Estudos em Educação Cristã
Seleção e Treinamento de Professores
Sem dúvida, mais falhas têm ocorrido nas reformas educacionais e nas escolas por causa da incapacidade dos fundadores em selecionar professores simpatizantes da educação cristã, e com a capacidade de ensinar os ramos essenciais do saber, conforme a direção dos anjos que esperam cooperar no ensino de cada classe, do que através de qualquer outra fraqueza em particular. Professores têm sido empregados em escolas cristãs “que poderiam ir bem numa instituição secular de aprendizagem”, mas que não poderiam seguir o padrão divino conforme revelado aos fundadores. Por essa razão, muitas escolas estabelecidas pelos reformadores logo seguiram o padrão das escolas populares. EEC 82.1
“Deus revelou-me que estamos em real perigo de trazer para nossa obra educacional os costumes e modas que prevalecem nas escolas do mundo” (“The Madison School,” p.28). EEC 82.2
“Que diretores, professores e auxiliares não retornem à sua maneira habitual de deixar que sua influência negue os próprios planos que o Senhor apresentou como os melhores para a educação física, mental e moral da nossa juventude. O Senhor exige que avancem” (The Spalding and Magan Collection, p. 204 [27 de dezembro de 1901]). EEC 82.3
Oberlin foi terrivelmente pressionada por seus próprios irmãos que eram ignorantes da natureza e valor da luz educacional que Deus tão generosamente lhe revelara. Mas severas como fossem as críticas e as pressões externas, Oberlin poderia levar avante o plano de Deus na preparação de um exército de missionários para proclamar o clamor da meia-noite, não fosse o caso de alguns de seus professores terem continuado a se apegar aos princípios e métodos das escolas mundanas. O germe que finalmente a fez cambalear em seu caminho foi inoculado em seus órgãos vitais por membros de seu próprio corpo docente. Um exemplo dos muitos que poderiam ser dados é suficiente para tornar clara essa questão. EEC 82.4
“O Prof. J. P. Cowles nunca olhou com favor para tais excentricidades dietéticas; ele não tinha escrúpulos em ridicularizar ou de se opor a elas, e como ele mesmo afirma, fornecia caixas de pimenta mantendo as mesas supridas com pimenta durante meses, embora a prudente comissão diretiva por fim as tenha retirado” (The Story of Oberlin, p. 422). EEC 82.5
A influência desse professor, juntamente com outros que se opunham à posição do diretor Finney em relação à pimenta e outros condimentos, ao chá, café, alimentos cárneos, etc., os quais falharam em efetuar essa reforma de saúde como cunha de entrada, é assim declarada: EEC 82.6
“Sob a pressão desse temor desmedido, correram com precipitada e confusa pressa de volta às suas panelas de carne; e ali, sob a influência estimulante de infusões frescas de arbusto chinês [Cassinia arcuata], do feijão Mocha, e com a ingestão desenfreada de carne de porco e do caldo de coisas abomináveis, conseguiram impedir a necessária obra de renovação” (Ibid., p. 424). EEC 83.1
A oposição externa, penosa; a interna, grave: — A perturbação, os escárnios e as falsidades de pessoas fora dos muros de Oberlin, que não tinham simpatia por suas reformas, foram desagradáveis e se constituíram em sérios obstáculos, mas a oposição de certos professores que estavam continuamente minando o amor e o respeito dos alunos pela reforma de saúde foi fatal para o progresso em todas as reformas. Ao ceder na questão da reforma de saúde, Oberlin começou a abandonar suas reformas, uma a uma, até que se tornou incapaz de enfrentar a provação de 1844. Assim, Oberlin falhou em sua grande missão para a qual foi convocada pelo primeiro anjo, porque alguns de seus professores não tinham simpatia pela educação cristã. Nas reformas com as quais o corpo docente concordava, Oberlin alcançou um recorde mundial. EEC 83.2
A escola de Jefferson acabou falhando em suas reformas, porque ele foi imprudente o suficiente ao selecionar um grande número de professores das universidades europeias para compor o corpo docente da Universidade de Virgínia. Por mais sábio que Jefferson tenha sido em muitas questões importantes, ele se mostrou fraco nesse ponto, e é dito que EEC 83.3
