Daniel e Apocalipse

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Apocalipse 1 — Visão de abertura

O livro do Apocalipse começa com o anúncio de seu título e uma bênção proferida sobre todos aqueles que prestarem atenção diligente a suas solenes declarações proféticas. Estas são as palavras de abertura: DAP 265.1

VERSÍCULO 1. Revelação de Jesus Cristo, que Deus Lhe deu para mostrar aos Seus servos as coisas que em breve devem acontecer e que Ele, enviando por intermédio do Seu anjo, notificou ao Seu servo João, 2. o qual atestou a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo, quanto a tudo o que viu. 3. Bem-aventurados aqueles que leem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo. DAP 265.2

Título. Os tradutores da King James Version [KJV — Versão do Rei Tiago, 1611] deram a este livro o título de “A Revelação de São João, o Divino”. Com isso, contradizem as primeiras palavras do próprio livro, as quais declaram se tratar da “Revelação de Jesus Cristo”. Jesus Cristo é o Revelador, não João. João foi apenas o escritor usado por Cristo para registrar Sua revelação para o benefício de Sua igreja. Não há dúvida de que o João aqui mencionado é o homem com esse nome que foi o amado e altamente honrado discípulo que fez parte dos doze apóstolos. Foi evangelista e apóstolo, bem como autor do evangelho e das epístolas que levam seu nome (ver Clarke, Barnes, Kitto, Fond e outros). A seus títulos anteriores, acrescenta agora o de profeta, pois o Apocalipse é uma profecia. Mas o assunto deste livro remonta a uma fonte ainda superior. Não só é a Revelação de Jesus Cristo, como também a que Deus Lhe deu. Provém, portanto, em primeiro lugar, da grande fonte de toda sabedoria e verdade, Deus, o Pai. Por meio Dele, foi comunicada a Jesus Cristo, o Filho; e Cristo a enviou e transmitiu por meio de um anjo a Seu servo João. DAP 265.3

Caráter do livro. É expresso em uma palavra: “Revelação”. Revelação é algo revelado, claramente manifesto, não algo oculto e escondido. Moisés, em Deuteronômio 29:29, nos diz que “as coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre”. A primeira palavra do livro já é uma refutação suficiente da opinião popular atual de que ele faz parte dos mistérios ocultos de Deus e não pode ser entendido. Caso esse fosse o caso, deveria ser introduzido com termos como “O Mistério”, ou “O Livro Oculto”, certamente não com a palavra “Revelação”. DAP 265.4

Seu objetivo. “Mostrar aos Seus servos as coisas que em breve devem acontecer”. Seus servos — quem são eles? Há algum limite? O Apocalipse foi revelado para benefício de quem? Para alguma pessoa específica? Para alguma igreja em particular? Para algum período em especial? Não. É para toda a igreja de todos os tempos, enquanto ainda restar algum dos eventos preditos para se cumprir. É para todos aqueles que podem reivindicar para si o título de “Seus servos”, não importa quando ou onde vivam. DAP 265.5

Mas estas palavras trazem à tona mais uma vez o ponto de vista comum de que o Apocalipse não foi feito para ser compreendido. Deus disse que ele foi revelado para mostrar algo a Seus servos; todavia, muitos dos comentaristas de Sua Palavra nos dizem que o livro não mostra nada, pois o ser humano é incapaz de compreendê-lo! É como se Deus decidisse revelar à humanidade algumas verdades importantes e então as revestisse — numa atitude pior que qualquer insensatez humana — de linguagem e símbolos incompreensíveis à mente humana. Ou ainda como se Ele ordenasse uma pessoa a contemplar algum objeto distante e então erguesse uma barreira impenetrável entre si mesmo e o objeto especificado! Ou como se desse uma luz para guiar Seus servos pelas trevas da noite, mas a revestisse de uma mortalha tão grossa e pesada que nenhum raio de seu brilho fosse capaz de transpor a obscura camada de tecido! Não! O Apocalipse cumprirá o objetivo para o qual foi revelado e “Seus servos” aprenderão ali “as coisas que em breve devem acontecer”, referentes a sua salvação eterna. DAP 266.1

O anjo. Cristo enviou e revelou o Apocalipse a João por intermédio de “Seu anjo”. Parece que um anjo específico recebe aqui destaque. Que anjo poderia ser apropriadamente denominado o anjo de Cristo? Encontramos resposta para essa pergunta em uma passagem significativa da profecia de Daniel. Em Daniel 10:21, um anjo, que, sem dúvida, era Gabriel (ver Daniel, capítulos 9, 10 e 11:1), ao revelar algumas verdades importantes a Daniel, disse: “ninguém há que esteja ao meu lado contra aqueles, a não ser Miguel, vosso príncipe”. A identidade de Miguel pode ser facilmente verificada. Judas (v. 9) o chama de “arcanjo”. E Paulo nos conta que, quando o Senhor descer do céu e os mortos em Cristo ressuscitarem, a voz do arcanjo será ouvida (1 Tessalonicenses 4:16). E a voz de quem será ouvida nesse momento extraordinário em que os mortos forem chamados à vida? O próprio Senhor responde: “Não fiquem admirados por causa disso, pois está chegando a hora em que todos os mortos ouvirão a voz do Filho do Homem” (João 5:28, NTLH); e o versículo anterior mostra que o indivíduo mencionado aqui, cuja voz será ouvida nessa ocasião, é de fato o Filho do Homem, ou Cristo. Logo, é a voz de Cristo que chama os mortos de suas sepulturas. Essa voz, declara Paulo, é a voz do arcanjo. E Judas diz que o arcanjo é Miguel, o mesmo personagem mencionado em Daniel, todos eles se referindo a Cristo. Portanto, a declaração em Daniel mostra que as verdades reveladas a Daniel foram confiadas a Cristo, exclusivamente a ele e a um anjo chamado Gabriel. Semelhante à obra de comunicar verdades importantes ao profeta “muito amado” (Daniel 10:11) é a obra de Cristo, no livro de Aplocalipse, de transmitir verdades importantes ao “discípulo amado”; e quem, nesse trabalho, poderia ser seu anjo, senão aquele engajado na obra anterior, a saber, o anjo Gabriel? Esse fato esclarecerá alguns aspectos do livro; e, além disso, parece muito apropriado que o mesmo ser encarregado de transmitir mensagens ao profeta “amado” da antiga dispensação desempenhe papel idêntico em relação a seu colega profeta da era evangélica (ver comentários sobre Apocalipse 19:10). DAP 266.2

