Conselhos sobre Mordomia

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Capítulo 42 — O perigo da cobiça

Muitos, do povo de Deus são entorpecidos pelo espírito do mundo, e estão negando sua fé pelas suas obras. Cultivam o amor ao dinheiro, às casas e terras, a ponto de isto lhes absorver as faculdades da mente e do ser e excluir o amor ao Criador e às pessoas por quem Cristo morreu. O deus deste mundo lhes cegou os olhos; seus interesses eternos se tornam secundários; e o cérebro, os ossos e os músculos são sobrecarregados ao máximo para lhes aumentar as posses terrenas. E todo esse acúmulo de cuidados e aflições é suportado em direta violação da exortação de Cristo: “Não ajunteis tesouros na Terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam.” CM 128.1

Esquecem-se de que Ele disse também: “Ajuntai para vós tesouros no Céu”; que assim fazendo estarão trabalhando em seu próprio interesse. O tesouro acumulado no Céu está seguro; ladrão algum pode aproximar-se nem a traça corroê-lo. Mas seu tesouro está na Terra, e têm suas afeições em seu tesouro. CM 128.2

A vitória de Cristo — Defrontou-Se Cristo, no deserto, com as maiores e principais tentações que assediaram ao homem. Ali, sozinho, encontrou-Se com o inimigo astuto e sutil, e o venceu. A primeira e grande tentação foi sobre o apetite; a segunda, a presunção; a terceira, o amor do mundo. A Cristo foram oferecidos os tronos e reinos do mundo e a glória deles. Satanás chegou com honras mundanas, riquezas e os prazeres da vida, e os apresentou na mais atraente luz, para seduzir e enganar. “Tudo isto”, disse ele a Cristo, “Te darei se, prostrado, me adorares.” Contudo Cristo repeliu o astuto inimigo, e saiu vitorioso. CM 128.3

Jamais será o homem provado com tentações tão fortes como as que assediaram a Cristo; no entanto, Satanás tem mais êxito em se aproximar do homem. “Todo este dinheiro, este ganho, esta terra, este poder, estas honras e riquezas, te darei” — pelo quê? Raramente é a condição pronunciada com tanta clareza como o foi a Cristo: “Se, prostrado, me adorares.” Ele se contenta em exigir que a integridade seja subjugada, a consciência, embotada. Pela dedicação aos interesses mundanos, recebe toda a homenagem que pede. Fica aberta a porta para ele entrar como quer, com o seu mau séquito de impaciência, amor-próprio, orgulho, avareza e desonestidade. O homem é atraído e traiçoeiramente seduzido para a ruína. CM 128.4

Diante de nós temos o exemplo de Cristo. Ele venceu a Satanás, mostrando-nos como também podemos vencer. Cristo resistiu a Satanás com as Escrituras. Poderia ter recorrido ao Seu próprio poder divino, e usado Suas próprias palavras; mas disse: “Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.” Fossem as Sagradas Escrituras estudadas e seguidas, e o cristão seria fortalecido para enfrentar o astuto inimigo; mas a Palavra de Deus é negligenciada, seguindo-se o desastre e a derrota. CM 129.1

O jovem rico — Um jovem foi a Cristo e disse: “Bom Mestre, que bem farei, para conseguir a vida eterna?” Jesus lhe ordenou que guardasse os mandamentos. Respondeu ele: “Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade: que me falta ainda?” Jesus olhou com amor para o jovem e fielmente lhe mostrou sua deficiência na observância da lei divina. Não amava ao próximo como a si mesmo. Seu amor egoísta às riquezas era um defeito, que, se não fosse reparado, o excluiria do Céu. “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-os aos pobres, e terás um tesouro no Céu; e vem, e segue-Me.” CM 129.2

Cristo queria que o jovem compreendesse que nada mais exigia dele senão que seguisse o exemplo que Ele mesmo, o Senhor do Céu, deixara. Abandonara Suas riquezas na glória, e Se tornara pobre, para que, pela Sua pobreza, o homem enriquecesse; e por amor dessas riquezas, pede ao homem que abandone as riquezas terrenas, a honra e o prazer. Ele sabe que enquanto as afeições estiverem voltadas para o mundo, serão desviados de Deus; portanto, disse ao jovem: “Vai, vende tudo o que tens e dá-os aos pobres, e terás um tesouro no Céu; e vem, e segue-Me.” Como recebeu ele as palavras de Cristo? Regozijou-se por poder alcançar o tesouro celeste? Oh, não! “Retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades.” Para ele as riquezas significavam honra e poder; e o grande vulto do seu tesouro faz com que tal venda pareça quase impossível. CM 129.3

