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Significação da prova

Quando Cristo sofreu a prova da tentação na questão do apetite, não Se achava Ele no lindo Éden, como se dera com Adão, com a luz e o amor de Deus a manifestarem-se em tudo sobre que pousava os olhos. Achava-Se, sim, num estéril e ermo deserto, rodeado de animais ferozes. Tudo a Sua volta era repulsivo, coisa de que a natureza humana desejava recuar. Nesse ambiente jejuou Ele quarenta dias e quarenta noites. “Nada comeu naqueles dias.” Lucas 4:2. Ficou abatido pelo longo jejum e experimentou a mais aguda sensação de fome. Na verdade, tinha o rosto desfigurado, mais do que o dos outros filhos dos homens. Isaías 52:14. ME1 272.2

Entrou Cristo assim em Sua vida de conflito, para vencer o inimigo poderoso, suportando a mesma prova a que Adão sucumbira, a fim de que, mediante a luta bem-sucedida, pudesse quebrar o poder de Satanás e redimir da desgraça da queda a raça humana. ME1 272.3

Tudo se perdeu, quando Adão cedeu ao poder do apetite. O Redentor, em quem se uniram o humano e o divino, pôs-Se em lugar de Adão e suportou o terrível jejum de quase seis semanas. A extensão deste jejum é a mais forte evidência da amplitude da pecaminosidade e poder do apetite depravado, sobre a família humana. ME1 272.4

A humanidade de Cristo alcançou as profundezas da miséria humana, e identificou-se com as fraquezas e necessidades do homem caído, enquanto Sua natureza divina alcançava o Eterno. Sua obra de arcar com a culpa da transgressão do homem não se destinava a dar a este licença para continuar a violar a lei de Deus, lei da qual o homem se tornara devedor quanto a uma dívida que Cristo mesmo estava pagando por Seus sofrimentos. As provas e sofrimentos de Cristo destinavam-se a impressionar o homem com uma intuição de seu grande pecado ao quebrantar a lei de Deus, e levá-lo ao arrependimento e à obediência dessa lei, e pela obediência à aceitação para com Deus. Sua justiça imputaria Ele ao homem, erguendo-o assim quanto ao valor moral diante de Deus, de modo que seus esforços para cumprir a lei divina seriam aceitáveis. A obra de Cristo era reconciliar o homem com Deus mediante Sua natureza humana, e reconciliar Deus com o homem mediante Sua natureza divina. ME1 272.5

Logo que começou o longo jejum de Cristo no deserto, Satanás esteve a postos, com suas tentações. Envolto em luz, dirigiu-se a Cristo, pretendendo ser um dos anjos do trono de Deus, enviado a trazer uma mensagem de misericórdia, compadecendo-se dEle, e para aliviá-Lo de Seus sofrimentos. Procurou fazer Cristo crer que Deus não exigia que Ele passasse pela renúncia e sofrimentos que antecipara; que fora ele enviado do Céu para Lhe trazer a mensagem de que Deus apenas quisera provar Sua boa vontade em resistir. ME1 273.1

Satanás disse a Cristo que devia apenas colocar os pés na vereda salpicada de sangue, mas não palmilhá-la. Como Abraão, foi Jesus provado para mostrar Sua obediência perfeita. Afirmou ele também ser o anjo que detivera a mão de Abraão ao levantar o cutelo para sacrificar a Isaque, e que viera agora para Lhe salvar a vida; que não era preciso que suportasse a penosa fome e a ela sucumbisse; ele O ajudaria a levar a termo uma parte da obra do plano da salvação. ME1 273.2

O Filho de Deus volveu-Se de todas essas astuciosas tentações, e ficou firme em Seu propósito de levar a termo, em todos os pormenores, no espírito e mesmo na letra, o plano que fora elaborado para a redenção da raça caída. Satanás, porém, tinha multiformes tentações preparadas para enredar a Cristo e prevalecer contra Ele. Se não alcançasse êxito com uma tentação, experimentaria outra. Pensou que haveria de ter êxito, porque Cristo Se humilhara como homem. Lisonjeou-se de que o disfarce que usava, fingindo-se um dos anjos celestiais, não poderia ser descoberto. Dissimulou duvidar da divindade de Cristo, por causa de Seu aspecto desfigurado e o ambiente desagradável. ME1 273.3

Cristo sabia que ao tomar a natureza do homem, não seria igual aos anjos na aparência. Satanás insistiu em que, se era Ele de fato o Filho de Deus, devia dar-lhe prova de Seu caráter exaltado. Aproximou-se de Cristo com tentações quanto ao apetite. Vencera a Adão neste ponto e dominara seus descendentes, e mediante a condescendência com o apetite levara-os a provocar a Deus pela iniqüidade, a ponto de se tornarem seus crimes tão grandes que o Senhor os destruiu da face da Terra pelas águas do dilúvio. ME1 274.1

Sob as diretas tentações de Satanás os filhos de Israel permitiram que o apetite controlasse a razão e, pela condescendência, foram levados a cometer pecados graves, que despertaram a ira de Deus contra eles, e caíram no deserto. Pensou ele que teria êxito em vencer a Cristo com a mesma tentação. Disse a Cristo que um dos exaltados anjos fora degredado para o mundo, e que Seu aspecto indicava que, em vez de ser o Rei do Céu, era o anjo caído, e isto explicava Sua aparência abatida. ME1 274.2