Testemunhos para a Igreja 3

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Capítulo 33 — Dízimos e ofertas

A missão da igreja de Cristo é salvar os pecadores que estão a perecer. É divulgar o amor de Deus aos homens, conquistando-os para Cristo pela eficácia daquele amor. A verdade para este tempo deve ser levada aos tenebrosos recantos da Terra, e esta obra pode começar em casa. Os seguidores de Cristo não devem viver egoistamente; antes, imbuídos do Espírito de Cristo, trabalhar em harmonia com Ele. T3 381.1

Há motivos para a frieza e incredulidade atuais. O amor do mundo e os cuidados da vida separam o coração de Deus. A água da vida precisa estar em nós, de nós fluindo, jorrando para a vida eterna. Cumpre-nos realizar exteriormente aquilo que Deus realiza no interior. Caso o cristão queira fruir a luz da vida, precisa aumentar seus esforços para levar outros ao conhecimento da verdade. Sua vida deve caracterizar-se pelo esforço e sacrifício para beneficiar a outros; então não haverá queixa de falta de satisfação. T3 381.2

Os anjos acham-se sempre empenhados em trabalhar pela felicidade dos outros. É este o seu prazer. Aquilo que seria considerado serviço humilhante por parte de corações egoístas — servir aos que são indignos e considerados inferiores em caráter e posição — é a obra dos puros e inocentes anjos nas reais cortes celestes. O espírito de abnegado amor de Cristo é o que domina no Céu, constituindo a própria essência de sua bem-aventurança. T3 381.3

Os que não experimentam nenhum prazer especial em buscar ser uma bênção aos outros, em trabalhar, mesmo com sacrifício, para lhes fazer bem, não podem ter o espírito de Cristo ou do Céu; pois não têm união com a obra dos santos anjos, nem podem participar da bem-aventurança que lhes comunica elevada alegria. Disse Cristo: “Digo-vos que assim haverá alegria no Céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento.” Lucas 15:7. Se a alegria dos anjos é ver os pecadores se arrependerem, não será o regozijo dos pecadores, salvos pelo sangue de Jesus, ver outros se arrependerem e voltarem para Cristo por intermédio deles? Em trabalhar em harmonia com Cristo e os santos anjos experimentaremos uma alegria que não pode ser sentida senão nessa obra. T3 381.4

Os princípios da cruz de Cristo levam todos quantos crêem à rigorosa obrigação de negarem a si mesmos, comunicarem luz aos outros e darem de seus recursos para difundir a luz. Se eles se acharem em comunhão com o Céu, empenhar-se-ão na obra em harmonia com os anjos. T3 382.1

O princípio dos mundanos é tirar o máximo que lhes for possível das perecíveis coisas desta vida. O amor do lucro egoísta, eis o princípio dominante de sua vida. A mais pura alegria, porém, não se encontra em riquezas, nem na cobiça que sempre deseja ansiosamente mais, mas onde reina contentamento e onde o abnegado amor é o princípio dominante. Há milhares de criaturas que passam a vida na satisfação de suas inclinações, mas cujo coração vive cheio de pesar. São vítimas do egoísmo e do descontentamento, no vão esforço de satisfazer o espírito pela condescendência com o próprio eu. Em sua fisionomia, no entanto, acha-se estampada a infelicidade, e atrás delas se encontra um deserto pela ausência de boas obras em sua vida. T3 382.2

À medida que o amor de Cristo nos enche o coração e nos rege a vida, a cobiça, o egoísmo e o amor da comodidade serão vencidos, e nosso prazer consistirá em fazer a vontade de Cristo, de quem professamos ser servos. Nossa felicidade será então proporcional a nossas obras abnegadas, inspiradas pelo amor de Jesus. T3 382.3

No plano da salvação, a sabedoria divina designou a lei da ação e reação, tornando a obra de beneficência em todos os seus ramos duplamente bendita. O que dá aos necessitados beneficia a outros, e é ele próprio beneficiado em grau ainda maior. Deus poderia haver conseguido Seu objetivo na salvação dos pecadores sem o auxílio do homem; sabia, porém, que o homem não podia ser feliz sem desempenhar uma parte na grande obra em que cultivaria a abnegação e a beneficência. T3 382.4

Para que o homem não perdesse os benditos resultados da beneficência, nosso Redentor elaborou o plano de alistá-lo como Seu cooperador. Mediante uma cadeia de circunstâncias que lhe despertaria a caridade, concede ao homem os melhores meios de cultivar a beneficência e conserva-o dando habitualmente para ajudar os pobres e promover Sua causa. Envia Seus pobres como representantes dEle. Através das necessidades deles, o mundo arruinado está a extrair de nós talentos em forma de recursos e influência a fim de apresentar-lhes a verdade, por falta da qual estão a perecer. E ao atendermos a esses pedidos por meio de trabalho e de atos de beneficência, somos transformados à imagem dAquele que por amor de nós Se tornou pobre. Dando, beneficiamos a outros, acumulando assim verdadeiras riquezas. T3 382.5

Tem havido grande falta de beneficência cristã na igreja. Aqueles que mais habilitados se achavam a promover a propagação da causa de Deus não fizeram senão um pouco. Misericordiosamente, tem o Senhor trazido ao conhecimento da verdade uma classe de pessoas a fim de que lhe apreciassem o incalculável valor, em comparação com os tesouros terrestres. Jesus disse a essas pessoas: “Sigam-Me.” Lucas 5:27. Ele as está provando com um convite para a ceia que tem preparado. Está observando para ver que caráter elas desenvolverão, se os próprios interesses egoístas serão considerados de maior valor do que as riquezas eternas. Muitos desses queridos irmãos estão agora, mediante suas ações, formulando as desculpas mencionadas na seguinte parábola: T3 383.1

“Porém Ele lhe disse: Um certo homem fez uma grande ceia, e convidou a muitos. E, à hora da ceia, mandou o seu servo dizer aos convidados: Vinde, que já tudo está preparado. E todos à uma começaram a escusar-se. Disse-lhe o primeiro: Comprei um campo e preciso ir vê-lo; rogo-te que me hajas por escusado. E outro disse: Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-los; rogo-te que me hajas por escusado. E outro disse: Casei, e portanto, não posso ir. E, voltando aquele servo, anunciou estas coisas ao seu senhor. Então, o pai de família, indignado, disse ao seu servo: Sai depressa pelas ruas e bairros da cidade e traze aqui os pobres, e os aleijados, e os mancos, e os cegos.” Lucas 14:16-21. T3 383.2

Essa parábola representa apropriadamente a condição de muitos que professam crer na verdade presente. O Senhor lhes mandou um convite para a ceia que lhes preparou com grande custo; os interesses mundanos, porém, assemelham-se-lhes de maior importância que o tesouro celeste. São convidados a tomar parte em coisas de valor eterno; mas sua fazenda, o gado e os interesses domésticos lhes parecem de tão maior importância do que o atender ao convite celestial, que sobrepujam a toda atração divina, e essas coisas terrestres são apresentadas como desculpas por sua desobediência à ordem celeste: “Vinde, que já tudo está preparado.” Lucas 14:17. Esses irmãos estão cegamente seguindo o exemplo das pessoas apresentadas na parábola. Olham suas posses terrenas, e dizem: “Não, Senhor, não Te posso seguir; ‘rogo-Te que me hajas por escusado’.” Lucas 14:18. T3 383.3

