A Ciência do Bom Viver (condensado)

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Capítulo 36 — O falso e o verdadeiro na educação

O mentor intelectual na confederação do mal trabalha continuamente para manter afastadas as palavras de Deus, e apresentar as opiniões dos homens. Ele quer que não ouçamos a voz de Deus dizendo: “Este é o caminho; andai nele”. Isaías 30:21. Mediante pervertidos processos educativos está ele fazendo o possível para obscurecer a luz celeste. CBVc 193.1

Especulações filosóficas e pesquisas científicas em que Deus não é reconhecido estão tornando céticos a milhares. Nas escolas de hoje são cuidadosamente ensinadas e amplamente expostas as conclusões a que os doutos têm chegado em resultado de suas pesquisas científicas; por outro lado é francamente dada a impressão de que, se esses homens estão certos, não o pode estar a Bíblia. O ceticismo exerce atração sobre o espírito humano. A juventude nele vê uma independência que lhe seduz a imaginação, e é iludida. Satanás triunfa. Ele alimenta toda semente de dúvida lançada no coração juvenil. Faz com que ela cresça e dê frutos, e resulta em farta colheita de incredulidade. CBVc 193.2

É por ser o coração humano tão inclinado ao mal que se torna tão perigoso semear o ceticismo nos espíritos jovens. Seja o que for que enfraqueça a fé em Deus, rouba a alma do poder de resistir à tentação. Remove a única salvaguarda real contra o pecado. Precisamos de escolas em que a juventude aprenda que a grandeza consiste em honrar a Deus mediante a revelação de Seu caráter na vida diária. Necessitamos aprender acerca de Deus por meio de Sua Palavra e obras, a fim de nossa vida poder cumprir o Seu desígnio. CBVc 193.3

Autores incrédulos — Para educar-se, muitos julgam ser essencial estudar os escritos dos autores incrédulos, visto essas obras conterem muitas brilhantes gemas de pensamento. Quem foi, porém, o autor dessas jóias de pensamento? Deus, e unicamente Ele. É Ele a fonte de toda luz. Por que haveríamos então de vadear pela massa de erros contidos nas obras dos incrédulos, por amor de algumas verdades intelectuais, quando temos a verdade toda à nossa disposição? CBVc 193.4

Como os homens que se acham em guerra com o governo de Deus chegam a ficar de posse da sabedoria que por vezes manifestam? O próprio Satanás foi educado nas cortes celestes, e tem o conhecimento do bem da mesma maneira que do mal. Mistura o precioso com o vil, e é isto que o habilita a enganar. Mas, pelo fato de se haver Satanás revestido de roupagens de celeste esplendor, havemos de recebê-lo como anjo de luz? O tentador tem agentes, educados segundo seus métodos inspirados por seu espírito, e adaptados a sua obra. Cooperaremos nós com eles? Receberemos as obras desses instrumentos como essenciais à educação que desejamos obter? CBVc 193.5

Se o tempo e os esforços gastos em tentar aprender as luminosas idéias dos incrédulos fossem consagrados a estudar as preciosidades da Palavra de Deus, milhares dos que agora se acham assentados em trevas e sombras de morte se estariam regozijando na glória da Luz da vida. CBVc 194.1

Saber histórico e teológico — Muitos julgam ser essencial, como preparo para a obra cristã, adquirir amplos conhecimentos dos escritos históricos e teológicos. Supõem que esse conhecimento lhes será de utilidade no ensino do evangelho. Mas seu laborioso estudo das opiniões dos homens tende a enfraquecer-lhes o ministério, em vez de fortalecê-lo. Quando vejo bibliotecas cheias de alentados volumes de conhecimentos de História e Teologia, penso: Por que gastar dinheiro naquilo que não é pão? O sexto capítulo de João nos diz mais do que se pode encontrar em tais obras. Cristo diz: “Eu sou o pão da vida; Aquele que vem a Mim não terá fome; e quem crê em Mim nunca terá sede. Eu sou o pão vivo que desceu do Céu; se alguém comer desse pão, viverá para sempre. [...] Aquele que crê em Mim tem a vida eterna. As palavras que Eu vos disse são Espírito e vida”. João 6:35, 51, 47, 63. CBVc 194.2

Há um estudo de História que não é condenável. A história sagrada era um dos estudos das escolas dos profetas. No registro de Seu trato com as nações, foram delineadas as pegadas de Jeová. Assim hoje em dia cumpre-nos considerar Seu trato com as nações da Terra. Devemos ver na História o cumprimento da profecia, estudar as operações da Providência nos grandes movimentos de reforma, e entender o progresso dos acontecimentos ao ver as nações mobilizando-se para o final combate do grande conflito. CBVc 194.3

