Testemunhos para a Igreja 5

12/125

Capítulo 7 — Condenadas a inveja e a crítica

Dói-me dizer que existem línguas desenfreadas entre os membros da igreja. Há línguas falsas, que se alimentam da maldade. Há línguas astutas, que segredam. Há loquacidade, impertinente intrometimento, insinuações hábeis. Entre os amantes da tagarelice, alguns são movidos pela curiosidade, outros pela inveja, muitos pelo ódio contra aqueles por meio dos quais Deus falou para os reprovar. Todos esses elementos discordantes estão ativos. Alguns ocultam seus sentimentos reais, enquanto outros estão ansiosos por divulgar tudo que sabem, ou mesmo suspeitam, dos males alheios. T5 94.2

Vi que o próprio espírito de perjúrio, capaz de transformar a verdade em falsidade, o bem em mal, e em crime a inocência, está agora ativo. Satanás está exultante com a condição do professo povo de Deus. Enquanto muitos negligenciam sua própria salvação, vigiam ansiosamente por uma oportunidade para criticar e condenar os outros. Todos têm defeitos de caráter, e não é difícil descobrir alguma coisa que a inveja pode interpretar para seu mal. “Ora”, dizem esses juízes por iniciativa própria, “temos fatos. Nós lhes faremos uma acusação da qual não se poderão livrar”. Daí aguardam uma oportunidade apropriada e então põem em ação sua enorme coleção de boatos e maledicências. T5 94.3

Em seu empenho por apresentar um problema, pessoas que têm por natureza uma imaginação criativa estão em perigo de se enganarem a si mesmas e aos outros. Apanham expressões que outros utilizaram em momento descuidado, despercebidas de que as palavras podem ser pronunciadas precipitadamente, não refletindo assim os verdadeiros sentimentos de quem as proferiu. Mas essas observações não ponderadas, muitas vezes tão banais que não merecem atenção, são olhadas através da lente de Satanás, meditadas e repetidas, até que montículos de terra juntados pelas toupeiras se transformam em montanhas. Separados de Deus, os suspeitadores do mal tornam-se joguete da tentação. Mal sabem a força que têm os seus sentimentos, nem o efeito de suas palavras. Enquanto condenam os erros alheios, condescendem eles mesmos com erros muito maiores. A coerência é uma jóia. T5 95.1

Não existe então uma lei de bondade que deva ser observada? Foram os cristãos autorizados por Deus a criticarem-se e condenarem-se mutuamente? Será honroso, ou mesmo honesto, extorquir dos lábios de alguém, à guisa de amizade, segredos que lhe foram confiados, e em seguida fazer reverter em seu prejuízo o conhecimento assim alcançado? Será caridade cristã apanhar todo boato que por aí flutue, desenterrar tudo que lance suspeita sobre o caráter de outro, e então ter prazer em empregar isso para prejudicar as pessoas? Satanás exulta quando pode difamar ou ferir um seguidor de Cristo. Ele é o “acusador dos irmãos”. Apocalipse 12:10. Deverão os cristãos ajudá-lo em sua obra? T5 95.2

Os olhos de Deus, que tudo vêem, notam os defeitos de todos e a paixão dominante de cada qual; contudo, têm paciência com os nossos erros, e Se compadecem de nossa fraqueza. Ele ordena ao Seu povo que nutra o mesmo espírito de ternura e paciência. Os verdadeiros cristãos não exultarão em expor as faltas e deficiências de outros. Manterão distância da vileza e deformidade, para fixar a mente naquilo que é atraente e amável. Para o cristão todo ato de crítica e toda palavra de censura ou condenação são penosos. T5 95.3

Sempre tem havido homens e mulheres que professam a verdade, e no entanto não submetem a vida à sua influência santificadora. São pessoas infiéis, que se enganam a si mesmas, e encorajam-se no pecado. A incredulidade é vista em sua vida, em seu comportamento e no caráter, e esse mal terrível atua como uma gangrena. T5 96.1

Se todos os cristãos professos usassem suas faculdades investigadoras para ver quais os males que neles mesmos carecem de correção, em vez de falar dos erros alheios, existiria na igreja hoje uma condição muito mais saudável. Há os que são honestos quando isso nada lhes custa, mas quando a astúcia dá melhores dividendos, esquecem-se da honestidade. A honestidade e a astúcia não atuam juntas na mesma mente. A seu tempo, ou a astúcia será expelida dominando então supremas a verdade e a honestidade, ou, se a astúcia for nutrida, jazerá esquecida a honestidade. Jamais ambas se acham em harmonia; nada têm em comum. Uma é o profeta de Baal, a outra o verdadeiro profeta de Deus. Quando o Senhor juntar Suas jóias, os verdadeiros, os francos, os honestos serão por Ele contemplados com prazer. Anjos se acham empenhados em fazer coroas para eles, e sobre essas coroas adornadas de estrelas se refletirá, com esplendor, a luz que irradia do trono de Deus. T5 96.2

