Testemunhos para a Igreja 5
Distinção imprópria
Alguns adotam o ponto de vista segundo o qual as advertências, admoestações e correções dadas pelo Senhor, por intermédio de Sua serva, não têm maior importância que conselhos e advertências provenientes de outras fontes, a menos que sejam recebidas em visão especial para cada caso, individualmente. Nalguns casos alegou-se que, ao dar testemunhos para igrejas ou indivíduos, eu era influenciada por cartas que recebia de membros da igreja. Alguns chegaram a alegar que testemunhos que se dizem ser do Espírito de Deus eram somente manifestações do meu próprio juízo, baseadas em informações colhidas em fontes humanas. Essa afirmação é absolutamente falsa. Se, todavia, em resposta a alguma pergunta, informação ou consulta de uma igreja ou de indivíduos, um testemunho é escrito, apresentando a luz que Deus me deu a esse respeito, o fato de se haver originado dessa forma de modo algum depõe contra sua validade ou importância. Citarei a propósito um trecho do Testemunho n 31, que trata justamente desse assunto: T5 683.3
“O que ocorreu com o apóstolo Paulo? As novas que recebera através da casa de Cloé com respeito às condições da igreja de Corinto levaram-no a escrever sua primeira carta àquela igreja. Cartas particulares chegavam-lhe às mãos declarando os fatos como eles eram e, em resposta, ele assentava princípios gerais que, se ouvidos, corrigiriam os males existentes. Com grande ternura e sabedoria ele os exortava a que todos falassem as mesmas coisas, e que não houvesse divisões entre eles. T5 684.1
“Paulo era um apóstolo inspirado; contudo, o Senhor não lhe revelava todo o tempo a condição exata de Seu povo. Os que estavam interessados na prosperidade da igreja e que tinham visto males nela penetrando apresentaram o assunto perante ele, e, pela luz que recebera anteriormente, achava-se preparado para julgar o verdadeiro caráter dessas ocorrências. Conquanto o Senhor não lhe houvesse dado uma nova revelação para esse tempo especial, os que estavam realmente buscando luz não rejeitaram sua mensagem como se fosse apenas uma carta comum. Não mesmo. O Senhor lhe mostrara as dificuldades e os perigos que surgiriam nas igrejas, para que quando se manifestassem ele soubesse exatamente como enfrentá-los. T5 684.2
“Paulo recebeu a missão de defender a igreja. Tinha de vigiar pelas almas como alguém que devesse prestar contas a Deus. Não deveria ele, pois, prestar atenção aos relatórios concernentes ao estado de anarquia e divisão em que elas se encontravam? Seguramente! E a reprovação que ele lhes enviou foi escrita sob a mesma inspiração do Espírito de Deus como qualquer de suas epístolas. Mas quando a reprovação chegou, alguns não se sentiram atingidos. Assumiram a posição de que Deus não falara através de Paulo; que ele lhes havia transmitido meramente uma opinião humana, e que seu julgamento tinha tanto mérito quanto o de Paulo. Muitos de nosso povo se afastaram dos velhos marcos e seguiram seu próprio entendimento.”1 T5 684.3
Quando nosso povo assume essa atitude, as advertências e conselhos especiais de Deus, dados pelo Espírito de Profecia, não podem ter sobre ele alguma influência no sentido de operar uma reforma da vida e do caráter. O Senhor não dá uma visão especial para enfrentar cada emergência que possa surgir nas diferentes situações de Seu povo com o progredir da obra, mas mostrou-me que Sua maneira de proceder para com a igreja, no passado, foi impressionar o espírito de Seus servos escolhidos com as necessidades e perigos de Sua causa e dos indivíduos, e impor sobre eles o encargo de aconselhar e advertir. T5 685.1
Assim, em muitos casos, Deus me esclareceu quanto a defeitos peculiares de caráter nos membros da igreja, e os perigos daí decorrentes para os indivíduos e para a obra, caso não fossem corrigidos. Em dadas circunstâncias, tendências erradas são suscetíveis de se fortalecerem e arraigarem, acarretando danos à causa de Deus e a ruína de indivíduos. Às vezes, quando perigos especiais ameaçam a causa de Deus ou a pessoas, sou advertida da parte de Deus em sonhos ou visões, sendo tais casos apresentados vivamente ao meu espírito. Ouço então uma voz dizer-me: “Levanta-te e escreve; estas pessoas estão em perigo.” Obedeço à direção do Espírito de Deus, e minha pena descreve sua legítima condição. Ao viajar e estar perante o povo, em diferentes lugares, o Espírito do Senhor me lembra os casos a mim antes mostrados, avivando em minha memória as revelações que me foram feitas. T5 685.2
