A Ciência do Bom Viver (condensado)

35/42

Capítulo 35 — O perigo do conhecimento especulativo

Um dos maiores males que acompanham a busca do conhecimento, as pesquisas da ciência, é a disposição de exaltar o raciocínio humano acima de seu real valor e sua devida esfera. Muitos tentam julgar o Criador e Suas obras mediante o imperfeito conhecimento que possuem da ciência. Esforçam-se por determinar a natureza e os atributos e as prerrogativas de Deus, e condescendem com teorias especulativas com relação ao Infinito. Os que se entregam a esse ramo de estudo estão pisando terreno proibido. Suas pesquisas não produzirão resultados de valor, só podendo ser prosseguidas com perigo para a alma. CBVc 188.1

Nossos primeiros pais foram induzidos ao pecado mediante a condescendência com o desejo de conhecimento que lhes fora vedado por Deus. Procurando adquirir esse conhecimento, perderam tudo quanto valia a pena possuir-se. Se Adão e Eva nunca houvessem tocado a árvore proibida, Deus lhes haveria comunicado conhecimento sobre o qual não haveria pousado qualquer maldição de pecado, conhecimento que lhes haveria trazido perpétua alegria. Tudo quanto eles obtiveram por dar ouvidos ao tentador foi o relacionarem-se com a ciência do pecado e seus resultados. Por sua desobediência, a humanidade foi afastada de Deus, e a Terra separada do Céu. CBVc 188.2

Apliquemos a nós esta lição. O campo a que Satanás levou nossos primeiros pais é o mesmo a que ele está hoje em dia seduzindo os homens. Está inundando o mundo de aprazíveis fábulas. Por todos os meios ao seu alcance, tenta os homens a especular com relação a Deus. Busca assim impedi-los de obter a Seu respeito aquele conhecimento que é salvação. CBVc 188.3

Teorias panteístas — Ensinos espiritualistas que minam a fé em Deus e em Sua Palavra estão atualmente penetrando as instituições educativas e as igrejas por toda parte. A teoria de que Deus é uma essência que penetra toda a natureza é aceita por muitos que professam crer nas Escrituras; mas, se bem que revestida de belas roupagens, essa teoria é perigosíssimo engano. Ela representa falsamente a Deus, sendo uma desonra para Sua grandeza e majestade. E tende por certo não somente a extraviar como a rebaixar os homens. As trevas são o seu elemento, a sensualidade a sua esfera. O resultado de aceitá-la é separação de Deus. E para a caída natureza humana isso resulta em ruína. CBVc 188.4

Devido ao pecado, nossa condição não é natural, e deve ser sobrenatural o poder que nos restaura, do contrário, não tem valor. Existe unicamente um poder capaz de quebrar o domínio do mal no coração dos homens, e esse é o poder de Deus em Jesus Cristo. Unicamente por meio do sangue do Crucificado existe purificação do pecado. Sua graça, tão-somente, nos habilita a resistir e subjugar as tendências de nossa natureza caída. As teorias espiritualistas a respeito de Deus tornam Sua graça de nenhum efeito. Se Deus é uma essência que permeia toda a natureza, habita por conseguinte em todos os homens; e, para atingir a santidade, o homem não tem senão que desenvolver o poder que está dentro dele mesmo. CBVc 189.1

Seguidas até sua conclusão lógica, essas teorias assolam toda a dispensação cristã. Removem a necessidade da expiação, tornando o homem seu próprio salvador. Essas teorias acerca de Deus fazem de nenhum efeito a Sua Palavra, e os que as aceitam estão em maior risco de vir afinal a considerar a Bíblia inteira como uma ficção. Podem considerar a virtude como superior ao vício; havendo, porém, excluído a Deus de Sua devida posição de soberania, põem sua confiança no poder humano, o qual, sem Deus, é destituído de valor. A vontade humana, desajudada, não tem nenhum poder real para resistir ao mal e vencê-lo. As defesas da alma acham-se derribadas. O homem não tem barreiras contra o pecado. Uma vez rejeitadas as restrições da Palavra de Deus e de Seu Espírito, não sabemos a que profundezas uma pessoa pode imergir. CBVc 189.2

