Conselhos aos Idosos

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Os testamentos devem resistir á prova da lei

Muitos testamentos foram feitos de modo tão vago que não tiveram validade perante a lei, e deste modo grandes somas para a causa foram perdidas. Nossos irmãos devem reconhecer que sobre eles, como fiéis servos na causa de Deus, pesa a responsabilidade de agir prudentemente nesses casos, a fim de assegurar para o Senhor o que Lhe pertence. CId 104.2

Muitos manifestam nesse aspecto uma delicadeza descabida. Procedem como se estivessem pisando terreno proibido quando apresentam a pessoas de idade avançada ou inválidos o assunto de seus bens, a fim de saber como pretendem dispor deles. Entretanto, é este um dever tão sagrado como pregar o Evangelho para a salvação de almas. Consideremos uma pessoa que tem dinheiro e propriedades de Deus em suas mãos. Ela está prestes a transferir sua mordomia. Colocará ela os recursos, que de Deus recebeu emprestados para serem usados em Sua obra, nas mãos de ímpios, simplesmente por serem estes seus parentes? Não devem homens cristãos tomar o devido interesse e experimentar ansiedade, tanto pelo bem-estar futuro dessa pessoa como pelos interesses da causa de Deus, a fim de que disponha retamente dos bens de seu Senhor — os talentos que lhe foram confiados para sábio uso? Quererão seus irmãos que a assistem, vê-la deixar esta vida, ao mesmo tempo privando de recursos a tesouraria de Deus? Isto significaria uma perda tremenda para ela e para a causa; porque, abandonando seus talentos nas mãos de indivíduos que não têm nenhuma consideração pela verdade divina, de caso pensado coloca os talentos em um lenço e os esconde na terra. CId 104.3

Deus deseja que Seus seguidores disponham pessoalmente de seus bens, enquanto isso lhes seja possível. Dirá alguém: “Temos porventura de renunciar a tudo que consideramos nossa propriedade?” Pode isto não nos ser exigido ainda, mas devemos estar prontos a fazê-lo por amor de Cristo. Devemos reconhecer que nossas propriedades são totalmente Suas, e usá-las liberalmente quando o progresso da obra o exigir. Muitos fecham os ouvidos aos pedidos de dinheiro para enviar missionários ao estrangeiro, e para a difusão da verdade por meio de impressos que devem ser espalhados por todo o mundo como folhas de outono. CId 105.1

Essas pessoas justificam sua avareza, alegando que tomaram disposições que deverão revelar sua caridade por ocasião da morte. Na disposição de sua última vontade, contemplaram a obra de Deus. Por isso conduzem uma vida de avareza, roubam a Deus nos dízimos e ofertas, e pelo seu testamento Lhe restituem apenas pequena parte do que lhes confiou, enquanto a parte maior reverte para os parentes, que não tomam nenhum interesse pela verdade. Constitui esta uma das piores formas de roubo. Roubam a Deus daquilo que Lhe devem, e isto não só durante a vida mas também na morte. CId 106.1

É completa loucura deixar até quase à hora da morte a preparação para a vida futura. É também um erro grave protelar a resposta aos apelos de liberalidade para a obra de Deus, até o tempo de transferir a outros a mordomia. Aqueles a quem confiarem os talentos que de Deus receberam podem não administrá-los assim como vocês o têm feito. Como poderão pessoas abastadas arriscar-se a tanto? Os que esperam até à hora da morte para dispor sobre seus bens, parece que o fazem mais por causa da morte do que por amor a Deus. Assim procedendo, muitos estão agindo em oposição direta ao plano que Deus estabeleceu em Sua Palavra. Se quiserem fazer bem, devem aproveitar os preciosos momentos do presente, e empenhar todos os esforços, como que temendo perder a oportunidade favorável para o fazer. CId 106.2

Os que negligenciam deveres de que estão perfeitamente inteirados, deixando de corresponder às reivindicações que Deus lhes faz nesta vida, e procurando acalmar a consciência com o propósito de por ocasião de sua morte estabelecer um legado, não receberão da parte do Mestre palavras de aprovação nem recompensa. Eles não praticaram abnegação, mas retiveram egoistamente seus recursos enquanto puderam, renunciando-os só quando a morte os levou. CId 106.3

Se fossem cristãos verdadeiros, praticariam em vida, estando ainda sãos e fortes, o que transferem até estarem prestes a morrer. Dedicariam a Deus o próprio ser e o que possuem, e conquanto agindo como Seus mordomos, teriam a satisfação de estar cumprindo seu dever. Como executores de seus próprios testamentos poderiam por si mesmos satisfazer às reivindicações divinas, em vez de deixar a responsabilidade disso a outros. CId 107.1

Devemos considerar-nos despenseiros da propriedade do Senhor, e a Deus como Proprietário absoluto, a quem devemos entregar o que é Seu, quando Ele o requer. Quando Ele vier para receber com juros o que Lhe pertence, os cobiçosos se persuadirão de que, em vez de ter multiplicado seus talentos, acarretaram sobre si mesmos a condenação pronunciada contra o servo mau e infiel. CId 107.2

O Senhor deseja que a morte de Seus servos seja sentida como uma perda por causa da boa influência que exerceram e das muitas ofertas voluntárias que entregaram para abastecer o tesouro de Deus. Legados deixados ao morrer são uma miserável compensação da beneficência que se deveria praticar em vida. Os servos de Deus devem fazer seus legados todos os dias por meio de boas obras e ofertas liberais ao Senhor. Não devem contentar-se com dar a Deus uma porção desproporcionadamente pequena, em comparação ao que gastam consigo mesmos. Ao fazer seus legados cada dia, lembrarão dos objetivos e amigos que maior lugar ocupam em suas afeições. CId 107.3

