História do Sábado

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4 – O Quarto Mandamento

O Santo sobre o monte Sinai – Três grandes dons concedidos aos hebreus – O sábado proclamado pela voz de Deus – A posição atribuída a ele na lei moral – Origem do sábado – Caráter explícito do mandamento – Rotação da Terra sobre seu eixo – Nome da instituição sabática – O sétimo dia do mandamento é idêntico ao sétimo dia da semana do Novo Testamento – Testemunho de Neemias – Obrigação moral do quarto mandamento HS 35.1

Nós agora nos aproximamos do registro daquele evento sublime, a descida pessoal do Senhor sobre o monte Sinai.1 Conforme observamos, o 16º capítulo de Êxodo é notável porque, nele, vemos que Deus deu o sábado a Israel; o 19º capítulo é igualmente notável porque, ali, está registrado que Deus entregou a Si mesmo ao povo, ao desposá-lo solenemente como nação santa; e o mesmo pode ser dito do 20º capítulo, pois nele testemunhamos o ato do Altíssimo de entregar Sua lei a Israel. HS 35.2

É costume acusar o sábado e a lei de serem judeus por terem sido entregues a Israel. Seria necessário, então, falar também contra o Criador, que os tirou do Egito para ser o Deus deles e que Se denominava Deus de Israel.2 Os hebreus foram honrados quando o sábado e a lei lhes foram confiados; o sábado, a lei e o Criador, porém, não se tornaram judeus por causa desse ato. Os autores das Sagradas Escrituras falam sobre a elevada posição em que Israel foi colocado quando a lei de Deus lhe foi confiada. HS 35.3

“Mostra a Sua palavra a Jacó, as Suas leis e os Seus preceitos a Israel. Não fez assim a nenhuma outra nação; todas ignoram os Seus preceitos. Aleluia!” “Qual é, pois, a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão? Muita, sob todos os aspectos. Principalmente porque aos judeus foram confiados os oráculos de Deus”. “São israelitas. Pertence-lhes a adoção e também a glória, as alianças, a legislação, o culto e as promessas; deles são os patriarcas, e também deles descende o Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre. Amém!”3 HS 35.4

Depois que o Deus Altíssimo fez uma aliança solene com Seu povo, transformando-o em Seu tesouro peculiar na Terra,4 os israelitas vieram do arraial para se encontrarem com Deus. “Todo o monte Sinai fumegava, porque o Senhor descera sobre ele em fogo; a sua fumaça subiu como fumaça de uma fornalha, e todo o monte tremia grandemente”. Do meio desse fogo, Deus proclamou as dez ordenanças de Sua lei.5 O quarto desses preceitos é a grandiosa lei do sábado. Assim falou o grande Legislador: HS 36.1

“Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro; porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou.” HS 36.2

O valor que o Legislador colocou sobre o sábado é visto no fato de que Ele o considerou digno de um lugar na lei dos Dez Mandamentos, fazendo com que tal mandamento fosse posto no meio de nove preceitos morais imutáveis. E não se trata de uma honra de pequena importância, o Altíssimo, ao nomear, um por um, os grandes princípios da moralidade, até concluí-los, sem acrescentar nenhum outro,6 incluir em seu número a observância do sagrado dia de descanso. Tal preceito é expressamente dado para impor a observância do grande memorial do Criador; e, diferente de todos os outros, este mandamento remonta sua obrigação à Criação, onde o memorial foi ordenado. HS 36.3

O sábado deve ser lembrado e santificado porque Deus o santificou, isto é, designou-o para uso santo, no final da primeira semana do tempo. E essa santificação do dia de descanso, quando o primeiro sétimo dia terminou, foi o ato solene de separar esse dia para os tempos vindouros, em memória do descanso do Criador. Assim, o quarto mandamento remonta à instituição do sábado no paraíso e a engloba, ao passo que a santificação do sábado no paraíso se estende por todo o tempo por vir. O relato acerca do deserto de Sim consolida, de maneira admirável, a união entre os dois. Pois, no deserto de Sim, antes da entrega do quarto mandamento, lá estava o santo sábado do Senhor, como uma ordenança cuja obrigação já existia, embora nenhum mandamento nessa narrativa crie tal obrigação. Ela deriva da mesma fonte do quarto mandamento, a saber, a santificação do sábado no paraíso, mostrando que já era um dever existente, e não um novo preceito. Portanto, nunca se deveria esquecer que o quarto mandamento não fundamenta sua obrigação na experiência do deserto de Sim, mas na criação – uma prova decisiva de que o sábado não surgiu no deserto de Sim. HS 36.4

