Testemunhos para a Igreja 4
Capítulo 33 — Pastores consagrados
Três anos atrás, o Senhor me deu uma visão das coisas passadas, presentes e futuras. Vi jovens pregando a verdade, alguns dos quais, naquele tempo, ainda não a tinham recebido. Eles têm desde então se apegado à verdade, e tentam conduzir outros a ela. Foi-me mostrado o seu caso, irmão I. No passado sua vida não foi de modo a levá-lo a esquecer o eu. Você é por natureza egoísta e auto-suficiente, depositando total confiança em sua força. Isso o impedirá de adquirir a experiência necessária para torná-lo um humilde e eficiente ministro de Cristo. T4 371.1
Há muitos no campo que estão numa condição semelhante. Podem apresentar a teoria da verdade, mas têm falta da verdadeira piedade. Se os pastores agora trabalhando no campo do evangelho, incluindo você, sentissem diariamente a necessidade do exame próprio e comunhão com Deus, então estariam em condição de receber as palavras de Deus para dá-las ao povo. Suas palavras e viver diário serão “cheiro de vida para a vida” ou “de morte para a morte”. 2 Coríntios 2:16. T4 371.2
Você pode inteligentemente crer na verdade; mas a obra está ainda diante de você para colocar todo o ato de sua vida e toda a emoção de seu coração em harmonia com sua fé. A oração de Cristo por Seus discípulos pouco antes de Sua crucifixão foi: “Santifica-os na verdade; a Tua palavra é a verdade.” João 17:17. A influência da verdade não deve afetar meramente o entendimento, mas o coração e a vida. A religião genuína, prática, levará o seu possuidor a controlar suas emoções. Sua conduta exterior deve ser santificada através da verdade. Asseguro-lhe perante Deus de que você é seriamente deficiente em religiosidade prática. Os pastores não devem assumir a responsabilidade de professores do povo, imitando a Cristo, o Grande Exemplo, a menos que sejam santificados para a grande obra, a fim de poderem ser exemplos para o rebanho de Deus. Um pastor não santificado pode causar incalculável mal. Conquanto professando ser embaixador de Cristo, seu exemplo será copiado por outros; e se lhe faltam as verdadeiras características de um cristão, suas faltas e deficiências serão reproduzidas neles. T4 371.3
Homens podem ser capazes de repetir com fluência as grandes verdades expressas com integridade e perfeição em suas publicações; podem falar fervorosa e inteligentemente do declínio da religião nas igrejas; podem apresentar o padrão do evangelho perante o povo de um modo muito capaz, enquanto os deveres do dia-a-dia da vida cristã, que requerem ação, bem como sentimento, são considerados por eles como não estando entre as questões de maior peso. Este é seu perigo. A religião prática reivindica sua ação igualmente sobre o coração, a mente e a vida diária. Nossa sagrada fé não consiste em sentimento nem meramente em ação, mas esses dois aspectos precisam ser combinados na vida cristã. A religião prática não existe independentemente da atuação do Espírito Santo. Você precisa deste agente, meu irmão, e assim também todos quantos entram na obra de esforçar-se para convencer transgressores de sua condição perdida. Este instrumento do Espírito de Deus não nos isenta da necessidade de exercitarmos nossas faculdades e talentos, mas nos ensina a usar toda capacidade para a glória de Deus. As faculdades humanas, quando sob a direção especial da graça de Deus, são suscetíveis de ser usadas para o melhor propósito na Terra, e serão exercidas na futura vida imortal. T4 372.1