Esse homem amante do mundo desejava o Céu, mas queria reter sua riqueza, e renunciou a vida imortal pelo amor ao dinheiro e ao poder. Oh, que infeliz troca! No entanto, muitos dos que professam estar guardando todos os mandamentos de Deus estão fazendo a mesma coisa. CM 129.4

Aqui está o perigo das riquezas para o avarento: quanto mais ganha tanto mais difícil lhe é ser generoso. Diminuir-lhe a riqueza é como separá-lo da vida; e ele se volta dos atrativos da recompensa imortal para reter e aumentar suas posses terrenas. Tivesse ele observado os mandamentos, e suas posses terrenas não teriam sido tão grandes. Enquanto delineava planos e se esforçava em favor de si mesmo, como poderia ele amar a Deus de todo o seu coração e de todas as suas forças, e ao próximo como a si mesmo? Tivesse ele distribuído para atender às necessidades dos pobres, conforme elas exigiam, e teria sido muito mais feliz e teria tido maior tesouro no Céu, e menos na Terra em que colocar as afeições. [...] CM 129.5

Responsáveis para com Deus — Disse Paulo: “Eu sou devedor, tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes.” Deus havia revelado Sua verdade a Paulo e, ao fazê-lo, tornara-o devedor àqueles que estavam nas trevas, quanto à iluminá-los. Mas muitos não reconhecem que têm de dar contas a Deus. Estão lidando com os talentos do Senhor; têm faculdades mentais, que, empregadas no rumo certo, torná-los-iam coobreiros de Cristo e dos anjos. Muitas pessoas poderiam ser salvas pelos seus esforços, para brilharem como estrelas na sua coroa de vitória. Mas eles a tudo isso são indiferentes. Pelas atrações deste mundo, Satanás tem procurado acorrentá-los e lhes paralisar as energias morais, e tem tido muito bom êxito. CM 130.1

Está em jogo o destino futuro — Como podem as casas e terras comparar-se, em valor, às preciosas pessoas por quem Cristo morreu? Por vosso intermédio, prezados irmãos e irmãs, podem essas pessoas ser salvas convosco no reino da glória; mas vós não podeis levar junto, a mínima parte de vosso tesouro terrestre. Adquiri o que puderdes, preservai-o com todo o cuidado que possais exercer, e ainda assim poderá sair ordem do Senhor e, em poucas horas, um fogo que perícia alguma pode apagar poderá destruir o que acumulastes em toda a vossa vida, e torná-lo um montão de ruínas fumegantes. Podereis dedicar todo o vosso talento e energia a ajuntar tesouros na Terra; mas de que vos servirão eles quando vossa vida terminar ou Jesus aparecer? Na mesma medida em que aqui tiverdes sido exaltados pelas honras e riquezas mundanos, com negligência da vida espiritual, nessa mesma medida caireis no valor moral diante do tribunal do grande Juiz. “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?” CM 130.2

A ira de Deus cairá sobre os que serviram a Mamom em vez de ao Criador. Mas os que vivem para Deus e para o Céu, mostrando aos outros o caminho da vida, verificarão que a vereda do justo é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito. E eles, afinal, ouvirão o bem-vindo convite: “Bem está, servo bom e fiel [...] entra no gozo do teu Senhor.” A alegria de Cristo era ver os salvos no Seu glorioso reino; e por esse gozo “suportou a cruz, desprezando a afronta”. Mas logo “o trabalho da Sua alma Ele verá, e ficará satisfeito”. Quão felizes serão aqueles a quem tendo partilhado de Sua obra, for permitido partilhar-Lhe o gozo! — The Review and Herald, 23 de Junho de 1885. CM 130.3

O poder enfeitiçante de Satanás — É propósito de Satanás tornar o mundo muito atraente. Ele tem um poder enfeitiçante que exerce para atrair as afeições até mesmo de professos seguidores de Cristo. Muitos professos cristãos há que farão qualquer sacrifício para obter riquezas, e quanto mais êxito tiverem em alcançar o objetivo de seus desejos, tanto menos se importarão com a preciosa verdade e seu progresso no mundo. Perdem o amor a Deus, e agem como homens dementes. Quanto mais prosperam na riqueza material, tanto menos investem na causa de Deus. CM 130.4

As obras dos que têm um amor louco às riquezas tornam evidente ser impossível servir a dois senhores, a Deus e a Mamom. Mostram ao mundo que seu deus é o dinheiro. Prestam homenagem a seu poder, e em todos os intentos e propósitos servem ao mundo. O amor ao dinheiro torna-se uma força dominante, e por sua causa violam a lei de Deus. Podem professar ter a religião de Cristo, mas não amam aos seus princípios nem lhes atendem as admoestações. Dão suas melhores energias ao serviço do mundo, e se prostram diante de Mamom. CM 131.1