A bênção. “Bem-aventurados aqueles que leem e aqueles que ouvem as palavras da profecia”. Existiria uma bênção tão formal e direta pronunciada sobre quem lê e observa qualquer outra parte da Palavra de Deus? Que encorajamento, então, recebemos para seu estudo! Diremos que o Apocalipse não pode ser entendido? Haveria uma bênção oferecida pelo estudo de um livro que é incapaz de nos fazer qualquer bem? As pessoas podem até dizer, com mais atrevimento do que espiritualidade, que “cada era de decadência é marcada pelo aumento de comentários sobre o Apocalipse”, ou que “o estudo do Apocalipse ou encontra ou deixa o indivíduo louco”, mas Deus proferiu uma bênção sobre essa atividade e colocou Seu selo de aprovação sobre o estudo fervoroso de suas maravilhosas páginas. Com tamanho incentivo provindo dessa fonte, o filho de Deus não se deixará influenciar nem por mil frágeis ventos contrários provindos de homens. DAP 267.1

O cumprimento das profecias traz consigo deveres. Por isso, há coisas escritas no Apocalipse a serem guardadas, ou realizadas, e há deveres práticos a serem vivenciados em decorrência do cumprimento das profecias. Um exemplo notável disso se encontra em Apocalipse 14:12, que diz: “Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus”. DAP 267.2

Mas, diz João, “o tempo está próximo”, outro motivo citado para o estudo desse livro. Ele se torna cada vez mais importante, à medida que nos aproximamos da grande consumação de todas as coisas. A esse respeito, mencionamos os pensamentos de outro autor: DAP 267.3

“A importância de estudar o Apocalipse aumenta com o passar do tempo. Nele há ‘coisas que em breve devem acontecer’. Mesmo quando João fez o registro da Palavra de Deus, do testemunho de Jesus Cristo e de todas as coisas que ele viu, o longo período dentro do qual essas cenas sucessivas se realizariam estava próximo. Se, naquela época, a proximidade constituía um motivo para atentar ao seu conteúdo, quanto mais agora! Cada século que termina, cada ano que se encerra aumenta a urgência da atenção que deve ser dada à parte final dos Sagrados Escritos. A intensidade da devoção ao presente, que caracteriza nosso tempo e país, não aumenta ainda mais a relevância dessa afirmação? É certo que nunca houve um período no qual um forte poder neutralizador se fez mais necessário. A revelação de Jesus Cristo, fielmente estudada, provê uma influência corretora apropriada. Oxalá todos os cristãos recebessem, em medida plena, a bênção destinada “àqueles que leem e àqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo” (Thompson, Patmos, p. 28-29). DAP 267.4

Dedicatória. Após a bênção, encontramos a dedicatória, expressa nas seguintes palavras: DAP 267.5

VERSÍCULO 4. João, às sete igrejas que se encontram na Ásia, graça e paz a vós outros, da parte Daquele que é, que era e que há de vir, da parte dos sete Espíritos que se acham diante do Seu trono 5. e da parte de Jesus Cristo, a Fiel Testemunha, o Primogênito dos mortos e o Soberano dos reis da Terra. Àquele que nos ama, e, pelo Seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, 6. e nos constituiu reino, sacerdotes para o Seu Deus e Pai, a Ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém! DAP 267.6

Igrejas que se encontram na Ásia. Havia mais do que sete igrejas na Ásia. O número era maior mesmo se nos limitarmos à parte oeste da Ásia conhecida como Ásia Menor, ou até mesmo incluindo um território menor do que esse. Além disso, mesmo na pequena porção da Ásia Menor onde estavam situadas as sete igrejas mencionadas, bem no meio delas, havia outras igrejas importantes. Colossos, para cujos cristãos Paulo endereçou a epístola aos colossenses, ficava a uma pequena distância de Laodiceia. Mileto ficava mais perto de Patmos, onde João teve a visão, do que todas; e esse era um local importante para a igreja, conforme podemos julgar, com base no fato de Paulo, durante uma de suas permanências ali, ter pedido aos anciãos da igreja de Éfeso que fossem encontrá-lo na cidade (Atos 20:17-38). No mesmo lugar ele também deixou, sem dúvida em boas mãos cristãs, Trófimo, seu discípulo, enfermo (2 Timóteo 4:20). Trôade, onde Paulo passou um tempo com os discípulos e, de onde, após esperar a passagem do sábado, iniciou sua viagem, não ficava distante de Pérgamo, citada entre as sete. Logo, torna-se interessante descobrir por que sete igrejas da Ásia Menor foram escolhidas como aquelas às quais o Apocalipse foi dedicado. Será que aquilo que se diz sobre as sete igrejas no capítulo 1 e a elas nos capítulos 2 e 3 se refere apenas às sete igrejas literais citadas, descrevendo somente as coisas que existiam então e retratando apenas o que se encontrava diante delas? Não podemos chegar a tal conclusão, pelos seguintes motivos: DAP 268.1

1. Todo o livro do Apocalipse (ver capítulos 1:3, 11, 19; 22:18-19) foi dedicado às sete igrejas (v. 11). Mas o livro se aplicava a elas tanto quanto aos outros cristãos da Ásia Menor — aqueles que moravam, por exemplo, em Ponto, na Galácia, Capadócia e Bitínia, mencionados em 1 Pedro 1:1; ou os cristãos de Colossos, Trôade e Mileto, que ficavam em meio às igrejas citadas. DAP 268.2