“Washington colocou objeções; ele duvidou da conveniência de importar um corpo de professores estrangeiros que estariam inclinados a trazer ideias das escolas europeias em desacordo com os princípios da democracia”, os quais Jefferson queria que fossem fundamentais em sua escola. (Thomas Jefferson and the University of Virginia, p. 45). EEC 83.4
Foi por essa mesma razão que os reformadores puritanos leais perderam seu domínio sobre esses princípios que teriam preparado seus descendentes para o clamor da meia-noite. Eles estabeleceram várias escolas como Harvard e Yale que, durante anos, foram reconhecidas como escolas bíblicas; contudo, elas estavam sob a influência de professores que, como vimos, trouxeram-lhes os princípios papais de educação procedentes de Oxford, Eton e outras escolas europeias, e tal conjuntura finalmente destruiu o desejo de reforma. Se há um ponto acima de todos os demais acerca do qual os adventistas do sétimo dia têm sido advertidos, é justamente esse. Destroços da educação cristã jazem espalhados ao longo do caminho, justamente porque professores se opuseram a reformas, como fez aquele professor de Oberlin que insistia em colocar caixas de pimentas sobre as mesas, e ridicularizava a reforma de saúde e seus defensores. É possível que alguns professores adventistas do sétimo dia tenham usado suas caixas de pimenta, cheias das observações as mais picantes e cáusticas contra as reformas educacionais? EEC 83.5
“É muito difícil adotar corretos princípios de educação depois de estar por tanto tempo habituado aos métodos populares. A primeira tentativa para mudar antigos costumes trouxe duras provas aos que queriam trilhar o caminho que Deus indicara. Foram cometidos erros e houve grande prejuízo. Tem havido obstáculos cuja tendência é conservar-nos numa orientação comum, mundana e impedir-nos de assimilar os verdadeiros princípios educacionais... Alguns professores e administradores apenas meio-convertidos são pedras de tropeço a outros. Aceitam alguns pontos e fazem reformas pela metade; mas, ao vir maior conhecimento, recusam-se a avançar, preferindo trabalhar segundo as próprias ideias... Os reformadores têm sido entravados, e alguns deixaram de insistir nas reformas. Parecem impotentes para impedir a corrente de dúvidas e críticas... Precisamos agora recomeçar novamente. Cumpre-nos entrar nas reformas com alma, coração e vontade. Os erros podem estar encanecidos pela idade; esta, porém, não torna o erro verdade, nem a verdade erro” (Testemunhos para a Igreja, Vol. 6, p. 141-142). EEC 84.1
O espírito dos reformados: — Nos dias em que as escolas dos profetas floresciam, o homem encarregado delas era chamado de “pai”, e os estudantes eram conhecidos como “filhos”. Nos tempos do Novo Testamento, um dos maiores professores, superado apenas pelo próprio Mestre, fala com carinho de “Timóteo, meu verdadeiro filho na fé”, e de “Tito, meu verdadeiro filho, segundo a fé comum”, e “meus filhos, por quem, de novo, sofro as dores de parto”. Ele enfatiza ainda mais a diferença entre o professor verdadeiro e o instrutor contratado, dizendo: “Porque, ainda que tivésseis milhares de preceptores em Cristo, não teríeis, contudo, muitos pais; pois eu, pelo evangelho, vos gerei em Cristo Jesus”. É esse espírito de paternidade da parte do professor que conduz ao sucesso. Emerson disse: “Uma instituição é a sombra alongada de um homem”. Esse homem é o “pai”. EEC 84.2
Já vimos que muitos dos fracassos da reforma educativa devem ser lançados aos pés de professores tímidos, descrentes e conservadores. Sempre que se veem o verdadeiro sucesso e a produção de frutos de um movimento de reforma educacional, constata-se que um ou mais professores serviram como pais ou mães nesse empreendimento. Via de regra, precisamos reconhecer que uma escola que é obrigada a sofrer mudanças frequentes de professores ou de gestão vai produzir poucos resultados em termos de firme e saudável reforma educacional. Lutero e Melanchthon eram os pais de Wittenberg e, enquanto ali permaneceram, a instituição foi um poder reformador por toda a Europa. EEC 85.1
