A Ciência Do Bom Viver, A
Nos Bairros Pobres
Há nas grandes cidades multidões que recebem menos cuidado e consideração do que os que são concedidos a mudos animais. Pensai nas famílias amontoadas como rebanhos em miseráveis cortiços, sombrios porões muitos deles, exalando umidade e imundícia. Nesses sórdidos lugares as crianças nascem, crescem e morrem. Nada vêem das belezas naturais que Deus criou para deleitar os sentidos e elevar a alma. Rotas e quase morrendo de fome, vivem elas entre o vício e a depravação, moldadas no caráter pela miséria e o pecado que as rodeia. As crianças só ouvem o nome de Deus de maneira profana. A linguagem suja, as imprecações e os insultos enchem-lhes os ouvidos. As exalações da bebida e do fumo, nocivos maus cheiros e degradação moral pervertem-lhes os sentidos. Assim se preparam multidões para se tornarem criminosos, inimigos da sociedade que os abandonou à miséria e à degradação. CBV 189.5
Nem todos os pobres dos becos das cidades pertencem a essa classe. Homens e mulheres tementes a Deus têm sido levados aos extremos da pobreza por doença ou infortúnio, muitas vezes causados pelos desonestos planos dos que vivem à custa dos semelhantes. Muitos que são retos e bem-intencionados ficam pobres por falta de preparo profissional. Por ignorância, se acham inaptos para lutar com as dificuldades da vida. Levados a esmo para as cidades, são muitas vezes incapazes de achar emprego. Rodeados de cenas e sons de vício, são sujeitos a terríveis tentações. Associados e muitas vezes classificados com os viciados e os degradados, é somente por uma luta sobre-humana, um poder acima do finito, que podem ser preservados de cair no mesmo abismo. Muitos se apegam firmemente a sua integridade, preferindo sofrer a pecar. Esta classe, em especial, requer auxílio, simpatia e ânimo. CBV 190.1
Se os pobres agora aglomerados nas cidades encontrassem habitações no campo, poderiam não somente ganhar a subsistência, mas encontrar a saúde e a felicidade que hoje desconhecem. Trabalho árduo, comida simples, estrita economia, muitas vezes durezas e privações, eis o que seria sua vida. Mas que bênçãos lhes seria deixar a cidade com suas atrações para o mal, sua agitação e crime, sua miséria e torpeza, para o sossego, a paz e pureza do campo! CBV 190.2
Para muitos dos que residem nas cidades, sem ter um cantinho de relva verde em que pisar, que olham ano após ano para pátios imundos, becos estreitos, paredes e pavimentos de tijolo e céus nublados de poeira e fumaça - pudessem eles ser levados a alguma região agrícola, circundada de verdes campinas, matas, colinas e riachos, os límpidos céus e o ar fresco e puro dos campos, isso lhes pareceria quase um paraíso. CBV 191.1
Separados em grande parte do contato do homem e da dependência deles, afastados das máximas e costumes corruptores do mundo e de suas tentações, aproximar-se-iam mais do coração da natureza. A presença de Deus lhes seria mais real. Muitos aprenderiam a lição da confiança nEle. Mediante a natureza, ouviriam Sua voz comunicando-lhes paz e amor ao coração; e espírito e alma e corpo corresponderiam ao restaurador e vivificante poder. CBV 192.1
Se hão de tornar-se um dia industriosos e independentes, muitos precisam de ter auxílio, encorajamento e instrução. Há multidões de famílias pobres pelas quais não se poderia fazer nenhum melhor trabalho missionário do que ajudá-las a se estabelecerem no campo, e aprenderem a tirar dele um meio de vida. CBV 192.2
A necessidade de tal auxílio e instrução não se limita às cidades. Mesmo no campo, com todas as suas possibilidades quanto a uma vida melhor, multidões de pobres se acham em grande carência. Localidades inteiras estão destituídas de educação em assuntos industriais e higiênicos. Há famílias morando em choças, com mobília e vestuário deficientes, sem utensílios, sem livros, destituídos tanto de confortos como de meios de cultura. Almas embrutecidas, corpos fracos e mal formados, mostram os resultados da má hereditariedade e dos hábitos errôneos. Essas pessoas devem ser educadas principiando com os próprios fundamentos. Têm vivido uma vida frouxa, ociosa, corrupta, e precisam ser exercitadas nos hábitos corretos. CBV 192.3
Como podem elas ser despertadas para a necessidade de melhoria? Como podem ser encaminhadas para um mais elevado ideal de vida? Como podem ser ajudadas a se erguer? Que se pode fazer onde domina a pobreza, tendo-se com ela de lutar a cada passo? O trabalho é certamente difícil. A necessária reforma jamais se efetuará, a menos que homens e mulheres sejam assistidos por um poder fora deles mesmos. É o desígnio de Deus que o rico e o pobre estejam intimamente ligados pelos laços da simpatia e da assistência mútua. Os que dispõem de meios, talentos e aptidões devem empregá-los para benefício de seus semelhantes. CBV 193.1
Os agricultores cristãos podem fazer um verdadeiro trabalho missionário em ajudar os pobres a encontrar um lar no campo, e ensinar-lhes a lavrar o solo e torná-lo produtivo. Ensinai-os a servir-se dos instrumentos de agricultura, a cultivar as várias plantações, a formar pomares e cuidar deles. CBV 193.2
Muitos dos que lavram o solo deixam de colher a devida retribuição por causa de sua negligência. Seus pomares não são devidamente cuidados, as sementes não são semeadas no tempo conveniente, e a obra de revolver a terra é feita de modo superficial. Seu mau êxito, lançam eles à conta da esterilidade do solo. Dá-se muitas vezes um falso testemunho ao condenar uma terra que, devidamente cultivada, havia de produzir fartos lucros. A estreiteza dos planos, o pequeno esforço desenvolvido, o pouco estudo feito quanto aos melhores processos, clamam em alta voz por uma reforma. CBV 193.3
Ensinem-se os métodos apropriados a todos quantos estejam dispostos a aprender. Se alguns não gostam que lhes faleis de idéias avançadas, dai-lhes silenciosamente as lições. Cultivai do melhor modo vossa própria terra. Dirigi quando vos for possível uma palavra aos vizinhos, e deixai que a colheita fale eloqüentemente em favor dos bons métodos. Demonstrai o que se pode fazer com a terra, quando devidamente cultivada. CBV 193.4
Deve-se dar atenção ao estabelecimento de várias indústrias, para que famílias pobres possam assim encontrar colocação. Carpinteiros, ferreiros, enfim todos quantos têm conhecimento de algum ramo de trabalho útil, devem sentir a responsabilidade de ensinar e ajudar o ignorante e o desempregado. CBV 194.1
No serviço aos pobres há, para as mulheres, um vasto campo de utilidade, da mesma maneira que para os homens. A eficiente cozinheira, a dona-de-casa, a costureira, a enfermeira - de todas elas é necessário auxílio. Ensinem-se os membros das famílias pobres a cozinhar, a costurar e remendar sua própria roupa, a tratar dos doentes, a cuidar devidamente da casa. Ensine-se aos meninos e às meninas alguma ocupação útil. CBV 194.2