Meu irmão, foi-me mostrado que você poderia tornar-se um professor de muito êxito se se consagrasse totalmente ao trabalho, mas seria um obreiro muito fraco caso não o fizesse. Não aceita, como o Redentor do mundo aceitou, a posição de servo, a difícil parte do dever do pregador do evangelho; e neste particular há muitos tão deficientes quanto você. Aceitam seus salários praticamente sem considerar se fizeram o máximo para servir à causa ou a si mesmos, se dedicaram o seu tempo e talentos inteiramente à obra de Deus ou se apenas falaram no púlpito e devotaram o restante de seu tempo aos próprios interesses, inclinações ou prazer. T4 372.2
Cristo, a Majestade do Céu, pôs de lado as Suas vestes de realeza, e veio a este mundo todo endurecido e arruinado pela maldição, para ensinar os homens como viver uma vida de abnegação e sacrifício próprio, e como pôr em prática a religião na vida diária. Ele veio para dar o exemplo correto de um ministro do evangelho. Esforçava-Se constantemente por um objetivo; todas as Suas forças eram empregadas para a salvação do ser humano, e todo o ato de Sua vida visava este fim. Viajava a pé, ensinando Seus seguidores à medida que prosseguia. Suas vestes eram empoeiradas e manchadas pela viagem, e Sua aparência era pouco convidativa. Contudo, as verdades simples e objetivas que saíam de Seus divinos lábios logo faziam com que os ouvintes se esquecessem de Sua aparência, e ficassem encantados, não com o homem, mas com a doutrina que Ele ensinava. Após ensinar durante todo o dia, freqüentemente dedicava a noite à oração. Fazia Suas súplicas a Seu Pai com forte clamor e lágrimas. Orava, não por Si mesmo, mas por aqueles a quem veio redimir. T4 373.1
Poucos pastores oram a noite inteira, como fez nosso Salvador, ou dedicam horas do dia para orar a fim de se tornarem aptos ministros do evangelho, e eficientes em levar homens a ver as belezas da verdade e serem salvos através dos méritos de Cristo. Daniel orava três vezes ao dia; mas muitos que fazem a mais exaltada profissão de fé não humilham nenhuma vez ao dia sua alma perante Deus em oração. Jesus, o querido Salvador, a todos deu notáveis lições de humildade, mas em especial ao ministro do evangelho. Em Sua humilhação, ao achar-se quase concluída Sua obra na Terra e Ele prestes a voltar para o trono do Pai, de onde viera, tendo nas mãos todo o poder e na fronte toda a glória, entre Suas últimas lições aos discípulos houve uma sobre a importância da humildade. Enquanto eles contendiam a respeito de quem seria o primeiro no reino prometido, cingiu-Se Ele como um servo, e lavou os pés daqueles que O chamavam Senhor e Mestre. T4 373.2
Seu ministério estava quase terminado; poucas lições mais tinha a ensinar. E para que jamais esquecessem a humildade do puro e impecável Cordeiro de Deus, o grande, o eficaz Sacrifício pelo homem humilhou-Se a lavar os pés dos discípulos. Ser-lhe-á benéfico, bem como aos pastores em geral, o recapitular freqüentemente as cenas finais da vida de nosso Redentor. Ali, rodeado como estava de tentações, podemos todos aprender lições da mais alta importância para nós. T4 374.1
Bom seria passar cada dia uma hora de reflexão, recapitulando a vida de Jesus da manjedoura ao Calvário. Devemos tomá-la, ponto por ponto, deixando que a imaginação se apodere vividamente de cada cena, em particular das cenas finais de Sua vida terrestre. Contemplando assim Seus ensinos e sofrimentos, e o infinito sacrifício por Ele feito para redenção da raça humana, podemos revigorar nossa fé, vivificar nosso amor e imbuir-nos mais profundamente do espírito que sustinha nosso Salvador. T4 374.2