“Toda Palavra de Deus é pura;
escudo é para os que confiam nEle.
Nada acrescentes às Suas palavras,
para que não te repreenda,
e sejas achado mentiroso”. Provérbios 30:5, 6.
CBVc 189.3

“Quanto ao ímpio, as suas iniqüidades o prenderão,
e, com as cordas do seu pecado, será detido”. Provérbios 5:22.
CBVc 189.4

Interesse nos mistérios divinos — “As coisas encobertas são para o Senhor, nosso Deus; porém as reveladas são para nós e para nossos filhos, para sempre”. Deuteronômio 29:29. A revelação que Deus de Si mesmo deu em Sua Palavra é para nosso estudo. Esta, podemos procurar compreender. Mas além disto não devemos penetrar. O mais elevado intelecto pode esforçar-se até à exaustão em conjeturas concernentes à natureza de Deus, mas infrutíferos serão os esforços. Esse problema não nos foi dado a solver. Nenhuma mente humana pode compreender a Deus. Ninguém se deve entregar a especulações com referência a Sua natureza. A esse respeito, o silêncio é eloqüente. O Onisciente está acima de discussão. CBVc 189.5

Mesmo os anjos não tiveram permissão de partilhar nos conselhos entre o Pai e o Filho quando foi delineado o plano da salvação. E as criaturas humanas não se devem intrometer nos segredos do Altíssimo. Somos tão ignorantes acerca de Deus como criancinhas; mas, como criancinhas, é-nos dado amá-Lo e obedecer-Lhe. Em lugar de especular quanto a Sua natureza ou Suas prerrogativas, demos ouvidos às palavras que falou: CBVc 190.1

“Porventura, alcançarás os caminhos de Deus ou chegarás à perfeição do Todo-poderoso?
Como as alturas dos céus é a Sua sabedoria; que poderás tu fazer?
Mais profunda é ela do que o inferno; que poderás tu saber?
Mais comprida é a sua medida do que a Terra; e mais larga do que o mar”. Jó 11:7-9.
CBVc 190.2

Nem sondando os recessos da Terra, nem mediante vãos esforços para penetrar os mistérios do divino Ser, se encontra a sabedoria. Ela é antes encontrada no humilde recebimento da revelação que Lhe tem parecido bem conceder-nos, e na conformação da vida com a Sua vontade. CBVc 190.3

Os homens de mais poderoso intelecto não podem compreender os mistérios de Jeová, segundo se revelam em a natureza. A inspiração divina faz muitas perguntas que o mais profundo erudito não sabe responder. Essas perguntas não foram feitas para que as respondêssemos, mas para chamar nossa atenção para os profundos mistérios de Deus, e ensinar-nos a limitação de nossa sabedoria. No que nos rodeia na vida diária, existem muitas coisas além da compreensão de seres finitos. CBVc 190.4

Os céticos recusam-se a crer em Deus, porque não podem compreender o infinito poder pelo qual Ele Se revela. Mas Deus deve ser reconhecido, tanto pelo que não revela de Si mesmo como por aquilo que é franqueado à nossa limitada compreensão. Tanto na divina revelação como na natureza, Ele deixou mistérios a fim de reclamar a nossa fé. Assim deve ser. Devemos estar sempre indagando, sempre pesquisando, sempre aprendendo, e resta todavia um infinito para o além. CBVc 190.5

“Por que, pois, dizes, ó Jacó, e tu falas, ó Israel:
o Meu caminho está encoberto ao Senhor,
e o meu juízo passa de largo pelo meu Deus?
Não sabes, não ouviste que o eterno Deus,
o Senhor, o Criador dos confins da Terra, nem Se cansa,
nem Se fatiga? Não há esquadrinhação do Seu entendimento”. Isaías 40:25-28.
CBVc 190.6

Aprendamos, das revelações dadas pelo Espírito Santo a Seus profetas, a grandeza de nosso Deus. Escreve o profeta Isaías: “No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e o Seu séquito enchia o templo. Os serafins estavam acima dEle; cada um tinha seis asas: com duas cobriam o rosto, e com duas cobriam os pés, e com duas voavam. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a Terra está cheia da Sua glória. E os umbrais das portas se moveram com a voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça. CBVc 190.7

