Fundamentos da Educação Cristã

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Livros em nossas escolas

Na tarefa de educar os jovens em nossas escolas, será uma questão difícil reter a influência do Espírito Santo de Deus e apegar-se, ao mesmo tempo, a princípios errôneos. A luz que resplandece sobre os que têm olhos para ver, não pode misturar-se com as trevas da heresia e do erro encontradas em muitos dos compêndios recomendados aos alunos de nossos colégios. Tanto estudantes como professores têm pensado que para obter educação, era necessário estudar as produções de escritores que ensinam o ateísmo, em razão de suas obras conterem brilhantes gemas do pensamento. Quem foi, porém, o originador dessas gemas do pensamento? — Deus, somente Deus; pois Ele é a fonte de toda luz. Acaso não se encontram nas páginas da Sagrada Escritura todas as coisas essenciais à saúde e ao crescimento da natureza espiritual e moral? Não é Cristo nossa cabeça vivente? E não temos de crescer nEle até a estatura perfeita de homens e mulheres? Pode uma fonte impura verter água potável? Por que haveríamos de vadear penosamente o conjunto de erros contidos nas obras de pagãos e ateus para obter o benefício de algumas verdades intelectuais, quando toda a verdade se acha à nossa disposição? FEC 167.1

O homem não pode realizar nada de bom sem Deus. Ele é o originador de todo raio de luz que tem atravessado as trevas do mundo. Tudo que é valioso provém de Deus e pertence a Ele. Existe uma razão por que os agentes do inimigo manifestam às vezes notável sabedoria. O próprio Satanás foi educado e disciplinado nas cortes celestiais e possui um conhecimento do bem e do mal. Mistura o precioso com o vil, e é isso que lhe dá poder para enganar os filhos dos homens. Visto, porém, que Satanás se apropriou dos atavios divinos a fim de poder exercer influência em seus usurpados domínios, devem os que jaziam em trevas e viram grande luz apartar-se dela e recomendar as trevas? Aqueles que conheceram os oráculos de Deus recomendarão que nossos alunos estudem livros que expressam sentimentos pagãos e ateus, para que sejam inteligentes? Satanás tem seus agentes, educados segundo seus métodos, inspirados por seu espírito e adaptados a suas obras; mas devemos cooperar com eles? Como cristãos, recomendaremos as obras de seus agentes como valiosas e até mesmo essenciais para uma boa educação? FEC 167.2

O Senhor mesmo tem indicado que devem ser estabelecidas escolas entre nós a fim de que se possa obter verdadeiro conhecimento. Nenhum professor em nossas escolas deve sugerir a idéia de que, para obter o devido preparo, é essencial o estudo de compêndios que expressam sentimentos pagãos e ateus. Os estudantes educados dessa maneira não são competentes, por sua vez, para tornarem-se educadores, pois estão cheios dos sutis sofismas do inimigo. O estudo de obras que de algum modo expressam sentimentos ateus é como pegar em carvão; pois o homem que pensa segundo a orientação do ceticismo não pode manter uma mente impoluta. Ao recorrer a tais fontes em busca de conhecimento, não nos estamos afastando das neves do Líbano para beber das turvas águas do vale? FEC 168.1

Os homens que se afastam do conhecimento de Deus têm colocado a mente sob o domínio de Satanás, seu mestre, e ele os prepara para serem seus servos. Quanto menos se puser perante os jovens obras que exponham idéias ateísticas, tanto melhor. Os anjos maus estão sempre de prontidão para enaltecer perante as inteligências juvenis aquilo que lhes causará dano, e, ao serem lidos livros que expressam sentimentos pagãos e ateus, esses invisíveis agentes do mal procuram infundir nos leitores o espírito de desconfiança e incredulidade. Os que bebem desses canais contaminados não têm sede das águas da vida, pois se contentam com as cisternas rotas do mundo. Julgam possuir os tesouros do saber, quando, em realidade, só estão amontoando madeira, feno e restolho, os quais não vale a pena adquirir ou conservar. Seu amor por si mesmos, sua idéia de que um conhecimento superficial das coisas constitui educação, torna-os jactanciosos e enfatuados, quando são, como os fariseus, ignorantes das Escrituras e do poder de Deus. FEC 168.2