O quarto mandamento é notavelmente explícito. Ele abrange, em primeiro lugar, um preceito: “Lembra-te do dia de sábado, para o santificar”; em seguida, ele apresenta uma explicação do preceito: “Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro”; terceiro, ele expõe os motivos que embasam o preceito, mencionando a origem da instituição e os próprios atos que o criaram – motivos cuja validade se firma no exemplo7 do próprio Legislador: “porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou”. HS 36.5

Assim, o dia de descanso do Senhor se distingue dos seis dias nos quais Ele trabalhou. A bênção e a santificação pertencem ao dia de descanso do Criador. Logo, não pode haver nenhuma indefinição no preceito. Não se trata meramente de um dia em sete, mas, sim, do dia, dentre os sete, no qual o Criador descansou e sobre o qual Ele colocou Sua bênção, a saber, o sétimo dia.8 E esse dia é precisamente indicado por meio do nome com que Deus o designou: “o sétimo dia é o sábado [isto é, o dia de descanso] do Senhor, teu Deus”. HS 37.1

Pode-se claramente comprovar que o sétimo dia do quarto mandamento é o mesmo sétimo dia do Novo Testamento. No relato do sepultamento de nosso Senhor, Lucas escreveu assim: HS 37.2

“Era o dia da preparação, e começava o sábado. As mulheres que tinham vindo da Galileia com Jesus, seguindo, viram o túmulo e como o corpo fora ali depositado. Então, se retiraram para preparar aromas e bálsamos. E, no sábado, descansaram, segundo o mandamento. Mas, no primeiro dia da semana, alta madrugada, foram elas ao túmulo, levando os aromas que haviam preparado.”9 HS 37.3

Lucas testemunha que as mulheres guardaram o “sábado”, descansando “segundo o mandamento”. O mandamento diz: “o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus”. Esse dia, assim observado, foi o último, ou o sétimo dia da semana, pois o dia seguinte10 foi o primeiro dia da semana. HS 37.4

O testemunho de Neemias é muito interessante. “Desceste sobre o monte Sinai, do céu falaste com eles e lhes deste juízos retos, leis verdadeiras, estatutos e mandamentos bons. O Teu santo sábado lhes fizeste conhecer; preceitos, estatutos e lei, por intermédio de Moisés, Teu servo, lhes mandaste”.11 É notável a afirmação de que Deus lhes fez conhecer o sábado quando Ele desceu sobre o monte, pois os filhos de Israel já tinham posse do sábado quando se posicionaram ao redor do Sinai. Essas palavras devem, portanto, se referir ao detalhamento completo da instituição sabática, dado por intermédio do quarto mandamento. E note a expressão: “o Teu santo sábado lhes fizeste conhecer”,12 em vez de “fizeste o sábado para eles” – uma linguagem que indica, com clareza, sua existência prévia, e que direciona a mente para o descanso do Criador como sendo a origem da instituição sabática.13 HS 37.5

A obrigação moral do quarto mandamento, negada com tanta frequência, pode ser claramente demonstrada por meio da referência à origem de todas as coisas. Deus criou o mundo e trouxe à existência o ser humano para nele habitar. Ao homem, deu vida, fôlego e tudo o mais. Portanto, o ser humano deve todas as coisas a Deus. Cada faculdade de sua mente, cada capacidade de seu ser, toda sua força e todo o seu tempo pertencem, por direito, ao Criador. Por isso, foi por Sua benevolência que o Criador deu ao homem seis dias, para que este fizesse uso deles para suprir suas próprias necessidades. E, ao separar o sétimo dia para uso santo, em memória de Seu próprio descanso, o Altíssimo estava reservando para Si apenas um dos sete dias, quando teria o direito de reivindicar todos eles como Seus. Assim, em vez de o sétimo dia ser um presente do homem a Deus, são os seis dias que são um presente de Deus ao homem. O quarto mandamento não exige que o ser humano dê a Deus algo que pertença ao homem, mas, sim, que o homem não se aproprie de algo que Deus reservou para a Sua própria adoração. Observar esse dia é render a Deus aquilo que já é Dele; apropriar-nos desse dia é simplesmente roubar a Deus. HS 38.1