Fundamentos da Educação Cristã

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Educação no lar

A obra da mãe é muito importante. Em meio dos cuidados do lar e dos penosos deveres da vida diária, ela deve procurar exercer uma influência que favoreça e eleve sua família. Nos filhos confiados a seu cuidado, toda mãe recebe um encargo sagrado do Pai celestial; e é seu privilégio, mediante a graça de Cristo, moldar seu caráter segundo o modelo divino, difundir sobre sua vida uma influência que os atraia a Deus e ao Céu. Se as mães sempre houvessem compreendido sua responsabilidade, tornando a preparação de seus filhos para os deveres desta vida e para as honras da futura vida imortal seu principal propósito e sua missão mais importante, não veríamos a miséria que existe atualmente em tantos lares de nossa pátria. FEC 149.1

É tal a tarefa da mãe, que exige progresso constante em sua própria vida, a fim de conduzir seus filhos a consecuções cada vez mais elevadas. Satanás elabora, porém, os seus planos para apoderar-se da alma de pais e filhos. As mães são afastadas dos deveres domésticos e do cuidadoso preparo de seus filhinhos, para dedicar-se ao serviço do próprio eu e do mundo. Permite-se que a vaidade, a moda e questões de menor importância absorvam a atenção, descuidando-se assim a educação física e moral dos preciosos filhos. FEC 149.2

Se a mãe forma seu critério com os costumes e as práticas do mundo, incapacita-se para as responsabilidades que lhe compete desempenhar. Se for dominada pela moda, isto debilitará seu poder de resistência e tornará a vida um fardo cansativo, em vez de uma bênção. Por motivo de debilidade física, talvez deixe de apreciar o valor de suas oportunidades, e sua família corre o risco de crescer sem os benefícios de seu cuidado, orações e instrução diligente. Se tão-somente considerassem os maravilhosos privilégios que Deus lhes tem concedido, as mães não se desviariam tão facilmente de seus sagrados deveres para ocupar-se com triviais questões mundanas. FEC 149.3

A obra da mãe começa com o bebê em seus braços. Tenho visto amiúde o pequenino ser arrojar-se ao solo e gritar, se o contrariavam nalguma coisa. Este é o momento para repreender o mau espírito. O inimigo procurará governar a mente de nossos filhos; temos de consentir, porém, que ele os molde segundo sua vontade? Esses pequeninos não podem discernir qual é o espírito que os domina, e é o dever dos pais manifestar juízo e discrição em seu lugar. Seus hábitos devem ser vigiados cuidadosamente. É mister restringir as más tendências e estimular a mente a inclinar-se para o que é correto. Deve-se animar a criança em cada esforço que faz para governar-se a si mesma. FEC 150.1

A regularidade deve ser a regra em todos os hábitos das crianças. Cometem as mães um grande erro em permitir-lhes que comam entre as refeições. Por esta prática se transtorna o estômago e é lançada a base para sofrimentos futuros. Sua impertinência pode ter sido causada pelo alimento insalubre, ainda não digerido; mas a mãe julga que não pode gastar tempo para raciocinar sobre a questão e corrigir sua má orientação. Nem pode ela se deter para abrandar sua impaciente inquietação. Dá aos pequenos sofredores um pedaço de bolo ou alguma outra guloseima para aquietá-los, mas isso tão-somente aumenta o mal. Algumas mães, em sua ansiedade por fazer grande quantidade de trabalho, excitam-se em tão grande pressa e nervosismo que ficam mais irritadiças que os filhos, e repreendendo, e mesmo batendo, procuram atemorizar os pequenos, de modo que fiquem quietos. FEC 150.2

Queixam-se muitas vezes as mães da saúde delicada de seus filhos, e consultam o médico, quando, se tão-somente exercessem um pouco de senso comum, veriam que o mal é causado por erros no regime alimentar. FEC 150.3

