Testemunhos para a Igreja 8

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Capítulo 7 — Uma visão do conflito

Vi em visão dois exércitos em luta terrível. Um deles ostentava em suas bandeiras as insígnias do mundo; guiava o outro a bandeira ensangüentada do Príncipe Emanuel. Estandarte após estandarte era arrastado no chão, à medida que grupo após grupo do exército do Senhor se juntava ao inimigo, e tribo após tribo das fileiras do adversário se unia ao povo de Deus que guarda os mandamentos. Um anjo que voava pelo meio do céu pôs-me nas mãos o estandarte de Emanuel, enquanto um forte general comandava em alta voz: “Em forma! Tomai posição vós, que sois leais aos mandamentos de Deus e ao testemunho de Cristo. Saí do meio deles e apartai-vos, e não toqueis nada imundo, e Eu vos receberei; e Eu serei para vós Pai e vós sereis para Mim filhos e filhas. Vinde todos quantos dentre vós quiserem acudir em socorro do Senhor, em socorro do Senhor contra os valentes.” T8 41.1

O combate prosseguia. A vitória ia alternadamente de um para outro lado. Às vezes os soldados da cruz cediam terreno, “como quando desmaia o porta-bandeira”. Isaías 10:18. Mas a sua retirada aparente não o era senão para conquistar posição mais vantajosa. Ouviram-se aclamações de alegria. Ressoou um cântico de louvor a Deus, e a ele se uniram as vozes angélicas, quando os soldados de Cristo hastearam Sua bandeira sobre os muros da fortaleza, até então em poder do inimigo. O Príncipe da nossa salvação estava dirigindo a batalha, e enviando reforços para Seus soldados. Grandemente se manifestava o Seu poder, encorajando-os a levar o combate até às portas. Ele lhes ensinou coisas importantes em justiça, enquanto passo a passo os guiava, vencendo e para vencer. T8 41.2

Finalmente, veio a vitória. Triunfou gloriosamente o exército que seguia a bandeira que ostentava a inscrição: “Os mandamentos de Deus e a fé de Jesus.” Apocalipse 14:12. T8 41.3

Os soldados de Cristo estavam junto às portas da cidade que, com alegria, recebeu o seu Rei. Foi estabelecido o reino de paz, alegria e eterna justiça. T8 42.1

A igreja é hoje militante. Enfrentamos agora um mundo em trevas de meia-noite, quase inteiramente entregue à idolatria. Mas aproxima-se o dia em que a batalha terá sido ferida e ganha a vitória. A vontade de Deus deve ser feita na Terra como o é no Céu. Então as nações não possuirão outra lei senão a do Céu. Juntas, constituirão uma família feliz, unida, trajada das vestes de louvor e ações de graça — as vestes da justiça de Cristo. A natureza toda, em sua inexcedível beleza, oferecerá a Deus um constante tributo de louvor e adoração. O mundo será inundado com a luz do Céu. Os anos transcorrerão em alegria. A luz da Lua será como a do Sol, e a deste sete vezes mais brilhante do que hoje é. Ante esse cenário as estrelas da alva cantarão juntamente, e os filhos de Deus exultarão de alegria, ao Se unirem Deus e Cristo para proclamar: “Não mais haverá pecado, também não haverá morte.” T8 42.2

Tal é a cena que me é apresentada. A igreja, porém, deve combater e combaterá os inimigos visíveis e invisíveis. Estão a postos forças satânicas sob forma humana. Homens se têm confederado para oporem-se aos exércitos do Senhor. Essas confederações continuarão até que Cristo deixe Seu lugar de intercessor diante do propiciatório e envergue as vestes de vingança. Agentes satânicos encontram-se em todas as cidades, ocupados em organizar os grupos que se opõem à lei de Deus. Alguns que professam ser santos e outros declaradamente incrédulos, filiam-se a esses partidos. Não é hora de o povo de Deus mostrar fraqueza. Não podemos deixar de ficar alerta um momento sequer. T8 42.3