As próprias bênçãos dadas por Deus a esses homens para prová-los, para ver se eles dão “a Deus o que é de Deus” (Mateus 22:21), empregam eles como desculpa para não obedecerem às reivindicações da verdade. Abraçaram seu tesouro terrestre, e dizem: “Preciso cuidar destas coisas; não posso negligenciar as coisas desta vida; estas coisas são minhas.” Assim o coração desses homens se tem tornado tão insensível à impressão como o solo batido das estradas. Eles fecham a porta do coração ao mensageiro celeste, que diz: “Vinde, que já tudo está preparado”, e a abrem bem, convidando à entrada as preocupações e cuidados de negócios deste mundo; em vão bate Jesus para ser admitido. T3 384.1

O coração dessas pessoas está tão coberto de espinhos e cheio dos cuidados desta vida, que as coisas celestes não podem aí encontrar lugar. Jesus convida os cansados e oprimidos, prometendo-lhes descanso se forem ter com Ele. Convida-os a permutar o mortificante jugo do egoísmo e da cobiça, que os torna escravos de Mamom, por Seu jugo, que afirma ser suave, e por Seu fardo, que é leve. Diz Ele: “Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma.” Mateus 11:29. Ele quer que ponham de lado os pesados fardos do cuidado e perplexidade mundanos, e tomem Seu jugo que é abnegação e sacrifício pelos outros. Este fardo demonstrar-se-á leve. Os que se recusam a aceitar o alívio que Cristo lhes oferece e continuam a levar o mortificante jugo do egoísmo, sobrecarregando sua mente em extremo com projetos a fim de acumular dinheiro para satisfações egoístas, não experimentaram a paz e o descanso que se encontram em levar o jugo de Cristo e em carregar os fardos da abnegação e da desinteressada beneficência levados por Cristo em seu favor. T3 384.2

Quando o amor do mundo toma posse do coração e se torna paixão dominante, não fica margem para a adoração a Deus; pois as mais elevadas faculdades da mente se subordinam à servidão de Mamom, e não podem reter os pensamentos acerca de Deus e do Céu. A mente perde a lembrança do Senhor, estreitando-se e atrofiando-se na acumulação de dinheiro. T3 385.1

Em virtude do egoísmo e amor do mundo, esses homens têm vivido cada vez com menos percepção da magnitude da obra para estes últimos dias. Não educaram a mente de modo a fazer do servir a Deus sua ocupação. Não têm experiência nesse sentido. Suas posses lhes absorvem as afeições e eclipsam a magnitude do plano da salvação. Enquanto prosperam e ampliam seus empreendimentos mundanos, não vêem nenhuma necessidade de expansão e progresso da obra de Deus. Empregam os recursos de que dispõem em coisas temporais e não nas eternas. O coração ambiciona mais recursos. Deus os tornou depositários de Sua lei, de modo que deixem brilhar para os outros a luz que tão generosamente lhes foi concedida. Mas têm por tal forma acrescentado os próprios cuidados e ansiedades que não têm tempo de beneficiar a outros com sua influência, de conversar com os vizinhos, de orar com eles e por eles, e procurar trazê-los ao conhecimento da verdade. T3 385.2

Esses homens são responsáveis pelo bem que poderiam fazer, mas se desculpam por causa de cuidados e encargos mundanos que lhes obscurecem a mente e absorvem as afeições. Pessoas por quem Cristo morreu poderiam ser salvas por seus esforços pessoais e um piedoso exemplo. Almas preciosas estão a perecer por falta da luz que Deus deu aos homens para que se refletisse no caminho dos outros. A preciosa luz, no entanto, é oculta sob o alqueire, e não ilumina os que estão na casa. T3 385.3

Todo homem é um mordomo de Deus. A cada um confiou o Mestre Seus recursos; mas os homens pretendem que esses recursos são propriedade sua. Diz Cristo: “Negociai até que Eu venha.” Lucas 19:13. Vem o tempo em que Cristo exigirá o Seu com os juros. Mateus 25:27. Dirá a cada um de Seus mordomos: “Presta contas da tua mordomia.” Lucas 16:2. Os que esconderam o dinheiro de seu Senhor em um lenço na terra, em vez de dá-lo aos banqueiros, e os que esbanjaram o dinheiro de seu Senhor ao gastá-lo em coisas desnecessárias, em vez de pô-lo a juros ao empregá-lo em Sua causa, não receberão a aprovação do Mestre, mas decisiva condenação. O servo inútil da parábola levou de volta o único talento a Deus, e disse: “Senhor, eu conhecia-Te, que és um homem duro, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste; e, atemorizado, escondi na terra o Teu talento; aqui tens o que é Teu.” O Senhor pega-lhe nas palavras: “Mau e negligente servo; sabes que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei; devias então ter dado o Meu dinheiro aos banqueiros, e, quando Eu viesse, receberia o que é Meu com os juros.” Mateus 25:24-27. T3 385.4

Este servo inútil não ignorava os planos de Deus, mas decidiu firmemente impedir-Lhe o desígnio, acusando-O de injustiça em exigir lucro dos talentos a ele confiados. Esta mesma queixa e murmuração é feita por vasta classe de ricos que professam crer na verdade. Como o servo infiel, temem que o aumento do talento a eles emprestado por Deus seja requerido para promover a propagação da verdade; atam-no, portanto, empregando-o em tesouros terrenos, e enterrando-o no mundo, pondo-o assim tão seguro que não tenham nada, ou quase nada para investir na causa de Deus. Enterraram-no, temendo que o Senhor peça parte do capital ou dos juros. Quando, a pedido de seu Senhor, trazem a quantia que lhes foi entregue, vêm com ingratas desculpas por não haverem posto os recursos a eles emprestados por Deus nas mãos dos banqueiros, empregando-os em Sua causa para levar-Lhe a obra avante. T3 386.1

Aquele que sonega os bens do Senhor não somente perde o talento que lhe foi emprestado por Deus, mas perde a própria vida eterna. Diz-se a seu respeito: “Lançai, pois, o servo inútil nas trevas exteriores.” Mateus 25:30. O servo fiel que investe seu dinheiro na causa de Deus para salvar almas emprega os recursos de que dispõe para glória do Senhor, e receberá o louvor do Mestre: “Muito bem, servo bom e fiel... entra no gozo do teu Senhor.” Mateus 25:21. Qual será esse gozo de nosso Senhor? É a alegria de ver pessoas salvas no reino da glória. “O qual pelo gozo que Lhe estava proposto suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-Se à destra do trono de Deus.” Hebreus 12:2. T3 387.1

A idéia de mordomia devia ter influência prática sobre todo o povo de Deus. A parábola dos talentos, devidamente compreendida, excluirá a cobiça, que Deus chama de idolatria. A beneficência prática dará vida espiritual a milhares de professos nominais da verdade que ora lamentam as próprias trevas. Ela os transformará de egoístas e cobiçosos adoradores de Mamom em zelosos e fiéis colaboradores de Cristo na salvação dos pecadores. T3 387.2

O plano da salvação fundamentou-se no sacrifício. Jesus deixou as cortes reais, e fez-Se pobre, para que por Sua pobreza nos pudéssemos enriquecer. 2 Coríntios 8:9. Todos quantos participam desta salvação, comprada para eles com tão infinito sacrifício pelo Filho de Deus, seguirão o exemplo do Modelo verdadeiro. Cristo foi a principal Pedra de Esquina, e cumpre-nos edificar sobre esse Fundamento. Todos devem ter espírito de abnegação e sacrifício. A vida de Cristo na Terra foi de altruísmo; assinalou-se por humilhação e sacrifício. E hão de os homens, participantes da grande salvação que Jesus veio do Céu trazer-lhes, recusar-se a seguir a seu Senhor e partilhar de Sua abnegação e sacrifício? Diz Cristo: “Eu sou a videira, vós as varas.” João 15:5. “Todo ramo que, estando em Mim, não der fruto, Ele o corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda.” João 15:2. O próprio princípio vital, a seiva que corre através da videira, nutre os ramos, a fim de florescerem e darem fruto. “É o servo maior do que o seu Senhor”? João 15:20. Há de o Redentor do mundo praticar abnegação e sacrifício em nosso favor, e os membros do corpo de Cristo entregarem-se à complacência consigo mesmos? A abnegação é condição essencial do discipulado. T3 387.3

