Testemunhos para a Igreja 2
Capítulo 1 — Resumo de experiências
Depois de chegarmos em casa e não mais termos sobre nós a inspiradora influência das viagens e do trabalho, sentimos mais profundamente o cansaço de nossas viagens pela Região Leste. Não poucos insistiam comigo a respeito de cartas por escrever, sobre o que o Senhor me havia mostrado com respeito a eles. E houve muitos outros a quem eu nada havia falado, cujos casos eram importantes e urgentes. Mas, em minha fatigada condição, a tarefa de escrever bastante parecia-me mais do que eu poderia suportar. Uma sensação de desânimo veio sobre mim e caí num estado de fraqueza, assim permanecendo por vários dias e experimentando freqüentes desmaios. Nesse estado corporal e mental, questionei-me sobre o dever de escrever tanto e a tantas pessoas, algumas delas verdadeiramente indignas. Pareceu-me haver, seguramente, um problema em alguma parte desse assunto. T2 10.2
Na noite do dia 5 de Fevereiro, o irmão Andrews falou ao povo em nossa casa de culto. Mas, na maior parte do tempo, estive desmaiada, com problemas respiratórios e amparada por meu esposo. Quando o irmão Andrews voltou da reunião, os irmãos tiveram um período especial de oração a meu favor e pude sentir algum alívio. Naquela noite dormi bem e, pela manhã, embora fraca, senti-me muito aliviada e animada. Eu sonhara que alguém me trouxe uma peça de tecido branco e me incumbiu de cortar dele vestes para pessoas de todos os tamanhos, de todas as condições de vida e de todas as modalidades de caráter. Foi-me ordenado que as cortasse e as deixasse preparadas para serem feitas, quando solicitadas. Tive a impressão de que muitos daqueles para os quais fora incumbida de cortar vestes, não as mereciam. Indaguei então se esta era a última peça de tecido que tinha a cortar, ao que me foi respondido que não; que tão depressa houvesse acabado essa, havia ainda outras para cortar. Senti-me desanimar ante o acúmulo de trabalho que vi diante de mim; verifiquei que estivera empenhada em talhar vestes para outros durante mais de vinte anos e que o meu trabalho não fora apreciado; também não podia ver que houvesse sido de grande benefício. Falei então à pessoa que me trouxera os tecidos, aludindo particularmente a uma mulher, para a qual tinha sido incumbida de cortar uma veste. Observei-lhe que ela não saberia apreciar a veste e que presenteá-la com a mesma seria perder tempo e tecido. Era muito pobre, de pouca cultura, desordenada nos hábitos, de sorte que havia de sujá-la muito breve. T2 10.3
A pessoa respondeu-me: “Corte as vestes. É esse o seu dever. O prejuízo não é seu senão meu. ‘O Senhor não vê como vê o homem.’ 1 Samuel 16:7. Ele distribui o trabalho que deseja ver feito, e ‘tu não sabes qual prosperará’ (Eclesiastes 11:6), se este ou aquele. Ver-se-á que muitos desses pobres seres entrarão no reino, enquanto outros, favorecidos com todas as bênçãos da vida, tendo todas as vantagens para o aperfeiçoamento, serão deixados fora. Viu-se que as pessoas humildes viveram à altura da tênue luz que possuíam e progrediram apesar dos limitados meios a seu alcance, vivendo de modo mais aceitável do que outros que usufruíram a plena luz e amplos meios de aprimoramento.” T2 11.1
Levantei então minhas mãos, calejadas como estavam do longo uso das tesouras, e ponderei-lhe que não podia reprimir um sentimento de contrariedade ante a idéia de ter de continuar esse gênero de trabalho. O meu interlocutor respondeu-me: T2 11.2
“Corte as vestes. Ainda não é tempo de você ser disso dispensada.” T2 11.3
Com uma sensação de invencível fadiga levantei-me para recomeçar o trabalho. Diante de mim estavam algumas tesouras novas, perfeitamente afiadas, com as quais me pus a trabalhar. Imediatamente senti desaparecer todo o cansaço e desalento; as tesouras pareciam cortar sem que fosse necessário maior esforço da minha parte, e talhava vestes e mais vestes com relativa facilidade. T2 11.4