Jefferson como pai: — Quando estava com 83 anos de idade, Jefferson viajava entre treze e dezesseis quilômetros no lombo de um cavalo por uma estrada montanhosa acidentada até a Universidade de Virgínia. “Isso mostra o profundo interesse e cuidado que tinha por esta filha de sua avançada idade, e por que ele preferia o título mais afetuoso de ‘pai’ ao de fundador”. Ele conservou esse sentimento paternal ao longo dos últimos anos de sua vida, pois costumava recepcionar os estudantes no jantar de domingo em sua própria casa. EEC 85.2
“Eles podiam ser jovens e tímidos, mas ele sabia de que condado haviam vindo, conhecia os homens com quem eles estavam familiarizados, e se entregava tão completamente à família de estudantes que eles logo se sentiam em casa” (Thomas Jefferson and the University of Virginia, p. 216). EEC 85.3
Oberlin tinha seus próprios pais: — Oberlin nunca poderia ter feito o que fez se lhe tivesse faltado esse espírito de paternidade. A relação dos fundadores para com a instituição, quando foi concebida em suas mentes, é expressa nestas palavras quando eles se levantaram da oração: “Bem, a criança é nascida, e qual será o seu nome?” (The Story of Oberlin, p. 81). O amor deles por essa criança se manifestou da mesma forma que o de um pai que expressa amor por sua prole; eles trabalharam, se sacrificaram e sofreram por anos, sem pensar em remuneração. É dito acerca do corpo docente de Oberlin: EEC 85.4
“Entre eles havia uma convicção que nada poderia abalar, que os professores deveriam avançar ‘pela fé’ em matéria de salário; ou seja, não se deveria insistir em qualquer obrigação legal de pagar-lhes qualquer soma definida, mas que se contentariam em receber qualquer coisa disponível na tesouraria” (Ibid., p. 284). EEC 85.5
O espírito de paternidade por parte dos homens de Oberlin é revelado na seguinte experiência de um obreiro: EEC 86.1
“[Ele] estava tão satisfeito com o que presenciou, em termos de fervor religioso e simplicidade democrática, que não muito tempo depois de lançar sua sorte com os colonos, investiu vários milhares de dólares de seus próprios recursos, ou que obteve solicitando a seus amigos. Depois de eleito como um dos administradores, ele se tornou prolífico em empreendimentos financeiros” (Idem). EEC 86.2
O espírito de paternidade não significa apenas se sacrificar no que diz respeito a salário, mas utilizar o próprio dinheiro e solicitar ajuda de amigos. EEC 86.3
O Sr. Finney também demonstrou essa mesma relação com a instituição. Muitos tentaram seduzi-lo com o que eles gostavam de chamar de “campos mais importantes” ou “melhor remuneração”, mas ele permaneceu como diretor da escola por mais de quarenta anos. Como Elias chamou Eliseu para deixar o arado a fim de assumir uma posição de subordinação na escola dos profetas, com o fim de ser treinado para se tornar um pai quando Elias partisse, assim Finney chamou Fairchild, um jovem que havia se formado em Oberlin. A Fairchild foram posteriormente oferecidas posições populares e lucrativas, mas ele preferiu permanecer em Oberlin como subordinado do Dr. Finney, ganhando quatro dólares por semana, e ali recebeu o treinamento que o levou à direção da escola quando Finney se aposentou. A ligação de Fairchild com a escola durou mais de sessenta anos. EEC 86.4
Cada um desses homens tinha uma visão. Seus alunos tinham visão. Os pais e mães de Oberlin amavam seus filhos, e o exemplo deles teve efeito duradouro nos estudantes, pois eles iam a todos os lugares com o mesmo espírito para criarem empreendimentos para a salvação de almas. Nunca hesitavam porque determinado campo era considerado difícil. Eram leais no campo dificultoso assim como seus professores antes deles haviam sido fiéis a Oberlin. Isso levou os estudantes a dizer: “Daqui por diante, a terra que mais necessita de minha ajuda será meu país”. EEC 86.5