“Então, disse Jesus aos Seus discípulos: Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-Me.” Mateus 16:24. Eu tomo a dianteira no caminho da abnegação. Não exijo de vocês, Meus seguidores, coisa alguma senão aquilo de que Eu, seu Senhor, dou-lhes o exemplo em Minha vida. T3 388.1

O Salvador do mundo venceu Satanás no deserto da tentação. Venceu para mostrar ao homem como ele pode vencer. Ele anunciou na sinagoga de Nazaré: “O Espírito do Senhor é sobre Mim, pois que Me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-Me a curar os quebrantados do coração, a apregoar liberdade aos cativos, a dar vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor.” Lucas 4:18, 19. T3 388.2

A grande obra que Jesus anunciou que viera fazer foi confiada a Seus seguidores na Terra. Cristo, como nossa cabeça, serve de guia na grande obra de salvação, e pede-nos que Lhe sigamos o exemplo. Deu-nos uma mensagem mundial. Esta verdade deve estender-se a todas as nações, línguas e povos. O poder de Satanás devia ser contestado, e ele vencido por Cristo e também por Seus seguidores. Ampla guerra devia ser mantida contra os poderes das trevas. E a fim de fazer essa obra com êxito, eram necessários recursos. Deus não Se propõe a mandar recursos diretamente do Céu, mas põe nas mãos de Seus seguidores talentos de recursos para serem usados com o propósito definido de manter esta luta. T3 388.3

Ele deu a Seu povo um plano para levantamento de fundos suficientes para empreendimento de manutenção própria. O plano divino do sistema do dízimo é belo em sua simplicidade e eqüidade. Todos podem dele lançar mão com fé e ânimo, pois é divino em sua origem. Nele se aliam a simplicidade e a utilidade, e não exige profundidade de saber para compreendê-lo e executá-lo. Todos podem sentir que lhes é possível ter parte em promover a preciosa obra de salvação. Todo homem, mulher e jovem podem tornar-se tesoureiros do Senhor, e agentes em atender às exigências sobre o tesouro. Diz o apóstolo: “Cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade.” 1 Coríntios 16:2. T3 388.4

Grandes objetivos se conseguem com este sistema. Se todos o aceitassem, cada um se tornaria vigilante e fiel tesoureiro de Deus; e não haveria falta de recursos com que levar avante a grande obra de anunciar a última mensagem de advertência ao mundo. O tesouro estará provido se todos adotarem esse sistema, e os contribuintes não ficarão mais pobres. A cada depósito feito, tornar-se-ão mais ligados à causa da verdade presente. Eles estarão entesourando “para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna”. 1 Timóteo 6:19. T3 389.1

À medida que os obreiros perseverantes, sistemáticos, virem que a tendência de seus beneficentes esforços é nutrir o amor para com Deus e seus semelhantes, e que seus esforços pessoais estão a estender-lhes a esfera de utilidade, compreenderão que é grande bênção ser cooperadores de Cristo. A igreja cristã, de modo geral, está se negando às reivindicações de Deus quanto a darem ofertas do que possuem para sustentar a luta contra as trevas morais que vão inundando o mundo. A obra de Deus nunca poderá progredir como deve enquanto os seguidores de Cristo não se tornarem obreiros ativos e zelosos. T3 389.2

Todo indivíduo na igreja deve sentir que a verdade que ele professa é uma realidade, e todos devem ser obreiros desinteressados. Alguns ricos se acham inclinados a murmurar por estar a obra de Deus se ampliando e haver pedidos de dinheiro. Dizem que não há fim a esses pedidos. Surge continuamente um objetivo após outro, demandando auxílio. A esses, gostaríamos de dizer que esperamos que a causa de Deus se estenda por tal forma que haja maior ocasião, e mais freqüentes e urgentes apelos quanto às provisões do tesouro para prosseguir com a obra. T3 389.3

Se o plano da doação sistemática fosse adotado por todo indivíduo, sendo plenamente levado avante, haveria constante suprimento no tesouro. A renda fluiria para ele qual constante corrente, sem cessar, provida pelas fontes transbordantes da beneficência. O dar ofertas faz parte da religião evangélica. Não nos impõe a consideração do infinito preço pago por nossa redenção obrigações solenes, do ponto de vista financeiro, da mesma maneira que reivindica de nós a dedicação de todas as nossas energias à obra do Mestre? T3 389.4

Teremos contas a ajustar afinal com o Mestre, quando Ele disser: “Presta contas da tua mordomia.” Lucas 16:2. Se os homens preferirem pôr de lado as reivindicações de Deus, e apegarem-se a tudo quanto Ele lhes dá, retendo-o egoistamente, Ele Se calará por agora, e continuará a prová-los freqüentemente mediante o acréscimo de Suas liberalidades, deixando fluírem Suas bênçãos, e esses homens poderão continuar a receber honras de seus semelhantes, e não ser censurados na igreja; mas finalmente Ele dirá: “Presta contas da tua mordomia.” Lucas 16:2. Diz Cristo: “Quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a Mim.” Mateus 25:45. “Não sois de vós mesmos”, “porque fostes comprados por bom preço” (1 Coríntios 6:19, 20), e vocês estão na obrigação de glorificar a Deus com os seus recursos bem como com o seu corpo e espírito, que são Seus. “Fostes comprados por bom preço”, “não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro”, “mas com o precioso sangue de Cristo”. 1 Pedro 1:18, 19. Ele pede uma devolução dos dons que nos confiou, para ajudar na salvação de almas. Ele deu Seu sangue; pede nosso dinheiro. É mediante Sua pobreza que nos tornamos ricos; e nos recusaremos a devolver-Lhe Suas dádivas? T3 390.1

Deus não depende dos homens para a manutenção de Sua causa. Poderia haver mandado recursos diretamente do Céu para suprir Seu tesouro, caso assim houvesse Sua providência achado melhor para o homem. Poderia ter idealizado meios pelos quais houvessem sido enviados anjos para anunciar a verdade ao mundo sem o agente humano. Poderia haver escrito a verdade nos céus, e deixar que isso declarasse ao mundo os mandamentos em caracteres vivos. Deus não depende da prata ou ouro de homem algum. Diz Ele: “Meu é todo o animal da selva e as alimárias sobre milhares de montanhas.” “Se Eu tivesse fome, não to diria, pois Meu é o mundo e a sua plenitude.” Salmos 50:10, 12. Seja qual for a necessidade de nossa participação no progresso da causa de Deus, isso foi propositadamente arranjado por Ele para nosso bem. Honrou-nos tornando-nos coobreiros Seus. Determinou que houvesse necessidade da cooperação dos homens, para que sua liberalidade seja mantida em exercício. T3 390.2

Em Sua sábia providência, Deus pôs os pobres sempre ao nosso lado, para que, ao vermos todas as formas de sofrimento e miséria no mundo, fôssemos provados e colocados em situações de desenvolver caráter cristão. Pôs os pobres entre nós para despertar-nos simpatia e amor cristãos. T3 391.1

Pecadores, que estão perecendo por falta de conhecimento, são deixados em ignorância e trevas a menos que haja homens que lhes levem a luz da verdade. Deus não mandará anjos do Céu para fazer a obra que Ele deixou para o homem fazer. A todos Ele deu um trabalho a fazer para que pudesse prová-los, e que eles pudessem revelar seu verdadeiro caráter. Cristo coloca em nosso meio os pobres como Seus representantes. “Tive fome”, diz Ele, “e não Me destes de comer; tive sede, e não Me destes de beber.” Mateus 25:42. Cristo Se identifica com a sofredora humanidade, na pessoa dos aflitos filhos dos homens. Torna Suas as necessidades deles, sentindo as suas desventuras. T3 391.2