Com o ânimo recebido desse sonho, decidi acompanhar meu marido e o irmão Andrews até os condados de Gratiot, Saginaw e Tuscola, confiando no Senhor a fim de que me desse forças para o trabalho. Assim, no dia 7 de Fevereiro deixamos nossa casa e andamos quase 90 quilômetros até Alma, nosso destino. Lá trabalhei normalmente, com um confortável grau de liberdade e energia. Os amigos do condado de Gratiot mostravam-se interessados em ouvir-me, mas muitos deles estavam muito atrasados na questão da reforma de saúde e na obra geral de preparação. Parecia haver entre as pessoas falta de ordem e eficiência necessárias à prosperidade da obra e ao espírito da mensagem. O irmão Andrews, entretanto, visitou-os três semanas mais tarde e desfrutou uma boa estada com eles. Nunca desprezarei o fato de que o encorajamento proporcionado por um testemunho específico escrito para uma família, tenha sido recebido com proveito pelas pessoas a quem foi dirigido. Ainda sentimos um profundo interesse por essa família e desejamos ardentemente que seus membros possam desfrutar prosperidade no Senhor; e embora sintamos algum desânimo com relação à causa no condado de Gratiot, estamos ansiosos por ajudar os irmãos quando eles o desejarem. T2 12.1
No encontro em Alma estiveram presentes irmãos de Saint Charles e Tittabawassee, do condado de Saginaw, que nos solicitaram visitá-los. Não havíamos planejado ir até lá na ocasião, mas visitar o condado de Tuscola se o caminho fosse aberto. Não obtendo resposta de Tuscola, decidimos visitar Tittabawassee, e nesse meio tempo escrever ao condado de Tuscola, e perguntar se éramos necessários lá. Em Tittabawassee fomos agradavelmente surpreendidos em encontrar uma grande igreja, recentemente construída por nosso povo, repleta de observadores do sábado. Tivemos a impressão de que os irmãos estavam prontos para ouvir nosso testemunho e sentimo-nos em grande liberdade. Uma grande e boa obra havia sido feita nesse lugar mediante o fiel trabalho do irmão A. Dura oposição e perseguição se seguiram, mas isso parecia dissipar-se naqueles que vinham para ouvir, e nosso trabalho parece ter causado boa impressão sobre todos. Assisti a onze reuniões nesse lugar em uma semana, falando muitas vezes de uma a duas horas, e tomando parte em outras reuniões. Numa dessas ocasiões foi feito um esforço para induzir aqueles que observavam o sábado a avançarem e tomarem sua cruz. O dever diante da maioria deles era o batismo. Em minha última visão, contemplei lugares onde a verdade seria pregada e edificadas igrejas, às quais deveríamos visitar. Essa era uma das localidades. Experimentei um interesse muito particular por esse povo. Os casos de alguns na congregação foram-me mostrados, e senti por eles uma preocupação peculiar, da qual não podia livrar-me. Por cerca de três horas trabalhei por eles, apelando-lhes na maior parte do tempo com sentimentos de profunda solicitude. Todos tomaram sua cruz na ocasião, vieram à frente para as orações e quase todos falaram. No dia seguinte, quinze foram batizados. T2 12.2
Ninguém pode visitar essas pessoas sem ser impressionado com o valor dos fiéis esforços do irmão A nessa causa. Sua missão era penetrar os lugares onde a verdade ainda não havia sido proclamada. Espero que nosso povo cesse seus esforços para retirá-lo desse objetivo específico. Em espírito de humildade ele pode sair, apoiando-se no braço do Senhor e resgatando muitas pessoas dos poderes das trevas. Que a bênção de Deus possa estar com ele. T2 13.1
