Fundamentos da Educação Cristã

41/114

O mestre da verdade, o único educador seguro

Há no mundo duas classes de educadores. Uma é a daqueles que Deus torna canais de luz, e a outra, a dos que Satanás usa como agentes seus, e que são sábios em fazer o mal. Uma classe contempla o caráter de Deus, e cresce no conhecimento de Jesus, a quem Deus enviou ao mundo. Essa classe se entrega completamente às coisas que trazem a iluminação celestial, a sabedoria celeste, para a elevação da alma. Toda capacidade de sua natureza é submetida a Deus, e seus pensamentos são levados em cativeiro a Cristo. A outra classe está em aliança com o príncipe das trevas, que sempre está alerta para descobrir uma oportunidade para ensinar aos outros o conhecimento do mal. Caso lhe seja concedido lugar, não tarda em abrir caminho ao coração e à mente. FEC 174.1

Grande é a necessidade de elevar a norma da justiça em nossas escolas, de dar instruções segundo Deus. Entrasse Cristo em nossas instituições de educação para a mocidade, purificá-las-ia como fez com o templo, banindo muitas coisas que exercem influência contaminadora. Muitos dos livros de estudo dos jovens seriam eliminados, sendo substituídos por outros de molde a inculcar conhecimento substancioso, abundantes de sentimentos próprios para serem entesourados no coração, e de preceitos que possam reger a conduta. Será desígnio do Senhor que falsos princípios, raciocínios falsos e sofismas de Satanás sejam postos perante o espírito dos jovens e das crianças? Serão sentimentos pagãos e ateus apresentados a nossos estudantes como valiosos acréscimos a seu pecúlio de conhecimentos? As obras dos mais intelectuais dos céticos, são o produto de um espírito prostituído ao serviço do adversário; e hão de os que se dizem reformadores, que buscam dirigir as crianças e os jovens no reto caminho, no trilho aberto, imaginar que Deus Se agradaria de que apresentassem aos jovens aquilo que Lhe desfigurará o caráter, e O apresentará sob um falso aspecto? Serão os sentimentos dos incrédulos, as expressões de homens dissolutos, defendidos como merecedores da atenção dos estudantes, pelo fato de serem o produto de homens a quem o mundo admira como grandes pensadores? Homens que professam crer em Deus colherão de tais autores profanos as expressões e sentimentos, entesourando-os como jóias preciosas para serem conservadas entre as riquezas do espírito? De modo nenhum! FEC 174.2

O Senhor concedeu a esses homens, admirados pelo mundo, inapreciáveis dotes intelectuais; dotou-os de cérebros superiores; eles não os empregaram, porém, para glória de Deus. Qual Satanás, esses homens dEle se separaram; assim fazendo conservaram, não obstante, ainda muitas das preciosas gemas de pensamento que Deus lhes doara. Colocaram-nas em um engaste de erros, para dar realce aos próprios sentimentos humanos, a fim de tornar atrativas as enunciações inspiradas pelo príncipe do mal. É verdade que nos escritos dos pagãos e ateus se encontram pensamentos de ordem elevada, atrativos para o espírito. Há, porém, razão para isto. Não foi Satanás o portador de luz, o participante da glória de Deus no Céu, o primeiro depois de Jesus, em poder e majestade? Nas palavras da Inspiração é ele descrito como o que aferia a medida, “cheio de sabedoria e perfeito em formosura”. O profeta declara: “Estavas no Éden, jardim de Deus; toda pedra preciosa era a tua cobertura. ... Tu eras querubim ungido para proteger, e te estabeleci; no monte santo de Deus estavas, no meio das pedras afogueadas andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniqüidade em ti. ... Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; por terra te lancei, diante dos reis te pus, para que olhem para ti. Pela multidão das tuas iniqüidades, pela injustiça do teu comércio profanaste os teus santuários; Eu, pois, fiz sair do meio de ti um fogo, que te consumiu a ti, e te tornei em cinza sobre a Terra, aos olhos de todos os que te vêem. Todos os que te conhecem entre os povos estão espantados de ti; em grande espanto te tornaste, e nunca mais serás para sempre.” FEC 175.1

