Testemunhos Seletos 1

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O ensino da confiança em si mesmo

Muitas são as famílias com crianças que parecem bem educadas enquanto se encontram sob a disciplina; quando, porém, o sistema que as ligou a certas regras se rompe, parecem incapazes de pensar, agir ou decidir por si mesmas. Essas crianças estiveram por tanto tempo sob uma regra de ferro, sem permissão de pensar ou agir por si mesmas naquilo em que era perfeitamente próprio que o fizessem, que não têm confiança em si mesmas, para procederem segundo seu próprio discernimento, tendo opinião própria. E quando saem de sob a tutela dos pais para agirem por si mesmas, são facilmente levadas pelo juízo de outros a errôneas direções. Não têm estabilidade de caráter. Não foram deixadas em situação de usarem o próprio juízo na proporção em que isto fosse praticável, e portanto a mente não foi devidamente desenvolvida e fortalecida. Foram por tanto tempo inteiramente controladas pelos pais, que dependem inteiramente deles; estes são mente e discernimento para elas. TS1 316.3

Por outro lado os jovens não devem ser deixados a pensar e proceder independentemente do juízo de seus pais e mestres. As crianças devem ser ensinadas a respeitar o juízo da experiência, e serem guiadas pelos pais e professores. Sejam educadas de maneira que sua mente se ache unida com a dos pais e professores, e instruídas de modo a poderem ver a conveniência de atender a seus conselhos. Então, ao saírem de sob a mão guiadora deles, seu caráter não será como a cana agitada pelo vento. TS1 317.1

A rigorosa educação das crianças, sem lhes dirigir convenientemente o modo de pensar e proceder por si mesmas na medida que o permitam sua capacidade e as tendências da mente, para que assim elas se desenvolvam no pensar, nos sentimentos de respeito por si mesmas e na confiança na própria capacidade de executar, produzirá uma classe débil em força mental e moral. E quando se acham no mundo, para agir por si mesmas, revelarão o fato de que foram ensinadas, como os animais, e não educadas. Em vez de sua vontade ser dirigida, foi forçada à obediência mediante rude disciplina por parte dos pais e mestres. TS1 317.2

Os pais e professores que se gabam de ter completo domínio sobre a mente e a vontade das crianças sob seu cuidado, deixariam de gabar-se, caso pudessem acompanhar a vida futura das crianças que são assim postas em sujeição pela força ou o temor. Essas crianças acham-se quase de todo mal preparadas para partilhar das sérias responsabilidades da vida. Quando esses jovens não mais se encontram sob a influência de pais e mestres e se vêem forçados a pensar e agir por si mesmos, é quase certo tomarem uma direção errônea, e cederem ao poder da tentação. Não tornam esta vida um êxito, e as mesmas deficiências se manifestam em sua vida religiosa. Pudessem os instrutores de crianças e jovens ter traçado diante de si o futuro resultado de sua errada disciplina, e mudariam seu plano de educação. Aquela espécie de professores que se satisfaz com o manter quase inteiro domínio sobre a vontade dos alunos, não é a mais bem-sucedida, embora a aparência no momento seja lisonjeira. TS1 317.3

Nunca foi desígnio de Deus que a mente de uma pessoa esteja sob o completo domínio de outra. E os que se esforçam para fazer com que a individualidade de seus alunos venha a imergir na deles, e para lhes servirem de mente, vontade e consciência, assumem tremendas responsabilidades. Esses jovens podem, em certas ocasiões, parecer soldados bem disciplinados. Uma vez, porém, removida a restrição, ver-se-á a falta de ação independente oriunda de firmes princípios neles existentes. Os que tornam seu objetivo educar os alunos de maneira que estes vejam e sintam estar neles próprios o poder de formar homens e mulheres de sólidos princípios, habilitados para qualquer posição na vida, são os mestres mais úteis e de êxito permanente. Talvez sua obra não se mostre ao descuidoso observador sob o aspecto mais vantajoso, nem seja tão altamente apreciada como a dos mestres que dominam a mente e a vontade dos discípulos pela autoridade absoluta; a vida futura dos alunos, porém, manifestará os frutos do melhor sistema de educação. TS1 318.1

Há perigo de tanto os pais como os professores comandarem e ditarem demasiadamente, ao passo que deixam de se pôr suficientemente em relações sociais com os filhos e alunos. Mantêm-se com frequência muito reservados, e exercem sua autoridade de maneira fria, destituída de simpatia, que não pode atrair o coração dos educandos. Caso reunissem as crianças junto de si, e lhes mostrassem que as amam, e manifestassem interesse em todos os seus esforços, e mesmo em seus esportes, tornando-se por vezes uma criança entre elas, dar-lhes-iam muita satisfação e lhes granjeariam o amor e a confiança. E mais depressa as crianças respeitariam e amariam a autoridade dos pais e mestres. TS1 318.2

Os hábitos e princípios de um professor devem ser considerados ainda de maior importância que suas habilitações do ponto de vista da instrução. Se ele é um cristão sincero, sentirá a necessidade de manter interesse igual na educação física, mental, moral e espiritual de seus discípulos. A fim de exercer a devida influência, cumpre-lhe ter perfeito domínio sobre si mesmo, e o próprio coração possuído de abundância de amor para com os alunos — amor que se manifestará em sua expressão, nas palavras e nos atos. Ele precisa ter firmeza de caráter, e então poderá moldar a mente dos alunos, da mesma maneira que os instruir nas ciências. A primeira educação dos pequenos molda-lhes, em geral, o caráter para a vida. Os que lidam com a infância devem ser muito cuidadosos em despertar as qualidades do espírito, a fim de melhor saberem como lhes dirigir as faculdades para serem exercitadas da maneira mais proveitosa. TS1 319.1