Como nossa série de reuniões nesse lugar estivesse prestes a encerrar-se, o irmão Spooner, de Tuscola, convidou-nos a visitar esse condado. Assumimos compromissos com ele que retornava na segunda-feira, e na quinta-feira, após o batismo, fomos para lá. Tivemos nossas reuniões em Vassar, no sábado e no domingo, no edifício da escola da união. Era um lugar adequado para se falar e colhemos bons frutos de nosso trabalho. Na tarde do primeiro dia, cerca de trinta pessoas afastadas e crianças que não haviam feito profissão de fé, vieram à frente. Essa foi uma reunião muito interessante e proveitosa. Alguns estavam se afastando da causa, pelos quais nos sentimos inclinados a trabalhar. Mas o tempo era curto e parecia-me que devíamos deixar a tarefa por concluir. Tínhamos, porém, compromissos marcados em Saint Charles e Alma, e para cumpri-los devíamos encerrar nossos trabalhos em Vassar, na segunda-feira. T2 13.2
Naquela noite o que me havia sido mostrado em visão acerca de certas pessoas do condado de Tuscola, foi revivido em um sonho, e eu estava muito impressionada por que meu trabalho por essas pessoas não havia ainda sido feito. Eu não via outra maneira senão prosseguir e cumprir nossos compromissos. Na terça-feira viajamos aproximadamente 52 quilômetros até Saint Charles, e ali pernoitamos na casa do irmão Griggs. Então escrevi quinze páginas de testemunho, e assisti a uma reunião. Na quarta-feira pela manhã decidimos retornar a Tuscola, caso o irmão Andrews pudesse atender ao compromisso em Alma. Ele concordou. Naquela manhã escrevi quinze páginas mais, assisti a uma reunião e falei durante uma hora. Viajamos cerca de 53 quilômetros com o casal Griggs, para encontrar o irmão Spooner, em Tuscola. Na quinta-feira pela manhã, fomos a Watrousville, a uma distância de 25 quilômetros. Escrevi dezesseis páginas e assisti a uma reunião vespertina, e dei um testemunho bem direto a alguém presente. Na manhã seguinte, redigi doze páginas antes do desjejum e voltei a Tuscola, escrevendo mais oito páginas. T2 14.1
No sábado, meu marido falou pela manhã. E eu, em seguida, falei por duas horas, antes da refeição. A reunião encerrou-se e eu tomei algum alimento. Mais tarde falei durante uma hora numa reunião social, dando testemunhos específicos para muitos dos presentes. Esses testemunhos eram geralmente recebidos com sentimentos de humildade e gratidão. Não posso, contudo, afirmar que todos eram aceitos da mesma maneira. T2 14.2
Na manhã seguinte, enquanto estávamos prestes a deixar a casa de culto para enfrentarmos os árduos deveres do dia, uma irmã a quem eu dera um testemunho de que lhe faltava discrição, prudência e controle das palavras e ações, entrou com seu marido e manifestou sentimentos irreconciliáveis e de grande agitação. Ela começou a falar e a chorar. Murmurou um pouco e confessou um pouco, e se justificou consideravelmente. Tinha idéias errôneas acerca de muitas coisas que eu lhe havia dito. Seu orgulho foi tocado por eu ter trazido suas faltas de maneira tão pública. Aí jazia a principal dificuldade. Mas por que ela se sentiu desse jeito? Os irmãos e irmãs sabiam que as coisas eram assim, portanto, eu não lhes dissera nada novo. Eu não tinha dúvidas de que isso era novo para a própria irmã. Ela não conhecia a si mesma, e não poderia julgar corretamente as próprias palavras e atos. Quase todos estão sujeitos a isso, daí a necessidade de reprovações fiéis na igreja, e do cultivo, por todos os membros, do amor pelo claro testemunho. T2 14.3
O marido pareceu irritado com a exposição das faltas da esposa perante a igreja, e declarou que se a irmã White seguisse as orientações de nosso Senhor em Mateus 18:15-17, ele não teria se sentido magoado: “Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão. Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que, pela boca de duas ou três testemunhas, toda palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano.” T2 15.1
Meu marido então declarou que ele deveria compreender que essas palavras de nosso Senhor faziam referência a casos de delitos pessoais, e não poderiam ser aplicadas no caso dessa irmã. Ela não ofendera a irmã White. O que havia sido censurado publicamente eram os erros públicos que ameaçavam a prosperidade da igreja e da causa. “Eis”, disse meu marido, “um texto aplicável ao caso (1 Timóteo 5:20): ‘Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor.’” T2 15.2