É alarmante serem tantas pessoas enganadas por Satanás. Ele desperta a imaginação com brilhantes perspectivas de ganho mundano, e os homens ficam cheios de si, e pensam haver diante deles uma perspectiva de perfeita felicidade. São engodados pela esperança de obter honra, riqueza e posição. Satanás diz eles: “Tudo isto te darei, todo este poder e riqueza com os quais podereis fazer o bem aos vossos semelhantes”; mas quando o objetivo que buscam é alcançado, eles não se encontram em ligação com o abnegado Redentor; não são participantes da natureza divina. Apegam-se aos tesouros terrenos, e desprezam os requisitos da abnegação, sacrifício próprio e humilhação por amor à verdade. Nenhum desejo têm de se desfazerem dos acariciados tesouros terrenos nos quais seu coração está colocado. Têm trocado de amo, e aceitaram o serviço de Mamom em vez de o serviço de Cristo. Satanás tem assegurado para si o culto dessas pessoas enganadas, pelo amor dos tesouros terrestres. CM 131.2

Freqüentemente se verifica que a mudança da piedade para o mundanismo se efetuou de maneira tão imperceptível pelas astutas insinuações do maligno, que a pessoa enganada não percebe que abandonou a companhia de Cristo, e é Sua serva apenas no nome. — The Review and Herald, 23 de Setembro de 1890. CM 131.3

Abandono do espírito de sacrifício próprio dos pioneiros — Houve tempo em que apenas poucos havia que deram ouvidos à verdade e a abraçaram, e eles não tinham muito dos bens deste mundo. Então foi necessário alguns venderem suas casas e terras e obterem outras mais baratas, ao passo que seus recursos eram livremente emprestados ao Senhor, para publicar a verdade, e de outras maneiras ajudar a levar avante a causa de Deus. Essas pessoas abnegadas suportaram privações, mas se as suportarem até o fim, grande ser-lhes-á a recompensa. CM 131.4

Deus está tocando muitos corações. A verdade pela qual alguns tanto sacrificaram tem triunfado, e multidões a ela se têm apegado. Na providência de Deus, os que dispõem de meios têm sido trazidos para a verdade para que, conforme a obra for crescendo, as necessidades de Sua causa possam ser atendidas. Deus não pede agora as casas em que o povo de Deus precisa morar; mas se os que têm em abundância não Lhe ouvirem a voz, não se separarem do mundo e sacrificarem para Deus, Ele os dispensará e chamará os que estão desejosos de fazer qualquer coisa por Jesus, até mesmo vender suas casas para atender às necessidades da causa. Deus quer ofertas voluntárias. Os que dão devem considerar um privilégio fazê-lo. — The Review and Herald, 16 de Setembro de 1884. CM 131.5

O povo de Deus está sendo julgado pelo universo celeste; mas a escassez de suas dádivas e ofertas, e a debilidade de seus esforços no serviço de Deus, assinalam-nos como infiéis. Se o pouco que agora fazem fosse o melhor que podiam fazer, não estariam sob condenação; mas com os recursos que têm poderiam fazer muito mais. Eles sabem e o mundo também, que perderam, em grande escala, o espírito de abnegação e de levar a cruz. — Testimonies for the Church 6:445, 446. CM 132.1

Cada um é provado — A Mateus em sua abastança, como a André e Pedro em sua pobreza, a mesma prova foi apresentada; a mesma consagração foi feita por cada um. No momento do êxito, quando as redes estavam cheias de peixe, e mais fortes eram os impulsos do viver anterior, Jesus pediu aos discípulos junto ao mar que abandonassem tudo pela obra do evangelho. Assim toda pessoa é provada quanto a seu mais forte desejo — se bens temporais, se a companhia de Cristo. CM 132.2

O princípio é sempre de caráter exigente. Homem algum pode ser bem-sucedido no serviço de Deus, a menos que nele ponha inteiro o coração e repute todas as coisas por perda pela excelência do conhecimento de Cristo. Ninguém que faça qualquer reserva pode ser discípulo de Cristo, e muito menos Seu colaborador. Quando os homens apreciam a grande salvação, o espírito de sacrifício observado na vida de Cristo ver-se-á na sua. Por onde quer que Ele os guie, acompanhá-Lo-ão contentes. — O Desejado de Todas as Nações, 273. CM 132.3