A grandeza e o poder com que o Criador dotou Lúcifer, foram por este pervertidos; todavia, quando convém aos seus desígnios, ele pode comunicar aos homens sentimentos encantadores. Tudo na Natureza provém de Deus; no entanto, Satanás pode inspirar a seus agentes pensamentos que parecem elevados e nobres. Não se dirigiu ele a Cristo citando as Escrituras quando tencionava vencê-Lo com especiosas tentações? É assim que ele se aproxima dos homens, como anjo de luz, disfarçando suas tentações sob a aparência de bondade, e fazendo-os acreditar ser ele o amigo e não o inimigo da raça humana. Por essa maneira tem enganado e seduzido a humanidade, iludindo-a com sutis tentações, confundindo-a com artificiosos enganos. FEC 176.1

Satanás tem atribuído a Deus todos os males herdados pela carne. Tem-nO representado como um Deus que Se deleita nos sofrimentos de Suas criaturas, vingativo e implacável. Foi Satanás que deu origem à doutrina do tormento eterno como castigo pelo pecado, pois assim podia levar os homens à incredulidade e à rebelião, perturbar as almas e destronar a razão humana. FEC 176.2

Olhando para baixo, o Céu viu as ilusões a que estavam sendo os homens induzidos, e achou que era preciso vir à Terra um divino Instrutor. Os homens em ignorância e trevas morais, deviam ter luz, luz espiritual; pois o mundo desconhecia a Deus, e Ele Se lhes devia revelar ao entendimento. Do Céu olhou a verdade para baixo, e não viu o reflexo da própria imagem; pois densas nuvens de sombras e escuridão espirituais envolviam o mundo. Unicamente o Senhor Jesus era capaz de dispersar as nuvens; porquanto Ele é a Luz do mundo. Por Sua presença podia dissipar a negra sombra lançada por Satanás entre o homem e Deus. As trevas cobriam a Terra, e a escuridão os povos. Por meio das acumuladas falsificações do inimigo, muitos foram tão enganados que adoraram um falso deus, revestido dos atributos do caráter satânico. FEC 176.3

O Mestre enviado pelo Céu, nada menos que o próprio Filho de Deus, veio à Terra para revelar aos homens o caráter do Pai, a fim de que O adorassem em espírito e em verdade. Cristo revelou aos homens o fato de que a mais estrita adesão a cerimônias e formas não poderia salvá-los; pois o reino de Deus é de natureza espiritual. Cristo veio para semear o mundo com a verdade. Em Suas mãos estavam as chaves de todos os tesouros da sabedoria, sendo-Lhe dado abrir portas à ciência e revelar não descobertas jazidas de conhecimento, fosse isto essencial à salvação. Apresentou aos homens exatamente o contrário das representações do inimigo quanto ao caráter de Deus, e neles procurou gravar o amor do Pai, que “amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo o que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Acentuou aos homens a necessidade da oração, do arrependimento, da confissão e do abandono do pecado. Ensinou-lhes a honestidade, a clemência, a misericórdia e a compaixão, ordenando-lhes não amarem apenas aos que os amavam, mas os que os odiavam e os maltratavam. Em tudo isto, estava Jesus a revelar-lhes o caráter do Pai, que é longânimo, misericordioso e piedoso, tardio em iras, e grande em beneficência e verdade. Os que aceitaram os Seus ensinos achavam-se sob o protetor cuidado dos anjos, comissionados para fortalecer e iluminar, a fim de que a verdade pudesse renovar e santificar a alma. FEC 177.1

Cristo declara a missão que tinha em vista ao vir à Terra. Afirma em Sua última oração pública: “Pai justo, o mundo não Te conheceu; Eu, porém, Te conheci, e também estes compreenderam que Tu Me enviaste. Eu lhes fiz conhecer o Teu nome, e ainda o farei conhecer, a fim de que o amor com que Me amaste esteja neles e Eu neles esteja.” Quando Moisés pediu ao Senhor que lhe mostrasse Sua glória, o Senhor disse: “Farei passar toda a Minha bondade diante de ti.” “Passando o Senhor por diante dele, clamou: Senhor, Senhor Deus compassivo, clemente e longânimo, e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o culpado. ... E imediatamente, curvando-se Moisés para a terra, O adorou.” Quando formos capazes de compreender o caráter de Deus como Moisés, também nós nos daremos pressa em curvar-nos em adoração e louvor. Jesus não esperava nada menos de que “o amor com que Me amaste” estivesse no coração de Seus filhos, a fim de que pudessem comunicar a outros o conhecimento de Deus. FEC 177.2

