Testemunhos para a Igreja 3

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Misericórdia menosprezada

Os hebreus tiveram oportunidade de refletir sobre a cena que tinham testemunhado na manifestação da ira de Deus sobre as pessoas mais preeminentes nessa grande rebelião. A bondade e a misericórdia de Deus foram demonstradas em não exterminar completamente esse povo ingrato quando Sua ira foi acendida contra os mais responsáveis. Ele deu à congregação que se permitira ser enganada lugar para arrependimento. O fato de que o Senhor, seu Líder invisível, mostrou tanta longanimidade e misericórdia nesta ocasião é distintamente registrado como evidência de Sua disposição de perdoar os transgressores mais revoltantes quando têm percepção de seu pecado e se voltam a Ele com arrependimento e humildade. A congregação foi detida em sua conduta presunçosa pela demonstração da vingança do Senhor; mas não estavam convencidos de que eram grandes pecadores contra Ele, merecendo Sua ira por sua conduta rebelde. T3 355.1

É quase impossível às pessoas oferecer maior insulto a Deus do que desprezando e rejeitando os instrumentos que Ele designou para dirigi-los. Não só tinham feito isso, mas tinham planejado matar tanto Moisés como Arão. Esses homens fugiram das tendas de Coré, Datã e Abirão por medo de destruição, mas sua rebelião não fora curada. Não experimentaram tristeza e desespero por causa de sua culpa. Não sentiram o efeito de uma consciência despertada e convicta por terem desprezado seus privilégios mais preciosos e terem pecado contra a luz e o conhecimento. Podemos aqui aprender lições preciosas da longanimidade de Jesus, o Anjo que foi adiante dos hebreus no deserto. T3 355.2

Seu Líder invisível os salvaria de uma destruição miserável. Perdão espera por eles. É possível para eles achar perdão caso se arrependam mesmo agora. A vingança de Deus chegou perto deles e apelou para que se arrependessem. Uma interferência especial irresistível do Céu deteve sua rebelião presunçosa. Se agora responderem à intervenção da providência de Deus, poderão ser salvos. Mas a contrição e o arrependimento da congregação precisam ser proporcionais à sua transgressão. A revelação do poder marcante de Deus os colocou fora de incerteza. Podem ter conhecimento da verdadeira posição e vocação santa de Moisés e Arão se quiserem aceitá-la. Mas sua negligência em considerar as evidências que Deus lhes dera foi fatal. Não reconheceram a importância de ação imediata de sua parte para buscar perdão de Deus para seus graves pecados. T3 356.1

Aquela noite de provação para os hebreus não foi gasta em confissão e arrependimento de seus pecados, mas em imaginar algum modo de resistir às evidências que lhes mostravam serem os maiores pecadores. Ainda entretinham seu ódio ciumento pelos homens que Deus designara e se fortaleceram em sua louca conduta de resistir à autoridade de Moisés e Arão. Satanás estava pronto para perverter o discernimento e levá-los de olhos vendados para a destruição. Seu pensamento tinha sido inteiramente envenenado com descontentamento, e tinham encerrado a questão em sua mente de que Moisés e Arão eram homens ímpios, e de que eram responsáveis pela morte de Coré, Datã e Abirão, pessoas que, segundo pensavam, teriam sido os salvadores dos hebreus introduzindo uma melhor ordem de coisas, onde louvor tomaria o lugar de reprovação, e paz o lugar de ansiedade e conflito. T3 356.2

No dia anterior, todo Israel tinha fugido alarmado com o grito dos pecadores condenados que desceram ao sepulcro; porque disseram: “Para que, porventura, também nos não trague a terra a nós.” “Mas, no dia seguinte, toda a congregação dos filhos de Israel murmurou contra Moisés e contra Arão, dizendo: Vós matastes o povo do Senhor.” Números 16:43, 41. Em sua indignação estavam prontos a usar de violência contra os homens designados por Deus, os quais, criam eles, tinham cometido grande erro matando aqueles que eram bons e santos. T3 357.1

Mas a presença do Senhor Se manifesta em Sua glória sobre o tabernáculo, e o Israel rebelde é detido em sua conduta louca e presunçosa. Do meio de Sua glória terrível, a voz de Deus fala agora a Moisés e Arão com a mesmas palavras com as quais no dia anterior tinham sido ordenados a dirigir-se à congregação de Israel: “Levantai-vos do meio desta congregação, e a consumirei como num momento.” Números 16:45. T3 357.2

Aqui encontramos uma demonstração notável da cegueira que envolverá a mente humana que se desvia da luz e da evidência. Aqui vemos a força de uma rebelião deliberada, e quão difícil é subjugá-la. Certamente os hebreus tinham tido a evidência mais convincente na destruição dos homens que os tinham enganado; mas eles ainda se mostravam ousados e desafiantes, e acusavam Moisés e Arão de matar homens bons e santos. “Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniqüidade e idolatria.” 1 Samuel 15:23. T3 357.3

Moisés não sentiu a culpa do pecado e não se afastou depressa à palavra do Senhor e não deixou a congregação perecer, como os hebreus tinham fugido das tendas de Coré, Datã e Abirão no dia anterior. Moisés demorou-se; porque não podia consentir em abandonar toda aquela congregação à morte, embora soubesse que mereciam a vingança de Deus por sua rebelião persistente. Prostrou-se diante do Senhor porque o povo não sentia a necessidade de humilhar-se; serviu-lhes de mediador porque não sentiam a necessidade de interceder em seu próprio favor. T3 357.4

Moisés aqui tipifica a Cristo. Nesse momento crítico, Moisés manifestou o interesse do Verdadeiro Pastor pelo rebanho a seu cuidado. Suplicou que a ira de um Deus ofendido não destruísse inteiramente o povo de Sua escolha. Por sua intercessão, ele reteve o braço da vingança, de modo que o Israel rebelde e desobediente não fosse inteiramente consumido. Indicou a Arão que conduta adotar naquela crise terrível quando a ira de Deus se manifestara e a praga tinha começado. Arão se levantou com seu incensário, agitando-o diante do Senhor, enquanto as intercessões de Moisés ascendiam com a fumaça do incenso. Moisés não ousou cessar suas súplicas. Apoderou-se da força do Anjo, como fez Jacó em sua luta, e como Jacó ele prevaleceu. Arão estava de pé entre os vivos e os mortos quando a benévola resposta veio: Ouvi sua oração, não consumirei completamente. Os próprios homens a quem a congregação desprezou e teria executado foram os que pleitearam a seu favor para que a espada vingadora de Deus fosse embainhada e o Israel pecador fosse poupado. T3 358.1