Oh, que nossa juventude entesourasse o conhecimento imperecível, a fim de poderem levar consigo para a futura vida imortal o saber que é apresentado como ouro, prata e pedras preciosas! A classe de educadores e estudantes que se consideram sábios, não sabe nada como deveria sabê-lo. Precisam aprender mansidão e humildade na escola de Cristo a fim de que apreciem grandemente o que o Céu considera excelente. Os que recebem uma educação valiosa que seja tão duradoura como a eternidade, não serão considerados como os homens melhor educados do mundo. As Escrituras declaram, porém, que “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria”. Tal espécie de conhecimento encontra-se abaixo da norma na opinião do mundo; no entanto, é essencial que todo jovem se torne sábio nas Escrituras, se quer ter vida eterna. Diz o apóstolo: “Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” Isto é bastante amplo. Procurem todos compreender, na máxima amplitude de suas faculdades, o significado da Palavra de Deus. A mera leitura superficial da Palavra inspirada trará pouco benefício, porque cada declaração feita nas páginas sagradas requer cuidadoso estudo. É verdade que certas passagens não requerem tão diligente concentração como outras, pois seu significado é mais evidente. Mas o estudante da Palavra de Deus deve procurar compreender a relação que existe entre uma passagem e outra, até que a cadeia da verdade se revele a sua vista. Como os veios do precioso metal se acham ocultos debaixo da superfície da Terra, assim as riquezas espirituais estão escondidas no texto da Sagrada Escritura, e é necessário esforço mental e devota atenção para descobrir o significado oculto da Palavra de Deus. Que todo estudante que aprecia o tesouro celestial aplique ao máximo suas faculdades mentais e espirituais, e cave bem fundo na mina da verdade, a fim de que possa obter o ouro celestial — a sabedoria que o torne sábio para a salvação. FEC 169.1

Caso se manifestasse no estudo do plano da salvação metade do zelo manifestado em procurar compreender as brilhantes idéias dos incrédulos, milhares que agora jazem em trevas ficariam encantados com a sabedoria, a pureza, a elevação das providências de Deus em nosso favor; ficariam fora de si pela admiração e assombro que lhes causaria o amor e a condescendência de Deus em dar Seu Filho unigênito para a raça caída. Como é que muitos se contentam em abeberar-se nos turvos regatos que correm no sombrio vale, quando poderiam refrescar a alma nas correntes vivas das montanhas? Pergunta o profeta: “Deixar-se-á a neve do Líbano por uma rocha do campo? ou deixar-se-ão as águas estranhas, frias e correntes?” E o Senhor responde: “O Meu povo se tem esquecido de Mim, queimando incenso à vaidade; e fizeram-nos tropeçar nos seus caminhos, e nas veredas antigas, para que andassem por veredas afastadas, não aplainadas.” FEC 170.1

É lamentável que homens a quem foram confiadas esplêndidas habilidades para serem empregadas no serviço de Deus, tenham prostituído suas faculdades no serviço do mal e colocado seus talentos aos pés do inimigo. Submeteram-se na mais servil escravidão ao príncipe do mal, ao passo que rejeitaram o serviço de Cristo, considerando-o humilhante e indesejável. Encararam a obra do seguidor de Cristo como estando abaixo de suas ambições e requerendo um declínio de sua grandeza, uma espécie de escravidão que reprimiria suas faculdades e restringiria o círculo de sua influência. Aquele que havia feito um infinito sacrifício para que eles pudessem ficar livres da servidão do mal foi posto de lado como indigno de seus melhores esforços e mais elevado serviço. FEC 170.2