“Fortalecei-vos no Senhor e na força do Seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo. Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas sim contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra os exércitos espirituais da maldade, nos lugares celestiais. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau, e, havendo feito tudo, ficar firmes. Estai, pois firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça; e calçados os pés na preparação do evangelho da paz; tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno. Tomai também o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus.” Efésios 6:10-17. T8 42.4

“E peço isto: que a vossa caridade abunde mais e mais em ciência e em todo o conhecimento. Para que aproveis as coisas excelentes, para que sejais sinceros, e sem escândalo algum até o dia de Cristo; cheios de frutos de justiça, que são por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus.” Filipenses 1:9-11. T8 43.1

“Deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de Cristo, ... estais num mesmo espírito, combatendo juntamente com o mesmo ânimo pela fé do evangelho. E em nada vos espanteis dos que resistem, o que para eles, na verdade, é indício de perdição, mas para vós, de salvação, e isto de Deus. Porque a vós foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nEle, como também padecer por Ele.” Filipenses 1:27-29. T8 43.2

Existem reveladas nestes últimos dias visões de glória futura, cenas traçadas pela mão de Deus; e essas devem ser prezadas por Sua Igreja. O que alentou o Filho de Deus em Sua traição e julgamento? — Ele viu o trabalho de Sua alma, e ficou satisfeito. Teve uma visão da eternidade, e viu a felicidade daqueles que por Sua humilhação receberiam perdão e vida eterna. Foi ferido pelas transgressões deles, e moído por suas iniqüidades. O castigo que lhes traz a paz estava sobre Ele, e pelas Suas pisaduras foram sarados. Seus ouvidos ouviram as aclamações dos resgatados. T8 43.3

Ele ouviu os remidos entoando o cântico de Moisés e do Cordeiro. T8 44.1

Devemos ter uma visão do futuro e da felicidade do Céu. Colocando-nos no limiar da eternidade podemos ouvir a acolhida amável feita aos que nesta vida cooperam com Cristo, considerando privilégio e honra sofrer por amor dEle. Ao se reunirem aos anjos, lançam eles suas coroas aos pés do Redentor, exclamando: “Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graças... ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre.” Apocalipse 5:12, 13. T8 44.2

Ali os remidos vão saudar aqueles que os guiaram ao Salvador crucificado. Vão se unir em louvor Àquele que morreu para que os seres humanos tivessem vida tão duradoura quanto a de Deus. Então, terá cessado o conflito. Toda tribulação e contenda terá chegado ao fim. Cânticos de vitória estarão enchendo o Céu, ao estarem os remidos de pé em redor do trono de Deus. Todos entoarão a alegre estrofe: “Digno, digno é o Cordeiro que foi morto, e vive novamente, como triunfante vencedor.” T8 44.3

“Olhei, e eis aqui uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono e perante o Cordeiro, trajando vestidos brancos e com palmas nas suas mãos; e clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro.” Apocalipse 7:9, 10. T8 44.4

“Estes são os que vieram de grande tribulação, e lavaram os seus vestidos, e os branquearam no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do trono de Deus, e O servem de dia e de noite no Seu templo; e Aquele que está assentado sobre o trono os cobrirá com a Sua sombra. Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem Sol nem calma alguma cairá sobre eles. Porque o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará, e lhes servirá de guia para as fontes das águas da vida; e Deus limpará de Seus olhos toda a lágrima.” Apocalipse 7:14-17. “E não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.” Apocalipse 21:4. T8 44.5

Compreenderá você a inspiração da visão? Deixará sua mente demorar-se sobre a cena? Não será você verdadeiramente convertido para sair e trabalhar com um espírito inteiramente diferente do espírito com o qual tem trabalhado no passado, desalojando o inimigo, removendo toda barreira que impede o progresso do evangelho, e enchendo corações com luz, paz e alegria do Senhor? Não deveria o miserável espírito de crítica e murmuração ser sepultado, para jamais reviver? Não deveria o incenso de louvor e gratidão ascender de corações purificados, santificados e glorificados pela presença de Cristo? Não sairemos em fé buscando pecadores para conduzi-los até à cruz? T8 45.1