O irmão reconheceu seu erro, como um cristão, e pareceu compreender o problema. Era evidente que, desde a reunião da tarde de sábado, o casal havia entendido muita coisa equivocada e aumentada acerca do assunto. Propôs-se, portanto, que o testemunho escrito fosse lido. Quando isso foi feito, a irmã repreendida perguntou: “É isso o que você declarou ontem?” Respondi-lhe que sim. Ela pareceu surpresa e conformou-se totalmente com o testemunho redigido. Entreguei-o a ela, sem reservar uma cópia. Nisso cometi um erro. Mas eu tinha tão terna consideração por ela e seu marido, e ardentes desejos e esperanças por sua prosperidade que, nesse caso, quebrei um costume estabelecido. T2 16.1
A reunião terminara e precisávamos apressar-nos e andar uns dois quilômetros e meio até a congregação que nos esperava. O leitor pode julgar se realmente o evento daquela manhã fora de molde a nos auxiliar na harmonia de pensamentos e resistência necessários para estar diante do povo. Mas quem pensa nisso? Alguns talvez, revelando um pouco de compaixão, enquanto que os impulsivos e descuidosos virão com seus fardos e aflições, justamente quando estivermos para falar, ou quando totalmente exaustos após as palestras. Meu marido, no entanto, reuniu todas as suas energias, e a pedido, falou com liberdade sobre a lei e o evangelho. Eu recebera um convite para falar à tarde em uma nova casa de culto, recentemente construída e dedicada pelos metodistas. Esse confortável edifício estava repleto e muitos foram obrigados a ficar em pé. Falei sem qualquer problema durante uma hora e meia, sobre o primeiro dos dois grandes mandamentos repetidos por nosso Senhor, e fiquei surpresa em saber que esse foi o mesmo tema abordado pelo pastor metodista pela manhã. Ele e seu povo estavam presentes para ouvir o que eu tinha a dizer. T2 16.2
Ao entardecer tivemos uma proveitosa entrevista na casa do irmão Spooner, com os irmãos Miller, Hatch e Haskell, e as irmãs Sturges, Bliss, Harrison e Malin. Lamentamos que nosso trabalho, no presente, tivesse terminado no condado de Tuscola. Estávamos muito interessados nessas queridas pessoas, embora temerosos de que a irmã a quem eu dera um testemunho permitisse a Satanás obter vantagem sobre ela e lhes causasse problemas. Senti um sincero desejo de que ela pudesse ver o assunto em sua verdadeira luz. O caminho por ela seguido estava destruindo sua influência na igreja e fora dela. Mas, se ela recebesse a reprovação e humildemente buscasse melhorar, a igreja deveria tomá-la novamente em seu coração e cuidar de sua vida espiritual. Melhor ainda, ela poderia desfrutar os sorrisos de aprovação de seu querido Salvador. Minha ansiosa pergunta era: Receberia essa irmã plenamente o testemunho? Temi que não o fizesse, e que o coração dos irmãos naquele lugar ficasse entristecido por isso. T2 16.3
Após retornarmos para casa, pedi-lhe uma cópia do testemunho, e no dia 15 de Abril recebi uma carta, datada de 11 de Abril de 1868, enviada da Dinamarca: “Irmã White, tenho em mãos sua mensagem do dia 23 último. Desculpe-me, mas não posso atender seu pedido.” T2 17.1
Eu ainda continuarei nutrindo ternos sentimentos para com essa família e ficarei feliz em ajudá-la no que puder. É verdade que tal tipo de tratamento por parte daqueles por quem dou a minha vida, lança uma sombra de tristeza sobre mim; mas minha conduta me tem sido claramente definida, e não posso permitir que tais coisas me desviem do caminho do dever. Quando voltei da agência do correio com a carta, fiquei um tanto deprimida. Tomei a Bíblia e abri-a, orando para que pudesse achar conforto e apoio em suas palavras, e meus olhos pousaram diretamente sobre as palavras do profeta: “Tu, pois, cinge os teus lombos, e levanta-te, e dize-lhes tudo quanto Eu te mandar; não desanimes diante deles, porque Eu farei com que não temas na sua presença. Porque eis que te ponho hoje por cidade forte, e por coluna de ferro, e por muros de bronze, contra toda a terra, e contra os reis de Judá, e contra os seus príncipes, e contra os seus sacerdotes, e contra o povo da terra. E pelejarão contra ti, mas não prevalecerão contra ti; porque Eu sou contigo, diz o Senhor, para te livrar.” Jeremias 1:17-19. T2 17.2
