Testemunhos para a Igreja 2

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Capítulo 38 — Uma carta de aniversário

Querido Filho:

Escrevo esta pelo seu décimo nono aniversário. Foi um prazer tê-lo conosco por algumas semanas. Está para deixar-nos. Todavia nossas orações o seguirão. T2 261.2

Finda hoje outro ano de sua existência. Como o reconsidera você? Tem acaso feito progresso na vida religiosa? Tem crescido na espiritualidade? Tem crucificado o eu, com suas afeições e concupiscências? Tem crescido em interesse no estudo da Palavra de Deus? Obteve decisivas vitórias sobre os próprios sentimentos e caprichos? Oh! qual tem sido o registro de sua vida durante o ano que acaba de passar para a eternidade, para nunca mais voltar? T2 261.3

Ao entrar em um novo ano, faça-o com nova resolução de seguir conduta progressiva e ascendente. Seja sua vida mais elevada do que tem sido até aqui. Faça que o seu objetivo não seja buscar o próprio interesse e prazer, mas promover o desenvolvimento da causa de seu Redentor. Não permaneça numa atitude em que você mesmo sempre necessite de auxílio, e outros tenham de vigiá-lo para mantê-lo no caminho estreito. Você pode ser forte para exercer influência santificadora sobre outros. Pode estar em atitude em que o interesse de seu coração se desperte para fazer bem a outros, para consolar os aflitos, fortalecer os fracos, e dar seu testemunho em favor de Cristo sempre que se ofereça oportunidade. Tenha como objetivo honrar a Deus em tudo, sempre e em toda parte. Ponha sua religião em tudo. Seja cabal em tudo quanto empreender. T2 261.4

Você não experimentou o poder salvador de Deus como é seu privilégio fazer, porque não tornou o grande objetivo de sua vida glorificar a Cristo. Seja todo propósito que tomar, toda obra em que se empenhar e todo prazer que desfrutar para glória de Deus. Seja esta a linguagem de seu coração: Sou teu, ó Deus, para viver para Ti, trabalhar para Ti e sofrer por Ti. T2 262.1

Muitos professam estar ao lado do Senhor, mas não estão; o peso de todas as suas ações acha-se do lado de Satanás. Por que meio havemos de determinar de que lado nos encontramos? Quem possui o coração? Em quem estão nossos pensamentos? Sobre quem gostamos de conversar? Quem possui nossas mais calorosas afeições e melhores energias? Se nos achamos do lado do Senhor, nossos pensamentos estão com Ele, e nossos mais suaves pensamentos são a Seu respeito. Não temos amizade com o mundo; tudo quanto temos e somos, consagramos a Ele. Almejamos trazer Sua imagem, respirar Seu Espírito, fazer-Lhe a vontade e agradar-Lhe em tudo. T2 262.2

Você deve seguir uma conduta tão decidida, que ninguém precise enganar-se a seu respeito. Não lhe é possível exercer influência sobre o mundo sem decisão. Suas resoluções podem ser boas e sinceras, mas demonstrar-se-ão um fracasso a não ser que faça de Deus a sua força, e avance com firme determinação de propósito. Deve pôr o coração inteiro na causa e obra de Deus. Deve ser fervoroso em obter uma experiência na vida cristã. Deve exemplificar a Cristo em sua vida. T2 262.3

Você não pode servir a Deus e a Mamom. Ou está totalmente do lado do Senhor, ou do lado do inimigo. “Quem não é comigo é contra Mim; e quem comigo não ajunta espalha.” Mateus 12:30. Algumas pessoas tornam a própria vida religiosa um fracasso, porque estão sempre vacilando, e não têm determinação. Sentem-se freqüentemente convictas, e chegam quase ao ponto de fazer a entrega de tudo a Deus; mas, deixando de chegar ao ponto, voltam novamente atrás. Enquanto nesse estado, a consciência vai-se endurecendo, e ficando cada vez menos susceptível às impressões do Espírito de Deus. Seu Espírito adverte, convence, e é desatendido até que quase Se afasta, ofendido. Com Deus não se brinca. Ele mostra claramente o dever, e se há negligência em seguir a luz, esta se torna em trevas. T2 263.1

Deus pede que você se torne coobreiro Seu em Sua vinha. Comece exatamente onde está. Chegue-se à cruz e aí renuncie ao próprio eu, ao mundo, a todo ídolo. Receba inteiramente a Jesus no coração. Você se encontra em um lugar difícil para manter a consagração e exercer uma influência que desvie outros do pecado e do prazer e loucura, para o caminho estreito traçado para os remidos do Senhor. T2 263.2