Andando com Deus, mas não com um coração perfeito: — Sobre certos reis de Judá está escrito que eles “fizeram o que era justo à vista do Senhor, mas não com um coração perfeito”. Deus usou o Prof. Finney e lhe deu uma visão da condição espiritual das igrejas populares. Ele sabia quais seriam os resultados se elas não se reformassem. EEC 86.6
“O Prof. Finney do Oberlin College disse: ‘As igrejas em geral se estão degenerando lamentavelmente. Elas se têm afastado muito do Senhor, e Ele tem se retirado delas.’” (O Grande Conflito, p. 377). EEC 87.1
Stewart, Shipherd, o diretor Mahan, todos fundadores de Oberlin, entenderam a situação tão bem quanto o Prof. Finney. Todos eles reconheceram que a única maneira sensata de promover uma reforma permanente nas denominações protestantes era através de um sistema de educação cristã, pois “a esperança do futuro trabalho missionário encontra-se nos jovens”. Esses homens combateram o bom combate. Foram todos reformadores da mais alta categoria. Pertencem à mesma estirpe de homens como Guilherme Miller, Fitch, Himes e outros. EEC 87.2
Oberlin ouve a mensagem do primeiro anjo pregada por Guilherme Miller e Charles Fitch: — EEC 87.3
“Guilherme Miller, depois de haver descoberto coisas muito maravilhosas em Daniel e Apocalipse, prosseguiu durante meia geração para virar o mundo de cabeça para baixo na preparação para o fim desta dispensação, que o profeta-fazendeiro fixou para 1843” (The Story of Oberlin, p. 66). EEC 87.4
“O Pr. Charles Fitch veio pregar a doutrina da imediata segunda vinda de Cristo. Ele era um homem muito amigável, intensamente sincero, profundamente convencido da verdade de sua mensagem, e sentiu-se chamado a trazer maior luz ao precioso povo de Oberlin” (Oberlin: The Colony and the College, p. 86). EEC 87.5
Os fundadores ficaram bastante tocados, assim como muitos dos estudantes. Mas já vimos a fraqueza por parte de alguns professores de Oberlin em relação a reformas anteriores. Vimos o espírito terrivelmente amargo manifestado pela maioria dos líderes denominacionais. Essas atitudes quase esmagaram as reformas de Oberlin até que ela se tornou incapaz de satisfazer as exigências maiores para as quais o clamor da meia-noite lhe chamou a atenção. O Oberlin College não foi perfeito em seu coração, mas Deus recompensou a instituição pela fidelidade que havia mostrado, e ela se tornou um poderoso fator em certas reformas na história do mundo, apesar de não participar da mais importante de todas as reformas — a terceira mensagem angélica. É bom que os adventistas do sétimo dia se lembrem das coisas que aconteceram em Oberlin, como exemplo para aqueles sobre quem os fins dos tempos são chegados. Os professores de Oberlin não “romperam todo jugo” de uma educação mundana, mas “colocaram sobre o pescoço de seus alunos jugos mundanos em vez do jugo de Cristo”. É-nos dito: “O plano das escolas que havemos de estabelecer nesses anos finais da obra deve ser de ordem inteiramente diversa das que temos instituído”, mas Oberlin decidiu seguir os métodos adotados nas escolas estabelecidas mais antigas. Essa instituição cedeu à pressão e assim começou aquele “apego aos velhos costumes, e, por isso, nos achamos bem aquém de onde devíamos estar no desenvolvimento” da obra de Deus. Os homens de Oberlin, pouco antes de chegar o seu teste, deixaram de compreender o propósito de Deus nos planos colocados diante deles para a educação de seus obreiros. “Adotaram métodos que retardaram a obra de Deus. Passaram-se anos para a eternidade, com pequenos resultados, que poderiam ter presenciado a realização de uma grande obra”. Oberlin, cedendo à oposição, incapacitou-se para levar a mensagem da verdade presente em toda a sua plenitude a outros países, “porque falhou em romper todo jugo educacional”. Falhou, por fim, em “entrar na linha da verdadeira educação”; como resultado, não pôde dar a mensagem final ao mundo. EEC 87.6