Testemunhos para a Igreja 3

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A autoridade da igreja

O Redentor do mundo conferiu grande poder à Sua igreja. Ele declara as regras a serem aplicadas em casos de demanda entre seus membros. Depois de dar orientações explícitas quanto à direção a seguir, diz: “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na Terra será ligado no Céu, e tudo [em matéria de disciplina da igreja] o que desligardes na Terra será desligado no Céu.” Mateus 18:18. Assim até a autoridade celestial ratifica a disciplina da igreja com relação a seus membros, uma vez que tenha sido seguida a regra bíblica. T3 428.1

A Palavra de Deus não dá licença a que um homem ponha seu julgamento em oposição ao da igreja, nem lhe é permitido insistir em suas opiniões contrariamente às dela. Caso não houvesse disciplina e governo eclesiásticos, a igreja se esfacelaria; não poderia manter-se unida como um corpo. Sempre tem havido indivíduos de espírito independente, pretendendo estar certos e que Deus os havia ensinado, impressionado e guiado especialmente. Cada um tem uma teoria sua particular, idéias peculiarmente suas, e cada um pretende que essas idéias se acham em harmonia com a Palavra de Deus. Cada um tem diferente teoria e fé, e não obstante pretende cada um possuir luz especial de Deus. Essas pessoas separam-se da corporação, e constituem por si mesmas uma igreja à parte. Não podem estar todas certas, todavia pretendem todas ser guiadas pelo Senhor. A palavra da Inspiração não pode ser sim e não, mas sim e amém em Cristo Jesus. T3 428.2

Nosso Salvador acompanha Suas lições com a promessa de que, se dois ou três se unirem em pedir alguma coisa a Deus, isso lhes será feito. Cristo mostra aqui que deve haver união com outros, mesmo em nossos desejos por determinado objetivo. Grande importância é atribuída à oração feita em comum, à união de desígnios. Deus atende às orações dos indivíduos; nessa ocasião, porém, Jesus estava dando lições especiais e importantes, que deviam ser de particular influência na igreja que acabava de organizar na Terra. Deve haver acordo acerca das coisas que desejam, e pelas quais oram. Não simplesmente os pensamentos e esforços de uma só pessoa, sujeita a enganos; mas as petições devem constituir o veemente desejo de várias mentes concentradas em um ponto. T3 429.1

Na maravilhosa conversão de Paulo, vemos o miraculoso poder de Deus. Um clarão mais forte que o resplendor do Sol ao meio-dia o envolveu. Jesus, cujo nome ele aborrecia e desprezava acima de todos os outros, revelou-Se a Paulo a fim de deter-lhe a louca, se bem que sincera carreira, de modo que pudesse tornar esse instrumento nada promissor em um vaso escolhido para levar o evangelho aos gentios. Ele fizera conscienciosamente muitas coisas contrárias ao nome de Jesus de Nazaré. Em seu zelo, fora perseverante e ardoroso perseguidor da igreja de Cristo. Profundas e vigorosas eram suas convicções do dever de exterminar essa alarmante doutrina a predominar por toda parte de que Jesus era o Príncipe da Vida. T3 429.2

Paulo cria que a fé em Jesus tornava de nenhum efeito a lei de Deus, as ofertas sacrificais e o rito da circuncisão, que em todas as eras passadas recebera inteira sanção de Deus. A miraculosa revelação de Cristo, porém, faz-lhe penetrar a luz nos entenebrecidos recessos da mente. Jesus de Nazaré, contra quem ele está disposto, é verdadeiramente o Redentor do mundo. T3 429.3

Paulo vê seu errado zelo e exclama: “Senhor, que queres que faça?” Atos dos Apóstolos 9:6. Jesus não lhe disse então e ali como poderia ter feito a obra que lhe destinara. Paulo devia receber instruções na fé cristã e agir com entendimento. Jesus o envia aos próprios discípulos a quem ele estivera perseguindo tão severamente, para que deles aprenda. A luz da iluminação celeste privara Paulo da vista, mas Jesus, o grande médico dos cegos, não lhe restaurou a vista. À pergunta de Paulo, responde da seguinte maneira: “Levanta-te, e entra na cidade, e lá te será dito o que te convém fazer.” Atos dos Apóstolos 9:6. Jesus podia não somente haver curado Paulo da cegueira, mas haver-lhe perdoado os pecados e dito qual o seu dever, traçando-lhe o futuro caminho. De Cristo deviam fluir todas as misericórdias e todo o poder; no entanto, Ele não deu a Paulo, em sua conversão à verdade, uma experiência independente da igreja por Ele recentemente organizada na Terra. T3 429.4