“Então, disse eu: Ai de mim, que vou perecendo! Porque eu sou um homem de lábios impuros e habito no meio de um povo de impuros lábios; e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos! CBVc 191.1

“Mas um dos serafins voou para mim trazendo na mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz; e com ela tocou a minha boca e disse: Eis que isto tocou os teus lábios; e a tua iniqüidade foi tirada, e purificado o teu pecado”. Isaías 6:1-7. CBVc 191.2

À medida que aprendermos mais acerca de Deus e de nós mesmos, do que somos aos Seus olhos, havemos de temer e tremer diante dEle. Que os homens de hoje sejam advertidos pela situação daqueles que, antigamente, presumiram permitindo-se liberdade com aquilo que Deus declara santo. Quando os israelitas se atreveram a abrir a arca, ao voltar ela da terra dos filisteus, sua irreverente ousadia foi assinaladamente punida. CBVc 191.3

Considerai ainda o juízo que caiu sobre Uzá. Quando, no reinado de Davi, a arca ia sendo levada a Jerusalém, Uzá estendeu a mão para mantê-la firme. Por ousar tocar o símbolo da presença de Deus, foi ferido de morte instantânea. CBVc 191.4

Na sarça ardente, quando Moisés, não reconhecendo a presença de Deus, dirigiu-se para contemplar a maravilhosa visão, foi dada a ordem: “Não te chegues para cá; tira os teus sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa. [...] E Moisés encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus”. Êxodo 3:5, 6. CBVc 191.5

“Partiu, pois, Jacó de Berseba, e foi-se a Harã. E chegou a um lugar onde passou a noite, porque já o Sol era posto; e tomou uma das pedras, [...] e a pôs por sua cabeceira, e deitou-se naquele lugar. E sonhou: e eis era posta na terra uma escada cujo topo tocava nos céus, e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela. E eis que o Senhor estava em cima dela e disse: Eu sou o Senhor, o Deus de Abraão, teu pai, e o Deus de Isaque. Esta terra em que estás deitado ta darei a ti e à tua semente. E eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra; porque te não deixarei, até que te haja feito o que te tenho dito. Acordado, pois, Jacó do seu sono, disse: Na verdade o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia. E temeu e disse: Quão terrível é este lugar! Este não é outro lugar senão a Casa de Deus; e esta é a porta dos Céus”. Gênesis 28:10-13, 15-17. CBVc 191.6

No santuário do tabernáculo do deserto e do templo, que eram os símbolos terrestres da habitação de Deus, um aposento era sagrado por Sua presença. O véu bordado de querubins, à sua entrada, não devia ser erguido por nenhuma mão, com exceção de uma. Levantar aquele véu, e entrar, sem ser mandado, no sagrado mistério do santo dos santos, importava em morte. Pois acima do propiciatório repousava a glória do Santíssimo — glória a que homem algum podia olhar e viver. No dia do ano que era designado para ministrar no lugar santíssimo, o sumo sacerdote, tremendo, entrava à presença de Deus, ao passo que nuvens de incenso velavam a seus olhos a glória. Por todo o pátio do templo silenciava tudo. Nenhum sacerdote ministrava no altar. A hoste de adoradores, curvados em silencioso respeito, orava implorando a misericórdia de Deus. CBVc 191.7

“Tudo isso lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos.” 1 Coríntios 10:11. “O Senhor está no Seu santo templo; cale-se diante dEle toda a Terra”. Habacuque 2:20. CBVc 192.1

O homem não pode, mediante pesquisas, achar a Deus. Ninguém, com mão presunçosa, busque erguer o véu que Lhe oculta a glória. “Insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis, os Seus caminhos!” Romanos 11:33. É uma prova de Sua misericórdia o ser oculto o Seu poder; pois erguer o véu que oculta a divina presença é morte. Nenhuma mente humana pode penetrar no retiro em que o Poderoso habita e opera. Unicamente aquilo que Ele acha por bem revelar podemos dEle compreender. A razão precisa reconhecer uma autoridade superior a ela. O coração e o intelecto precisam dobrar-se diante do grande Eu Sou. CBVc 192.2