Caso queiramos afinal ser salvos, todos nós devemos aprender, junto à cruz, a lição de penitência e de fé. Cristo sofreu humilhação a fim de salvar-nos da vergonha eterna. Consentiu em receber escárnio, zombaria e maus-tratos para que nos pudesse proteger. Foi nossa transgressão que Lhe adensou em torno da divina alma o véu da escuridão, e arrancou-Lhe um brado como de pessoa ferida e abandonada por Deus. “Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre Si” (Isaías 53:4), por causa de nossos pecados. Fez-Se oferta pelo pecado a fim de que, por meio dEle, pudéssemos ser justificados perante Deus. Tudo quanto é nobre e generoso no homem será suscetível à contemplação de Cristo crucificado. T4 374.3
Anseio ver nossos pastores se demorarem mais na cruz de Cristo, o coração enternecido e subjugado pelo incomparável amor do Salvador, amor que inspirou o sacrifício imenso. Se a par da teoria da verdade, nossos obreiros se demorassem mais sobre a piedade prática, falando inspirados por um coração possuído do espírito da verdade, veríamos muito mais almas se arrebanharem em torno do estandarte da verdade; o coração ser-lhes-ia tocado ante os apelos da cruz de Cristo, da infinita generosidade e piedade de Jesus em sofrer pelo homem. Esses assuntos vitais, aliados aos pontos doutrinários de nossa fé, efetuariam grande bem entre o povo. O coração do mestre, porém, precisa achar-se possuído do conhecimento experimental do amor de Cristo. T4 375.1
O poderoso argumento da cruz convencerá do pecado. O divino amor de Deus pelos pecadores, expresso no dom de Seu Filho para sofrer vergonha e morte de modo a que eles fossem enobrecidos e dotados de vida eterna, constitui estudo para toda a existência. Peço-lhes que estudem de novo a cruz de Cristo. Se todos os orgulhosos e vangloriosos cujo coração anseia aplauso dos homens e distinção acima de seus companheiros pudessem calcular devidamente o valor da mais exaltada glória terrena em comparação com o valor do Filho de Deus — rejeitado, desprezado, cuspido por aqueles mesmos a quem viera salvar — quão insignificantes pareceriam todas as honras que o homem mortal pudesse conferir! T4 375.2
Prezado irmão, você sente, em suas realizações imperfeitas, que é qualificado para quase qualquer posição. Mas ainda não foi achado capaz de controlar a si mesmo. Sente-se competente para dar ordens aos homens de experiência, quando deveria estar disposto a ser conduzido e colocar-se na posição de um aprendiz. Quanto menos meditar em Cristo e em Seu incomparável amor, e quanto menos se assemelhar a Sua imagem, tanto melhor parecerá ser aos próprios olhos e tanto maior será sua autoconfiança e satisfação própria. O correto conhecimento de Cristo, a constante contemplação do Autor e Consumador de nossa fé, lhe darão tal visão do caráter de um cristão genuíno, que você não poderá deixar de fazer correta avaliação de sua própria vida e caráter, em contraste com os do grande Exemplo. Verá então sua própria fraqueza, sua ignorância, seu amor ao conforto e sua indisposição para negar o eu. T4 375.3
Você apenas começou a estudar a Santa Palavra de Deus. Apanhou algumas gemas da verdade, que, com muita luta e muitas orações, foram cavadas por outros; mas a Bíblia está cheia delas; faça desse Livro o objeto de seu zeloso estudo e a regra de sua vida. Seu perigo será sempre de desprezar o conselho, e atribuir-se um valor mais elevado do que Deus lhe atribui. Há muitos que estão sempre prontos a lisonjear e louvar o pastor que sabe falar. Para seu próprio prejuízo um jovem pastor está sempre em perigo de ser mimado e aplaudido, enquanto ao mesmo tempo pode ser deficiente nas coisas essenciais que Deus requer daquele que professa ser um porta-voz Seu. Você tem meramente entrado na escola de Cristo. A adaptação para a sua obra é uma tarefa vital, uma luta diária, penosa e renhida com hábitos estabelecidos, inclinações e tendências hereditárias. Guardar e controlar o próprio eu, para manter Jesus preeminente e o eu fora de vista, requer constante, diligente e vigilante esforço. T4 376.1