Seu melhor amigo é Cristo. Ele não lhes negou a própria vida, e por amor deles Se fez pobre para que por Ele enriquecessem. Merece, portanto, todo o nosso coração, nossos bens, tudo quanto temos e somos. Mas muitos supostos cristãos protelam em vida as reivindicações de Jesus e O insultam na morte, dando-Lhe uma parte mesquinha de seus bens. CId 107.4

Lembrem-se todos que estiverem nessa classe de que essa maneira de roubar a Deus não é um ato impulsivo, mas um plano premeditado que eles prefaciam dizendo: “Estando em pleno uso de suas faculdades mentais.” Depois de haverem defraudado a obra de Deus durante a vida, perpetuam essa fraude após a morte e com pleno apoio de todas as faculdades mentais. Tal testamento muitos consideram um suave travesseiro em que reclinar a cabeça na hora da morte. Representa uma espécie de preparação para a morte, e é arranjado de modo que seus bens não os perturbem ao exalarem o último alento. Poderão essas pessoas descansar tranqüilamente a respeito das contas que lhes hão de ser pedidas de sua mordomia? CId 108.1

Devemos ser todos ricos em boas obras se queremos garantir-nos a vida futura e imortal. Quando o juízo se instituir e os livros forem abertos, cada qual será julgado e recompensado segundo as suas obras. Muitos nomes que estão inscritos nos livros da igreja, estão arrolados no livro de registro do Céu como “defraudadores”. E a menos que essas pessoas se arrependam, e trabalhem para o Mestre com desinteressada benevolência, hão de compartilhar a sorte do mordomo infiel. CId 108.2

Sucede muitas vezes que um ativo homem de negócios é arrebatado pela morte sem prévio aviso, e acharem-se seus negócios em condição embaraçosa. No empenho de pô-los em ordem, uma grande parte dos bens dessa pessoa, senão tudo, é consumida em honorários aos advogados, ficando a família e a causa de Cristo defraudadas daquilo que lhes seria devido. Os que são fiéis mordomos dos recursos do Senhor saberão exatamente como andam seus negócios e, como homens sensatos, estarão preparados para qualquer emergência. Se porventura seu tempo de graça terminar inesperadamente, não acarretarão tão grandes perplexidades aos que forem incumbidos de acertar seu espólio. CId 108.3

Muitos não estão informados acerca da questão de fazer o testamento quando se acham ainda aparentemente com saúde. Essa precaução ceve, entretanto, ser tomada por nossos irmãos. Devem saber qual sua situação financeira, e não permitir que seus negócios se embaracem. Devem arranjar sua propriedade de tal maneira que a possam deixar a qualquer tempo. CId 109.1

Os testamentos devem ser feitos de acordo com as prescrições legais. Depois de feitos, eles podem ser conservados durante anos e não causarão prejuízo se continuarem contribuindo para a obra conforme suas necessidades. A morte, meus irmãos, não se antecipará um dia sequer por terem feito seu testamento. Ao dispor de seus bens por testamento a favor de seus parentes não se esqueçam da obra de Deus. Vocês são Seus instrumentos, incumbidos de zelar por Sua propriedade; e Suas reivindicações devem merecer sua principal consideração. A esposa e os filhos, naturalmente, não devem ficar ao abandono; provisões devem ser feitas para eles caso necessitem. Vocês não devem, porém, simplesmente por ser costume, contemplar em seu testamento uma longa lista de parentes que não estão em necessidade. CId 109.2

Devem lembrar-se sempre de que o atual sistema egoísta de dispor dos bens não é conforme o plano de Deus, mas simplesmente invenção humana. Os cristãos devem ser reformadores e romper com esse sistema, dando uma feição inteiramente nova à maneira de fazer testamentos. Tenham sempre presente que é da propriedade de Deus que vão dispor. A vontade divina deve ser lei neste particular. CId 109.3

Suponham que alguém lhes houvesse instituído executor de seu testamento, acaso não fariam diligência em inteirar-se da vontade do testador, a fim de que a menor quantia tivesse sua aplicação justa? Seu Amigo celestial lhes confiou propriedades, manifestando-lhes Sua vontade quanto ao modo por que devem ser usadas. Se essa Sua vontade for acatada com coração altruísta, aquilo que pertence a Deus não será mal aplicado. A causa do Senhor tem sido vergonhosamente negligenciada, ao passo que Ele deu aos homens recursos suficientes com que fazer face a todas as emergências, se apenas fossem dotados de coração grato e obediente. CId 110.1

Os que fazem seu testamento, não devem imaginar que acabam aqui suas obrigações, mas sim desenvolver constante atividade, usando seus talentos para o engrandecimento da causa de Deus. Deus delineou planos segundo os quais todos podem cooperar diligentemente na distribuição de seus recursos. Deus não Se propõe sustentar Sua obra por meio de milagres. Ele tem alguns poucos mordomos fiéis, que estão economizando e usando seus recursos para promover Sua obra. A abnegação e a beneficência, longe de constituírem a exceção, devem ser a regra. As crescentes necessidades da obra de Deus requerem recursos. Chegam-nos constantemente pedidos do país e do estrangeiro, solicitando missionários que lhes ensinem a luz da verdade. Isto significa aumento de obreiros e acréscimo de despesas para sua manutenção. — Testemunhos Para a Igreja 4:479-483. CId 110.2