à lei de Deus. Deu Sua vida preciosa para salvar o mundo e fez de Seus servos os Seus mordomos. Com o dom de Cristo foram entregues ao homem todos os tesouros do Céu. A igreja foi provida com o alimento do Céu para almas famintas. Esse é o tesouro que foi comissionado ao povo de Deus para ser levado ao mundo. Eles deveriam fielmente executar o seu dever, continuando seu trabalho até que a mensagem de misericórdia houvesse circundado o mundo. T8 26.3
Cristo ascendeu ao Céu e enviou Seu Santo Espírito para dar poder ao trabalho dos discípulos. Milhares eram convertidos em um dia. Numa única geração o evangelho foi levado a toda nação debaixo do Céu. Mas pouco a pouco ocorreu uma mudança. A igreja perdeu o primeiro amor. Tornou-se egoísta e amante da comodidade. O espírito de mundanismo foi acariciado. O inimigo lançou seu feitiço sobre aqueles a quem Deus havia dado luz para um mundo em escuridão, luz que deveria haver brilhado através de boas obras. O mundo foi roubado das bênçãos que Deus desejara que os homens recebessem. T8 26.4
Não está sendo a mesma coisa repetida nesta geração? Muitos em nossos dias estão ocultando aquilo que Deus lhes confiou para a salvação de um mundo desatento, perdido. Na Palavra de Deus um anjo é representado como voando no meio de céu. “E vi outro anjo voar pelo meio do céu, e tinha o evangelho eterno, para o proclamar aos que habitam sobre a Terra, e a toda nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo com grande voz: Temei a Deus e dai-Lhe glória, porque vinda é a hora do Seu juízo. E adorai Aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas.” Apocalipse 14:6, 7. T8 26.5
A mensagem de Apocalipse 14 é a mensagem que somos chamados a apresentar ao mundo. É o pão da vida para estes últimos dias. Milhões de seres humanos estão perecendo em ignorância e iniqüidade. Mas muitos desses a quem Deus comissionou os depósitos da vida olham para essas pessoas com indiferença. Muitos se esquecem de que a eles foi confiado o pão de vida, a ser dado aos que sofrem a fome da salvação. T8 27.1
Oh, que haja cristãos consagrados, que haja coerência semelhante à de Cristo, que haja fé que opera por amor e purifica a alma! Possa Deus ajudar-nos a nos arrependermos e a mudarmos nossos movimentos lentos, transformando-os em atividade consagrada. Possa Ele ajudar-nos a demonstrar em nossas palavras e atos que assumimos o interesse pelas pessoas que perecem. T8 27.2
Sejamos gratos a todo momento pela paciência de Deus para com nossos movimentos tardios e de descrença. Em vez de nos lisonjearmos com o pensamento daquilo que fizemos, depois de realizar tão pouco, temos ainda que trabalhar com mais sinceridade. Não devemos cessar nossos esforços ou relaxar nossa vigilância. Jamais nosso zelo deve deixar de aumentar. Nossa vida espiritual deve ser reavivada diariamente pelo fluxo que torna contente a cidade de nosso Deus. Devemos sempre estar atentos às oportunidades de usar para Deus os talentos que Ele nos confiou. T8 27.3
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O mundo é um teatro e seus habitantes são os atores que estão se preparando para desempenhar sua parte no último grande drama. Não há unidade nas grandes massas da humanidade, exceto quando os homens se unem para realizar seus propósitos egoístas. Mas Deus os está observando. Seus desígnios quanto a Seus rebeldes súditos se cumprirão. O mundo não foi entregue às mãos dos homens, embora Deus permita que os elementos de confusão e desordem dominem por algum tempo. Um poder de baixo está operando a fim de promover as últimas grandes cenas do drama: Satanás vindo como Cristo e operando com todo o engano da injustiça nos que se ligam em sociedades secretas. Os que cedem à paixão de confederarem-se estão executando os planos do inimigo. Depois da causa vem o efeito. T8 27.4
A transgressão quase que já chegou ao seu limite. O mundo está cheio de confusão e um grande terror está para vir sobre os seres humanos. O fim está muito perto. Nós, que conhecemos a verdade, deveríamos estar preparados para o que em breve virá sobre o mundo como uma terrível surpresa. T8 28.1
João escreve: “E vi um grande trono branco e o que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiu a Terra e o céu, e não se achou lugar para eles. E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante do trono, e abriram-se os livros. E abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras.” Apocalipse 20:11, 12. T8 28.2
Somos nós como pessoas adormecidas? Oh, se os homens e mulheres jovens em nossas instituições, que agora se encontram despreparados para o aparecimento do Senhor, não habilitados para se tornarem membros da família de Deus, pudessem pelo menos discernir os sinais dos tempos, que mudança seria vista neles! O Senhor Jesus está pedindo trabalhadores abnegados para que sigam os Seus passos, caminhem e trabalhem para Ele, ergam a cruz, e O sigam aonde Ele os conduzir. T8 28.3
Muitos estão prontamente satisfeitos em oferecer a Deus atos insignificantes de serviço. O cristianismo deles é frágil. Cristo deu-Se pelos pecadores. Quanta ansiedade pela salvação de almas deveríamos nós demonstrar quando vemos seres humanos que perecem em pecado! Essas pessoas foram compradas a um preço infinito. A morte do Filho de Deus na cruz do Calvário é a medida do valor dessas pessoas. T8 28.4
Dia a dia, estão decidindo se terão vida eterna ou morte eterna. Ainda assim, os homens e mulheres que professam servir a Deus estão contentes em ocupar seu tempo e atenção com assuntos de pouca importância. Estão contentes ao estar em desacordo uns com os outros. Se fossem consagrados ao trabalho do Mestre, não estariam lutando e contendendo como um grupo de crianças mal-educadas. Cada mão seria ocupada no serviço. Todos estariam em seu posto de dever, trabalhando com coração e alma como missionários da cruz de Cristo. O espírito do Redentor habitaria no coração dos trabalhadores, e obras de justiça seriam realizadas. Os obreiros levariam consigo, em seu serviço, as orações e a simpatia de uma igreja desperta. Receberiam a direção de Cristo e não gastariam tempo com discussão e contenda. T8 29.1
Mensagens viriam de lábios tocados pela brasa viva do altar divino. Seriam faladas palavras confiáveis, puras. Intercessões de corações partidos ascenderiam ao Céu. Com uma mão os obreiros segurariam a Cristo, enquanto com a outra agarrariam os pecadores e os atrairiam ao Salvador. T8 29.2
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“E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes, e então virá o fim.” Mateus 24:14. T8 29.3
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“Livra os que estão destinados à morte e salva os que são levados para a matança, se os puderes retirar. Se disseres: Eis que o não sabemos; porventura, aquele que pondera os corações não o considerará? E aquele que atenta para a tua alma não o saberá? Não pagará ele ao homem conforme a sua obra?” Provérbios 24:11, 12. T8 29.4