2. Somente uma pequena parte do livro poderia dizer respeito especificamente às sete igrejas ou a qualquer grupo de cristãos da época de João; pois os eventos que a obra traz à tona se encontravam, em sua maioria, em um futuro tão distante que iria muito além da geração viva na época, ou mesmo do período de existência daquelas igrejas; em consequência, não podem ter nenhuma conexão pessoal com elas. DAP 268.3

3. As sete estrelas que o Filho do homem segura na mão direita (v. 20) são expressas como os anjos das sete igrejas. Sem dúvida, todos concordam que os anjos das igrejas são seus ministros. O fato de estarem seguros na destra do Filho do homem denota o poder sustentador, a guia e a proteção que lhes eram concedidos. Mas havia apenas sete em sua mão direita. Será que somente sete recebem tal cuidado do grande Mestre das assembleias? Não é melhor pensar que todos os ministros verdadeiros da era evangélica inteira devam extrair consolo dessa representação, sabendo que são mantidos e guiados pela destra do grande Cabeça da igreja? Essa seria a única conclusão consistente. DAP 268.4

4. Mais uma vez, João, ao olhar para a dispensação cristã, viu apenas sete candelabros, representando sete igrejas, no meio das quais se encontrava o Filho do homem. A posição do Filho do homem no meio dos candelabros denota Sua presença junto às igrejas, Seu cuidado por elas e o escrutínio minucioso de todas as suas obras. Mas Ele só Se ocupa em conhecer sete igrejas individuais nesta dispensação? Não deveríamos, em vez disso, concluir que essa cena representa Sua posição a respeito de todas as igrejas durante a era evangélica? Então por que somente sete foram mencionadas? Conforme o uso bíblico, o sete é um número que representa plenitude e integralidade. Sem dúvida, é uma espécie de memorial dos grandes fatos dos sete primeiros dias do tempo, que deram ao mundo o ciclo semanal utilizado até hoje. Assim como as sete estrelas, os sete candelabros denotam o todo das coisas que representam. Toda a igreja evangélica em sete divisões, ou períodos, deve ser simbolizada por eles; de igual modo, as sete igrejas devem ser aplicadas. DAP 268.5

5. Por que, então, essas sete igrejas específicas foram escolhidas para ser mencionadas? Sem dúvida porque, no nome dessas igrejas, de acordo com as definições das palavras, são destacadas as características religiosas dos períodos da era evangélica que cada uma delas tinha a intenção de representar. DAP 269.1

Por esses motivos, sem dúvida, “as sete igrejas” devem ser interpretadas como uma menção não meramente às sete igrejas literais da Ásia que tinham os nomes mencionados, mas, sim, como sete períodos da igreja cristã, desde os dias dos apóstolos até o fim do tempo da graça (ver o comentário sobre o capítulo 2, versículo 1). DAP 269.2

A fonte da bênção. “Da parte Daquele que é, que era e que há de vir”, ou que será — uma expressão que significa eternidade completa, passada e futura, e só pode ser aplicada a Deus.11 DAP 269.3

Os sete espíritos. É provável que esta expressão não faça referência a anjos, mas, sim, ao Espírito de Deus. É uma das fontes de invocação de graça e paz para a igreja. Sobre o interessante assunto dos sete espíritos, Thompson comenta: “Isto é, do Espírito Santo, denominado ‘sete espíritos’ porque sete é um número sagrado e perfeito, não por denotar pluralidade interna, mas, sim, a plenitude e perfeição de Seus dons e de Suas obras”. Barnes afirma: “Portanto, o número sete pode ser atribuído ao Espírito Santo em referência à diversidade ou plenitude de Sua operação nas almas humanas e Sua atuação múltipla nas questões deste mundo, conforme explicado em maiores detalhes neste livro”. Bloomfield menciona esta como a interpretação geral. DAP 269.4

Seu trono. O trono de Deus Pai, pois Cristo ainda não assumiu Seu próprio trono. O fato de os sete espíritos se encontrarem diante do trono “pode ter a intenção de comunicar o fato de que o Espírito divino está sempre pronto para ser enviado, de acordo com uma representação comum nas Escrituras, a fim de cumprir propósitos importantes nas questões humanas”. DAP 270.1

E da parte de Jesus Cristo. Então Cristo não é a pessoa que, no versículo anterior, é chamada de Aquele “que é, que era e que há de vir”. Algumas das principais características relativas a Cristo são aqui mencionadas. Ele é: DAP 270.2

A Fiel Testemunha. Todos os Seus testemunhos são verdadeiros. Tudo aquilo que promote, certamente cumprirá. DAP 270.3

O Primogênito dos mortos. Esta expressão é paralela a 1 Coríntios 15:20, 23; Hebreus 1:6; Romanos 8:29 e Colossenses 1:15, 18, passagens nas quais encontramos as seguintes expressões aplicadas a Cristo: “as primícias dos que dormem”, “o primogênito no mundo”, “o primogênito entre muitos irmãos”, “o primogênito de toda a criação” e “o primogênito de entre os mortos”. Mas tais expressões não denotam necessariamente que Ele foi o primeiro na linha do tempo a ressuscitar dentre os mortos, pois outros ressuscitaram antes Dele. Esse ponto dispensa qualquer discussão. O que está em questão aqui é o fato de que Ele foi a figura principal e central de todos os que subiram da sepultura, pois foi em virtude da vinda, obra e ressurreição de Cristo que qualquer pessoa pôde ressuscitar antes de Sua época. No propósito divino, Ele foi o primeiro em tempo, bem como em importância; pois somente após o propósito do triunfo de Cristo sobre o túmulo se formar na mente de Deus, o qual “chama à existência as coisas que não existem” (Romanos 4:17), que qualquer um deles foi liberto do poder da morte, graças ao grande fato que se realizaria no devido tempo. Por isso, Cristo é chamado de “primogênito dos mortos” (Apocalipse 1:5), “as primícias dos que dormem” (1 Coríntios 15:20), “o primogênito entre muitos irmãos” (Romanos 8:29) e “o primogênito de toda a criação” (Colossenses 1:18). Em Atos 26:23, ele é mencionado como “o primeiro da ressurreição dos mortos, [que] anunciaria a luz ao povo e aos gentios”, ou o primeiro que, por ressuscitar dentre os mortos, deveria mostrar luz ao povo (ver o grego desta passagem e o comentário de Bloomfield sobre ela; ver também o capítulo 17 de Here and Hereafter [Aqui e depois]). DAP 270.4