Vivemos numa época de glutonaria, e os hábitos nos quais são educados os jovens, mesmo por muitos adventistas do sétimo dia, estão em oposição direta às leis da Natureza. Estava eu certa vez assentada à mesa com várias crianças abaixo de doze anos de idade. Foi servida carne em abundância, e então uma menina delicada e nervosa pediu picles. Entregaram-lhe um frasco de picles mistos, ardente de mostarda e picante de outros condimentos, e disso ela se serviu abundantemente. A criança era proverbial por seu nervosismo e irritabilidade de temperamento, e esses condimentos ardentes, eram de molde a produzir tal condição. O filho mais velho achava que não podia tomar uma refeição sem carne, e mostrava grande descontentamento, e mesmo desrespeito, quando não lhe era dada. A mãe condescendera com os seus gostos e desgostos a ponto de tornar-se pouco menos que escrava de seus caprichos. Ao menino não se provera trabalho, e passava a maior parte de seu tempo lendo coisas inúteis ou piores que inúteis. Queixava-se quase constantemente de dor de cabeça, e não tinha prazer em alimento simples. FEC 150.4

Devem os pais prover ocupação para os filhos. Coisa alguma será mais certa fonte de mal do que a indolência. O trabalho físico que produz uma sadia fadiga aos músculos, dará apetite para alimento simples e saudável, e o jovem que tem trabalho apropriado não se levantará da mesa murmurando porque não vê a sua frente uma travessa de carne e várias iguarias que lhe tentem o apetite. FEC 151.1

Jesus, o Filho de Deus, trabalhando com Suas mãos na banca de carpinteiro, deu um exemplo a todos os jovens. Lembrem-se os que zombam quanto a assumir os deveres comuns da vida, de que Jesus era sujeito aos pais, e contribuía com Sua parte para o sustento da família. Poucas iguarias se viam na mesa de José e Maria, pois achavam-se entre os pobres e humildes. FEC 151.2

Os pais devem servir de exemplo a seus filhos no dispêndio do dinheiro. Há indivíduos que, tão logo ganhem algum dinheiro, gastam-no em guloseimas ou em adornos desnecessários, e quando diminuem as entradas, sentem necessidade do dinheiro que esbanjaram. Se têm uma renda abundante, usam todo dinheiro que recebem; se a renda é pequena, torna-se insuficiente por causa dos hábitos extravagantes adquiridos por eles, e fazem empréstimos para suprir as demandas. Lançam mão de toda fonte possível para fazer frente a suas necessidades fantasiosas. Tornam-se desonestos e infiéis, e o registro mantido contra eles nos livros do Céu é de tal natureza que não gostariam de contemplá-lo no dia do juízo. Precisam satisfazer a concupiscência dos olhos e condescender com o apetite, e permanecem pobres devido a seus hábitos descuidados, quando poderiam haver aprendido a viver dentro do alcance de seus recursos. A extravagância é um dos pecados a que os jovens são propensos. Desprezam os hábitos de economia para não serem considerados tacanhos e mesquinhos. O que Jesus, a Majestade do Céu, que lhes deu um exemplo de paciente laboriosidade e economia, diria a tais pessoas? FEC 151.3

Não é necessário especificar aqui a maneira de exercer economia em todos os particulares. Aqueles cujo coração está inteiramente entregue a Deus, e que tomam Sua Palavra por guia, saberão como devem conduzir-se em todos os deveres da vida. Aprenderão de Jesus, que é manso e humilde de coração; e, cultivando a mansidão de Cristo, fecharão a porta contra inúmeras tentações. FEC 152.1

Não considerarão como satisfazer ao apetite e à paixão por exibir-se, enquanto tantas pessoas nem sequer conseguem repelir a fome de sua casa. A importância gasta diariamente em coisas desnecessárias, com o pensamento: “É apenas uma moeda”; “São apenas alguns centavos”, parece ser muito pequena; multipliquem-se, porém, essas pequenas quantias pelos dias do ano, e, à medida que os anos vão passando, o montante dos algarismos quase parecerá incrível. FEC 152.2