É necessário que você cuide dos pontos fracos de seu caráter, para conter más tendências e para fortalecer e desenvolver nobres faculdades que não têm sido devidamente exercidas. O mundo nunca conhecerá a obra que prossegue secretamente entre a alma e Deus, nem a amargura de espírito, a aversão ao próprio eu e os constantes esforços para dominá-lo; mas muitos do mundo serão capazes de apreciar o resultado desses esforços. Eles verão a Cristo revelado em sua vida diária. Você será carta viva, “conhecida e lida por todos os homens” (2 Coríntios 3:2), e possuirá caráter simétrico, nobremente desenvolvido. T4 376.2
“Aprendei de Mim”, disse Cristo, “que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma.” Mateus 11:29. Ele instruirá os que se dirigem a Ele em busca de conhecimento. Há multidões de falsos mestres no mundo. O apóstolo declara que, nos últimos dias, homens “cercar-se-ão de mestres... como que sentindo coceira nos ouvidos” (2 Timóteo 4:3), porque desejam ouvir coisas agradáveis. Cristo nos preveniu contra eles: “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis.” Mateus 7:15 e16. A classe de mestres religiosos aí descrita professa ser cristã. Eles têm forma de piedade, e parecem estar trabalhando para o bem das almas, enquanto no íntimo são avarentos, egoístas, amantes da comodidade, seguindo as inclinações do próprio coração não consagrado. Estão em conflito com Cristo e Seus ensinos, e se acham destituídos de Seu espírito manso e humilde. T4 376.3
O pregador que transmite a sagrada verdade para estes últimos dias deve ser o oposto de tudo isso, e por sua vida de santidade prática, claramente marca a diferença que existe entre o falso e o verdadeiro pastor. O Bom Pastor veio buscar e salvar o perdido. Ele manifestou em Suas obras o Seu amor por Suas ovelhas. Todos os pastores que trabalham sob a direção do Supremo Pastor possuirão Suas características; eles serão mansos e humildes de coração. Fé semelhante à de uma criança traz descanso à alma, e também atua pelo amor e sempre se interessa pelos outros. Se o Espírito de Cristo habita neles, serão semelhantes a Cristo e farão as obras de Cristo. Muitos que professam ser ministros de Cristo têm se equivocado quanto a seu mestre. Alegam estar servindo a Cristo, e não estão cientes de que é sob a bandeira de Satanás que estão se posicionando. Podem ser sábios segundo o mundo, e ansiosos por disputa e vanglória, exibindo-se com a realização de um grande trabalho; mas eles não são de utilidade para Deus. Os motivos que promovem a ação caracterizam o trabalho. Conquanto os homens não possam discernir a deficiência, Deus a observa. T4 377.1
A letra da verdade pode convencer algumas almas que se apegarão firmemente à fé e finalmente serão salvas; mas o pregador egoísta que lhes apresentou a verdade não terá crédito para com Deus pelas conversões. Será julgado por sua infidelidade enquanto professa ser um vigia sobre os muros de Sião. O orgulho de coração é um terrível traço de caráter. “A soberba precede a ruína.” Provérbios 16:18. Isso é verdade na família, na igreja e na nação. Como quando Ele esteve na Terra, o Salvador do mundo está escolhendo homens simples e sem instrução, ensinando-os a levarem a Sua verdade, bela em sua simplicidade, ao mundo, especialmente aos pobres. O Sumo Pastor ligará o subpastor a Si mesmo. Ele não determina que esses homens incultos permaneçam ignorantes ao realizarem a sua tarefa, mas que dEle recebam o conhecimento, a fonte de todo o conhecimento, luz e poder. T4 377.2