As trevas morais de um mundo arruinado pleiteiam com os cristãos, homens e mulheres, para exercerem esforços pessoais, darem de seus recursos e de sua influência, de modo a serem assemelhados à imagem dAquele que, embora possuísse infinitas riquezas, todavia “Se fez pobre por amor de” nós. 2 Coríntios 8:9. O Espírito de Deus não pode permanecer com aqueles a quem Ele mandou a mensagem de Sua verdade, mas que precisam ser insistentemente solicitados para poderem ter qualquer percepção do dever que lhes cabe de tornarem-se coobreiros de Cristo. O apóstolo acentua o dever de dar impulsionado por motivos mais elevados do que a simples simpatia humana devida à emoção. Insiste no princípio de que devemos trabalhar desinteressadamente, visando unicamente a glória de Deus. T3 391.3

As Escrituras exigem que os cristãos adotem um plano de beneficência ativa, que mantenha em constante exercício o interesse pela salvação de seus semelhantes. A lei moral ordenava a observância do sábado, que não era um fardo senão quando aquela lei era transgredida e eles incorriam nas penas trazidas pela transgressão. O sistema do dízimo não era uma carga para os que não se apartavam desse plano. O sistema ordenado aos hebreus não foi rejeitado ou afrouxado por Aquele que lhe deu origem. Em vez de haver perdido agora seu vigor, deve ser mais plenamente cumprido e expandido, pois a salvação em Cristo unicamente deve ser apresentada em maior plenitude na era cristã. T3 391.4

Jesus declarou ao doutor da lei que a condição para ele obter a vida eterna era cumprir em sua vida as reivindicações especiais da lei, que consistiam em amar a Deus “de todo o coração, e de todo o entendimento, e de toda a alma, e de todas as forças, e... o próximo como a si mesmo”. Marcos 12:33. Quando os sacrifícios simbólicos cessaram, por ocasião da morte de Cristo, a lei original, escrita em tábuas de pedra, permaneceu imutável, conservando sua vigência sobre os homens de todos os séculos. E na era cristã o dever do homem não foi limitado, antes mais especialmente definido e expresso com mais simplicidade. T3 392.1

O evangelho, estendendo-se e ampliando-se, exigia maiores providências para manter a luta depois da morte de Cristo, o que tornou a lei de dar ofertas necessidade mais urgente do que sob o governo hebraico. Agora Deus requer não menores, mas maiores, dádivas do que em qualquer outro período da história do mundo. O princípio estabelecido por Cristo é que as dádivas e ofertas sejam proporcionais à luz e às bênçãos fruídas. Ele disse: “A qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá.” Lucas 12:48. T3 392.2

Os primeiros discípulos corresponderam às bênçãos da era cristã em obras de caridade e beneficência. O derramamento do Espírito de Deus, depois que Cristo deixou os discípulos e ascendeu ao Céu, levou à abnegação e ao sacrifício pela salvação de outros. Quando os santos pobres de Jerusalém se viram em dificuldade, Paulo escreveu aos gentios cristãos relativamente às obras de beneficência, e disse: “Portanto, assim como em tudo sois abundantes na fé, e na palavra, e na ciência, e em toda diligência e em vossa caridade para conosco, assim também abundeis nessa graça.” 2 Coríntios 8:7. A beneficência aqui é colocada ao lado da fé, do amor e da diligência cristã. Os que pensam poderem ser bons cristãos e cerrarem os ouvidos e o coração aos pedidos de Deus para que sejam liberais acham-se terrivelmente enganados. Pessoas há que são pródigas em profissão de grande amor à verdade e, no que respeita às palavras, interessam-se muito em ver o progresso da verdade, mas nada fazem por esse progresso. A fé dessas pessoas é morta, não sendo aperfeiçoada pelas obras. O Senhor jamais cometeu tal erro de converter uma pessoa e mantê-la sob o domínio da cobiça. T3 392.3

O sistema do dízimo remonta a um tempo além dos dias de Moisés. Requeria-se que os homens oferecessem dádivas a Deus com intuitos religiosos antes mesmo que um sistema definido fosse dado a Moisés — já desde os dias de Adão. Cumprindo o que Deus deles requeria, deviam manifestar em ofertas a apreciação das misericórdias e bênçãos a eles concedidas. Isto continuou através de sucessivas gerações, e foi observado por Abraão, que deu dízimos a Melquisedeque, sacerdote do Deus Altíssimo. O mesmo princípio existia nos dias de Jó. Jacó, quando errante e exilado, destituído de bens, deitou-se à noite em Betel, solitário e tendo por travesseiro uma pedra, e prometeu ao Senhor: “De tudo quanto me deres, certamente Te darei o dízimo.” Gênesis 28:22. Deus não obriga os homens a dar. Tudo quanto derem deve ser voluntário. Não quer ter o Seu tesouro cheio de ofertas dadas de má vontade. T3 393.1

O Senhor visava pôr o homem em íntima relação com Ele e em simpatia e amor com seus semelhantes, quando sobre ele colocou responsabilidades em atos que haviam de neutralizar o egoísmo e fortalecer-lhe o amor para com Deus e o ser humano. O plano de haver método na beneficência foi designado por Deus para o bem do homem, inclinado a ser egoísta, a cerrar o coração a atos generosos. O Senhor requer que se dêem dádivas em tempos determinados, de tal modo que o dar se torne um hábito, e sinta-se que a beneficência é um dever cristão. O coração, aberto por um ato de beneficência, não deve ter tempo de tornar-se egoísta, frio e fechar-se antes do próximo ato. A corrente deve estar continuamente fluindo, mantendo assim aberto o canal por atos de beneficência. T3 393.2

Quanto à importância exigida, Deus especificou um décimo da renda. Isto fica com a consciência e boa vontade dos homens, cujo discernimento nesse sistema de dízimo deve ser livre. Embora isto dependa da consciência, foi estabelecido um plano bastante definido para todos. Não deve haver compulsão. T3 394.1

Na dispensação mosaica, Deus chamou homens que dessem a décima parte de toda a sua renda. Ele lhes confiou em depósito as coisas desta vida, talentos a serem desenvolvidos e devolvidos a Ele. Exigia um décimo, e isto Ele requer como o mínimo que os seres humanos Lhe devem devolver. Diz: Dou-lhes nove décimos, ao passo que exijo um décimo; este é Meu. Quando os homens o retêm, estão roubando a Deus. As ofertas pelo pecado, as ofertas pacíficas e as de gratidão também eram requeridas além do dízimo das rendas. T3 394.2

Tudo quanto é retido daquilo que Deus requer, a décima parte do rendimento, é registrado como roubo nos livros do Céu contra os que o retêm. Essas pessoas defraudam seu Criador; e ao ser-lhes apontado esse pecado de negligência, não basta que mudem de rumo e comecem a seguir daí em diante o reto princípio. Isto não alterará os algarismos registrados no Céu pela sonegação dos bens que lhes foram confiados para serem devolvidos Àquele que os emprestou. Exige-se arrependimento pelo trato infiel e a ingratidão para com Deus. T3 394.3

“Roubará o homem a Deus? Todavia, vós Me roubais e dizeis: Em que Te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a Mim Me roubais, vós, a nação toda. Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na Minha casa, e depois fazei prova de Mim, diz o Senhor dos Exércitos, se Eu não vos abrir as janelas do Céu e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança.” Malaquias 3:8-10. Dá-se aí uma promessa — que se todos os dízimos forem levados à casa do tesouro, derramar-se-á sobre o obediente uma bênção de Deus. T3 394.4