Aprouve ao Senhor apresentar-me os males que resultam de hábitos perdulários, a fim de que eu possa admoestar os pais a ensinarem estrita economia aos seus filhos. Ensinai-lhes que o dinheiro gasto naquilo que não necessitam é desvirtuado do uso a que se destina. Quem é desonesto no mínimo, também é desonesto no muito. Se os homens são desonestos com os bens terrenos, não podem ser-lhes confiadas as riquezas eternas. Ponde uma guarda sobre vosso apetite; ensinai vossos filhos, pelo exemplo assim como por preceito, a usar um regime simples. Ensinai-os a ser industriosos, não meramente ocupados, mas empenhados em trabalho útil. Procurai despertar neles as sensibilidades morais. Ensinai-lhes que Deus tem direitos sobre eles, mesmo desde os primeiros anos de sua infância. Dizei-lhes que por todos os lados há corrupção moral à qual devem resistir, que precisam chegar-se a Jesus e a Ele se entregar, corpo e espírito, e que nEle encontrarão forças para resistir a toda e qualquer tentação. Mantende presente ao seu espírito que eles não foram criados meramente para agradarem-se a si mesmos, mas para serem instrumentos do Senhor, para propósitos nobres. Quando as tentações instam para que enveredem por caminhos de condescendências egoístas, quando Satanás procura excluir a Deus de sua vista, ensinai-os a olhar para Jesus, suplicando-Lhe: “Salva-me, Senhor, para que não seja vencido!” Anjos se juntarão ao seu redor, em resposta a sua oração, guiando-os em veredas seguras. FEC 152.3

Cristo orou por Seus discípulos, não para que fossem tirados do mundo, mas fossem guardados do mal — guardados de cederem às tentações com que se defrontariam por todos os lados. Esta é uma prece que deveria ser feita por todo pai e toda mãe. Mas, devem eles assim pleitear com Deus em favor dos filhos e então deixá-los a proceder segundo lhes apraz? Devem eles satisfazer o apetite até que se torne senhor absoluto, e então esperar refrear os filhos? — Não; a temperança e o domínio próprio devem ser ensinados mesmo desde o berço. Sobre a mãe deve repousar em grande parte a responsabilidade desta obra. Os laços terrestres mais ternos são os que ligam mãe e filho. Este é mais facilmente impressionado pela vida e exemplo da mãe do que do pai, por ser mais forte e mais terno esse laço de união. Entretanto, é pesada a responsabilidade da mãe, e deve ela ter o constante auxílio do pai. FEC 153.1

Por toda a parte há intemperança no comer e no beber, intemperança no trabalho, intemperança em quase tudo. Os que fazem grande esforço para realizar justamente tanto trabalho em determinado tempo, e continuam a trabalhar quando seu juízo lhes diz que deviam descansar, jamais lucram. Estão vivendo de capital emprestado. Estão gastando a energia vital de que necessitarão num tempo futuro. E quando a energia que tão indiferentemente usaram é exigida, fracassam por esta lhes faltar. Foi-se a força física, fracassam as faculdades mentais. Reconhecem que se defrontam com a perda, mas não sabem qual é. Seu tempo de necessidade chegou, mas os seus recursos físicos estão exauridos. Todo aquele que viola as leis da saúde deve a qualquer tempo sofrer em maior ou menor escala. Deus nos proveu de vigor constitucional, que será necessário em diferentes períodos de nossa vida. Caso indiferentemente esgotemos essa energia pela contínua sobrecarga, em algum tempo seremos os prejudicados. Será diminuída nossa utilidade, se não for destruída a nossa própria vida. FEC 153.2

Em regra o trabalho do dia não deve prolongar-se pela noite. Se todas as horas do dia forem bem aproveitadas, todo o trabalho continuado até a noite é extra, e o organismo sobrecarregado se ressentirá do fardo que lhe é imposto. Foi-me mostrado que os que assim procedem amiúde perdem mais do que ganham, pois suas energias estão esgotadas e trabalham sob excitação nervosa. Talvez não percebam algum dano imediato, mas estão infalivelmente solapando o organismo. FEC 154.1