Durante os últimos quarenta e cinco anos, o Senhor tem estado a revelar-me as necessidades de Sua causa, e os casos de indivíduos em todas as fases da experiência humana, mostrando-me onde e como deixaram de aperfeiçoar o caráter cristão. As histórias de centenas de casos se desenrolaram aos meus olhos, sendo-me apresentadas com clareza as coisas que Deus aprova e as que condena. Deus mostrou-me que certo caminho, quando prosseguido, ou certos traços de caráter, quando cultivados, hão de produzir determinados resultados. Desse modo tem estado a preparar-me e disciplinar-me para que possa conhecer os perigos que ameaçam as pessoas e instruir e advertir Seu povo, dando-lhe regra sobre regra e preceito sobre preceito, de sorte a não estar em ignorância quanto aos enganos do diabo, e poder fugir às suas ciladas. T5 685.3
A obra de que o Senhor especialmente me incumbiu é insistir com jovens e idosos, instruídos ou não, para examinarem as Escrituras por si mesmos; fazer sentir a todos que o estudo da Palavra de Deus robustece a inteligência e todas as faculdades do espírito, habilitando-o a resolver problemas difíceis e de grande alcance com relação à verdade; assegurar a todos que o conhecimento perfeito da Bíblia é superior a qualquer outro para tornar o homem aquilo que Deus Se propôs fosse. “A exposição das Tuas palavras dá luz; dá entendimento aos símplices.” Salmos 119:130. Com a luz comunicada pelo estudo de Sua Palavra, e com o conhecimento especial que me foi dado de casos individuais entre o Seu povo, sob todas as circunstâncias e em todas as fases da vida, poderia eu laborar ainda na mesma ignorância, na mesma incerteza e cegueira espiritual que ao começo de minha experiência? Quererão meus irmãos sustentar que a irmã White foi uma aluna tão sem inteligência que o seu juízo a esse respeito não é para ser estimado mais agora do que antes de ela entrar para a escola de Cristo, a fim de ser preparada e disciplinada para essa obra especial? Porventura não terei compreensão mais nítida dos deveres e perigos do povo de Deus do que aqueles a quem essas coisas nunca foram apresentadas? Não desonraria meu Mestre com admitir que toda essa luz, todas as manifestações de Seu grande poder em meu trabalho e vida fossem em vão, não tendo logrado educar meu juízo ou tornar-me mais idônea para a Sua obra. T5 686.1
Quando vejo homens e mulheres trilharem o mesmo caminho ou cultivarem os mesmos traços de caráter que puseram em perigo outras pessoas e trouxeram agravo à causa de Deus, e que o Senhor repetidas vezes corrigiu, poderia deixar de alarmar-me com isso? Quando vejo almas tímidas, vergando ao peso do sentimento de suas imperfeições, mas esforçando-se conscienciosamente por cumprir o que Deus declarou ser justo, e sabendo que o Senhor nelas atenta com bondade, em razão de seu sincero empenho, não deveria eu ter palavras de animação e conforto para essas pessoas? Deveria remeter-me ao silêncio, como se não me tivesse sido revelado em visão definida cada caso individualmente? T5 686.2
“Mas, se quando o atalaia vir que vem a espada, não tocar a trombeta, e não for avisado o povo; se a espada vier, e levar uma vida dentre eles, este tal foi levado na sua iniqüidade, mas o seu sangue demandarei da mão do atalaia. A ti, pois, ó filho do homem, te constituí por atalaia sobre a casa de Israel; tu, pois, ouvirás a palavra da Minha boca, e lha anunciarás da Minha parte. Se Eu disser ao ímpio: ó ímpio, certamente morrerás; e tu não falares, para desviar o ímpio do seu caminho, morrerá esse ímpio na sua iniqüidade, mas o seu sangue Eu o demandarei da tua mão. Mas, quando tu tiveres falado para desviar o ímpio do seu caminho, para que se converta dele, e ele se não converter do seu caminho, ele morrerá na sua iniqüidade, mas tu livraste a tua alma.” Ezequiel 33:6-9. T5 687.1