Voltamos para casa depois dessa viagem, antes de uma chuva torrencial que levou embora a neve. Esse temporal impediu a reunião do sábado seguinte, e imediatamente pus-me a preparar matéria para o Testemunho número 14. Também tivemos o privilégio de cuidar de nosso querido irmão King, a quem trouxemos para nossa casa com um terrível ferimento na cabeça e no rosto. Nós o levamos para casa para morrer, pois não poderíamos imaginar ser possível a alguém com tais contusões cranianas recuperar-se. Mas, com a bênção de Deus no uso cuidadoso de água, uma dieta restrita até que o perigo de febre fosse superado, e cômodos bem ventilados, dia e noite, em três semanas ele foi capaz de voltar para sua casa e atender aos interesses de sua fazenda. Ele não tomou nenhuma gota de remédio, desde o começo até o fim. Embora estivesse consideravelmente limitado em razão da perda de sangue por causa dos ferimentos e da dieta reduzida, todavia, quando pôde ingerir maior volume de alimento, recuperou-se rapidamente. T2 18.1
Por esse tempo começamos a trabalhar por nossos irmãos e amigos num local próximo a Greenville. Como sucede em muitos lugares, nossos irmãos necessitavam de ajuda. Havia alguns que guardavam o sábado, mas não pertenciam à igreja, e outros que haviam desistido do sábado e necessitavam de ajuda. Sentimo-nos dispostos a ajudar essas pobres pessoas, mas a experiência passada e a presente posição dos líderes da igreja em relação a elas, tornaram quase impossível para nós uma aproximação. Lidando com os que erram, alguns de nossos irmãos têm sido muito rígidos e severos nas repreensões. E quando alguns não aceitam seus conselhos e se separam deles, dizem: “Bem, se eles querem ir, que vão.” Enquanto tal falta de compaixão, longanimidade e ternura de Jesus for manifestada por Seus professos seguidores, essas pobres, erradias e inexperientes pessoas, fustigadas por Satanás, certamente naufragarão na fé. Por mais que sejam grandes os pecados e erros dos faltosos, nossos irmãos precisam aprender a manifestar não apenas a ternura do Grande Pastor, mas também Seu imperecível cuidado e amor pelas pobres e extraviadas ovelhas. Nossos pastores labutam e fazem sermões, semana após semana, e se alegram por umas poucas pessoas que abraçam a verdade; mas alguns irmãos descuidados podem, em cinco minutos, destruir esse trabalho por acariciarem sentimentos manifestos em palavras como: “Bem, se eles querem nos deixar, que nos deixem.” T2 18.2
Percebemos que nada poderíamos fazer pelas desviadas ovelhas próximas a nós, até que corrigíssemos primeiramente os erros de muitos membros da igreja. Eles tinham deixado essas pobres pessoas a vaguear. Não sentiam nenhuma preocupação por elas. De fato, pareciam fechar-se em si mesmos e estavam perecendo espiritualmente por falta de exercício espiritual. Amavam a causa e estavam prontos a apoiá-la. Tinham todo o cuidado com os servos de Deus. Havia, porém, decidida falta de cuidado pelas viúvas, órfãos e os fracos do rebanho. Além de algum interesse na causa em geral, havia evidentemente pouco interesse por alguém, excetuando-se as próprias famílias. Com religião assim tão restrita, estavam morrendo espiritualmente. T2 19.1