Consagrem os pais as noites a sua família. Deponham os cuidados e as perplexidades com os trabalhos do dia. O esposo e pai ganharia muito se adotasse a regra de não arruinar a felicidade de sua família trazendo para o lar as preocupações com os negócios, para produzir atritos e aborrecimentos. Pode ser que necessite do conselho de sua esposa em questões difíceis, e ambos podem obter alívio em suas perplexidades buscando juntos a sabedoria de Deus; manter porém a mente em tensão constante por assuntos de negócios prejudicará a saúde, tanto da mente como do corpo. FEC 154.2

Sejam os serões passados tão alegremente quanto possível. Seja o lar um lugar em que exista alegria, cortesia e amor. Isto o tornará atraente para os filhos. Se os pais estão continuamente nutrindo aborrecimentos, são irritadiços e críticos, os filhos participam do mesmo espírito de descontentamento e contenda, e o lar torna-se o lugar mais infeliz do mundo. Os filhos encontram mais prazer entre estranhos, em companhias descuidadas ou na rua, do que no lar. Tudo isto poderia ser evitado se se praticasse a temperança em todas as coisas e se cultivasse a paciência. O domínio próprio por parte de todos os membros da família tornará o lar quase um paraíso. Tornai os vossos aposentos tão agradáveis quanto possível. Descubram os filhos que o lar é o lugar mais atraente da Terra. Circundai-os de influências que os demovam de buscar companheiros de rua e de pensar nos antros do vício, a não ser com horror. Se a vida do lar fosse o que deveria ser, os hábitos nele formados seriam uma poderosa defesa contra os ataques da tentação quando os jovens tivessem que abandonar o amparo do lar para ir ao mundo. FEC 154.3

Construímos nossas casas para a felicidade da família ou meramente por ostentação? Proporcionamos a nossos filhos habitações agradáveis e ensolaradas, ou as conservamos escuras e fechadas, reservando-as para estranhos, cuja felicidade não depende de nós? Não há obra mais nobre que possamos fazer, benefício maior que conferir à sociedade, do que dar a nossos filhos uma educação adequada, inculcando neles, por preceito e exemplo, o importante princípio de que a pureza de vida e a sinceridade de propósito prepará-los-ão melhor para desempenharem sua parte no mundo. FEC 155.1

Nossos costumes artificiais privam-nos de muitos privilégios e gozos, e nos inabilitam para o que é útil. Uma vida de acordo com a moda é uma vida dura e ingrata. Quantas vezes se sacrificam o tempo, o dinheiro e a saúde, submete-se a paciência a penosa prova e perde-se o domínio próprio, só por causa da ostentação! Se os pais se apegassem à simplicidade, não tolerando despesas para a satisfação da vaidade e para seguir a moda; se mantivessem uma nobre independência dentro do que é correto, sem se deixar demover pela influência dos que, embora professem a Cristo, recusam erguer a cruz da abnegação, dariam a seus filhos, por meio deste mesmo exemplo, uma educação inestimável. Os filhos tornar-se-iam homens e mulheres de valor moral, tendo, por sua vez, a coragem de defender audazmente o que é correto, mesmo contra a corrente da moda e a opinião popular. FEC 155.2

Cada ato dos pais repercute no futuro dos filhos. Dedicando tempo e dinheiro ao adorno exterior e à condescendência do apetite pervertido, estão fomentando nos filhos a vaidade, o egoísmo e a concupiscência. As mães se queixam de estar tão carregadas de cuidados e trabalhos que não podem reservar tempo para ensinar pacientemente a seus pequeninos e compadecer-se deles em suas decepções e provas. Os corações juvenis anseiam por simpatia e ternura, e se não as obtêm dos pais, buscá-las-ão em fontes que ponham em perigo a mente e os costumes. FEC 156.1

Tenho ouvido mães negarem a seus filhos algum prazer inocente, por falta de tempo e reflexão, enquanto suas atarefadas mãos e seus fatigados olhos se ocupavam diligentemente com alguma inútil peça de adorno, algo que tão-somente serviria para estimular a vaidade e a extravagância nos filhos. “Para onde se torce o rebento, para lá se inclina a árvore.” À medida que os filhos se aproximam da varonilidade e da feminilidade, essas lições produzem fruto de orgulho e falta de valor moral. Os pais deploram as faltas de seus filhos, mas não vêem que apenas estão colhendo os resultados de sua própria semeadura. FEC 156.2