Tal estudo proporcionará amplas e compreensivas visões da vida. Auxiliar-nos-á a entender alguma coisa de suas relações e dependências, quão maravilhosamente nos achamos ligados na grande fraternidade social e das nações, e em que grande medida a opressão e o aviltamento de um membro importam em prejuízo de todos. CBVc 194.4

Mas a História como é comumente estudada ocupa-se com os feitos dos homens, suas vitórias nas batalhas, seu êxito na realização do poder e da grandeza. Perde-se de vista a atuação de Deus nos negócios dos homens. Poucos são os que estudam o desenvolvimento de Seu desígnio no reerguimento e queda das nações. CBVc 194.5

E, em alto grau, a teologia, segundo é estudada e ensinada, não passa de um registro de especulações humanas, servindo apenas para escurecer “o conselho com palavras sem conhecimento”. Jó 38:2. Com demasiada freqüência o motivo de acumular esses muitos livros não é tanto o desejo de obter alimento para a mente e a alma, como a ambição de se relacionar com os filósofos e teólogos, o desejo de apresentar ao povo o cristianismo em termos e frases eruditos. CBVc 195.1

Nem todos os livros escritos podem servir aos desígnios de uma vida santa. “Aprendei de Mim”, disse o grande Mestre. “Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração”. Mateus 11:29. Vosso orgulho intelectual não vos ajudará em comunicar com as almas que estão perecendo por falta do pão da vida. Em vosso estudo desses livros, estais permitindo que eles tomem o lugar das lições práticas que devíeis estar aprendendo de Cristo. O povo não se alimenta com os resultados deste estudo. Bem pouco das pesquisas tão fatigantes para a mente proporciona qualquer coisa de valioso para alguém se tornar um bem-sucedido obreiro em favor da salvação. CBVc 195.2

O Salvador veio “evangelizar os pobres”. Lucas 4:18. Em Seus ensinos empregava os termos mais simples e os mais singelos símbolos. E foi dito que “a grande multidão O ouvia de boa vontade”. Marcos 12:37. Os que estão buscando fazer Sua obra neste tempo necessitam mais profunda visão das lições por Ele dadas. CBVc 195.3

As palavras do Deus vivo constituem a mais elevada educação. Os que ministram ao povo precisam comer do pão da vida. Isso lhes dará vigor espiritual; estarão assim preparados para ajudar a todas as classes de gente. CBVc 195.4

A literatura sensacionalista — Muitas das publicações hoje se acham repletas de histórias sensacionais, que estão educando os jovens na impiedade, e conduzindo-os ao caminho da perdição. Muitas crianças na idade são velhos no conhecimento do crime. São incitadas ao mal pelos contos que lêem. Ensaiam, na imaginação, os atos descritos, até que se lhes desperta a ambição de ver de que são capazes quanto a cometer crimes e escapar à pena. CBVc 195.5

Para a viva imaginação das crianças e jovens, as cenas descritas em imaginárias revelações do futuro são realidades. Ao serem preditas revoluções e descrita toda forma de acontecimentos que derribam as barreiras da lei e da restrição ao próprio eu, muitos se possuem do espírito dessas imaginações. São levados à prática de crimes ainda piores, se possível, que os descritos por esses escritores sensacionalistas. Mediante influências assim a sociedade está se desmoralizando. As sementes da anarquia são amplamente difundidas. Ninguém se maravilhe se a colheita de crimes é o fruto. CBVc 195.6

Obras de romance, frívolos e provocantes contos, pouco menos ruinosos são ao leitor. Talvez o autor professe ensinar uma lição de moral, pode entretecer na obra sentimentos religiosos; freqüentemente, porém, isso não serve senão para velar a loucura e a vileza que se acham no fundo. CBVc 195.7

O mundo está inundado de livros repletos de erros sedutores. A juventude recebe como verdade aquilo que a Bíblia denuncia como falso, e amam e se apegam a enganos que importam em ruína para sua salvação. CBVc 196.1

Há obras de ficção que foram escritas com o objetivo de ensinar verdades ou expor algum grande mal. Algumas dessas obras têm feito bem. Têm, por outro lado, operado indizível dano. Encerram declarações e descrições altamente elaboradas, que despertam a imaginação e suscitam uma corrente de pensamentos repleta de perigo, especialmente para os jovens. As cenas descritas são repetidamente vividas em sua imaginação. Tais leituras incapacitam a mente para a utilidade, tornando-a inapta para os exercícios espirituais. Destroem o interesse na Bíblia. As coisas celestiais pouco lugar encontram nos pensamentos. À medida que a mente se demora nas cenas de impureza descritas, desperta-se a paixão, e o fim é o pecado. CBVc 196.2