A maravilhosa luz dada a Paulo naquela ocasião deixou-o pasmo e confuso. Rendeu-se inteiramente. Esta parte da obra não podia o homem fazer por Paulo; havia, no entanto, outra obra ainda a ser executada, a qual os servos de Cristo podiam efetuar. Jesus o encaminha a Seus instrumentos na igreja, em busca de mais esclarecimentos acerca de seu dever. Assim dá Ele autoridade e sanção à igreja organizada. Cristo fizera a obra de revelação e convicção, e agora Paulo se achava em condições de aprender daqueles a quem Deus ordenara que ensinassem a verdade. Cristo dirige Paulo aos servos que escolhera, pondo-o assim em contato com Sua igreja. T3 430.1

Os próprios homens a quem Paulo se estava propondo destruir deviam ser seus instrutores na própria religião que ele desprezara e perseguira. Paulo passou três dias sem alimentar-se e sem ver, preparando-se para se aproximar dos homens a quem, em seu zelo cego, propusera-se a destruir. Então Cristo põe Paulo em contato com Seus representantes na Terra. O Senhor dá a Ananias uma visão em que lhe manda ir a determinada casa em Damasco e perguntar por Saulo de Tarso; “pois eis que ele está orando”. Atos dos Apóstolos 9:11. T3 430.2

Sendo Saulo enviado a Damasco, para lá foi guiado pelos homens que o acompanhavam no intuito de ajudá-lo a levar prisioneiros os discípulos para Jerusalém, a fim de ali serem julgados e mortos. Saulo hospedou-se na casa de Judas em Damasco, dedicando o tempo a jejum e oração. Ali foi provada a fé de Saulo. Por três dias se encontrou em trevas quanto ao que dele era requerido, e por três dias se viu privado da visão. Recebera ordem de ir para Damasco, pois ali lhe seria dito o que lhe cumpria fazer. Encontra-se em incerteza, e clama fervorosamente a Deus. Foi enviado um anjo a Ananias, instruindo-o a ir a determinada casa onde se achava Saulo em oração para que lhe fosse mostrado o que devia fazer. Desaparecera o orgulho de Saulo. Pouco antes, ele confiava em si mesmo, julgando achar-se empenhado em boa obra, pela qual deveria ser recompensado; agora, porém, tudo mudou. Está curvado e humilhado até ao pó, envergonhado e penitente, rogando fervorosamente o perdão. O Senhor por meio de Seu anjo disse a Ananias: “Eis que ele está orando.” Atos dos Apóstolos 9:11. O anjo informou ao servo de Deus que havia revelado a Saulo em visão que um homem chamado Ananias entraria e poria sobre ele a mão, a fim de que tornasse a ver. Mal pode Ananias crer nas palavras do anjo; e repete o que ouvira acerca da cruel perseguição que Saulo fazia aos santos em Jerusalém. Imperativa, porém, é a ordem dada a Ananias: “Vai, porque este é para Mim um vaso escolhido para levar o Meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel.” Atos dos Apóstolos 9:15. T3 430.3

Ananias foi obediente às indicações do anjo. Pôs a mão sobre o homem que havia ainda tão pouco estava possuído do mais profundo ódio, respirando ameaças contra todos os que acreditavam no nome de Cristo. Ananias disse a Saulo: “Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo. E logo lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista; e, levantando-se, foi batizado.” Atos dos Apóstolos 9:17, 18. T3 431.1

Jesus poderia haver feito diretamente tudo isso por Paulo, mas não quis assim. Paulo tinha alguma coisa a fazer no sentido da confissão aos homens cuja destruição premeditara, e Deus tinha uma obra de responsabilidade para ser feita pelos homens a quem ordenara para agirem em Seu lugar. Paulo devia dar os passos necessários na conversão. Era-lhe exigido que se unisse ao próprio povo que perseguira por causa da religião que professavam. Cristo dá aqui a todo o Seu povo um exemplo de Sua maneira de agir para salvação dos homens. O Filho de Deus identificou-Se com a função e a autoridade de Sua igreja organizada. Suas bênçãos deviam vir por meio dos instrumentos que ordenara, ligando assim os homens com os condutos que as deviam transmitir. O fato de Paulo ser estritamente consciencioso em sua obra de perseguir os santos não o inocenta quando o Espírito de Deus o impressiona com o conhecimento da cruel obra que fizera. Tem de tornar-se aluno dos discípulos. T3 431.2