“E, por causa de vós, repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; e a vide no campo vos não será estéril, diz o Senhor dos Exércitos. E todas as nações vos chamarão bem-aventurados; porque vós sereis uma terra deleitosa, diz o Senhor dos Exércitos.” Malaquias 3:11, 12. Se todos quantos professam crer na verdade satisfizerem às reivindicações de Deus ao dar o dízimo, que o Senhor declara ser Seu, o tesouro estará abundantemente provido de recursos para levar avante a grande obra pela salvação dos homens. T3 395.1

Deus dá ao homem nove décimos, ao passo que reivindica apenas um décimo para fins sagrados, da mesma maneira que deu ao homem seis dias para seu trabalho, e reservou e pôs à parte o sétimo dia para Si. Pois, como o sábado, um décimo da renda é sagrado; Deus o reservou para Si. Ele levará avante Sua obra na Terra com a renda dos recursos que confiou ao homem. T3 395.2

Deus exigia de Seu antigo povo três reuniões anuais. “Três vezes no ano, todo o varão entre ti aparecerá perante o Senhor, teu Deus, no lugar que escolher, na Festa dos Pães Asmos, e na Festa das Semanas, e na Festa dos Tabernáculos; porém não aparecerá de mãos vazias perante o Senhor; cada um oferecerá na proporção em que possa dar, segundo a bênção que o Senhor, seu Deus, lhe houver concedido.” Deuteronômio 16:16, 17. Nada menos que um terço de seus rendimentos era consagrado a fins sagrados e religiosos. T3 395.3

Sempre que o povo de Deus, em qualquer período do mundo, seguiu voluntária e alegremente o plano dEle quanto à doação sistemática e às dádivas e ofertas, verificaram Sua permanente promessa de que todos os seus trabalhos seriam seguidos de prosperidade proporcional à obediência que dispensavam ao que deles requeria. Quando reconheciam os direitos de Deus e Lhe satisfaziam às reivindicações, honrando-O com seus recursos, seus celeiros enchiam-se com abundância. Mas, quando roubavam a Deus em dízimos e ofertas, era-lhes feito compreender que não O estavam roubando a Ele simplesmente, mas a si mesmos; pois Ele lhes limitava as bênçãos exatamente em proporção ao que eles limitavam as ofertas que Lhe faziam. T3 395.4

Alguns classificarão isso como uma das rigorosas leis a que os hebreus estavam obrigados. Não era um fardo, porém, para o coração voluntário que amava a Deus. Unicamente quando sua natureza egoísta era fortalecida pelo reter é que os homens perdiam de vista as considerações eternas, estimando seus bens terrenos acima das pessoas. Há nestes últimos dias necessidades ainda mais urgentes sobre o Israel de Deus do que sobre o antigo Israel. Há uma grande e importante obra a ser realizada em muito pouco tempo. Nunca foi desígnio do Senhor que a lei do sistema de dízimo deixasse de ser considerada entre Seu povo; em vez disso, porém, pretendia que o espírito de sacrifício se ampliasse e se tornasse mais profundo para a finalização da obra. T3 396.1

A doação sistemática não se deveria tornar compulsão sistemática. É a oferta voluntária que é aceitável a Deus. A verdadeira beneficência cristã brota do princípio do amor agradecido. Não pode existir amor a Cristo sem amor correspondente para com aqueles por cuja redenção Ele veio ao mundo. O amor a Cristo deve ser o princípio dominante do ser, regendo todas as emoções e dirigindo todas as energias. O amor redentor deve despertar todas as ternas afeições e abnegada dedicação que possam existir no coração do homem. Assim sendo, não se precisam fazer apelos comovedores para lhes vencer o egoísmo e despertar os inativos sentimentos de compassividade a fim de atrair ofertas voluntárias para a preciosa causa da verdade. T3 396.2

Com sacrifício infinito nos comprou Jesus. Todas as nossas aptidões e influência pertencem de fato a nosso Salvador, devendo ser consagradas a Seu serviço. Assim fazendo, manifestamos nossa gratidão por termos sido libertados da servidão do pecado pelo precioso sangue de Cristo. Nosso Salvador está continuamente trabalhando por nós. Subiu ao alto e intercede pelos que foram adquiridos por Seu sangue. Ele alega diante de Seu Pai as agonias da crucifixão. Ergue as mãos feridas e intercede por Sua igreja, para que sejam livrados de cair em tentação. T3 396.3

Se nossa percepção fosse avivada para compreender esta maravilhosa obra de nosso Salvador por nossa redenção, nosso coração seria abrasado de profundo e ardente amor. Sentir-nos-íamos alarmados por nossa apatia e fria indiferença. Inteira devoção e espírito de benevolência, inspirados por um amor agradecido, comunicarão à mínima oferta, ao sacrifício voluntário, fragrância divina, emprestando à dádiva incalculável valor. Depois, porém, de ofertar voluntariamente tudo quanto nos seja possível a nosso Redentor, por mais valioso que seja para nós, se considerarmos nossa dívida de gratidão para com Deus tal como em verdade é, tudo quanto possamos ter oferecido se nos parecerá demasiado insuficiente e pequenino. Mas os anjos tomam essas ofertas, que nos parecem pobres, apresentam-nas como fragrantes dádivas diante do trono, e são aceitas. T3 396.4

Não compreendemos, como seguidores de Cristo, nossa verdadeira posição. Não temos correta visão de nossas responsabilidades como servos assalariados de Cristo. Ele nos adiantou a recompensa, em Sua vida de sofrimento e no sangue derramado, a fim de a Ele nos ligar em voluntária servidão. Tudo quanto de bom possuímos é um empréstimo a nós feito por nosso Salvador. Ele nos fez mordomos. Nossas menores ofertas, os mais humildes serviços que prestamos, apresentados com fé e amor, podem ser dádivas consagradas para granjear pessoas para o serviço do Mestre e promover-Lhe a glória. O interesse e a prosperidade do reino de Cristo deveriam estar acima de todas as outras considerações. Os que tornam seu prazer e interesse egoísta os principais objetivos de sua vida não são mordomos fiéis. T3 397.1

Os que se negam a si mesmos a fim de beneficiar a outros, e se consagram com tudo quanto têm ao serviço de Cristo, experimentarão a felicidade que o egoísta procura em vão. Disse nosso Salvador: “Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser Meu discípulo.” Lucas 14:33. A caridade “não busca os seus interesses”. 1 Coríntios 13:5. Isto é o fruto daquele amor e beneficência desinteressados que caracterizavam a vida de Cristo. A lei de Deus em nosso coração subordinará os próprios interesses às considerações elevadas e eternas. Cristo nos ordena buscar “primeiro o reino de Deus e Sua justiça”. Mateus 6:33. É este nosso primeiro e mais alto dever. Nosso Mestre advertiu expressamente Seus servos a não acumularem tesouros na Terra; pois assim fazendo, o coração lhes ficaria nas coisas terrenas em vez de nas celestes. Eis onde muito pobre ser humano tem naufragado na fé. Têm ido diretamente em contrário à expressa ordem de nosso Senhor e permitido que o amor do dinheiro se torne em sua vida a paixão dominante. São intemperantes em seus esforços para adquirir recursos. Acham-se tão intoxicados pelo desejo insano de riquezas como o embriagado com as bebidas. T3 397.2

