O Sábado e o Domingo nos Primeiros Três Séculos: o Testemunho Completo dos Pais da Igreja
Testemunho de Arquelau, Bispo de Carcar
Essa pessoa escreveu por volta de 277 d.C., ou, segundo as outras autoridades, ele escreveu não muito distante de 300 d.C. e floresceu na Mesopotâmia. O que resta de seus escritos é simplesmente o registro de sua “Disputation with Manes” [Disputa com Mane], o herege. Eu não acho que tenha utilizado alguma vez o termo “dia do Senhor”. Ele apresenta o sábado e declara sua visão sobre ele da seguinte forma: SDS 101.4
Moisés, aquele ilustre servo de Deus, comprometeu-se com aqueles que desejavam ter a visão correta: uma lei emblemática e também uma lei real. Assim, por exemplo, depois que Deus fez o mundo, e todas as coisas que nele há, no espaço de seis dias, Ele descansou no sétimo dia de toda a Sua obra; por essa declaração não pretendo afirmar que Ele descansou porque estivesse fatigado, mas que Ele assim o fez por ter trazido à perfeição todas as criaturas que ele tinha resolvido criar. E ainda na sequência (a nova lei) diz: “Meu Pai trabalha até agora, e Eu trabalho também”. Então, isso quer dizer que Ele ainda está criando os céus, ou o sol, ou o homem, ou os animais, ou as árvores, ou qualquer uma dessas coisas? Não; isso significa que, quando esses objetos visíveis foram perfeitamente terminados, Ele descansou daquele tipo de trabalho; enquanto, porém, ainda continua trabalhando nos objetos invisíveis com um modo de ação interno, e salva os seres humanos. De maneira semelhante, então, o legislador também deseja que cada um dos indivíduos entre nós se dedique incessantemente a esse tipo de trabalho, assim como o próprio Deus Se dedica; e Ele nos ordena, consequentemente, a abster-se continuamente das coisas seculares, e não nos envolver em absolutamente nenhum tipo de trabalho; e esse é chamado nosso sábado. Isso Ele também acrescentou na lei, que nada absurdo deveria ser feito, mas que deveríamos ser cuidadosos e dirigir nossa vida de acordo com o que é justo e correto. — Seç. 31. SDS 102.1
Essas palavras parecem mostrar que ele defendia um sábado perpétuo, como Justino Mártir, Tertuliano e outros. Ainda assim, isso não parece possível, pois enquanto que, diferentemente de Justino que despreza o que chama de dias de “ociosidade”, esse escritor diz que não devemos nos “envolver em absolutamente nenhum tipo de trabalho; e esse é chamado nosso sábado”. É praticamente impossível que ele considerasse algo ímpio trabalhar em um ou em todos os seis dias que são de trabalho. Todavia, ele deseja afirmar que é pecado trabalhar em qualquer um desses dias ou afirma a obrigação perpétua desse sábado que claramente ele acreditava ter originado quando Deus colocou à parte o sétimo dia, e que ele reconhece estar sob a autoridade daquilo que “Ele acrescentou na lei”. Logo chegaremos à sua declaração final, que parece mostrar claramente que o segundo desses pontos de vista era aquele que esse escritor defendia. SDS 102.2
Depois de mostrar nessa mesma seção que a pena de morte que estava nas mãos do magistrado, pela violação do sábado, não está mais em vigor em razão do perdão por meio do Salvador, e depois de responder as objeções de Mane nas seções 40, 41 e 42, de que Cristo, ao curar no sábado, contradisse diretamente o que Moisés fazia com os que violavam o sábado no seu tempo, ele declara seus pontos de vista sobre a perpetuidade do antigo sábado em linguagem bem clara. Ele fala da seguinte forma: SDS 103.1
Novamente, quanto à afirmação de que o sábado foi abolido, nós negamos que Ele o aboliu por completo (plenamente); pois Ele próprio também era Senhor do sábado. E isso (a relação da lei com o sábado) era como um servo, encarregado da cama do noivo, e que a prepara com todo o cuidado, e não permite que ela seja desarrumada ou tocada por nenhum estranho, mas mantém-na intacta até o momento da chegada do noivo; para que, quando ele vier, a cama possa ser usada como lhe agradar, ou como for permitido àqueles que ele convidou que entrassem junto com ele. — Seç. 42. SDS 103.2
Três coisas são claramente ensinadas. 1. A lei sagradamente preservou o sábado até a vinda de Cristo. 2. Quando Cristo veio, Ele não aboliu o sábado, pois Ele era o seu Senhor. 3. E todo o teor da linguagem desse escritor mostra que ele desconhecia a mudança do sábado em honra à ressurreição de Cristo, e que não faz alusão, nem sequer uma vez, ao primeiro dia da semana. SDS 103.3