É a ausência do Espírito Santo e da graça de Deus que torna o ministro do evangelho tão destituído de poder para convencer e converter. Após a ascensão de Jesus, doutores, advogados, sacerdotes, maiorais, escribas e fariseus ouviram com admiração as palavras de sabedoria e poder de homens indoutos e humildes. Esses sábios se maravilharam do sucesso dos modestos discípulos, e finalmente o atribuíram, para sua própria satisfação, ao fato de haverem estado com Jesus e aprendido dEle. Seu caráter e a simplicidade de seus ensinos eram semelhantes ao caráter e aos ensinos de Cristo. O apóstolo o descreve nestas palavras: “Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes. E Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante Ele.” 1 Coríntios 1:27-29. T4 378.1
Os que hoje ensinam verdades impopulares precisam ter poder do alto para juntá-lo a sua doutrina, do contrário seus esforços serão de pouco valor. A preciosa virtude da humildade faz muita falta no ministério e na igreja. Homens que pregam a verdade têm um conceito exagerado de suas próprias capacidades. A verdadeira humildade levará o homem a exaltar a Cristo e a verdade, e a reconhecer sua total dependência do Deus da verdade. É penoso aprender lições de humildade; contudo, nada é mais benéfico no fim. A dor que acompanha o aprendizado de lições de humildade é a conseqüência de nos ensoberbecermos por uma falsa avaliação de nós mesmos, sendo, portanto, incapazes de ver nossa grande necessidade. A vaidade e o orgulho enchem o coração dos homens. Só a graça de Deus pode efetuar uma reforma. T4 378.2
Sua tarefa, meu irmão, é humilhar-se e não esperar que Deus o humilhe. A mão de Deus às vezes pesa intensamente sobre os homens, para humilhá-los e conduzi-los à correta posição diante dEle; quão melhor, porém, é manter diariamente o coração bem humilde diante de Deus! Podemos humilhar-nos, ou podemos encher-nos de orgulho e esperar até que Deus nos humilhe. Atualmente, os ministros do evangelho sofrem pouco pela causa da verdade. Se fossem perseguidos, como foram os apóstolos de Cristo, e como foram homens santos de Deus em tempos posteriores, haveria pressa em estarem mais perto de Cristo, e essa ligação mais íntima com o Salvador tornaria suas palavras um poder na Terra. Cristo “foi homem de dores e que sabe o que é padecer”. Isaías 53:3. Suportou as perseguições e contradições dos pecadores; foi pobre e sofreu fome e fadiga; foi tentado pelo diabo, e Suas obras e ensinos despertaram o mais amargo ódio. Que negamos a nós mesmos hoje por amor de Cristo? Onde está nossa devoção à verdade? Evitamos as coisas que não nos agradam, e fugimos de cuidados e responsabilidades. Podemos esperar o poder de Deus atuando com nossos esforços quando temos tão pouca consagração à obra? T4 378.3
Meu irmão, foi-me mostrado que seu nível de religiosidade não é elevado. Você precisa ter senso mais profundo de sua responsabilidade para com Deus e a sociedade. Então não se sentirá satisfeito consigo mesmo, nem tentará desculpar-se apontando as deficiências de outros. Você não tem tão completo conhecimento da verdade para que possa diminuir seus esforços em qualificar-se para instruir a outros. Precisa ter nova conversão a fim de tornar-se capaz e dedicado ministro do evangelho, um homem de piedade e santidade. Se você devesse dedicar todas as suas energias à causa de Deus, não estaria fazendo nada demais. Isso é, no máximo, uma oferta defeituosa que qualquer um de nós pode oferecer. Se estiver continuamente buscando a Deus, e procurando consagrar-se mais profundamente a Ele, estará reunindo novas idéias ao pesquisar as Escrituras por si mesmo. T4 379.1
Para compreender a verdade, você deve disciplinar e educar a mente, e procurar constantemente possuir as virtudes de genuína piedade. Agora você mal sabe o que é isso. Quando Cristo estiver em você, terá algo mais do que uma teoria da verdade. Não somente repetirá as lições que Cristo deu quando esteve na Terra, mas educará a outros por sua vida de abnegação e dedicação à causa de Deus. Sua vida será um sermão vivo, e possuirá mais poder do que qualquer sermão proferido do púlpito. T4 379.2