O Soberano dos reis da Terra. Cristo é o Soberano dos reis da Terra em certo sentido agora. Paulo nos informa, em Efésios 1:20-21, que Deus O fez “sentar à Sua direita nos lugares celestiais, acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não só no presente século, mas também no vindouro”. Os nomes mais exaltados neste mundo são os dos príncipes, reis, imperadores e potentados da Terra. Mas Cristo é colocado acima de todos eles. Ele está assentado com Seu Pai no trono do domínio universal (Apocalipse 3:21), e está em posição igual à Dele no domínio e controle de todas as nações da Terra. DAP 270.5

Em um sentido mais específico, Cristo será o Soberano dos reis da Terra quando assumir Seu trono e os reinos deste mundo se tornarem “de nosso Senhor e do Seu Cristo” (Apocalipse 11:15), quando estes forem entregues pelo Pai em Suas mãos e Ele Se apresentar portando sobre as vestes o título “Rei dos reis e Senhor dos senhores”, a fim de despedaçá-los como o vaso do oleiro (Apocalipse 19:16; 2:27; Salmos 2:8-9). DAP 270.6

Àquele que nos ama. Achamos que os amigos terrenos nos amam — pai, mãe, irmãos e irmãs ou amigos íntimos –, mas veremos que nenhum amor é digno desse nome em comparação com o amor de Cristo por nós. A frase seguinte acrescenta intensidade ao significado das palavras anteriores: “e, pelo Seu sangue, nos libertou dos nossos pecados”. Que amor é esse! Disse o apóstolo: “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos” (João 15:13). Mas Cristo nos dispensou Seu amor pelo fato de ter morrido por nós “sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5:8). Mais do que isso, porém, “nos constituiu reino, sacerdotes para o Seu Deus e Pai” (Apocalipse 1:6). Leprosos por causa do pecado, nos tornamos limpos diante de Seus olhos; de inimigos, nos tornamos não só amigos, mas somos elevados a posições de honra e dignidade. Essa purificação e essa exaltação real e sacerdotal — a que momento elas se referem? Ao presente ou ao futuro? Principalmente ao futuro, pois só então desfrutaremos essas bênçãos em seu mais alto grau. Então, depois que a expiação terminar, estaremos completamente livres de nossos pecados. Antes dessa ocasião, eles são perdoados apenas sob condição, e são apagados apenas por antecipação. Mas quando os santos receberem permissão para se assentar com Cristo em Seu torno, segundo a promessa aos vitoriosos de Laodiceia, quando assumirem o reino sob todo o céu e governarem para todo o sempre, serão reis em um sentido que nunca poderia ocorrer no estado presente. No entanto, o suficiente de nossa condição atual é verdadeiro para tornar estas palavras apropriadas no cântico de júbilo presente do cristão. Pois aqui temos permissão para dizer que nós encontramos redenção por intermédio de Seu sangue, embora essa redenção ainda não tenha sido dada; que nós temos vida eterna, muito embora essa vida ainda esteja nas mãos do Filho e nos será entregue quando Ele voltar. Ainda é verdadeiro, assim como era nos dias de João e Pedro, que o desígnio de Deus é que Seu povo neste mundo seja geração eleita, sacerdócio real, nação santa e povo escolhido (1 Pedro 2:9; Apocalipse 3:21; Daniel 7:18, 27). Não é de espantar que o discípulo amado e amoroso tenha atribuído a esse Ser que tanto fez por nós a glória e o domínio para todo o sempre! Que toda a igreja se una a ele nessa tão apropriada descrição de seu maior benfeitor e melhor amigo. DAP 271.1

VERSÍCULO 7. Eis que vem com as nuvens, e todo olho O verá, até quantos O traspassaram. E todas as tribos da Terra se lamentarão sobre Ele. Certamente. Amém! DAP 271.2

Eis que vem com as nuvens. Nesta passagem, João nos faz avançar até o segundo advento de Cristo em glória, o clímax, o evento mais importante de Sua intervenção em favor deste mundo caído. No passado, Ele veio em fraqueza, mas agora virá em poder; no passado, em humildade, agora em glória. Ele vem em meio às nuvens, assim como subiu (Atos 1:9, 11). DAP 271.3

Sua vinda visível. “E todo olho O verá”, isto é, todos aqueles que estiverem vivos por ocasião de Sua vinda. Não somos informados sobre nenhuma vinda pessoal de Cristo que será como a calada da noite, ou que acontecerá somente no deserto ou em um quarto secreto. Ele não virá como ladrão no sentido de roubar o mundo furtiva e quietamente, apropriando-Se de bens aos quais não tem nenhum direito. Pelo contrário, vem pegar para Si Seu tesouro mais precioso, os santos vivos e os que dormem, os quais comprou com o próprio sangue precioso; os quais tirou do poder da morte em um conflito aberto e justo, e para os quais Sua vinda será igualmente aberta e triunfante. Acontecerá com o brilho e o esplendor do relâmpago que brilha do oriente ao ocidente (Mateus 24:27). Haverá som de trombetas que penetrarão as mais baixas profundezas da Terra, com uma voz poderosa que acordará os santos que dormem em seu leito de pó (Mateus 24:31; 1 Tessalonicenses 4:16). Ele virá como um ladrão para os ímpios, somente porque estes fecham os olhos persistentemente aos sinais de Sua aproximação e não creem nas declarações de Sua Palavra de que Ele está às portas. Defender a existência de duas vindas, uma secreta e outra pública, relacionadas ao segundo advento, como alguns fazem, não encontra nenhum respaldo nas Escrituras. DAP 271.4

