Testemunhos para a Igreja 3

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Capítulo 43 — O poder do apetite

Uma das mais vigorosas tentações que o homem tem de enfrentar é quanto ao apetite. Existe entre a mente e o corpo misteriosa e admirável relação. Um reage sobre o outro. Conservar o corpo em condição saudável a fim de desenvolver-lhe a resistência, para que cada parte do organismo funcione harmoniosamente, eis o que deve constituir o primeiro estudo em nossa vida. Negligenciar o corpo é negligenciar a mente. Não pode ser para glória de Deus terem Seus filhos corpo enfermo ou mente atrofiada. Condescender com o paladar à custa da saúde é ímpio abuso dos sentidos. Os que cometem qualquer espécie de intemperança, seja no comer ou no beber, desperdiçam as energias físicas e enfraquecem a força moral. Esses experimentarão a retribuição que acompanha a transgressão da lei física. T3 485.3

O Redentor do mundo sabia que a condescendência com o apetite traria debilidade física, enfraquecendo órgãos perceptivos de maneira que as coisas sagradas e eternas não fossem discernidas. Cristo sabia que o mundo estava entregue à glutonaria, e que isto perverteria as faculdades morais. Se a condescendência com o apetite era tão forte sobre a humanidade que, para quebrar-lhe o poder, foi exigido do divino Filho de Deus que jejuasse por cerca de seis semanas, em favor do homem, que obra se acha diante do cristão a fim de ele poder vencer da maneira como Cristo venceu! A força da tentação para satisfazer o apetite pervertido só pode ser avaliada em face da inexprimível agonia de Cristo naquele prolongado jejum no deserto. T3 486.1

Cristo sabia que, para com êxito levar avante o plano da salvação, precisava começar a obra redentora do homem exatamente onde começara a ruína. Adão caiu pela condescendência com o apetite. Para que no homem ficassem gravadas suas obrigações quanto a obedecer à lei de Deus, Cristo começou Sua obra de redenção reformando os hábitos físicos do próprio homem. O declínio da virtude e a degeneração do ser humano são principalmente atribuíveis à satisfação do apetite pervertido. T3 486.2

Pesa sobre todos, em especial sobre os pastores que ensinam a verdade, solene responsabilidade de vencerem o apetite. Muito maior seria sua utilidade caso controlassem os apetites e paixões; e mais vigorosas seriam suas faculdades mentais e morais se aliassem o trabalho físico ao exercício mental. Tendo hábitos estritamente temperantes, e com a combinação do trabalho muscular e da mente, poderiam realizar soma incomparavelmente maior de trabalho e preservar a clareza mental. Seguissem eles esse caminho, seus pensamentos e palavras fluiriam mais livremente, haveria mais energia em seus exercícios religiosos, e mais assinaladas seriam as impressões causadas por eles em seus ouvintes. T3 486.3

A intemperança no comer, mesmo da comida saudável, exercerá debilitante influência sobre o organismo, embotando as mais vivas e santas emoções. É essencial a estrita temperança em comer e beber, tanto para a conservação da saúde como para o vigoroso funcionamento de todo o organismo. Hábitos de estrita temperança aliados com o exercício muscular e mental preservarão o vigor físico e mental, e comunicarão poder de resistência aos que se empenham no ministério, aos redatores e a todos cujos hábitos são sedentários. Com toda a nossa profissão de reforma de saúde, nós, como povo, comemos muito. A condescendência com o apetite é a maior causa de debilidade física e mental, e está na base da fraqueza que se nota por toda parte. T3 487.1

A intemperança começa à nossa mesa, no uso de alimentos inadequados. Depois de algum tempo, devido à continuada condescendência com o apetite, os órgãos digestivos se enfraquecem, e o alimento ingerido não satisfaz. Estabelece-se um estado doentio, experimentando-se intenso desejo de ingerir comida mais estimulante. O chá, o café e os alimentos cárneos produzem efeito imediato. Sob a influência desses venenos, o sistema nervoso fica agitado e, em certos casos, momentaneamente, o intelecto parece revigorado e a imaginação mais viva. Como esses estimulantes produzem no momento resultados tão agradáveis, muitos chegam à conclusão de que realmente deles necessitam, e continuam a usá-los. Há sempre, porém, uma reação. O sistema nervoso, havendo sido indevidamente estimulado, tomou emprestado para o uso presente energias reservadas para o futuro. Todo esse temporário fortalecimento do organismo é seguido de depressão. Proporcional a esse passageiro aumento de forças do organismo será a depressão dos órgãos assim estimulados, após haver cessado seu efeito. O apetite é educado a desejar intensamente algo mais forte, que tenda a manter e acrescentar a aprazível excitação, até que a condescendência se torne um hábito, havendo contínuo e intenso desejo de mais forte estímulo, como o fumo, vinhos e outras bebidas alcoólicas. Quanto mais se satisfizer ao apetite, tanto mais freqüente será sua exigência, e mais difícil de o controlar. Quanto mais enfraquecido se tornar o organismo, e menos capaz se tornar de passar sem estimulantes artificiais, tanto mais aumenta a paixão por eles, até que a vontade é levada de vencida, e parece impossível a resistência ao desejo anormal desses estimulantes. T3 487.2