Pais cristãos, assumi a responsabilidade de vossa vida e pensai sinceramente nas sagradas obrigações que pesam sobre vós. Fazei da Palavra de Deus a vossa norma, em vez de seguir as modas e os costumes do mundo, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida. A felicidade futura de vossa família e o bem-estar da sociedade, dependem, em grande parte, da educação física e moral que vossos filhos recebem nos primeiros anos de vida. Caso seus gostos e hábitos sejam tão simples em tudo como deveriam ser; caso o seu vestuário seja asseado, sem adorno adicional, as mães terão tempo para tornar felizes os filhos e ensinar-lhes amorosa obediência. FEC 156.3

Não envieis vossos pequeninos muito cedo para a escola. A mãe deve ser cuidadosa com a maneira em que confia a modelação da mente infantil a mãos alheias. Os pais devem ser os melhores mestres dos filhos até que eles atinjam a idade de oito ou dez anos. Sua sala de aula deveria ser o ar livre, entre as flores e os pássaros, e seu livro de estudo, o tesouro da Natureza. Tão depressa como sua inteligência possa compreendê-lo, os pais devem abrir perante eles o grande livro divino da Natureza. Essas lições, dadas em tal ambiente, não serão olvidadas com facilidade. Devem ser envidados grandes esforços a fim de preparar o terreno do coração, para que o Semeador espalhe a boa semente. Se metade do tempo e do trabalho que agora é mais do que desperdiçado em seguir as modas do mundo, fosse dedicado ao cultivo da mente das crianças e à formação de hábitos corretos, seria vista nas famílias uma assinalada modificação. FEC 156.4

Não faz muito, ouvi uma mãe dizer que lhe agradava ver uma casa construída com acerto, e que os defeitos na disposição e as falhas no retoque final da obra de carpintaria, lhe causavam aversão. Não condeno o gosto delicado neste sentido; porém, enquanto escutava o que ela dizia, lamentei que essa mesma delicadeza não pudesse haver sido introduzida em seus métodos de governar os filhos. Estes eram edifícios de cuja construção ela era responsável; no entanto, as maneiras ásperas e descorteses dessas crianças, sua índole iracunda e egoísta e sua vontade não reprimida eram dolorosamente manifestas aos outros. Eram, com efeito, caracteres disformes, peças de humanidade desajustadas; não obstante, a mãe era cega a tudo isso. A disposição de sua casa era mais importante para ela do que a simetria do caráter de seus filhos. FEC 157.1

O asseio e a ordem são deveres cristãos; no entanto, mesmo estas coisas podem ser levadas demasiado longe, fazendo-se com que sejam o essencial, ao passo que são negligenciadas questões de maior importância. Os que descuidam os interesses dos filhos por estas considerações, estão dizimando a hortelã e o cominho, ao passo que negligenciam os preceitos mais importantes da lei — a justiça, a misericórdia e o amor de Deus. FEC 157.2

As crianças mais amimadas tornam-se voluntariosas, iracundas e desamáveis. Oxalá os pais compreendessem que tanto a sua felicidade como a de seus filhos dependem de uma disciplina sensata na infância! Quem são estes pequeninos confiados a nosso cuidado? São os membros mais novos da família do Senhor. Ele diz: “Toma este filho, esta filha, cria-os para Mim e prepara-os para que sejam lavrados ‘como colunas de palácio’, a fim de que resplandeçam nos átrios do Senhor.” Obra preciosa! Importante obra! Vemos, no entanto, mães que suspiram por um campo mais vasto de trabalho, por alguma obra missionária a ser feita. Se tão-somente pudessem ir à África ou à Índia, creriam estar fazendo algo. Assumir, porém, os pequenos deveres diários da vida e cumpri-los fiel e perseverantemente, parece ser para elas algo sem importância. Por quê? Acaso não é freqüentemente porque a obra da mãe é tão pouco apreciada? FEC 157.3