Até quantos O traspassaram. Eles também (além de “todo olho”, mencionado anteriormente), que se envolveram de modo especial na tragédia de Sua morte. Esses contemplarão Seu retorno à Terra em triunfo e glória. Mas como isso acontecerá? Eles não estão vivos agora, como então O contemplarão quando voltar? Resposta: por meio de uma ressurreição dos mortos, pois este é o único meio de voltar à vida após ser colocado na sepultura. Como, porém, esses ímpios ressuscitarão nessa ocasião? Pois a ressurreição geral dos ímpios só ocorrerá mil anos depois do segundo advento (Apocalipse 20:1-6). Daniel nos informa a esse respeito. Ele diz (capítulo 12:1-2): DAP 272.1

“Nesse tempo, Se levantará Miguel, o grande príncipe, o defensor dos filhos do teu povo, e haverá tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo; mas, naquele tempo, será salvo o teu povo, todo aquele que for achado inscrito no livro. Muitos dos que dormem no pó da Terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno.” DAP 272.2

Esta passagem chama atenção para uma ressurreição parcial, ou uma ressurreição de determinada classe de justos e ímpios antes da ressurreição geral dos dois grupos. Muitos, não todos, dos que dormem ressuscitarão. Uns dentre os justos, não todos, para a vida eterna, e outros dentre os ímpios, não todos, para a vergonha e horror eternos. E essa ressurreição ocorrerá em conexão com o grande tempo de angústia qual nunca houve, o qual antecede a vinda do Senhor. Será que “até quantos O traspassaram” não podem estar entre esses que despertarão para vergonha e horror eternos? Segundo a capacidade de julgar da mente humana, haveria alguma coisa mais apropriada do que concluir que aqueles que participaram da cena de maior humilhação de nosso Senhor, juntamente com outros líderes especiais no crime cometido contra Ele, hão de ressuscitar para contemplar Sua terrível majestade, quando voltar em triunfo, como fogo consumidor, a fim de julgar aqueles que não conhecem a Deus e não obedecem a Seu evangelho? (ver Daniel 12:2). DAP 272.3

A reação das igrejas. “Certamente. Amém!” Embora a vinda de Cristo seja, para os ímpios, uma cena de terror e destruição, para os justos consiste em uma cena de júbilo e triunfo. “Quando chega a aflição do mundo, começa o descanso dos santos”. A vinda com fogo consumidor com o propósito de fazer retribuição aos ímpios tem o objetivo de recompensar com descanso todos aqueles que creem (2 Tessalonicenses 1:6-10). Todo aquele que é amigo de Cristo e O ama receberá toda declaração e indício de Seu retorno como boas-novas de grande alegria. DAP 272.4

VERSÍCULO 8. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim, diz o Senhor, que é, e que era, e que há de vir, o Todo-poderoso. DAP 273.1

Outro interlocutor é introduzido nesta passagem. Até então, João fora o orador. Mas este versículo não tem conexão com o que o antecede, nem com o que vem em seguida. Logo, aquele que fala aqui deve ser identificado pelos termos utilizados. Mais uma vez, encontramos a expressão “Aquele que é, que era e que há de vir”, a qual, conforme já observamos, se refere exclusivamente a Deus.12 Assim se encerra de maneira apropriada a primeira subdivisão principal deste capítulo, com uma revelação do próprio Deus grandioso, que Se apresenta como um ser de existência eterna, tanto passada quanto futura, e poder incomparável, capaz de cumprir todas as ameaças e promessas que nos deixou neste livro. DAP 273.2

VERSÍCULO 9. Eu, João, irmão vosso e companheiro na tribulação, no reino e na perseverança, em Jesus, achei-me na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus. DAP 273.3

Aqui o assunto muda. João introduz o lugar e as circunstâncias em que o Apocalipse lhe foi revelado. Primeiro, ele se apresenta como irmão da igreja universal e seu companheiro nas tribulações que acometem a profissão do cristianismo nesta vida. DAP 273.4

No reino. Essas palavras deram origem a muitas controvérsias. João realmente quer dizer que os cristãos na condição atual se encontram no reino de Cristo, ou, em outras palavras, que, em sua época, o reino de Cristo já fora estabelecido? Caso estas palavras façam alguma referência à condição presente, só o serão em um sentido muito limitado e adaptado. Os defensores de que sua aplicação é para o tempo presente costumam citar 1 Pedro 2:9 a fim de provar a existência de um reino no estado presente e mostrar sua natureza. Todavia, conforme observamos no versículo 6, o reinado literal dos santos ainda é futuro. É através de muitas tribulações que nos importa entrar no reino de Deus (Atos 14:22). Mas quando entrarmos no reino, as tribulações terão fim. A tribulação e o reino não coexistirão. A tradução de Murdock da versão siríaca deste versículo omite a palavra reino e diz o seguinte: “Eu, João, seu irmão e participante com vocês da aflição e do sofrimento que estão em Jesus, o Messias”. Wakefield traduz: “Eu, João, e participante com vocês ao suportar a aflição do reino de Jesus Cristo”. Bloomfield diz que as palavras tribulação e perseverança “são aflições e dificuldades a ser suportadas por causa e na causa de Cristo; e βασιλείᾳ [reino] indica que ele participará com eles do reino que lhes foi preparado”. O autor afirma que “o melhor comentário sobre esta passagem é 2 Timóteo 2:12”, que diz: “Se perseveramos, também com Ele reinaremos”. De tudo isso, podemos concluir com segurança que, embora exista um reino da graça no estado presente, o reino ao qual João fez alusão é o reino da glória, sendo o sofrimento e a perseverança preparatórios para desfrutá-lo. DAP 273.5