O único caminho seguro é não tocar, não provar e não manusear o chá, o café, vinhos, o fumo, o ópio e as bebidas alcoólicas. A necessidade de os homens desta geração chamarem em seu auxílio a força de vontade fortalecida pela graça de Deus, a fim de resistir às tentações de Satanás, e vencer a mínima condescendência com o apetite pervertido, é duas vezes maior que a de algumas gerações passadas. Mas a geração atual tem menos poder de domínio próprio do que os que viviam então. Os que têm condescendido com o apetite quanto a esses estimulantes transmitiram aos filhos os depravados apetites e paixões, e maior força moral é exigida desses filhos para resistir a toda sorte de intemperança. O único procedimento perfeitamente seguro é ficar firme ao lado da temperança, e não se arriscar no caminho do perigo. T3 488.1

O grande objetivo por que Cristo suportou aquele longo jejum no deserto foi ensinar-nos a necessidade da abnegação e da temperança. Essa obra deve começar à nossa mesa, e ser estritamente efetuada em todos os aspectos da vida. O Redentor do mundo veio do Céu para ajudar o ser humano em sua fraqueza para que, no poder que Jesus lhe veio trazer, ele se torne forte para vencer o apetite e a paixão, fazendo-se vitorioso em todos os pontos. T3 488.2

Muitos pais educam o paladar de seus filhos e lhes desenvolvem os apetites. Servem-lhes carnes, chá e café. Os alimentos cárneos muito condimentados e o chá e o café que algumas mães animam os filhos a ingerirem preparam o caminho para eles ansiarem por estimulantes mais fortes como o fumo. O uso do fumo incita o desejo das bebidas alcoólicas; e o uso de ambos diminui invariavelmente a força nervosa. T3 488.3

Caso as sensibilidades morais dos cristãos se despertassem no sentido da temperança em todas as coisas, eles poderiam por seu exemplo começar à mesa a ajudar os que são fracos no domínio de si mesmos, quase impotentes para resistirem aos anseios do apetite. Se pudéssemos compreender que os hábitos que formamos nesta vida afetarão nossos interesses eternos, que nosso destino perpétuo depende de hábitos de estrita temperança, esforçar-nos-íamos no sentido de formá-los no comer e no beber. Por nosso exemplo e esforço pessoal, podemos servir de instrumentos para salvar muitas almas da degradação da intemperança, do crime e da morte. Nossas irmãs podem fazer muito na grande obra da salvação de outros com o apresentar mesas providas só de alimentos saudáveis e nutritivos. Podem empregar o precioso tempo de que dispõem em educar o gosto e o apetite de seus filhos, formando neles hábitos de temperança em todas as coisas, incentivando ao mesmo tempo a abnegação e a beneficência em favor de outros. T3 489.1

Não obstante o exemplo que Cristo nos deu no deserto da tentação, refreando o apetite e vencendo-lhe o poder, muitas mães cristãs existem que, por seu exemplo e pela educação que dão aos filhos, elas os estão preparando para serem comilões e bebedores de vinho. Permite-se freqüentemente que as crianças comam o que lhes apetece e quando lhes apetece, sem atenção para com a saúde. Muitos filhos são educados como glutões desde a primeira infância. Em resultado disso tornam-se dispépticos bem cedo na vida. A condescendência e a intemperança no comer crescem com eles, e fortalecem-se à medida que eles se fortalecem. Pela condescendência dos pais, o vigor físico e o mental são sacrificados. Formam-se gostos para com certos alimentos que não lhes são benéficos, antes prejudiciais; e ficando o organismo sobrecarregado, a constituição se debilita. T3 489.2