Num sonho recente fui levada a uma reunião de pessoas, algumas das quais se esforçavam por abafar a impressão de um solene testemunho de advertência que eu lhes transmitira. Diziam: “Acreditamos nos testemunhos da irmã White; quando, porém, nos diz coisas que não lhe foram diretamente reveladas em visão sobre o caso em apreço, suas palavras não têm para nós maior importância do que as de qualquer outra pessoa.” Então veio sobre mim o Espírito do Senhor e eu, erguendo-me, repreendi-os em Seu nome. Repeti-lhes em substância o que acima citei com relação ao vigia. “Isto”, disse-lhes, “se adapta ao caso de vocês e ao meu.” T5 687.2
Se, pois, aqueles a quem estas solenes advertências dizem respeito objetarem: “Isto não é senão a opinião individual da irmã White, prefiro seguir o meu próprio juízo”, e continuarem a fazer as mesmas coisas contra as quais foram advertidos, revelarão com isso que desprezam os conselhos divinos, e o resultado será justamente o que o Espírito de Deus me revelou que haveria de ser: agravo à causa de Deus e perdição própria. Alguns, no intuito de garantir melhor a sua própria atitude, apresentarão declarações dos Testemunhos que pensam favorecer a sua opinião, dando-lhes a mais vigorosa interpretação possível; aquilo, porém, que torna suspeita a sua conduta, ou que não se coaduna com o seu modo de ver, denunciam como opinião individual da irmã White, negando-lhe a origem divina e nivelando-o aos seus próprios conceitos. T5 687.3
Se vocês, meus irmãos, que há muitos anos conhecem a mim e ao meu trabalho, entendem que os meus conselhos não são mais para se estimar do que os daqueles que não foram especialmente educados para esta obra, não me peçam mais para cooperar com vocês; porque, assumindo tal atitude, fatalmente estarão neutralizando a influência do meu trabalho. Se julgam que seguir os próprios impulsos seja tão seguro como seguir a luz transmitida pela serva comissionada do Senhor, o risco será seu; serão condenados por rejeitar a luz que lhes foi enviada do Céu. T5 688.1
Estando em _____, o Senhor veio a mim à noite e me encorajou com preciosas palavras de animação quanto à minha obra, repetindo a mesma mensagem que por diversas vezes me dera antes. Relativamente aos que voltaram as costas à luz que lhes foi enviada, disse-me: “Ao menosprezar e rejeitar o testemunho que lhes fiz transmitir, têm desprezado não a ti, mas a Mim, o Senhor.” T5 688.2
Se os obstinados e presunçosos prosseguirem impunemente em seu caminho, a que estado será finalmente reduzida a igreja? Como poderão ser corrigidos os erros sustentados por esses teimosos e ambiciosos? Por que meios poderia Deus atingi-los? Como deverá manter a ordem em Sua igreja? Divergências de opinião surgem constantemente, e a igreja freqüentemente é visitada pela apostasia. Quando se suscitam controvérsias e divisões, todas as partes pretendem estar com a razão e agindo sinceramente, recusando ser instruídos pelos que durante muito tempo suportaram o peso do trabalho, e que, como devem perfeitamente saber, foram guiados pelo Senhor. A luz é enviada para desfazer as trevas; porém, em seu excessivo orgulho, a rejeitam, preferindo continuar às escuras. Desprezam os conselhos divinos, porque não correspondem aos seus pontos de vista e intenções, e não aprovam seus maus traços de caráter. A operação do Espírito de Deus, que os poderia ajudar a entrar no bom caminho, se a aceitassem, não se faz de modo a comprazê-los e lisonjear sua justiça própria. Não reconhecem a luz comunicada por Deus, pelo que se deixam ficar nas trevas. Pretendem que não se pode depositar maior confiança no discernimento de alguém que tem tão longa experiência e a quem o Senhor instruiu e usou para fazer uma obra especial do que no de qualquer outra pessoa. É o desígnio divino que assim procedam, ou é isso a operação do inimigo de toda a justiça, a fim de conservar as pessoas em erro e enredá-las com fortes ilusões que não podem ser desfeitas, porque se colocam fora do alcance dos meios que Deus para esse fim estabeleceu em Sua igreja? T5 688.3
Correções, admoestações e repreensões da parte do Senhor têm sido dirigidas a Sua igreja em todas as épocas. Essas advertências foram desprezadas e rejeitadas nos dias de Cristo, pelos fariseus, que eram justos a seus próprios olhos e pretendiam não necessitar de semelhantes admoestações, considerando-se por isso injustamente tratados. Recusaram também receber a Palavra do Senhor, anunciada por Seus servos, por não satisfazer as suas inclinações. Se o Senhor consentisse em dar uma visão em presença dessa classe de gente hoje, apontando-lhes os erros, censurando-lhes a justiça própria e condenando-lhes os pecados, insurgir-se-iam contra ela como os habitantes de Nazaré quando Cristo revelou sua verdadeira condição. T5 689.1