Havia alguns que guardavam o sábado, assistiam às reuniões e praticavam a doação sistemática, mas estavam fora da igreja. É verdade que eles não se achavam aptos a pertencer a uma igreja. Mas, enquanto os líderes da igreja permaneciam como alguns naquela igreja, dando-lhes pouco ou nenhuma animação, era-lhes quase impossível erguer-se na força de Deus e melhorar. Quando começamos o trabalho com a igreja e a ensinar-lhes que precisavam ser possuídos de um espírito de serviço pelos que erram, muito do que eu havia visto referente à causa naquele lugar abriu-se perante mim, e escrevi testemunhos diretos não apenas para aqueles que haviam se desviado e estavam fora da igreja, mas também para os membros da igreja que grandemente erraram por não terem ido em busca da ovelha perdida. Eu não mais me desapontava pela maneira como esses testemunhos eram recebidos. Quando os que se achavam grandemente em falta eram reprovados por testemunhos mais diretos, lidos publicamente, eles os recebiam e confessavam seus erros com lágrimas. Alguns na igreja que se diziam amigos íntimos da causa e dos testemunhos, cogitavam se era possível estarem eles tão errados quanto os testemunhos declaravam. Quando mencionado que eles eram egocêntricos, preocupados consigo mesmos e com suas famílias; que haviam falhado em cuidar dos outros, sido exclusivistas e deixado preciosas almas a perecer; que estavam em perigo de serem autoritários e justos aos próprios olhos, ficaram em grande agitação e aflição. T2 19.2
Mas essa experiência era justamente o que necessitavam para aprender a ser pacientes com os outros em semelhante situação. Há muitos que acham não ter nenhum problema com os testemunhos, e assim se sentem até que são provados. Acham estranho que alguém possa duvidar. Eles são severos com aqueles que externam dúvidas, e magoam e ferem para mostrar seu zelo pelos testemunhos, manifestando mais justiça própria do que humildade. Mas quando o Senhor os reprova por seus erros, descobrem que são tão fracos como a água. Então dificilmente suportam a prova. Esses fatos deviam ensinar-lhes humildade, humilhação própria, ternura e duradouro amor pelos que erram. T2 20.1
Parece-me que o Senhor está fazendo aos errantes, fracos e temerosos, e mesmo àqueles que apostataram da verdade, um chamado especial para voltarem totalmente ao aprisco. Na igreja, porém, são poucos os que sentem ser esse o seu caso. Pouquíssimos ainda permanecem onde podem ser úteis. Muitos outros continuam diretamente no caminho dessas pobres almas. Muitíssimos possuem um espírito exigente. Requerem que os outros se submetam a tais e tais regras antes de lhes estenderem a mão ajudadora. Assim os mantêm a distância. Eles não aprenderam que têm o especial dever de ir em busca dessas ovelhas perdidas. Não devem esperar que elas venham sozinhas. Leiam eles a comovente parábola da ovelha perdida: “E chegavam-se a Ele todos os publicanos e pecadores para O ouvir. E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: Este recebe pecadores e come com eles. E Ele lhes propôs esta parábola, dizendo: Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove e não vai após a perdida até que venha a achá-la? E, achando-a, a põe sobre seus ombros, cheio de júbilo; e, chegando à sua casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida. Digo-vos que assim haverá alegria no Céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento.” Lucas 15:1-7. T2 20.2
Os fariseus murmuravam porque Jesus recebia publicanos e pecadores e comia com eles. Em sua justiça própria eles desprezavam esses pobres pecadores, que alegremente ouviam as palavras de Jesus. Para repreender esse espírito nos escribas e fariseus, e deixar uma lição impressiva para todos, o Senhor contou a parábola da ovelha perdida. Notemos, particularmente, os seguintes pontos: T2 21.1
As noventa e nove ovelhas foram deixadas, e iniciada diligente busca pela ovelha que se perdera. Todo o esforço foi feito em favor dessa infeliz ovelha. Assim poderiam os esforços da igreja serem dirigidos em favor dos membros que estão se desviando do rebanho de Cristo. Eles têm andado distantes, não esperando retornar antes que você vá em busca deles. T2 21.2