O lugar. “Na ilha chamada Patmos”, uma ilha pequena e estéril na costa oeste da Ásia Menor, entre a ilha de Icária e o promontório de Mileto, onde, nos dias de João, se localizava a igreja cristã mais próxima. Tinha cerca de 13 quilômetros de comprimento, um e meio de largura e 29 de circunferência. Seu nome atual é Patino ou Patmosa. A costa é alta, formada por uma sucessão de cabos, os quais delimitam muitos portos. O único em funcionamento hoje é uma baía profunda abrigada por montanhas altas de todos os lados, com exceção de um, protegido por um cabo que se projeta. A cidade ligada a esse porto se situa em uma elevada montanha rochosa erguendo-se imediatamente a partir do mar. Trata-se do único lugar habitado da ilha. Mais ou menos na metade do caminho para onde esta cidade se encontra construída, existe uma caverna natural na rocha, onde a tradição conta que João teve a visão e escreveu o Apocalipse. Por causa do caráter rude e desolado da ilha, era usada, no período do império romano, como local de degredo. Por isso João foi exilado lá. O banimento do apóstolo ocorreu por volta do ano 94, conforme se supõe de modo geral, na época do imperador Domiciano. Por causa desse fato, a data que costuma ser atribuída à escrita do Apocalipse é 95 ou 96 d.C. DAP 274.1

Motivo do exílio. “Por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus”. Este foi o grave crime e delito de João. O tirano Domiciano, então revestido com a púrpura imperial de Roma, mais conhecido por seus vícios do que por sua posição civil, tremeu diante do profeta idoso, mas destemido. Não ousou permitir a promulgação do evangelho puro de João dentro dos limites de seu reino. Ele o exilou na solitária Patmos, onde, segundo a perspectiva humana, ele se encontraria fora do mundo. Confinado àquele lugar estéril e ao cruel labor das minas, o imperador sem dúvida pensava que aquele pregador da justiça finalmente fora eliminado e que o mundo não ouviria mais a seu respeito. Com certeza, os perseguidores de John Bunyan pensavam a mesma coisa quando o encerraram na prisão de Bedford. Quando o ser humano pensa ter enterrado a verdade e a colocado em esquecimento eterno, o Senhor a ressuscita com glória e poder multiplicados. Da cela escura e apertada de Bunyan, brilhou forte uma luz espiritual, que, com intensidade semelhante à da própria Bíblia, aumentou o interesse pelo evangelho. E da estéril ilha de Patmos, onde Domiciano pensava ter apagado pelo menos uma tocha da verdade, surgiu a mais magnífica revelação de todo o cânon sagrado, derramando seu brilho divino sobre todo o mundo cristão até o fim dos tempos. E quantos reverenciarão o nome do discípulo amado, apegando-se deleitosos às visões cativantes da glória celestial sem nunca aprender o nome do monstro que provocou seu exílio! De fato, as palavras das Escrituras que declaram que o justo “será tido em memória eterna” (Salmos 112:6), ao passo que “o nome dos perversos cai em podridão” (Pr 10:7) se aplicam, por vezes, à vida presente. DAP 274.2

VERSÍCULO 10. Achei-me em espírito, no dia do Senhor, e ouvi, por detrás de mim, grande voz, como de trombeta. DAP 276.1

Em espírito. Mesmo exilado como João se encontrava de toda fé e quase que do mundo, não estava distanciado de Deus, nem de Cristo, nem do Espírito Santo, nem dos anjos. Ele ainda nutria comunhão com seu Senhor divino. E a expressão “em espírito” parece denotar o mais alto grau de elevação espiritual que alguém pode ser levado pelo Espírito de Deus. Marcou o início de sua visão. DAP 276.2

No dia do Senhor. Que dia essa designação intenciona expressar? A esse respeito, grupos diferentes assumem quatro posições distintas. 1. Um grupo defende que a expressão “dia do Senhor” abrange toda a dispensação evangélica e não se refere a nenhum dia particular de 24 horas. 2. Outro grupo afirma que o dia do Senhor é o dia do juízo, o futuro “dia do Senhor” colocado em destaque tantas vezes nas Escrituras. 3. O terceiro ponto de vista, e talvez o mais comum, é que a expressão se refere ao primeiro dia da semana. 4. Um quarto grupo declara se tratar do sétimo dia, o sábado do Senhor. DAP 276.3

1. À primeira dessas posições, é suficiente responder que o livro de Apocalipse é datado pelo escritor João na ilha de Patmos e no dia do Senhor. O autor, o local onde a obra foi escrita e o dia em que foi datado — todos esses elementos têm existência real, não meramente simbólica ou mística. Mas se dissermos que o dia significa a dispensação evangélica, damos um sentido simbólico ou místico a ele, o que não é admissível. Além disso, essa posição envolve o absurdo de fazer João dizer, 65 anos após a morte de Cristo, que a visão registrada por ele foi contemplada durante a dispensação evangélica, como se qualquer cristão pudesse desconhecer tal fato! DAP 276.4

2. A segunda posição, de que se trata do dia do juízo, não pode ser correta. Pois embora João tenha recebido uma visão sobre o dia do juízo, ela não poderia ter acontecido no dia que ainda era futuro. A palavra traduzida por no é ἐν (en), definida por Robinson, quando relativa a tempo, da seguinte forma: “Tempo em que; ponto ou período definido em, durante, no qual algo acontece”. Nunca significa sobre ou a respeito. Logo, aqueles que conectam a expressão ao dia do juízo contradizem o vocabulário usado, fazendo-o significar sobre, em vez de no, ou fazem João proferir uma estranha falsidade ao alegar que teve uma visão na ilha de Patmos, há quase 1.800 anos, no dia do juízo que ainda é um acontecimento futuro! DAP 276.5