A menos que essas pessoas humilhem o coração diante de Deus, deixando de acolher as sugestões de Satanás, a dúvida e a incredulidade delas se apoderarão, começando a ver tudo por um prisma falso. E uma vez lançada a semente da dúvida em seu coração, terão abundante frutos a colher. Chegarão a ponto de desconfiar e descrer de verdades que são intuitivas e cheias de beleza para os que não se educaram na incredulidade. Os que habituam o espírito a insistir em tudo que se presta para estabelecer uma dúvida, sugerindo-a a outros, sempre terão oportunidade para assim proceder. Meter-se-ão a discutir e criticar tudo que lhes surgir à frente com o desdobrar da verdade, criticando a obra e a atitude de outros, bem como cada ramo da obra de que não fazem parte. Deste modo alimentar-se-ão dos erros, enganos e faltas de outros “até que”, como me disse o anjo, “o Senhor Jesus Se levante de Sua obra de mediação no santuário celestial, e, tomando as vestes de vingança, venha a surpreendê-los em seu banquete profano, desprevenidos para as bodas do Cordeiro”. O seu gosto está de tal modo pervertido que se inclinariam a criticar até a mesa do Senhor no Seu reino. T5 689.2
Revelou Deus alguma vez a essas pessoas que as repreensões e correções que dEle provém não têm, para elas, a menor importância a não ser que sejam transmitidas por visões diretas? Insisto sobre esse ponto, porque a posição que muitos assumiram a esse respeito é um engano de Satanás, a fim de arruinar almas. Depois de os haver enredado e enfraquecido por seus sofismas a ponto de, quando reprovados, persistirem em tornar de nenhum efeito as operações do Espírito de Deus, seu triunfo sobre eles será completo. T5 690.1
Alguns que professam a justiça hão de, como Judas, entregar seu Senhor nas mãos de seus mais duros adversários. Esses que confiam em si mesmos, resolvidos, como estão, a seguir seu próprio caminho e a defender suas próprias idéias, irão de mal a pior, até estarem prontos a aceitar qualquer proposta, menos a de renunciar à sua própria vontade. Cegamente prosseguirão no caminho do mal e tão enganados a respeito de si mesmos, que, como os fariseus iludidos, imaginam estar fazendo a obra de Deus. Cristo deu a conhecer o caminho por que certa classe havia de tomar quando tivesse oportunidade de desenvolver o seu legítimo caráter: “Até pelos pais, e irmãos, e parentes, e amigos sereis entregues; e matarão alguns de vós.” Lucas 21:16. T5 690.2
Deus me concedeu, em conexão com esta obra, uma experiência definida e solene, e podem estar certos de que, enquanto a vida me for poupada, não deixarei de levantar a voz de advertência quando for impelida pelo Espírito de Deus, quer os homens me ouçam quer deixem de ouvir-me. Não sou dotada de nenhuma sabedoria especial; sou apenas um instrumento nas mãos de Deus para fazer a obra que me designou. As instruções que tenho dado pela pena e de viva voz são uma expressão da luz que Deus Se dignou conceder-me. Tentei expor-lhes os princípios que o Espírito de Deus, durante anos, tem estado a imprimir em meu espírito e a escrever em meu coração. T5 691.1
E agora, irmãos, eu os conjuro a que não se interponham entre mim e o povo, desviando dele a luz que Deus lhe deseja dar. Não comprometam, pela crítica, a força, a virtude e a importância dos Testemunhos. Nem imaginem que são capazes de analisá-los de modo a acomodá-los às suas idéias, pretendendo que Deus lhes tenha dado habilidade para discernir o que é luz do Céu e o que é mera sabedoria humana. Se os Testemunhos não falarem de acordo com a Palavra de Deus, podem rejeitá-los. Cristo e Belial não se unem. Por amor de Cristo, parem de confundir o espírito do povo com sofismas e ceticismo, tornando de nenhum efeito a obra que Deus deseja fazer. Não procurem, pela falta de discernimento espiritual, fazer desse método de operação de Deus uma pedra de escândalo pela qual muitos venham a tropeçar e cair, ser enlaçados e presos. T5 691.2