Os pastores, professores e alunos não reconhecem como devem a necessidade de exercício físico ao ar livre. Negligenciam esse dever por demais essencial para a conservação da saúde. Aplicam-se profundamente aos livros, e comem a quantidade própria para um trabalhador. Com tais hábitos, alguns se tornam corpulentos, porque o organismo está sobrecarregado. Outros, ao contrário, emagrecem, ficam fracos, pois suas energias vitais se esgotam no esforço de eliminar o excesso do que é ingerido; o fígado fica sobrecarregado e incapaz de eliminar as impurezas do sangue, vindo em resultado a doença. Caso o exercício físico fosse combinado com o esforço mental, o sangue seria estimulado na circulação, mais perfeito seria o trabalho do coração e eliminadas as toxinas, experimentando-se nova vida e vigor em cada parte do corpo. T3 489.3

Quando a mente dos pastores, professores e alunos é continuamente estimulada pelo estudo, deixando-se o corpo entorpecido, sobrecarregam-se os nervos emotivos, ao passo que os dos movimentos ficam em inatividade. Ficando toda a atividade sobre os órgãos mentais, estes são exercitados em excesso e debilitam-se, ao passo que os músculos perdem o vigor por falta de uso. Não há inclinação para exercitar os músculos mediante o esforço físico, pois este parece enfadonho. T3 490.1

Ministros de Cristo, que professam ser representantes Seus, devem seguir-Lhe o exemplo e, acima de todos os outros, formar hábitos de estrita temperança. Cumpre-lhes manter a vida e o exemplo de Cristo diante do povo por meio de sua vida de abnegação, sacrifício e ativa beneficência. Cristo venceu o apetite em favor do homem; e em lugar dEle devem os pastores por sua vez apresentar aos outros um exemplo digno de imitação. Os que não sentem a necessidade de empenhar-se na obra de vencer o apetite deixarão de alcançar preciosas vitórias que poderiam obter, e se tornarão escravos do apetite e da concupiscência, os quais estão enchendo o cálice de iniqüidade dos que habitam na Terra. T3 490.2

Os homens empenhados em anunciar a última mensagem de advertência ao mundo, mensagem que deve decidir o destino das pessoas, devem aplicar na própria vida as verdades que pregam aos outros. Devem constituir um exemplo para o povo no comer e beber, em sua conversação e conduta puras. A glutonaria, a condescendência com as paixões inferiores e ofensivos pecados são ocultos por muitos professos representantes de Cristo no mundo sob as vestes da santidade. Há homens de excelentes aptidões naturais que não realizam em seu trabalho metade do que poderiam, caso fossem temperantes em todas as coisas. A condescendência com o apetite e a paixão obscurece a mente, diminui a resistência física e enfraquece a força moral. Não são claros os pensamentos dos que assim procedem. Suas palavras não são proferidas com poder, falta-lhes a vitalidade do Espírito de Deus para alcançarem o coração dos ouvintes. T3 490.3

Como nossos primeiros pais perderam o Éden em conseqüência do apetite, nossa única esperança de o reconquistar é por meio da firme negação do apetite e da paixão. A abstinência no regime alimentar e o controle de todas as paixões preservarão o intelecto e darão vigor mental e moral, habilitando o homem a sujeitar todas as suas inclinações ao domínio das faculdades mais elevadas, e a discernir entre o certo e o errado, o sagrado e o comum. Todos quantos têm a verdadeira percepção do sacrifício feito por Cristo em deixar Seu lar no Céu para vir a este mundo a fim de, pela Sua vida, mostrar ao homem como resistir à tentação alegremente renunciarão ao próprio eu, preferindo ser participantes dos sofrimentos de Cristo. T3 491.1

“O temor do Senhor é o princípio da sabedoria.” Provérbios 9:10. Os que vencem como Cristo venceu precisam guardar-se continuamente contra as tentações de Satanás. O apetite e as paixões devem ser restringidos e postos em sujeição ao domínio de uma consciência esclarecida, para que o intelecto seja equilibrado, claras as faculdades de percepção, de maneira que as manobras do inimigo e seus ardis não sejam considerados como a providência de Deus. Muitos desejam a recompensa final e a vitória concedidas aos vencedores, mas não estão dispostos a suportar fadiga, privação e renúncia do próprio eu, como fez o Redentor. É unicamente por meio da obediência e de contínuo esforço que havemos de vencer como Cristo venceu. T3 491.2

A força dominante do apetite demonstrar-se-á a ruína de milhares, quando, se houvessem triunfado nesse ponto, teriam tido força moral para ganhar a vitória sobre qualquer outra tentação de Satanás. Os que são escravos do apetite, no entanto, deixarão de aperfeiçoar caráter cristão. A incessante transgressão do homem através de seis mil anos tem trazido em resultado doença, dor e morte. E, à medida que nos aproximamos do fim do tempo, a tentação do inimigo para ceder ao apetite será mais poderosa e difícil de vencer. T3 491.3