3. O terceiro ponto de vista é que o “dia do Senhor” se refere ao primeiro dia da semana. Essa é, de longe, a opinião mais defendida dentre todas. A esse respeito, perguntamos quais são as provas. Que evidências temos para essa afirmação? O texto em si não define o termo dia do Senhor; logo, se quer dizer o primeiro dia da semana, devemos procurar em outras partes da Bíblia a prova de que esse dia da semana recebe tal designação. Os únicos outros autores inspirados que fazem alguma menção ao primeiro dia são Mateus, Marcos, Lucas e Paulo; e eles o chamam simplesmente de “primeiro dia da semana”. Nunca falam dele de um modo que lhe dê distinção acima de qualquer outro dos dias de trabalho. E isso é ainda mais notável, do ponto de vista popular, já que três desses autores mencionam o dia justamente na ocasião em que alegam ter se tornado o dia do Senhor, pelo fato de a ressurreição de Cristo ter ocorrido nessa data, e dois o mencionam cerca de 30 anos após tal acontecimento. DAP 276.6

Afirma-se que o termo “dia do Senhor” era comumente empregado para o primeiro dia da semana nos dias de João. Perguntamos, porém: onde está a prova? É impossível encontrá-la. Mas temos provas do contrário (ver History of the Sabbath [História do sábado], de J. N. Andrews, publicado pelo Review Office, Battle Creek, Michigan) [Nota do Revisor: Como o livro está sendo publicado em português, sugiro colocar a referência da obra em português a ser lançada pela Pioneer Library). Caso essa fosse a designação universal do primeiro dia na época em que Apocalipse foi escrito, o mesmo autor chamaria o dia dessa maneira em todos os seus escritos posteriores. Mas João escreveu o evangelho depois de Apocalipse; todavia, nesse evangelho, ele não chama o primeiro dia de dia do Senhor, mas simplesmente de “primeiro dia da semana”. Confira evidências de que o evangelho foi escrito em uma época posterior à elaboração do Apocalipse em obras de autoridades de referência como Religious Encyclopedia, Barnes’s Notes (Gospels), Bible Dictionaries, Cottage Bible, Domestic Bible, Mine Explored, Union Bible Dictionary, Comprehensive Bible, Paragraph Bible, Bloomfield, Dr. Hales, Horne, Nevins e Olshausen. DAP 277.1

Um fato que contraria ainda mais a alegação aqui feita em favor do primeiro dia é o fato de que nem o Pai, nem o Filho nunca reivindicaram o primeiro dia como Seus, colocando-o em posição superior a qualquer outro dos dias de trabalho. Nenhum Deles proferiu qualquer bênção ou atribuiu santidade a esse dia. Caso devesse ser chamado de dia do Senhor pelo fato de Cristo ter ressuscitado em um domingo, sem dúvida a Inspiração nos daria essa informação em algum lugar. Mas há outros acontecimentos igualmente essenciais ao plano da salvação, por exemplo, a crucifixão e a ascensão. Na ausência de qualquer instrução a esse respeito, por que não chamar de dia do Senhor o dia em que esses dois aconteceram, bem como o dia no qual Jesus ressuscitou dentre os mortos? DAP 277.2

4. Depois de refutar as três posições já examinadas, a quarta — de que o dia do Senhor se refere ao sábado do Senhor — requer nossa atenção. Esse fato, por si só, é susceptível das mais claras provas. 1. Quando, no princípio, Deus deu ao ser humano seis dias para trabalhar, reservou claramente o sétimo dia para Si, colocando sobre ele Sua bênção e declarando-o Seu dia santo. 2. Moisés disse a Israel no deserto de Sim, no sexto dia da semana: “Amanhã é repouso, o santo sábado do Senhor” (Êxodo 16:23). Chegamos ao Sinai, no qual o grande Legislador proclamou Seus preceitos morais com assombrosa grandeza e, nesse código supremo, reivindicou da seguinte forma Seu dia santo: “O sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus […] porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a Terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou” (Êxodo 20:10-11). Por intermédio do profeta Isaías, cerca de 800 anos depois, Deus declarou o seguinte: “Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no Meu santo dia […] então, te deleitarás no Senhor” (Isaías 58:13-14). Chegamos à época do Novo Testamento, e Aquele que é um com o Pai afirmou com toda clareza: “o Filho do Homem é senhor também do sábado” (Marcos 2:28). Alguém seria capaz de negar que esse é o dia do Senhor, do qual Ele próprio declarou enfaticamente ser Senhor? Assim vemos que, esteja o Pai ou o Filho envolvido no título, nenhum outro dia pode ser chamado de dia do Senhor a não ser o sábado do grande Criador. DAP 277.3

Mais um pensamento e concluiremos este ponto. Nesta dispensação, existe um dia que se distingue acima dos outros dias da semana como o dia do Senhor. Esse grande fato refuta por completo a alegação feita por alguns de que não há sábado nesta dispensação, mas que todos os dias são iguais. Ao chamá-lo de dia do Senhor, o apóstolo nos dá, perto do fim do primeiro século, sanção apostólica para a observância do único dia que pode ser chamado de dia do Senhor, a saber, o sétimo dia da semana (ver a nota ao fim do capítulo). DAP 278.1

VERSÍCULO 11. Dizendo: O que vês escreve em livro e manda às sete igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia. DAP 278.2