Precisa cultivar em si mesmo aquele espírito altruísta, aquela bondade abnegada e genuína devoção que deseja ver outros praticarem. A fim de ampliar continuamente a inteligência espiritual, e tornar-se cada vez mais eficiente, você precisa cultivar hábitos de utilidade nos pequenos deveres em seu caminho. Você não deve esperar por oportunidades para realizar uma grande obra, mas aproveitar a primeira ocasião propícia para demonstrar que é fiel no mínimo, e assim poderá ser elevado de uma posição de confiança para outra. Estará apto a pensar que não é deficiente em conhecimento, e inclinado a negligenciar a oração secreta, a vigilância e um cuidadoso estudo das Escrituras, e conseqüentemente ser vencido pelo inimigo. Sua maneira de ser pode parecer perfeita a seus próprios olhos, enquanto, na realidade, pode ser muito deficiente. Não deve ter tempo para discutir com o adversário das almas. Agora é tempo para tomar a sua posição e desapontar o inimigo. Deve criticar a si mesmo íntima e zelosamente. Estará inclinado a colocar a sua opinião como padrão, sem levar em conta as opiniões e julgamento de homens de experiência, a quem Deus tem usado para fazer avançar a Sua causa. Homens jovens no ministério agora conhecem somente pouco das dificuldades; e muitos deixarão de se tornar tão úteis quanto poderiam pela própria razão de que as coisas são-lhes tornadas muito fáceis. T4 380.1
Você tem responsabilidades em sua família que julga que entende; mas sabe menos sobre elas do que deveria saber. Tem muitas coisas para desaprender das quais se orgulhava em saber. Foi-me mostrado que você reuniu muitas idéias que entende ser verdade, mas que estão diretamente em oposição à Bíblia. Paulo teve que defrontar e contender acerca dessas coisas com jovens pastores de seus dias. Você tem sido muito pronto a aceitar como luz as declarações e posições dos homens; mas seja cuidadoso em como apresenta as suas idéias como verdade bíblica. Seja cuidadoso em seus passos. Eu esperava que uma tal reforma tivesse tido lugar em sua vida de modo que eu jamais precisasse ser chamada para escrever-lhe estas palavras. T4 380.2
Você tem um dever a cumprir no lar, ao qual não pode fugir, e ainda ser leal a Deus e ao encargo que Ele lhe confiou. O que agora menciono não me foi mostrado definidamente em seu caso, porém em centenas de casos semelhantes; portanto, quando vejo que você está a cair no mesmo erro em que muitos pais nesta época do mundo estão caindo, não posso desculpar a sua negligência do dever. Você tem uma criança, uma alma confiada a sua guarda. Mas quando você mostra tão manifesta fraqueza e falta de sabedoria em instruir essa criança, seguindo as próprias idéias em vez de a regra bíblica, como pode merecer confiança para ensinar e conduzir questões onde os interesses eternos de muitos estão envolvidos? T4 381.1
Dirijo-me a você e a sua esposa. Minha posição na causa e obra de Deus requer que eu me expresse em questões de disciplina. Seu exemplo nos próprios afazeres domésticos causarão um grande prejuízo à causa de Deus. O campo do evangelho é o mundo. Vocês desejam semear o campo com a verdade evangélica, esperando que Deus regue a semente semeada para que dê fruto. Confiaram a si mesmos uma pequena área; mas seu próprio jardim é deixado a crescer com sarças e espinhos, enquanto estão empenhados em capinar jardins alheios. Esta não é uma pequena obra, mas uma tarefa momentosa. Estão pregando o evangelho a outros; pratiquem-no vocês mesmos no lar. Estão condescendendo com os caprichos e paixões de uma criança perversa, e