Ela tem milhares de cuidados e responsabilidades de que o pai raramente tem algum conhecimento. Com demasiada freqüência ele retorna ao lar trazendo consigo os cuidados e as perplexidades dos negócios, que projetam sua sombra na família, e se não encontra tudo a seu gosto no lar, dá expressão a sentimentos de impaciência e de censura. Pode gabar-se do que realizou durante o dia, mas o trabalho da mãe, a seu ver, vale muito pouco, ou pelo menos não é estimado. Para ele, os cuidados que ela tem parecem insignificantes. Só precisa cozinhar, cuidar dos filhos, às vezes bastante numerosos, e manter a casa em ordem. Ela procurou, durante o dia todo, fazer com que o mecanismo doméstico funcionasse suavemente. Embora estivesse cansada e perplexa, procurou falar bondosa e alegremente, ensinar os filhos e conservá-los no reto caminho. Tudo isso custou esforço e muita paciência de sua parte. Ela não pode, por sua vez, gabar-se do que realizou. Afigura-se-lhe que não efetuou coisa alguma. Mas não é assim. Conquanto os resultados de seu trabalho não sejam visíveis, anjos de Deus observam a ansiosa mãe, notando os fardos que carrega dia a dia. Talvez o seu nome jamais apareça nos anais da História ou receba a honra e o aplauso do mundo, como pode suceder com o do esposo e pai; mas é imortalizado no livro de Deus. Ela está fazendo o que pode, e sua posição, à vista de Deus, é mais elevada do que a de um monarca em seu trono; pois está lidando com o caráter e modelando inteligências. FEC 158.1

As mães do presente estão formando a sociedade do futuro. Quão importante que seus filhos sejam criados de tal modo que consigam resistir às tentações que terão de enfrentar em toda a parte, mais tarde na vida! FEC 159.1

Seja qual for a ocupação do pai e as perplexidades que ela lhe ocasione, traga ele para o lar o mesmo semblante sorridente e as maneiras agradáveis com que durante todo o dia acolheu visitantes e estranhos. Sinta a esposa que pode apoiar-se no grande afeto de seu marido — que seus braços a fortalecerão e susterão através de todas as suas labutas e cuidados, que a influência dele apoiará a sua, e seu fardo perderá metade do peso. Acaso os filhos não pertencem tanto a ele como a ela? FEC 159.2

Procure o pai aliviar a tarefa da mãe. Nos momentos que seriam dedicados ao gozo de um ócio egoísta, procure ele familiarizar-se com os seus filhos, unindo-se a eles em suas brincadeiras e trabalhos. Mostre-lhes as lindas flores, as altas árvores, em cujas folhas podem discernir as obras e o amor de Deus. Deve ensinar-lhes que o Deus que fez todas essas coisas ama o que é belo e bom. Cristo chamou a atenção dos discípulos para os lírios do campo e as aves do céu, mostrando como Deus cuida deles; e apresentou isto como prova de que Ele cuidará do homem, que vale muito mais do que as aves e as flores. Explique-se às crianças que embora seja desperdiçado muito tempo em tentativas de ostentação, nossa aparência jamais poderá comparar-se, em graça e beleza, com a das mais simples flores do campo. Desta maneira sua mente será dirigida do artificial para o natural. Poderão aprender que Deus lhes concedeu todas essas belas coisas para serem desfrutadas por eles, e que deseja que Lhe dêem os melhores e mais santos afetos do coração. FEC 159.3

Devem os pais procurar despertar nos filhos interesse pelo estudo de fisiologia. Os jovens precisam ser instruídos com referência a seu próprio corpo. Poucos são entre os jovens os que têm qualquer conhecimento definido dos mistérios da vida. O estudo do maravilhoso organismo humano, da relação e dependência de todas as suas complicadas partes, é um estudo em que a maioria das mães têm pouco ou nenhum interesse. Não compreendem a influência do corpo sobre a mente, ou da mente sobre o corpo. Ocupam-se com ninharias desnecessárias, e então alegam que não têm tempo para obter as informações de que necessitam a fim de cuidar devidamente da saúde de seus filhos. É menos incômodo confiá-los aos médicos. Milhares de crianças morrem pela ignorância das leis de seu ser. FEC 159.4