Faça inteira entrega a Deus; submeta tudo sem reservas, e busque assim aquela “paz... que excede todo o entendimento”. Filipenses 4:7. Não lhe é possível receber nutrição de Cristo, a menos que nEle esteja. Se não estiver nEle, você é um ramo seco. Não sente sua necessidade de pureza e verdadeira santidade. Você deve experimentar sincero desejo de ter o Espírito Santo, e orar fervorosamente para obtê-Lo. Não pode esperar a bênção de Deus sem a buscar. Caso empregasse os meios ao seu alcance, experimentaria crescimento na graça, e se ergueria a uma vida mais elevada. T2 263.3

Não lhe é natural amar as coisas espirituais, mas você pode adquirir esse amor pelo exercício da mente, da energia de seu ser, nesse rumo. O poder de fazer, eis o que você necessita. A verdadeira educação é o poder de usar as nossas faculdades de maneira a conseguir resultados benéficos. Por que é que a religião ocupa tão pouco nossa atenção, ao passo que o mundo tem a energia do cérebro, dos ossos e músculos? É porque toda a força de nosso ser se inclina para aquele rumo. Temo-nos exercitado em empenhar-nos com diligência e vigor nos negócios mundanos, até que se torna fácil à mente tomar esse rumo. É por isto que os cristãos acham a vida religiosa tão difícil, e tão fácil a vida mundana. As faculdades foram exercitadas a empregar sua força naquele sentido. Na vida religiosa tem havido assentimento às verdades da Palavra de Deus, mas não uma ilustração prática das mesmas na vida. T2 263.4

Não se torna parte da educação cultivar pensamentos religiosos e sentimentos de devoção. Estes devem influenciar e reger todo o ser. Falta o hábito de fazer o que é direito. Há intermitente ação sob influências favoráveis; mas pensar natural e prontamente nas coisas divinas não é o princípio regedor do espírito. T2 264.1

Não há necessidade de sermos anões espirituais, caso exercitemos continuamente a mente nas coisas espirituais. Mas orar meramente por isto e em torno disto, não satisfará às necessidades do caso. Você precisa habituar a mente a concentrar-se nos assuntos espirituais. O exercício trará vigor. Muitos cristãos professos se acham bem a caminho de perder ambos os mundos. Ser um homem meio cristão e meio mundano faz de você cerca de uma centésima parte cristão e todo o resto mundano. T2 264.2

Experiência religiosa, eis o que Deus requer; todavia milhares exclamam: “Não sei o que é, não tenho força espiritual, não gozo o Espírito de Deus.” Não obstante as mesmas pessoas tornam-se ativas e expansivas e mesmo eloqüentes quando falam sobre assuntos mundanos. Escute essas pessoas na reunião. Cerca de uma dúzia de palavras são proferidas em voz que mal se ouve. São homens e mulheres do mundo. Cultivaram propensões mundanas, até que suas faculdades se tornaram fortes naquele sentido. São, no entanto, fracos como criancinhas com relação às coisas espirituais, quando deviam ser fortes e inteligentes. Não lhes apraz demorar sobre o mistério da piedade. Não conhecem a linguagem do Céu, e não estão educando sua mente de modo a estar preparados para entoar os cânticos do Céu, ou deleitarem-se nos cultos espirituais que ali ocuparão a atenção de todos. T2 264.3

Cristãos professos, cristãos mundanos, não se acham familiarizados com as coisas celestiais. Eles nunca serão levados às portas da Nova Jerusalém para se empenharem em cultos que até então não os interessaram de maneira especial. Eles não exercitaram a mente em deleitar-se na devoção e na meditação sobre as coisas de Deus e do Céu. Como, então, poderão se ocupar nos cultos do Céu? Como deleitarem-se nas coisas espirituais, puras e santas lá no Céu, quando isto não lhes era especial deleite aqui na Terra? A própria atmosfera ali será pureza. Eles, porém, não se acham relacionados com tudo isso. Quando no mundo, seguindo suas vocações mundanas, sabiam a que se apegar, e exatamente o que fazer. A tendência inferior das faculdades constantemente em exercício desenvolveu-se, ao passo que as mais elevadas e nobres faculdades mentais, não sendo fortalecidas pelo uso, são incapazes de despertar imediatamente para exercícios espirituais. As coisas espirituais não são discernidas, pois são vistas com olhos amantes do mundo, os quais não podem apreciar o valor e a glória do divino acima do temporal. T2 265.1

A mente precisa ser educada e disciplinada para amar a pureza. Cumpre estimular o amor pelas coisas espirituais; sim, cumpre estimulá-lo, caso você queira crescer na graça e no conhecimento da verdade. Desejos de bondade e verdadeira santidade são bons, até certo ponto, mas se você se detém aí, de nada valerão. Os bons propósitos são justos, mas não se demonstrarão de nenhum valor, a menos que sejam resolutamente executados. Muitos se perderão enquanto esperam e desejam ser cristãos; não fizeram, porém, nenhum esforço sincero; portanto, serão pesados nas balanças e achados em falta. A vontade precisa ser exercida no devido rumo: Serei um cristão de todo o coração. Conhecerei o comprimento e a largura, a altura e a profundidade do amor perfeito. Escute às palavras de Jesus: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos.” Mateus 5:6. São tomadas por Cristo amplas providências para satisfazer o coração que tem fome e sede de justiça. T2 265.2