Oh! que certeza esta de que o amor de Deus pode habitar no coração de todos os que nEle crêem! Oh! que salvação é provida; pois Ele pode salvar totalmente os que por Ele se chegam a Deus. Exclamamos com admiração: Como serão possíveis estas coisas? Mas Jesus não Se contentará com nada menos do que isso. Aos que aqui são participantes de Seus sofrimentos, de Sua humilhação, resistindo por amor a Seu nome, será outorgado o amor de Deus como o foi para o Filho. Disse Aquele que sabe: “O próprio Pai vos ama.” Aquele que teve conhecimento pessoal do comprimento, da largura, da altura e da profundidade desse amor, declarou-nos esse fato surpreendente. Este amor pertence-nos pela fé no Filho de Deus; por isso, a conexão com Cristo significa tudo para nós. Devemos ser um com Ele, assim com Ele o é com o Pai, e então somos amados pelo infinito Deus como membros do corpo de Cristo, como ramos da Videira viva. Devemos estar ligados ao tronco original e receber nutrição da Videira. Cristo é nossa Cabeça glorificada, e o divino amor fluindo do coração de Deus se detém em Cristo e é comunicado aos que se uniram a Ele. Penetrando na alma, este divino amor lhe infunde gratidão, livra-a de sua debilidade espiritual, do orgulho, vaidade e egoísmo, e de tudo o que deforma o caráter cristão. FEC 178.1

Olhai, oh! olhai para Jesus, e vivei! Não podeis deixar de ficar encantados com os inigualáveis atrativos do Filho de Deus. Cristo era Deus manifestado na carne, o mistério oculto dos séculos, e nossa aceitação ou rejeição do Salvador envolvem interesses eternos. FEC 179.1

A fim de salvar o transgressor da lei de Deus, Cristo, que é igual com o Pai, veio viver o Céu diante dos homens, para que aprendessem o que significa ter o Céu no coração. Ilustrou o que o homem deve ser para estar à altura da preciosa dádiva da vida que se mede com a vida de Deus. FEC 179.2

A vida de Cristo estava imbuída da divina mensagem do amor de Deus, e anelava intensamente transmitir esse amor aos outros, em abundante medida. O Seu semblante irradiava compaixão e Sua conduta caracterizava-se pela graça, humildade, verdade e amor. Todo membro de Sua igreja militante deve manifestar as mesmas qualidades, se deseja fazer parte da igreja triunfante. O amor de Cristo é tão amplo, tão cheio de glória, que em comparação com ele, tudo o que os homens consideram grande se reduz a uma insignificância. Quando obtemos uma visão a seu respeito, exclamamos: Ó profundidade das riquezas do amor que Deus conferiu aos homens na dádiva de Seu Filho unigênito! FEC 179.3

Ao procurarmos descrever o amor de Deus em linguagem apropriada, notamos que as palavras são demasiado insípidas, demasiado débeis e muito abaixo do assunto, e depomos a pena e dizemos: “Não, não é possível descrevê-lo.” Só podemos fazer o mesmo que o discípulo amado, dizendo: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, ao ponto de sermos chamados filhos de Deus.” Ao fazer qualquer tentativa para descrever esse amor, sentimo-nos como bebês balbuciando suas primeiras palavras. Podemos adorar em silêncio; pois nesta questão só o silêncio é eloqüência. Toda e qualquer linguagem é inadequada para descrever esse amor. Ele é o mistério de Deus na carne, Deus em Cristo e a divindade na humanidade. Cristo curvou-Se em inigualável humildade a fim de que, em Sua elevação ao trono de Deus, pudesse elevar os que nEle crêem a um lugar com Ele em Seu trono. Todos os que olham a Jesus com fé para que nEle sejam curadas as feridas e contusões causadas pelo pecado, serão restaurados. FEC 179.4

Os temas da redenção são momentosos, e somente os que têm inclinação para as coisas espirituais podem discernir-lhes a profundeza e o significado. Demorar-nos sobre as verdades do plano da salvação constitui nossa segurança, nossa vida, nossa alegria. É necessário fé e oração para contemplarmos as profundas coisas de Deus. Nosso espírito acha-se tão preso a idéias tacanhas que só temos visões restritas da experiência que é nosso privilégio desfrutar. Quão pouco compreendemos acerca do significado da oração do apóstolo, ao dizer ele: “Para que, segundo a riqueza da Sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o Seu Espírito no homem interior; e assim habite Cristo nos vossos corações, pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor, a fim de poderdes compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus. Ora, Àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos, ou pensamos, conforme o Seu poder que opera em nós, a Ele seja a glória, na igreja em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém.” — The Review and Herald, 17 de Novembro de 1891. FEC 180.1