Se os próprios pais obtivessem conhecimento deste assunto e se compenetrassem da importância de pô-lo em prática, veríamos melhor estado de coisas. Ensinai vossos filhos a raciocinarem da causa para o efeito. Mostrai-lhes que, se violam as leis de seu ser, terão de pagar a pena com o sofrimento. Se não puderdes ver melhoramentos tão rápidos como desejais, não vos desanimeis, mas instruí-os pacientemente, e persisti até que seja alcançada a vitória. Continuai a ensiná-los com referência a seu próprio corpo e como cuidar dele. Desleixo com relação à saúde corporal, tende ao desleixo na moral. FEC 160.1

Não negligencieis ensinar vossos filhos a preparar alimento saudável. Dando-lhes estas lições de fisiologia e de boa culinária, estais a ensinar-lhes os primeiros passos em alguns dos mais úteis ramos de educação, e incutindo princípios que são elementos necessários em sua formação religiosa. FEC 160.2

Todas as lições de que falei neste artigo são necessárias. Se forem convenientemente atendidas, serão como um baluarte que preserve nossos filhos dos males que estão inundando o mundo. Temos necessidade de temperança em nossas mesas. Temos necessidade de casas em que a luz solar dada por Deus e o ar puro do céu sejam bem-vindos. Temos necessidade de uma influência alegre e feliz em nossos lares. Devemos cultivar bons hábitos em nossos filhos e instruí-los nas coisas de Deus. Custa algo fazer tudo isto. Custa orações e lágrimas, e instrução paciente e repetida com freqüência. Ficamos às vezes sem saber o que fazer; mas podemos apresentar nossos filhos a Deus em nossas orações, pedindo que sejam guardados do mal, orando: “Agora, Senhor, faze a Tua obra; abranda e subjuga o coração de nossos filhos”; e Ele nos ouvirá. Deus ouve as orações das mães chorosas e aflitas. Quando Cristo esteve na Terra, as mães sobrecarregadas levaram os filhos a Ele; pensavam que se pusesse as mãos sobre eles, teriam maior ânimo para criá-los no caminho em que deveriam andar. O Salvador sabia por que essas mães se aproximaram dEle com seus pequeninos, e repreendeu os discípulos que queriam afastá-los, dizendo: “Deixai vir a Mim os pequeninos e não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus.” Jesus ama os pequeninos e está observando para ver como os pais efetuam sua obra. FEC 160.3

A iniqüidade avulta por todos os lados, e para que as crianças se salvem é preciso envidar esforços diligentes e perseverantes. Cristo disse: “Eu Me santifico a Mim mesmo, para que eles também sejam santificados.” Queria que Seus discípulos fossem santificados, e tornou-Se seu exemplo, para que pudessem segui-Lo. Que sucederia se os pais e as mães assumissem a mesma posição, dizendo: “Desejo que meus filhos tenham firmes princípios, e dar-lhes-ei um exemplo disso em minha vida”? Não considere a mãe demasiado grande sacrifício algum que seja feito para a salvação de sua família. Lembrai-vos de que Jesus deu a vida a fim de resgatar da ruína a vós mesmos e a vossos filhos. Tereis Sua simpatia e ajuda nesta bendita obra, e sereis cooperadores de Deus. FEC 161.1

Embora falhemos em qualquer outra coisa, esmeremo-nos na obra em favor de nossos filhos. Se a disciplina doméstica os torna puros e virtuosos, se ocupam o ínfimo e mais humilde lugar no grande plano de Deus para o bem do mundo, a obra de nossa vida jamais poderá ser considerada um fracasso. — Christian Temperance and Bible Hygiene, 60-72 (1890). FEC 161.2