Mesmo a ficção que não contém nenhuma sugestão de impureza, e que visa ensinar excelentes princípios, é nociva. Anima o hábito da leitura apressada e superficial, unicamente pela história. Tende assim a destruir a faculdade de pensar com coerência e vigor; incapacita a alma para contemplação dos grandes problemas do dever e do destino. CBVc 196.3

Alimentando o amor de mera distração, a leitura de ficção cria um desgosto pelos deveres práticos da vida. Por meio de seu poder estimulante e intoxicador, é freqüente causa de enfermidades mentais e físicas. Muito desgraçado e negligenciado lar, muito inválido por toda a existência, muito interno de asilo de alienados, chegou a esse estado mediante o hábito da leitura de romances. CBVc 196.4

Alega-se muitas vezes que, a fim de se desviar a juventude das leituras sensacionais e indignas, deveríamos proporcionar-lhes melhor espécie de leitura de ficção. Isso equivale a tentar a cura de um bêbado dando-lhe, em lugar de uísque ou aguardente, os intoxicantes mais brandos, como vinho, cerveja ou sidra. O uso desses animaria continuamente o desejo dos estimulantes mais fortes. A única segurança para os bêbados, bem como para o homem temperante, é a total abstinência. A mesma regra se aplica ao amante de ficção. Sua única segurança é a total abstinência. CBVc 196.5

Mitos e contos de fadas — Na educação das crianças e dos jovens, dá-se agora importante lugar aos contos de fadas, mitos e histórias imaginárias. Usam-se nas escolas livros desta natureza, e encontram-se também os mesmos em muitos lares. Como podem pais cristãos permitir que seus filhos usem livros tão cheios de mentiras? Quando as crianças pedem a explicação de histórias tão contrárias aos ensinos recebidos de seus pais, a resposta é que essas histórias não são verdadeiras; mas isso não dissipa os maus resultados de seu uso. As idéias apresentadas nesses livros desencaminham as crianças. Comunicam falsas idéias da vida, suscitando e nutrindo o desejo pelo irreal. CBVc 196.6

O vasto uso desses livros em nossos dias é um dos astutos planos de Satanás. Ele está procurando desviar a mente, tanto de idosos como de jovens, da grande obra da formação do caráter. Pretende que nossas crianças e jovens sejam devastados pelos enganos destruidores da alma com que ele está enchendo o mundo. Portanto, busca desviar-lhes a mente da Palavra de Deus, impedindo-os assim de obter o conhecimento das verdades que os salvaguardariam. CBVc 197.1

Nunca deveriam ser colocados nas mãos da infância e da juventude livros que contenham uma perversão da verdade. Não permitamos que nossos filhos, no próprio processo de adquirir educação, recebam idéias que se demonstrarão sementes de pecado. Se os de espírito amadurecido nada tiverem que ver com tais livros, achar-se-ão, mesmo eles, muito mais a salvo, e seu exemplo bem como sua influência do lado do correto tornaria muito menos difícil guardar a juventude da tentação. CBVc 197.2

Temos abundância do que é real, do que é divino. Os que têm sede de conhecimento não precisam dirigir-se a fontes poluídas. Diz o Senhor: CBVc 197.3

“Inclina o teu ouvido, e ouve as palavras dos sábios,
e aplica o teu coração à Minha ciência.
Para que a tua confiança esteja no Senhor,
a ti tas faço saber hoje. [...]
“Porventura, não te escrevi excelentes coisas
acerca de todo conselho e conhecimento,
para te fazer saber a certeza das palavras de verdade,
para que possas responder palavras de verdade aos que te enviarem?” Provérbios 22:17, 19-21.
CBVc 197.4

O ensino de Cristo — Assim também Cristo apresentou os princípios da verdade no evangelho. Podemos, em Seus ensinos, beber das puras correntes que brotam do trono de Deus. Cristo poderia haver comunicado aos homens conhecimentos que ultrapassariam a quaisquer revelações anteriores, deixando para trás todas as outras descobertas. Poderia haver descerrado mistério após mistério, e fazer concentrar em torno dessas maravilhosas revelações o ativo e diligente pensamento das sucessivas gerações até ao fim do tempo. Do ensino da ciência da salvação, não tirou um momento. Seu tempo, Suas faculdades e Sua vida só eram apreciadas e empregadas em prol da salvação das almas humanas. Ele viera buscar e salvar o que se tinha perdido, e não Se desviaria de Seu propósitos. Não permitiria que coisa alguma O distraísse. CBVc 197.5