O puro elemento do amor expandirá a mente para mais altas realizações, para mais amplos conhecimentos das coisas divinas, de modo que ela não se satisfaça senão com a plenitude. A maioria dos professos cristãos não possuem o senso do vigor espiritual que poderiam obter, fossem eles tão ambiciosos, zelosos e perseverantes para adquirirem conhecimento das coisas divinas como são para alcançar as mesquinhas e perecíveis coisas desta vida. As massas que professam ser cristãs, têm-se contentado em ser anões espirituais. Não têm nenhuma disposição de tornarem seu primeiro objetivo buscar “primeiro o reino de Deus, e a Sua justiça” (Mateus 6:33); assim, a piedade é para eles um mistério oculto, não a podem entender. Não conhecem a Cristo por um conhecimento experimental. T2 266.1

Sejam os homens e mulheres que se satisfazem com seu estado raquítico, debilitado, nas coisas divinas, repentinamente transportados ao Céu, testemunhando por um instante o elevado e santo estado de perfeição ali permanente — todo coração cheio de amor; todo semblante irradiando alegria; encantadora música a subir em melodiosos acentos em honra a Deus e ao Cordeiro e incessantes torrentes de luz a fluírem sobre os santos procedendo do rosto dAquele que está assentado no trono, e do Cordeiro; e compreendam eles que há ainda mais elevada e maior alegria a experimentar, pois quanto mais recebem de Deus tanto maior é sua capacidade de crescer no júbilo eterno, e assim continuar a receber novas e maiores provisões das incessantes fontes da glória e bem-aventurança inexprimíveis — e poderão essas pessoas, pergunto, misturar-se à multidão do Céu, participar de seus cânticos celestes, e suportar a glória pura, exaltada, arrebatadora que procede de Deus e do Cordeiro? Oh, não! seu tempo de graça foi prolongado por anos para que pudessem aprender a linguagem do Céu, para que se tornassem “participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo”. 2 Pedro 1:4. Eles, porém, tinham um negócio egoísta, deles mesmos, em que ocupar as faculdades mentais e as energias do ser. Não se podiam permitir servir a Deus incondicionalmente, e fazer disto um objetivo. Os empreendimentos mundanos precisavam vir primeiro, e apoderar-se do melhor de suas faculdades, e a Deus dedicavam um pensamento passageiro. Hão de esses ser transformados depois da final decisão: “Quem é santo seja santificado ainda”?, “quem está sujo suje-se ainda”? Apocalipse 22:11. Este tempo virá. T2 266.2

Aqueles que educaram a mente em deleitar-se nos exercícios espirituais, são os que podem ser trasladados e não serem oprimidos com a pureza e a transcendente glória do Céu. Você pode ter bom conhecimento das artes, estar familiarizado com as ciências, ser excelente na música e na literatura, suas maneiras podem agradar àqueles com quem convive, mas que têm estas coisas que ver com o preparo para o Céu? Que fazem elas para prepará-lo a fim de comparecer diante do tribunal de Deus? T2 267.1

“Não vos enganeis: de Deus não se zomba.” Gálatas 6:7. Coisa alguma senão a santidade o preparará para o Céu. Unicamente a piedade sincera, experimental, pode dar-lhe um caráter puro, elevado, e habilitá-lo a entrar à presença de Deus, “que habita na luz inacessível”. 1 Timóteo 6:16. O caráter celeste deve ser adquirido na Terra, ou jamais se poderá obter. Comece, portanto, imediatamente. Não se iluda de que virá tempo em que poderá fazer mais facilmente um diligente esforço do que agora. Cada dia aumenta sua distância de Deus. Prepare-se para a eternidade com um zelo tal como ainda não manifestou. Eduque sua mente a amar a Bíblia, amar a reunião de oração, a hora de meditação e, acima de tudo, a hora em que a mente comunga com Deus. Volte sua mente para as coisas eternas se quiser unir-se com o coro celestial nas mansões de cima. T2 267.2

Começa agora outro ano de sua existência. No livro do anjo relator, volve-se uma nova página. Qual será o registro de suas páginas? Será ele manchado com negligência para com Deus, com deveres não cumpridos? Deus não o permita. Que aí se grave um registro que não o envergonhe de que seja revelado aos olhos dos homens e dos anjos. T2 268.1

Greenville, Michigan

27 de Julho de 1868