Fundamentos da Educação Cristã

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Ébrios mentais

Que lerão nossos filhos? — eis uma séria pergunta, que requer resposta séria. Aflijo-me ao ver, em famílias cristãs, revistas e jornais contendo histórias em série, as quais não causam boa impressão no espírito. Tenho observado aqueles cujo gosto pela ficção foi assim cultivado. Têm tido o privilégio de escutar as verdades da Palavra de Deus, de conhecer as razões de nossa fé; mas chegaram à maturidade destituídos de piedade verdadeira. Esses queridos jovens necessitam muitíssimo de introduzir o melhor material na edificação de seu caráter — o amor e o temor de Deus, e o conhecimento de Cristo. Muitos, porém, não possuem uma inteligente compreensão da verdade como é em Jesus. A mente se tem banqueteado com histórias sensacionais. Vivem num mundo irreal, e acham-se inabilitados para os deveres práticos da vida. Tenho observado crianças a quem se permitiu crescerem dessa maneira. Seja em casa, seja fora, elas ou estão desassossegadas ou sonhadoras, e são incapazes de conversar, a não ser acerca dos assuntos mais comuns. As mais nobres faculdades, as que se adaptam às mais altas consecuções, foram rebaixadas à contemplação de assuntos triviais, ou ainda piores, até que a pessoa se satisfaz com esses temas, mal podendo alcançar qualquer coisa mais elevada. Os pensamentos religiosos e a conversação sobre os mesmos, têm-se tornado desagradáveis. O alimento mental em que se têm chegado a deleitar, é contaminador em seus efeitos, conduzindo a pensamentos impuros e sensuais. Tenho experimentado sincera piedade por essas almas, ao considerar quanto estão perdendo com o negligenciar oportunidades de obter conhecimento de Cristo, em quem se concentram nossas esperanças de vida eterna. Quanto tempo precioso é desperdiçado, e que poderia ser empregado em estudar o Modelo da verdadeira bondade! FEC 162.1

Conheço pessoalmente alguns que perderam o saudável tônus da mente mediante errôneos hábitos de leitura. Atravessam a vida com uma imaginação doentia, avolumando toda pequenina ofensa. Coisas a que um espírito são, razoável, não daria atenção, tornam-se para eles provas insuportáveis, intransponíveis obstáculos. Para eles a vida se acha continuamente envolta em sombras. FEC 162.2

Os que têm condescendido com o hábito de correr através de histórias excitantes, estão invalidando sua força mental e se tornando inaptos para vigorosos pensamentos e pesquisas. Existem homens e mulheres agora no declínio da vida, que nunca se recobraram dos efeitos da leitura imoderada. O hábito, formado no princípio da vida, com eles cresceu e se tornou robusto; e seus esforços para vencê-lo, conquanto decididos, não têm conseguido senão um êxito parcial. Muitos nunca recuperaram seu vigor mental. Todas as tentativas de se tornarem cristãos práticos findam no desejo. Não podem ser verdadeiramente semelhantes a Cristo, e continuar a nutrir o espírito com esta classe de literatura. Tampouco o efeito físico é menos desastroso. O sistema nervoso é desnecessariamente sobrecarregado por esta paixão da leitura. Em alguns casos, jovens e mesmo os de idade madura, têm sido afligidos por paralisia que não tem outra causa senão o excesso de leitura. Sendo a mente mantida em constante excitação, o delicado maquinismo do cérebro enfraqueceu-se a ponto de não poder agir, sobrevindo em resultado a paralisia. FEC 163.1

Ao ser cultivado o apetite de histórias excitantes, sensacionais, perverte-se o gosto moral, e a mente não fica satisfeita, a não ser que seja continuamente alimentada com essa inútil e nociva comida. Tenho visto moças, professas seguidoras de Cristo, que se sentiam positivamente infelizes, se não tivessem nas mãos qualquer novo romance ou conto. A mente pede estimulante da mesma maneira que o bêbado anela a intoxicante bebida. Essas moças não manifestavam nenhum espírito de devoção; não difundiam nenhuma luz celeste entre suas companheiras para as encaminhar à fonte do conhecimento. Não possuíam profunda experiência religiosa. Se esta espécie de leitura não estivesse sempre diante delas, poderia ter havido alguma esperança de reforma de sua parte; ansiavam-na, porém, e insistiam em tê-la. FEC 163.2