Cristo só comunicava o conhecimento que podia ser utilizado. As instruções que dava ao povo limitavam-se às próprias necessidades que tinham na vida prática. Não satisfazia à curiosidade que os levava a ir ter com Ele com indagadoras perguntas. Todas essas perguntas em ocasiões para solenes, fervorosos e vitais apelos. Aos que se mostravam tão ansiosos de colher da árvore do conhecimento, oferecia o fruto da árvore da vida. Encontravam cerrados todos os caminhos que não fossem aqueles que conduzem a Deus. Fechadas estavam todas as fontes, a não ser a da vida eterna. CBVc 197.6

Nosso Salvador não animava ninguém a freqüentar as escolas dos rabinos de Sua época, pelo fato de que a mente se corromperia com o continuamente repetido: “Dizem”, ou: “Foi dito”. Como, pois, devemos nós aceitar as instáveis palavras humanas como exaltada sabedoria, quando se encontra ao nosso alcance uma sabedoria maior e infalível? CBVc 198.1

O que tenho visto das coisas eternas, bem como o que tenho testemunhado da fraqueza da humanidade, tem-me impressionado profundamente o espírito e influenciado a obra de minha vida. Nada vejo por que seja o homem louvado ou glorificado. Não vejo razão alguma para que as opiniões dos sábios mundanos e dos chamados grandes homens devam merecer confiança e ser exaltadas. Como podem aqueles que se acham destituídos de divina iluminação possuir idéias acertadas quanto aos planos e aos caminhos de Deus? Eles ou O negam inteiramente e passam por alto Sua existência, ou limitam-Lhe o poder segundo suas próprias finitas concepções. CBVc 198.2

Prefiramos ser instruídos por Aquele que criou os céus e a Terra, que pôs por ordem as estrelas no firmamento, e ao Sol e à Lua designou a sua obra. CBVc 198.3

É justo que a juventude sinta dever atingir o mais alto desenvolvimento das faculdades mentais. Não quereríamos restringir a educação a que Deus não pôs limites. Mas nossas realizações de nada valerão se não forem utilizadas para honra de Deus e bem da humanidade. CBVc 198.4

Não é bom sobrecarregar a mente de estudos que exigem intensa aplicação, mas que não são introduzidos na vida prática. Tal educação será prejudicial ao estudante. Pois esses estudos diminuem o desejo e a inclinação para aqueles outros que o habilitariam a ser útil, e o tornariam capaz de se desempenhar de suas responsabilidades. Um preparo prático é muito mais valioso que qualquer soma de teoria. Não é suficiente possuir conhecimentos. Precisamos ter habilidade para empregá-los devidamente. CBVc 198.5

O tempo, os meios e o estudo que tantos gastam para obter uma educação relativamente inútil deviam ser consagrados em adquirir um preparo que os tornasse homens e mulheres práticos, aptos a assumir as responsabilidades da vida. Tal educação teria o mais alto valor. CBVc 198.6

O que precisamos é de conhecimento que robusteça a mente e a alma, que nos torne homens e mulheres melhores. A educação do coração é de valor incomparavelmente maior que o mero saber dos livros. É bom, essencial mesmo, possuir conhecimento do mundo em que vivemos; mas se deixarmos a eternidade fora de nossas cogitações, sofreremos um fracasso de que jamais nos poderemos reabilitar. CBVc 198.7

Um estudante pode consagrar todas as suas faculdades à aquisição de conhecimento; mas, a menos que possua conhecimento de Deus, a menos que obedeça às leis que lhe governam o ser, destruir-se-á. Mediante hábitos errôneos, perde a faculdade da apreciação de si mesmo; perde o domínio próprio. Não lhe é possível raciocinar acertadamente quanto ao que mais intimamente o interessa. É descuidado e irracional no tratamento da mente e do corpo. Mediante a negligência no cultivo dos justos princípios, arruína-se tanto para este mundo como para o futuro. CBVc 198.8

Se a juventude compreendesse a própria fraqueza, buscaria em Deus a sua força. Se os jovens buscarem ser ensinados por Ele, se tornarão sábios em Sua sabedoria, a vida lhes será frutífera em bênçãos para o mundo. Se, porém, dedicarem a mente a mero estudo especulativo e mundano, separando-se assim de Deus, perderão tudo quanto enriquece a vida. CBVc 199.1