Acerca deste versículo, o Dr. A. Clarke comenta que a frase “Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o derradeiro; e” (KJV, ACF) se encontra ausente nos mais antigos códices unciais da Bíblia (o Codex Alexandrinus [A], o Vaticanus [B] e o Ephraemi Rescriptus [C]), em outros 31 manuscritos, em algumas versões, no siríaco, copta, etíope, armênio, eslavo, na Vulgata, em Aretas, Andreas e Primasius. Griesbach a deixou de fora do texto. Clarke também informa que a expressão “na Ásia” (ARC) não ocorre nos principais manuscritos e versões, e que Griesbach também a omite do texto. Bloomfield também destaca que a frase “Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o derradeiro; e” é, sem dúvida, uma interpolação, bem como as palavras “na Ásia”. O texto original, então, traria as mesmas informações traduzidas na ARA acima (ver as traduções de Whiting, Wesley, American Bible Union e outros; comparar com os comentários sobre o versículo 4). DAP 278.3

VERSÍCULO 12. Voltei-me para ver quem falava comigo e, voltado, vi sete candeeiros de ouro 13. e, no meio dos candeeiros, um semelhante a filho de homem, com vestes talares e cingido, à altura do peito, com uma cinta de ouro. 14. A Sua cabeça e cabelos eram brancos como alva lã, como neve; os olhos, como chama de fogo; 15. os pés, semelhantes ao bronze polido, como que refinado numa fornalha; a voz, como voz de muitas águas. 16. Tinha na mão direita sete estrelas, e da boca saía-Lhe uma afiada espada de dois gumes. O Seu rosto brilhava como o sol na sua força. 17. Quando O vi, caí a Seus pés como morto. Porém Ele pôs sobre mim a mão direita, dizendo: Não temas; Eu sou o primeiro e o último 18. e Aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno. DAP 278.4

Voltei-me para ver quem falava comigo; isto é, para identificar quem estava lhe dirigindo a palavra. DAP 278.5

Sete candeeiros de ouro. Não podem ser o antítipo do antigo cerimonial do templo, pois só havia um candeeiro com sete braços. Ele sempre é mencionado no singular. Mas aqui são sete. Em vez de meros castiçais, eles são mais propriamente “suportes para luminárias”, em que se colocam lâmpadas a fim de iluminar o ambiente. E não têm semelhança com o antigo candeeiro; pelo contrário, os suportes são tão distintos e separados um do outro que o Filho do homem é visto andando no meio deles. DAP 279.1

O filho de homem. A figura central e mais atraente da cena se descortina diante da visão de João na forma majestosa de um semelhante a filho de homem, representando a Cristo. A descrição que Ele aqui recebe, com o cabelo branco, não de velhice, mas, sim, pelo resplendor da glória celestial, Seus olhos flamejantes, Seus pés reluzentes como o bronze polido e Sua voz como o som de muitas águas, não pode ser superada em grandeza e sublimidade. Pasmo diante da presença desse augusto Ser, e talvez com o profundo reconhecimento de toda sua indignidade humana, João caiu a Seus pés como morto; mas uma mão de consolo o tocou e uma voz de doce afirmação o orientou a não temer. Os cristãos de hoje têm o mesmo privilégio de sentir essa mão a fortalecê-los e confortá-los, nas horas de prova e aflição, e de ouvir a mesma voz a lhes falar: “Não temam”. DAP 279.2

Mas a mais alegre certeza em todas essas palavras de consolo é a declaração desse exaltado ser que vive para todo o sempre, o juiz sobre a morte e a sepultura: “Tenho as chaves da morte e do inferno (ᾅδης, a sepultura)”. A morte é uma tirana conquistada. Ela pode até realizar sua sombria obra era após era, reunindo no túmulo os preciosos da Terra, gabando-se por um tempo de seu aparente triunfo; mas está desempenhando uma tarefa inútil. Pois as chaves de sua prisão escura foram arrancadas de suas mãos e agora se encontram nas mãos de Alguém mais poderoso do que ela. É obrigada a depositar seus troféus em uma região na qual outro exerce controle absoluto, o Amigo imutável e prometido Redentor de Seu povo. Por isso, não lamente pelos justos mortos. Eles estão bem guardados. Por um instante, uma inimiga os levou embora, mas um Amigo detém as chaves do local de seu confinamento temporário. DAP 279.3

VERSÍCULO 19. Escreve, pois, as coisas que viste, e as que são, e as que hão de acontecer depois destas. DAP 279.4

Neste versículo, João recebe uma ordem mais definida para escrever todo o Apocalipse, o qual relataria principalmente coisas que ainda estavam no futuro. Em alguns casos, acontecimentos do passado ou até mesmo daquele momento são mencionados; mas tais referências são feitas com o simples propósito de introduzir eventos que se cumpririam após aquela época, para que nenhum elo ficasse em falta na corrente dos fatos apresentados. DAP 279.5

VERSÍCULO 20. Quanto ao mistério das sete estrelas que viste na Minha mão direita e aos sete candeeiros de ouro, as sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete candeeiros são as sete igrejas. DAP 279.6

Representar o Filho do homem segurando nas mãos somente os ministros de sete igrejas literais da Ásia Menor e andando somente no meio dessas sete igrejas seria uma redução das representações e declarações sublimes deste capítulo e dos seguintes à relativa insignificância. O cuidado e a presença providencial do Senhor não se limitam a um número específico de igrejas, mas se estendem a todo Seu povo; não só nos dias de João, mas ao longo dos tempos. “Eis que estou convosco todos os dias”, disse Ele a Seus discípulos, “até à consumação do século” (ver os comentários sobre o versículo 4). DAP 280.1

Nota: Um pensamento adicional pode ser acrescentado a respeito da alegação de que a expressão “dia do Senhor”, do versículo 10, se refere ao primeiro dia da semana. Se, em vez de dizer “Porque o Filho do Homem é senhor do sábado” (Mateus 12:8), Ele tivesse falado: “Porque o Filho do Homem é senhor do primeiro dia da semana”, não seria isso usado como prova conclusiva de que o domingo é o dia do Senhor? Sem dúvida, e com bom motivo para isso. Então que se permita ter o mesmo peso em favor do sétimo dia, o dia em relação ao qual a declaração foi de fato feita. DAP 280.2