Os cristãos se esquecem de que são servos do Mestre; de que eles próprios, o tempo e tudo quanto lhes pertence são dEle. Muitos são tentados, e a maioria vencida, pelas ilusórias seduções que Satanás apresenta para empregarem seu dinheiro naquilo que maior lucro lhes proporcionar. Poucos são os que consideram os sagrados direitos que Deus tem sobre eles quanto a darem o primeiro lugar às necessidades de Sua causa, atendendo por último aos próprios desejos. Poucos apenas investem na causa de Deus proporcionalmente a seus recursos. Muitos empregaram o dinheiro em propriedades que precisariam vender antes de poder empregá-lo na causa do Senhor, pondo-o assim em uso prático. Fazem disso uma desculpa para não fazer senão pouca coisa na causa de seu Redentor. Esconderam tão verdadeiramente o dinheiro na terra como o fez o homem da parábola. Roubam a Deus do dízimo que Ele reivindica como Seu e, roubando-O assim, roubam a si mesmos do tesouro celeste. T3 398.1

O plano da doação sistemática não pesa muito sobre ninguém. “Ora, quanto à coleta que se faz para os santos, fazei vós também o mesmo que ordenei às igrejas da Galácia. No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que se não façam as coletas quando eu chegar.” 1 Coríntios 16:1, 2. Os pobres não são excluídos do privilégio de dar. Da mesma maneira que os ricos, eles podem ter uma parte nessa obra. A lição dada por Cristo quanto às duas moedinhas da viúva mostra-nos que as menores ofertas voluntárias do pobre, se dadas de coração, com amor, são tão aceitáveis como os maiores donativos feitos pelos ricos. T3 398.2

Nas balanças do santuário, as dádivas dos pobres, impulsionadas pelo amor a Cristo, não são avaliadas segundo a importância doada, mas de acordo com o amor que inspira o sacrifício. As promessas de Jesus serão comprovadas pelo pobre liberal, que pouco tem para dar mas oferece esse pouco de boa vontade, tão certamente como o serão pelo rico que dá de sua abundância. O pobre faz de seu pouco um sacrifício que lhe custa realmente. Renuncia a algumas coisas de que na verdade necessita para o próprio conforto, ao passo que o abastado oferece de sua abundância, e não sente falta; não renuncia a nada de que realmente necessite. Há, portanto, na oferta do pobre uma santidade que não se encontra na do rico; pois este dá de sua fartura. A providência de Deus delineou todo o plano da doação sistemática para benefício do ser humano. Sua providência não cessa nunca. Caso os servos de Deus sigam as oportunidades de Sua providência, serão todos obreiros ativos. T3 398.3

Os que retêm do tesouro de Deus, e acumulam os recursos para seus filhos, põem em risco o interesse espiritual dos mesmos. Colocam suas propriedades, que são pedra de tropeço para eles, no caminho dos filhos, de modo a que nela tropecem para perdição. Muitos estão cometendo grande erro com relação às coisas desta vida. Economizam, privando a si e aos outros do bem que poderiam desfrutar do devido uso dos recursos que Deus lhes emprestou, e tornam-se egoístas e avarentos. Negligenciam os interesses espirituais, e tornam-se anões no desenvolvimento religioso, tudo por amor de acumular riqueza que não podem usar. Deixam aos filhos esses bens e, nove vezes em dez, isso se torna ainda maior maldição aos herdeiros do que foi a eles próprios. Os filhos, confiados na propriedade dos pais, deixam freqüentemente de ser bem-sucedidos na vida presente, fracassando por completo no que respeita à vindoura. O melhor legado que os pais podem deixar aos filhos é o conhecimento do trabalho útil e o exemplo de uma vida caracterizada pela desinteressada beneficência. Por uma vida assim, mostram eles o verdadeiro valor do dinheiro, que só deve ser apreciado pelo bem que pode realizar no suprir as próprias necessidades e as dos outros, e no promover o progresso da causa de Deus. T3 399.1

Alguns estão prontos a dar segundo o que têm, e acham que Deus não tem mais a exigir deles, posto que não possuem muitos recursos. Não têm rendimentos que possam dispensar das necessidades da família. Muitos desses, porém, poder-se-iam perguntar: Estou eu dando segundo poderia ter possuído? O desígnio de Deus era que suas faculdades físicas e mentais fossem empregadas. Alguns não têm aproveitado da melhor maneira as aptidões que Deus lhes concedeu. O homem foi premiado com o trabalho. Este foi ligado à maldição, pois o pecado o tornou necessário. O bem-estar físico, mental e moral do homem torna necessária uma vida de trabalho útil. “Não sejais vagarosos no cuidado” é a recomendação do inspirado apóstolo Paulo. Romanos 12:11. T3 400.1

Pessoa alguma, seja rica seja pobre, pode glorificar a Deus por uma vida de indolência. Todo o capital possuído pelos pobres é o tempo e a força física, e muitas vezes isto é gasto no amor da comodidade e em descuidosa indolência, de modo que nada têm para levar a seu Senhor em dízimos e ofertas. Se a homens cristãos falta sabedoria para trabalhar da maneira mais proveitosa e fazer criterioso emprego de suas faculdades físicas e mentais, deveriam ter humildade e mansidão de espírito para receber conselhos de seus irmãos, de modo que o melhor discernimento deles lhes possa suprir as deficiências. Muitos pobres agora satisfeitos com não fazer coisa alguma em benefício de seus semelhantes e para o progresso da causa de Deus muito poderiam fazer, caso o quisessem. São tão responsáveis diante de Deus por seu capital de forças físicas como é o rico pelo capital em dinheiro. T3 400.2

Alguns que deviam pôr dinheiro nos tesouros de Deus serão receptores do mesmo. Pessoas há que agora são pobres as quais poderiam melhorar suas condições mediante criterioso emprego do tempo, evitando os direitos de patentes e restringindo a própria inclinação para se empenharem em especulações a fim de obterem recursos por meios mais fáceis do que por meio de paciente e perseverante trabalho. Se aqueles que não têm tido êxito na vida estivessem dispostos a receber instruções, exercitar-se-iam em hábitos de abnegação e estrita economia, tendo assim a satisfação de serem distribuidores e não recebedores de caridade. Há muito servo negligente. Caso fizessem o que está em seu poder, experimentariam tão grande bênção em ajudar os outros que compreenderiam na verdade que “mais bem-aventurada coisa é dar do que receber”. Atos dos Apóstolos 20:35. T3 400.3

Devidamente orientada, a beneficência exercita as energias mentais e morais do homem, estimulando-as a uma ação muito sadia no beneficiar os necessitados e promover a causa de Deus. Caso os que têm recursos compreendessem que são responsáveis diante de Deus por todo dinheiro que gastam, suas supostas necessidades seriam muito menos. Se a consciência estivesse viva, testificaria de desnecessárias apropriações para satisfação do apetite, do orgulho, da vaidade e do amor dos entretenimentos, e mostraria o desperdício do dinheiro do Senhor, que devia ter sido dedicado à Sua causa. Os que desperdiçam os bens do Senhor hão de afinal dar contas de seu procedimento ao Mestre. T3 401.1

Se os professos cristãos empregassem menos de seus bens em adornar o corpo e em embelezar a própria morada e gastassem menos em luxos extravagantes e destruidores da saúde em sua mesa, muito maiores seriam as somas que poderiam colocar no tesouro de Deus. Imitariam assim a seu Redentor, que deixou o Céu, Suas riquezas, Sua glória, e por amor de nós tornou-Se pobre, a fim de podermos possuir as riquezas eternas. Se somos demasiado pobres para devolver fielmente a Deus os dízimos e ofertas requeridos por Ele, somos por certo pobres demais para trajar-nos dispendiosamente e comermos com luxo; pois desperdiçamos assim o dinheiro de nosso Senhor em condescendências nocivas, para agradar e glorificar a nós mesmos. Cumpre examinar-nos diligentemente: Que tesouro asseguramos nós no reino de Deus? Somos ricos para com Deus? T3 401.2