Quando o pastor achou a ovelha perdida, retornou para casa com alegria, e muito regozijo se seguiu. Isso ilustra o bendito e prazenteiro trabalho pelos que erram. A igreja que se empenha com êxito nessa obra, é uma igreja feliz. O homem ou a mulher cujo coração se comove de compaixão e amor pelos que erram, e que trabalham para trazê-los ao redil do grande Pastor, ocupam-se numa bendita obra. E oh! como enleva o pensamento de que, ao ser assim resgatada uma pessoa, há mais alegria no Céu do que por noventa e nove justos! Pessoas egoístas, exclusivistas, exigentes, que parecem temer ajudar aqueles que erram, como se ficassem contaminadas por assim fazer, não experimentam a alegria deste trabalho missionário; não sentem a bênção que enche todo o Céu de regozijo pelo resgate de quem se extraviou. Estão encerradas em suas estreitas opiniões e sentimentos, e tornam-se áridas e infrutíferas como os montes de Gilboa, sobre os quais não caía orvalho nem chuva. Impeça-se um homem forte de trabalhar, e ele se tornará fraco. A igreja ou pessoa que se exime de levar as cargas dos outros, que se encerra em si mesma, há de sofrer em breve enfraquecimento espiritual. É o trabalho que conserva o homem vigoroso. Trabalho espiritual, labutas e levar as cargas uns dos outros, eis o que há de dar vigor à igreja de Cristo. T2 22.1
No sábado e no domingo, 18 e 19 de Abril, passamos momentos agradáveis com nosso povo em Greenville. Os irmãos A e B estiveram conosco. Meu marido batizou oito pessoas. Nos dias 25 e 26, estivemos na igreja de Wright. Essas queridas pessoas estavam sempre prontas a receber-nos. Ali meu marido batizou mais oito pessoas. T2 22.2
No dia 2 de maio, encontramos uma grande congregação na casa de culto de Monterey. Meu marido falou com clareza e energia sobre a parábola da ovelha perdida. A palavra foi uma grande bênção ao povo. Alguns haviam se desviado e estavam fora da igreja, e não se fazia nenhum esforço para auxiliá-los. De fato, a inflexível, insensível e severa posição de alguns na igreja, era para evitar seu retorno, estivessem eles dispostos a assim fazer. O assunto tocou o coração de todos e manifestaram o desejo de agir corretamente. No primeiro dia, em Allegan, falamos por três vezes a significativas congregações. Tínhamos compromisso com a igreja de Battle Creek, no dia 9. Notamos, porém, que nossa obra em Monterey havia apenas começado, e assim decidimos retornar para lá e trabalhar com aquela igreja por mais uma semana. O trabalho progrediu, superando nossas expectativas. A igreja estava repleta e nunca antes testemunhamos trabalho tal em Monterey, num curto espaço de tempo. No primeiro dia, quinze pessoas vieram à frente para as orações. Os irmãos sentiam profundamente pelas ovelhas perdidas e confessavam sua frieza e indiferença, e assumiram uma posição. Os irmãos G. T. Lay e S. Rummery deram bons testemunhos e foram recebidos com alegria por seus irmãos. Catorze pessoas foram batizadas, entre elas, um homem de meia-idade, que antes fora opositor da verdade. A obra avançou com solenidade, confissões e muito pranto, comovendo a todos. Assim se encerraram os trabalhos de conferências daquele ano. Percebemos ainda que a boa obra em Monterey de modo algum estava terminada. Fizemos arranjos para retornar e despender várias semanas no condado de Allegan. T2 22.3
As conferências passadas haviam sido de profundo interesse. Os trabalhos de meu marido têm sido intensos durante suas numerosas reuniões, e ele precisa descansar. Nossos trabalhos no ano passado foram vistos favoravelmente por nosso povo e nas reuniões nos foram manifestados simpatia, carinho e bondade. Tivemos com eles grande liberdade e partimos desfrutando confiança e amor mútuos. T2 23.1