Estes homens receberam seus talentos de Deus, e toda gema do pensamento pela qual foram considerados dignos da atenção de sábios e pensadores, não pertence a eles, mas ao Deus de toda a sabedoria, a quem não reconheceram. Por meio da tradição e da falsa educação, tais homens são exaltados como educadores do mundo; mas, dirigindo-se a eles, os estudantes se acham em perigo de aceitar o vil juntamente com o precioso; pois a superstição, o raciocínio capcioso e o erro estão mesclados com porções de verdadeira filosofia e instrução. Esta mescla forma uma poção que é venenosa para a alma, destruindo a fé no Deus de toda a verdade. Os que têm sede de conhecimento não precisam dirigir-se a essas fontes contaminadas, pois são convidados a ir à fonte da vida e beber livremente. Esquadrinhando a Palavra de Deus, podem encontrar o tesouro escondido da verdade que por longo tempo tem estado oculto sob o refugo do erro, da tradição humana e das opiniões dos homens. FEC 170.3

A Bíblia é o grande educador, pois não é possível estudar com devoção suas sagradas páginas sem que o intelecto seja disciplinado, enobrecido, purificado e refinado. “Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte na sua força, nem o rico nas suas riquezas; mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em Me conhecer e saber que Eu sou o Senhor, e faço misericórdia, juízo e justiça na Terra; porque destas coisas Me agrado, diz o Senhor. Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que castigarei a todos os circuncidados juntamente com os incircuncisos.” FEC 171.1

Os que pretendem ser cristãos, que professam crer na verdade e que no entanto se abeberam nas fontes contaminadas da incredulidade, e por preceito e exemplo apartam a outros das frias águas de neve do Líbano, são néscios, embora professem ser sábios. “Ouvi a palavra que o Senhor vos fala a vós outros, ó casa de Israel: Assim diz o Senhor: Não aprendais o caminho dos gentios, nem vos espanteis com os sinais dos céus; porque com eles os gentios se atemorizam. ... Mas o Senhor é verdadeiramente Deus; Ele é o Deus vivo e o Rei eterno; do Seu furor treme a Terra, e as nações não podem suportar a Sua indignação. Assim lhes direis: Os deuses que não fizeram os céus e a Terra desaparecerão da Terra e de debaixo destes céus. O Senhor fez a Terra pelo Seu poder; estabeleceu o mundo por Sua sabedoria, e com a Sua inteligência estendeu os céus. Fazendo Ele ribombar o trovão, logo há tumulto de águas no céu, e sobem os vapores das extremidades da Terra; Ele cria os relâmpagos para a chuva, e dos Seus depósitos faz sair o vento. Todo homem se tornou estúpido, e não tem saber; todo ourives é envergonhado pela imagem que ele esculpiu; pois as suas imagens são mentira, e nelas não há fôlego. Vaidade são, obra ridícula; no tempo do seu castigo virão a perecer. Não é semelhante a estas Aquele que é a porção de Jacó; porque Ele é o Criador de todas as coisas, e Israel é a tribo da Sua herança; Senhor dos Exércitos é o Seu nome.” FEC 171.2

“Assim diz o Senhor: Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor! Porque será como o arbusto solitário no deserto, e não verá quando vier o bem; antes morará nos lugares secos do deserto, na terra salgada e inabitável. Bendito o homem que confia no Senhor, e cuja esperança é o Senhor. Porque ele é como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e no ano de sequidão não se perturba nem deixa de dar fruto. ... Ó Senhor, Esperança de Israel, todos aqueles que Te deixam serão envergonhados; os nomes dos que se apartam de Mim serão escritos no chão; porque abandonam o Senhor, fonte das águas vivas. Cura-me, Senhor, e serei curado, salva-me, e serei salvo; porque Tu és o meu louvor.” FEC 172.1

Afastem-se os crentes na verdade para este tempo dos autores que ensinam o ateísmo. Não apareçam obras de céticos nas estantes de vossas bibliotecas, onde vossos filhos possam ter acesso a elas. Os que provaram a boa Palavra de Deus e as virtudes do mundo vindouro não considerem mais um aspecto essencial de uma boa educação o ter conhecimento dos escritos daqueles que negam a existência de Deus e desprezam Sua santa Palavra. Não deis lugar aos agentes de Satanás, visto que nada há para justificar os seus feitos; uma coisa limpa não pode proceder da que é imunda. — The Review and Herald, 10 de Novembro de 1891. FEC 172.2