Jesus deu a Seus discípulos uma lição sobre a cobiça. “E propôs-lhes uma parábola, dizendo: A herdade de um homem rico tinha produzido com abundância; e arrazoava ele entre si, dizendo: Que farei? Não tenho onde recolher os meus frutos. E disse: Farei isto: derribarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens; e direi à minha alma: alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e folga. Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma, e o que tens preparado para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros e não é rico para com Deus.” Lucas 12:16-21. T3 401.3

A extensão e a felicidade da vida não consistem na quantidade de bens terrestres. Esse rico insensato, em seu supremo egoísmo, depositara para si tesouros que não podia usar. Vivera só para si. Aproveitara-se de outros nos negócios, fizera contratos astutos e não exercera misericórdia ou o amor de Deus. Roubara o órfão e a viúva, e defraudara seus semelhantes a fim de ajuntar a seu crescente depósito de bens terrenos. Ele poderia ter depositado seu tesouro no Céu, em bolsas que não envelhecem; mas devido à sua cobiça perdeu ambos os mundos. Aqueles que, humildemente, usam para glória de Deus os recursos que lhes são confiados receberão afinal seu tesouro da mão do Mestre, com a bênção: “Bem está, bom e fiel servo... entra no gozo do teu Senhor.” Mateus 25:23. T3 402.1

Quando consideramos o infinito sacrifício feito pela salvação dos homens, ficamos abismados. Quando o egoísmo clama pela vitória no coração dos homens, e eles são tentados a reter do que poderiam fazer em qualquer boa obra, cumpre-lhes fortalecer os princípios do direito ao pensamento de que Aquele que era rico dos tesouros incalculáveis do Céu deixou tudo isso, fazendo-Se pobre. Não tinha onde reclinar a cabeça. E todo esse sacrifício foi feito em nosso favor, para que tivéssemos riquezas eternas. T3 402.2

Cristo palmilhou a estrada da abnegação e do sacrifício que todos os Seus discípulos têm de trilhar, se quiserem afinal ser exaltados com Ele. Abriu o coração às dores que o homem tem de sofrer. A mente dos mundanos fica muitas vezes embotada. Só podem ver as coisas terrenas, as quais eclipsam a glória e o valor das celestiais. Os homens atravessarão terra e mar pelo ganho deste mundo, e suportarão privações e sofrimentos no intuito de conseguirem seu objetivo; todavia, afastar-se-ão das atrações celestes, e não apreciarão as riquezas eternas. Os relativamente pobres são os que normalmente fazem o máximo para sustentar a causa de Deus. São generosos com o pouco que têm. Fortaleceram os impulsos generosos com as contínuas liberalidades. Quando seus gastos se aproximavam muito dos rendimentos, sua paixão pelas riquezas terrestres não tinha lugar nem oportunidade de se fortalecer. T3 402.3

Muitos, porém, ao começarem a ajuntar riquezas terrenas, põem-se a calcular quando estarão de posse de determinada quantia. Na ansiedade de acumular fortunas para si, deixam de enriquecer-se para com Deus. A Sua beneficência não se mantém a par com o que acumulam. À medida que lhes cresce a paixão pelas riquezas, as afeições se vão após o seu tesouro. O aumento dos bens lhes robustece o ansioso desejo de mais, até que alguns consideram exigente e injusta a contribuição de um décimo para o Senhor. Diz a Inspiração: “Se as vossas riquezas aumentam, não ponhais nelas o coração.” Salmos 62:10. Muitos têm dito: “Se eu fosse tão rico como Fulano, multiplicaria minhas ofertas ao tesouro de Deus. Não faria com minha riqueza senão promover a causa do Senhor.” Deus tem provado alguns destes dando-lhes riquezas; com elas, porém, a tentação se tornou mais forte, e a beneficência tornou-se-lhes incomparavelmente menor que nos dias de sua pobreza. A mente e o coração foram tomados do empolgante desejo de possuir maiores fortunas, e fizeram-se idólatras. T3 403.1

Aquele que apresenta aos homens riquezas infinitas, e uma vida eterna de bem-aventurança em Seu reino como recompensa da obediência fiel, não aceitará um coração dividido. Vivemos entre os perigos dos últimos dias, quando tudo é de molde a desviar a mente e atrair as afeições, afastando-as de Deus. Nosso dever só será discernido e apreciado quando visto à luz que irradia da vida de Cristo. Como o Sol se ergue no oriente e se move para o ocidente, enchendo de luz o mundo, assim o verdadeiro seguidor de Cristo será uma luz para o mundo. Sairá como brilhante luz na Terra, para que os que se encontram em trevas sejam iluminados e aquecidos pelos raios que dele procedem. Diz Cristo acerca de Seus seguidores: “Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte.” Mateus 5:14. T3 403.2

Nosso grande Exemplo era abnegado, e terão Seus professos seguidores uma orientação tão marcantemente contrária à Sua? O Salvador deu tudo pelo mundo agonizante, não poupando sequer a Si mesmo. A igreja de Deus está adormecida. Acham-se enfraquecidos pela inatividade. De todas as partes do mundo nos chegam clamores: “Passa... e ajuda-nos” (Atos dos Apóstolos 16:9); não há, porém, movimento responsivo. Faz-se aqui e ali débil esforço; uns poucos há que se mostram dispostos a cooperar com seu Mestre; esses são, no entanto, deixados a labutar quase sozinhos. Não há senão um missionário nosso em todo o vasto campo dos países estrangeiros. T3 404.1

A verdade é poderosa, mas não é posta em prática. Não basta pôr simplesmente o dinheiro sobre o altar. Deus requer homens, voluntários, que levem a verdade a outras nações, e “língua e povo”. Apocalipse 14:16. Não é nosso número nem nossas riquezas que nos darão assinalada vitória; é antes a dedicação à obra, coragem moral, amor ardente pelas almas e infatigável e incessante zelo. T3 404.2

Muitos têm considerado a nação judaica como um povo digno de dó por terem sido sempre solicitados a contribuir para sustento de sua religião; mas Deus, que criou os seres humanos e lhes proporcionou todos os benefícios de que desfrutam, sabia o que lhes seria melhor. E mediante Sua bênção, tornava os nove décimos mais proveitosos para eles do que os dez sem essa bênção. Se alguém, por egoísmo, roubava a Deus ou Lhe levava uma oferta imperfeita, seguia-se com certeza prejuízo ou ruína. Deus conhece os motivos do coração. Está familiarizado com os desígnios dos homens, e retribuir-lhes-á a seu tempo segundo aquilo a que fizeram jus. T3 404.3

O sistema especial de dízimos baseia-se em um princípio tão duradouro como a lei de Deus. Esse sistema foi uma bênção ao povo judeu, do contrário o Senhor não lho haveria dado. Assim será igualmente uma bênção aos que o observarem até ao fim do tempo. Nosso Pai celeste não instituiu o plano da doação sistemática com o intuito de enriquecer-Se, mas para que o mesmo fosse uma grande bênção ao ser humano. Viu que o referido sistema era exatamente o que o homem necessitava. T3 404.4

As igrejas mais sistemáticas e liberais em sustentar a causa de Deus são espiritualmente as mais prósperas. A verdadeira liberalidade no seguidor de Cristo identifica-lhe os interesses com os de seu Mestre. No trato de Deus com os judeus e com Seu povo até ao fim dos tempos, Ele requer doação sistemática proporcional aos rendimentos. O plano da salvação foi estabelecido pelo infinito sacrifício do Filho de Deus. A luz do evangelho que irradia da cruz de Cristo repreende o egoísmo e anima a liberalidade e a beneficência. Não é para lamentar o haver crescentes pedidos. Em Sua providência, Deus está chamando Seu povo a sair da limitada esfera de ação em que vivem, a fim de entrarem em maiores empreendimentos. Ilimitado é o esforço requerido nesta época em que as trevas morais estão cobrindo o mundo. O mundanismo e a cobiça estão destruindo a vitalidade do povo de Deus. Cumpre-lhes compreender que é a misericórdia dEle que faz com que se multipliquem as solicitações de recursos. O anjo de Deus coloca os atos de beneficência ao lado da oração. Disse ele a Cornélio: “As tuas orações e as tuas esmolas têm subido para memória diante de Deus.” Atos dos Apóstolos 10:4. T3 405.1