Nossos irmãos dirigentes são muitas vezes molestados com a narração de questões na igreja, e eles mesmos freqüentes vezes a elas se referem em seus sermões. Não deveriam encorajar os membros da igreja a queixarem-se uns dos outros, mas sim colocá-los como vigias de suas próprias ações. Ninguém deve permitir que seus sentimentos ou preconceitos e ressentimentos sejam despertados pela narração de erros alheios; todos devem esperar pacientemente até que tenham ouvido ambos os lados da questão, e então só acreditar no que os fatos reais os levem a crer. Em todos os tempos, o procedimento seguro é não ouvir um relatório mau, antes que a regra da Bíblia tenha sido executada estritamente. Isso se aplica a alguns que trabalharam artificiosamente para extorquir alguma coisa dos que nada suspeitam, sobre assuntos com que nada têm que ver, e cujo conhecimento nenhum bem lhes faz. T5 96.3

Por amor de sua salvação, meus irmãos, tenham em vista apenas a glória de Deus. Deixem fora de suas cogitações, tanto quanto possível, o próprio eu. Aproximamo-nos do fim do tempo. Examinem seus motivos à luz da eternidade. Tenho a convicção de que vocês devem ser despertados; pois estão se desviando das veredas antigas. Sua ciência, assim chamada, está solapando o alicerce do princípio cristão. Tem-me sido mostrado o procedimento que certamente vocês seguirão, no caso de se desligarem de Deus. Não confiem em sua própria sabedoria. Digo-lhes que sua alma está em perigo iminente. Por amor de Cristo, esquadrinhem e vejam porque é que têm tão pouco amor às atividades religiosas. T5 97.1

O Senhor está experimentando e provando Seu povo. Vocês podem ser severos e críticos com o seu próprio caráter defeituoso, o quanto quiserem; sejam, porém, bondosos, misericordiosos e corteses para com os outros. Indaguem todos os dias: Sou absolutamente íntegro, ou tenho coração falso? Supliquem ao Senhor que os salve de todo engano nesse ponto. Acham-se nisso envolvidos interesses eternos. Ao passo que tantos anseiam honras e ambicionam o ganho, busquem vocês, meus amados irmãos, ansiosamente a certeza do amor de Deus, e clamem: Quem me mostrará como tornar certas minha vocação e eleição? T5 97.2

Satanás estuda cuidadosamente os pecados básicos dos homens, e a seguir começa seu trabalho de os seduzir e enlaçar. Estamos no mais grosso da tentação, mas há vitória para nós se corajosamente travarmos as batalhas do Senhor. Todos estão em perigo. Mas se andarem humilde e devotamente, emergirão do processo de prova mais preciosos do que o ouro puro, sim, do que o ouro fino de Ofir. Se forem relapsos e negligenciarem a oração, serão como o sino que tine e o címbalo que soa. T5 97.3

Alguns quase que se têm perdido nas malhas do ceticismo. A esses eu diria: Levantem seu espírito para além desse limite. Prendam-no em Deus. Quanto mais intimamente a fé e a santidade ligarem você ao Eterno, tanto mais clara e brilhante lhe parecerá a justiça de Seu trato. Faça da vida, da vida eterna, o objeto de sua busca. T5 98.1

Conheço seu perigo. Se perder a confiança nos testemunhos, cairá das verdades da Bíblia. Tenho temido que muitos assumiriam uma atitude questionadora, duvidosa, e em minha aflição por sua salvação, quero adverti-lo. Quantos atenderão à advertência? De acordo com sua atitude atual para com os testemunhos, porventura no caso de lhe ser dado um testemunho contrário a seu pensar, corrigindo seus erros, você se sentirá na perfeita liberdade de aceitar ou rejeitar qualquer parte, ou todo ele? Aquilo que menos inclinado se acha a receber pode ser justamente a parte mais necessária. Deus e Satanás jamais trabalham em parceria. Os testemunhos, ou trazem a aprovação de Deus, ou de Satanás. Uma árvore boa não pode produzir fruto mau, nem pode uma árvore má produzir bom fruto. “Pelos seus frutos os conhecereis.” Mateus 7:20. Foi Deus quem o disse. Quem tremeu ante Sua Palavra? T5 98.2