Dói-me ver jovens de ambos os sexos arruinando assim sua utilidade nesta vida, e deixando de obter uma experiência que os prepare para uma existência eterna na sociedade celestial. Não podemos achar para eles mais apropriado termo que “ébrios mentais”. FEC 164.1

Os imoderados hábitos de leitura exercem tão seguramente perniciosa influência sobre o cérebro, como o faz a intemperança no comer e beber. FEC 164.2

O melhor modo de impedir o desenvolvimento do mal, é ocupar antecipadamente o terreno. O máximo cuidado e vigilância são precisos no cultivo do espírito e na semeadura, nele, das preciosas sementes da verdade bíblica. O Senhor, em Sua grande misericórdia, revelou-nos nas Escrituras as regras do santo viver. Expõe-nos os pecados a serem evitados; esclarece-nos o plano da salvação e indica o caminho para o Céu. Inspirou homens santos para que registrassem, para nosso proveito, instruções relativas aos perigos que infestam o caminho, e a maneira de a eles fugir. Os que Lhe obedecem à recomendação de examinar as Escrituras, não serão ignorantes dessas coisas. Entre os perigos dos últimos dias, todo membro da igreja deve compreender as razões de sua esperança e fé — razões que não são de difícil compreensão. Há suficiente matéria para ocupar o espírito, caso cresçamos na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. FEC 164.3

Somos finitos, mas devemos ter uma percepção do infinito. A mente deve ser exercitada em contemplar a Deus e Seu maravilhoso plano para nossa salvação. Deste modo a alma será elevada acima do que apenas é terreno e comum, e firmada no que é enobrecedor e eterno. O pensamento de que nos achamos no mundo de Deus, na presença do grande Criador do Universo, que fez o homem à Sua própria imagem, conduzirá a mente a extensos e elevados setores de meditação. O pensamento de que os olhos de Deus vigiam sobre nós, de que Ele nos ama e teve tanto cuidado por nós que chegou a dar Seu mui amado Filho para resgatar-nos, a fim de que não perecêssemos miseravelmente, é sublime; e quem abre o coração para o acolhimento e a contemplação de assuntos dessa natureza, jamais se contentará com assuntos triviais e sensacionais. FEC 164.4

Se a Bíblia fosse estudada como deveria ser, os homens tornar-se-iam fortes no intelecto. Os assuntos tratados na Palavra de Deus, a digna simplicidade de suas declarações, os nobres temas que apresenta ao espírito, desenvolvem no homem faculdades que não podem ser desenvolvidas de outra maneira. Abre-se, na Bíblia, um campo ilimitado à imaginação. O aluno sairá da contemplação de seus grandiosos temas, da associação com suas sublimes imagens com pensamentos e sentimentos mais puros e elevados do que se tivesse passado o tempo lendo qualquer obra de mera origem humana, sem falar nas de caráter leviano. Deixam os jovens de alcançar seu mais nobre desenvolvimento, quando negligenciam a mais alta fonte de sabedoria: a Palavra de Deus. A razão de termos tão poucos homens de bom espírito, de estabilidade e de sólido valor, é que Deus não é temido, Deus não é amado, os princípios religiosos não são aplicados à vida como devem ser. FEC 165.1

Deus quer que aproveitemos todos os meios de cultivar e fortalecer nossas faculdades intelectuais. Fomos criados para uma existência mais elevada e mais nobre do que é a vida no tempo atual. É este um tempo de preparação para a futura vida imortal. Onde poderão ser encontrados mais grandiosos temas para contemplação, mais interessantes assuntos para meditação, do que as sublimes verdades reveladas na Bíblia? Estas verdades realizarão uma poderosa obra em favor do homem, se ele tão-somente seguir o que elas ensinam. Quão pouco, porém, é estudada a Bíblia! Demora-se em toda e qualquer coisa sem importância, de preferência aos assuntos nela contidos. Se a Bíblia fosse mais lida, fossem suas verdades melhor compreendidas, seríamos um povo muito mais iluminado e esclarecido. Anjos do reino da luz colocam-se ao lado do diligente pesquisador da verdade, a fim de impressionar e iluminar o seu espírito. Aquele cujo entendimento se acha obscurecido pode encontrar luz mediante o conhecimento das Escrituras. — Christian Temperance and Bible Hygiene, 123-126 (1890). FEC 165.2