por fazê-lo cultivam traços de caráter que Deus odeia, e que torna a criança infeliz. Satanás tira vantagem de sua negligência e controla a mente. Você tem uma obra a realizar para mostrar que compreende os deveres que pesam sobre um pai cristão em moldar o caráter de seu filho segundo o Modelo Divino. Se tivesse começado esta obra em sua infância, seria fácil agora, e a criança seria muito mais feliz. Mas, sob a sua disciplina, a vontade e a perversidade da criança têm por todo tempo sido fortalecidas. Agora requererá maior severidade, e mais constante, perseverante esforço para desfazer o que esteve fazendo. Se não pode controlar uma criancinha que é o seu especial dever controlar, será deficiente em sabedoria ao dirigir os interesses espirituais da igreja de Cristo. T4 381.2
Há erros que jazem no próprio alicerce de sua experiência e que precisam ser desarraigados, e você precisa tornar-se um aprendiz na escola de Cristo. Abra os olhos para discernir onde está a dificuldade, e então apresse-se em se arrepender dessas coisas e começar a atuar de um ponto de vista correto. Não se esforce no eu, mas em Deus. Deixe de lado o orgulho, a exaltação própria, a vaidade, e aprenda de Cristo as suaves lições da cruz. Você precisa dedicar-se sem reservas à obra. Seja um sacrifício vivo sobre o altar de Deus. T4 382.1
Se o filho de um pastor manifesta ira, e é favorecido em quase todos os seus desejos, isso tem a influência de desfazer os testemunhos que Deus tem me dado aos pais com respeito ao próprio cuidado de seus filhos. Você está indo diretamente contra a luz que Deus tem Se comprazido em dar, e escolhendo uma teoria específica por si próprio. Mas essa experiência, tão diretamente em oposição às instruções da Palavra de Deus, não deve ser levada avante para prejuízo daqueles a quem Deus nos quis instruir com referência à educação de seus filhos. T4 382.2
Seu interesse não deve ser absorvido na própria família com exclusão de outros. Se você desfruta a hospitalidade de seus irmãos, podem eles com razão esperar alguma coisa em retribuição. Identifique seus interesses com os dos pais e filhos, e procure instruir e abençoar. Santifique-se para a obra de Deus, e seja uma bênção para os que o hospedam, conversando com os pais, e de maneira nenhuma passando por alto os filhos. Não pense que sua própria filha é mais preciosa à vista de Deus que outras crianças. Você corre o risco de negligenciar a outros enquanto agrada e satisfaz a sua criança; e ela mesma dá evidência de sua orientação deficiente. Ela é culpada de atos de desobediência e ira tantas vezes em um dia quanto sua vontade seja contrariada. Que influência está isto trazendo sobre as famílias a quem Deus está buscando instruir e corrigir acerca de idéias frouxas com respeito à disciplina! T4 382.3
Em seu apego tolo e cego, ambos têm-se submetido a sua criança. Tem-na permitido manter as rédeas em suas pequenas mãos, e ela dominou a ambos antes que fosse capaz de caminhar. O que pode ser esperado do futuro em vista do passado? Não permita que o exemplo dessa criança favorecida e mimada acarrete repreensões que testifiquem contra vocês e que no Juízo mostrem ter resultado na perda de inúmeras crianças. Se os homens e mulheres o aceitarem como mestre da parte de Deus, não estarão inclinados a seguir seu pernicioso exemplo ao submeterem-se aos seus filhos? Não será o pecado de Eli o seu? E não recairá sobre você a retribuição que recaiu sobre ele? Sua criança, com os seus atuais hábitos e temperamento, nunca verá o reino de Deus. E vocês, seus pais, serão aqueles que fecharam os portões do Céu diante dela. Como, então, permanecerão com respeito à própria salvação? Lembrem-se de que colherão aquilo que semearam. T4 383.1