Em Seus ensinos, disse Cristo: “Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras?” Lucas 16:11. A saúde espiritual e a prosperidade da igreja dependem, em alto grau, de sua doação sistemática. É como o sangue vital que deve fluir por todo o ser, dando vida a cada membro do corpo. Ela acrescenta o amor à vida de nossos semelhantes; pois, por meio da abnegação e do sacrifício, somos postos em mais íntima relação com Cristo, que Se fez pobre por amor de nós. Quanto mais empregamos na causa de Deus para ajudar na salvação de almas, tanto mais achegadas nos serão elas ao coração. Fosse nosso número metade do que é, e fôssemos todos obreiros consagrados, teríamos um poder que faria tremer o mundo. Aos ativos obreiros dirige Cristo estas palavras: “Eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos.” Mateus 28:20. T3 405.2

Havemos de encontrar oposição que se levanta por motivos egoístas e por causa de fanatismo e preconceitos; todavia, com intrépida coragem e viva fé, devemos semear sobre todas as águas. Poderosos são os agentes de Satanás; havemos de enfrentá-los e precisamos combatê-los. Nossos trabalhos não se devem limitar ao próprio país. “O campo é o mundo”; “a seara... está madura”. Mateus 13:38; Apocalipse 14:15. A ordem dada por Cristo aos discípulos justamente antes de ascender ao Céu foi: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.” Marcos 16:15. T3 406.1

Sentimo-nos imensamente penalizados ao ver alguns de nossos pastores agitando-se em torno das igrejas, fazendo ao que parece algum esforço, mas não tendo afinal senão quase nada para apresentar como fruto de seu trabalho. O campo é o mundo. Saiam eles para o mundo incrédulo, e trabalhem para converter almas à verdade. Chamamos a atenção de nossos irmãos e irmãs para o exemplo de Abraão subindo o Monte Moriá a fim de oferecer seu único filho, segundo a ordem de Deus. Ali havia obediência e sacrifício. Moisés encontrava-se em uma corte real, com a perspectiva de uma coroa. Desviou-se, porém, do engano tentador, e “recusou ser chamado filho da filha de Faraó, escolhendo, antes, ser maltratado com o povo de Deus do que por, um pouco de tempo, ter o gozo do pecado; tendo, por maiores riquezas, o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito”. Hebreus 11:24-26. T3 406.2

Os apóstolos não consideraram preciosa a própria vida, regozijando-se em ser considerados dignos de sofrer pelo nome de Cristo. Paulo e Silas perderam tudo. Suportaram açoites, e foram atirados, não com brandura, sobre o chão frio de uma prisão, em posição por demais penosa, com os pés erguidos e presos a um tronco. Chegaram então aos ouvidos do carcereiro queixas e murmurações? Oh, não! Da prisão interior irromperam vozes quebrando o silêncio da meia-noite com hinos de alegria e louvor a Deus. Esses discípulos eram animados por profundo e fervoroso amor pela causa de seu Redentor, pela qual sofriam. T3 406.3

À medida que a verdade de Deus nos enche o coração, absorve-nos as afeições e nos rege a vida, também nós consideraremos alegria sofrer por amor da verdade. Nenhuma parede de prisão, nenhuma estaca de martírio, nos pode intimidar ou impedir na realização da grande obra. T3 406.4

“Vem, ó minha alma, ao Calvário!” T3 407.1

Observem a vida humilde do Filho de Deus. Foi um “homem de dores, experimentado nos trabalhos”. Isaías 53:3. Contemplem-Lhe a ignomínia, a agonia do Getsêmani, e aprendam o que seja abnegação. Sofremos nós privações? Sofreu-as Cristo, a majestade do Céu. Essa pobreza, porém, foi por amor de nós que Ele suportou. Achamo-nos classificados entre os ricos? O mesmo se deu com Ele. Consentiu, no entanto, por amor de nós, em fazer-Se pobre, para que por meio dessa pobreza nos tornássemos ricos. Temos exemplificada em Cristo a abnegação. Seu sacrifício não consistiu apenas em deixar as reais cortes celestes, em ser julgado por homens ímpios como criminoso e declarado culpado, e ser entregue à morte do malfeitor, mas em suportar o peso dos pecados do mundo. Sua vida nos reprova a indiferença e frieza. Achamo-nos próximo ao fim do tempo quando o diabo desce a nós “e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo”. Apocalipse 12:12. Ele está manobrando com “todo o engano da injustiça para os que perecem”. 2 Tessalonicenses 2:10. O conflito foi deixado em nossas mãos por nosso grande Líder para que o levemos avante com vigor. Não estamos fazendo a vigésima parte do que poderíamos fazer se estivéssemos alerta. A obra é retardada pelo amor da comodidade e falta do espírito de abnegação de que nosso Salvador nos deu exemplo em Sua vida. T3 407.2

Precisamos de cooperadores de Cristo, de homens que sintam a necessidade de mais extensos esforços. A obra de nossos prelos não deve diminuir, mas duplicar. Devem-se estabelecer escolas em vários lugares a fim de educar nossos jovens em preparo para seu trabalho na divulgação da verdade. T3 407.3

Desperdiçamos já grande parte do tempo, e os anjos levam ao Céu o relatório de nossas negligências. Nosso estado de sonolência e falta de consagração nos tem feito perder preciosas oportunidades enviadas por Deus na pessoa dos que se achavam habilitados a ajudar-nos na necessidade que enfrentamos. Oh, quanto necessitamos de nossa Ana More para ajudar-nos agora a chegar a outras nações! Seu vasto conhecimento de campos missionários dar-nos-ia acesso a outras línguas das quais não nos é possível agora aproximar. Deus trouxe essa dádiva para o meio de nós a fim de satisfazer a emergência em que nos achamos; mas não a apreciamos, e Ele a tirou de nós. Ela descansa de seus trabalhos, mas suas obras de abnegação a seguem. É de deplorar que nossa obra missionária fosse retardada por falta do conhecimento da maneira de encontrar acesso às diferentes nações e localidades no grande campo da seara. T3 407.4

Angustiamo-nos em espírito por se haverem perdido para nós alguns dons que agora poderíamos possuir, se tão-somente houvéssemos estado alerta. Tem-se deixado de enviar obreiros aos brancos campos da seara. Cumpre ao povo de Deus humilhar o coração diante dEle, e na mais profunda humilhação rogar que o Senhor nos perdoe a apatia e a condescendência egoísta, e apague o vergonhoso registro de deveres negligenciados e privilégios não aproveitados. Ao contemplar a cruz do Calvário, o verdadeiro cristão abandonará a idéia de restringir suas ofertas àquilo que nada lhe custe, e ouvirá um sonido de trombeta: T3 408.1

“Vai trabalhar em Minha vinha;
descanso por fim haverá.”
T3 408.2

Quando Jesus estava prestes a ascender ao alto, apontou aos campos da colheita, e disse a Seus seguidores: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho.” Marcos 16:15. “De graça recebestes, de graça dai.” Mateus 10:8. Negaremos o próprio eu de modo que a seara a desperdiçar-se possa ser ceifada? T3 408.3

Deus pede talentos de influência e de recursos. Recusar-nos-emos a obedecer? Nosso Pai celestial concede dons e solicita parte de volta, a fim de provar se somos dignos de possuir o dom da vida eterna. T3 408.4