Reconhece que Jesus, a quem em sua cegueira considerara impostor, é na verdade o autor e o fundamento de toda a religião do povo escolhido de Deus desde os dias de Adão, e o consumador da fé, agora tão clara à sua iluminada visão. Viu a Cristo como reivindicador da verdade, cumpridor de todas as profecias. Cristo fora considerado como anulando a lei de Deus; mas, quando sua visão espiritual foi tocada pelo dedo divino, aprendeu dos discípulos que Cristo era o originador e o fundamento de todo o sistema judaico de sacrifícios, que na morte de Cristo o tipo encontrara o antítipo, e que Cristo viera ao mundo com o expresso desígnio de reivindicar a lei de Seu Pai. T3 432.1

Em face da lei, Paulo se reconhece pecador. Aquela própria lei que ele julgara estar guardando tão zelosamente, verifica ter estado a transgredir. Arrepende-se e morre para o pecado, torna-se obediente às reivindicações da lei de Deus e tem fé em Cristo como seu Salvador; é batizado e prega a Jesus tão sincera e zelosamente como outrora O condenara. São apresentados, na conversão de Paulo, importantes princípios que devemos conservar sempre em mente. O Redentor do mundo não aprova, em assuntos religiosos, idéias e práticas independentes por parte de Sua igreja organizada e reconhecida, onde Ele tem uma igreja. T3 432.2

Muitos nutrem a idéia de que só a Cristo são responsáveis no que respeita à luz e à própria experiência, independentemente de Seus reconhecidos seguidores no mundo. Isto, porém, é condenado por Ele nos ensinos que nos dá, bem como nos exemplos e nos fatos que nos tem dado para nossa instrução. Aí estava Paulo, pessoa a quem Cristo devia preparar para importantíssima obra, que Lhe devia ser vaso escolhido, levado diretamente à presença de Cristo; todavia, Ele não lhe ensina as lições da verdade. Detém-lhe a carreira e infunde-lhe convicção; e quando ele pergunta: “Que queres que eu faça?” (Atos dos Apóstolos 9:6), o Salvador não lhe diz diretamente, mas põe-no em contato com Sua igreja. Eles lhe dirão o que lhe cumpre fazer. Jesus é o amigo dos pecadores, tem o coração sempre aberto, sempre sensível aos sofrimentos da humanidade; tem todo o poder, tanto no Céu como na Terra; respeita, no entanto, o meio que ordenou para esclarecimento e salvação dos homens. Encaminha Saulo à igreja, reconhecendo assim o poder de que a investiu como veículo de luz para o mundo. É o corpo organizado de Cristo na Terra, e importa que se Lhe respeitem as ordenanças. No caso de Saulo, Ananias representa Cristo, ao mesmo tempo que representa os pastores de Cristo na Terra, os quais são designados para agir em Seu lugar. T3 433.1

Saulo era um mestre instruído em Israel; mas enquanto ele ainda estava sob a influência do erro cego e do preconceito, Cristo revelou-Se a ele, e então o pôs em comunicação com Sua igreja, que é a luz do mundo. Eles devem instruir este orador educado e popular na religião cristã. No lugar de Cristo, Ananias toca seus olhos para que recebesse visão; em lugar de Cristo impõe-lhe as mãos, ora em nome de Cristo, e Saulo recebe o Espírito Santo. Tudo é feito em nome e na autoridade de Cristo. Cristo é a fonte. A igreja é o canal de comunicação. Aqueles que se gabam de independência pessoal precisam ser trazidos a uma relação mais íntima com Cristo mediante ligação com Sua igreja sobre a Terra. T3 433.2

Irmão A, Deus o ama e deseja salvá-lo e pô-lo em condição de trabalhar. Se você for humilde e dócil, e for moldado por Seu Espírito, Ele será sua força, sua justiça e seu galardão supremo. Poderá realizar muito por seus irmãos se você se esconder em Deus e deixar que Seu Espírito abrande seu espírito. Você tem de enfrentar uma classe difícil. Estão cheios de preconceito amargo, mas não mais do que Saulo. Deus pode atuar poderosamente por seus irmãos, caso você não se intrometa e feche o próprio caminho. Permita que amor, compaixão e ternura habitem seu coração enquanto trabalha. Pode quebrar as paredes de ferro do preconceito se tão-somente se apegar a Cristo e estiver disposto a ser aconselhado por seus irmãos de mais experiência. T3 434.1

Você não deve, como servo de Deus, desanimar-se facilmente pelas dificuldades ou pela mais feroz oposição. Saia não em seu nome, mas no poder e força do Deus de Israel. Suporte aflições como bom soldado da cruz de Cristo. Jesus suportou a contradição dos pecadores contra Si mesmo. Considere a vida de Cristo e tome coragem, e avance pela fé, coragem e esperança. T3 434.2