Quem se consagrará agora ao serviço do Senhor? Quem se comprometerá a não se unir ao mundo, antes sair do mundo, separar-se, recusar a poluição da alma com os costumes e práticas mundanas, que têm mantido a igreja sob a influência do inimigo? T8 45.2

Estamos neste mundo para erguer a cruz da autonegação. À medida que a levantemos, perceberemos que ela nos erguerá. Que cada cristão permaneça firme em seu posto, captando a inspiração da obra realizada por Cristo em favor das pessoas enquanto esteve neste mundo. Necessitamos do ardor do herói cristão, capaz de suportar a visão dAquele que é invisível. Nossa fé precisa ressuscitar. Os soldados da cruz devem exercer uma positiva influência para o bem. Cristo diz: “Quem não é comigo é contra Mim; e quem comigo não ajunta espalha.” Mateus 12:30. Indiferença na vida cristã constitui manifesta negação do Salvador. T8 45.3

Não deveríamos nós ver hoje no mundo cristãos que em todas as suas características fossem dignos do nome que ostentam? T8 45.4

Quem aspira fazer as ações que correspondam às de valorosos soldados da cruz? Estamos vivendo perto do fim do grande conflito, quando muitas pessoas devem ser resgatadas da escravidão do pecado. Estamos vivendo num tempo em que aos seguidores de Cristo pertence especialmente a promessa: “Eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos.” Mateus 28:20. Aquele que comandou a luz para que expulsasse a escuridão, Aquele que nos convocou das trevas para a Sua luz maravilhosa, nos suplica que deixemos nossa luz brilhar claramente diante dos homens, para que eles possam ver nossas boas obras e glorifiquem nosso Pai que está no Céu. Tão grande quantidade de luz tem sido dada ao povo de Deus que Cristo tem o direito de pedir-lhes que sejam a luz do mundo. T8 46.1

A nossos médicos e ministros envio a mensagem: Lancem mão do trabalho do Senhor como se vocês cressem na verdade para este tempo. Obreiros médico-missionários e os do ministério do evangelho devem se unir através de indissolúveis laços. O trabalho deles será feito com graça e poder. Deve haver em todas as nossas igrejas uma reconversão e uma reconsagração ao serviço. Não deveremos nós, em nosso trabalho no futuro, e nas reuniões que mantivermos, estar em pleno acordo? Não lutaremos nós com Deus em oração, pedindo que o Espírito Santo entre em cada coração? A presença de Cristo, manifesta entre nós, curaria a lepra da incredulidade, que tornou nossa obra tão fraca e ineficiente. Precisamos do sopro da vida divina dentro de nós. Precisamos ser canais através dos quais Deus possa enviar luz e graça ao mundo. Os renitentes precisam ser recuperados. Precisamos apartar-nos de nossos pecados, por confissão e arrependimento, humilhando nosso orgulhoso coração perante Deus. Torrentes de poder espiritual serão derramadas sobre aqueles que estão preparados para recebê-las. T8 46.2

Se nós apenas compreendêssemos quão sinceramente Jesus trabalhou para semear o mundo com a semente do evangelho, nós, que vivemos no próprio final do tempo de graça, trabalharíamos incansavelmente para dar o pão de vida para as pessoas que perecem. Por que somos tão frios e indiferentes? Por que nosso coração é assim incapaz de ser impressionado? Por que estamos tão pouco dispostos a nos dedicarmos ao trabalho ao qual Cristo consagrou sua vida? Algo deve ser feito para curar a terrível indiferença que tomou conta de nós. Baixemos nossa cabeça em humilhação, ao vermos quão pouco fizemos do que poderíamos ter realizado no espalhar as sementes da verdade. T8 46.3

Meus queridos irmãos e irmãs, falo com vocês em palavras de amor e ternura. Despertem e consagrem-se sem reservas ao trabalho de oferecer a luz da verdade para este tempo aos que se encontram em escuridão. Captem o espírito do grande Obreiro Mestre. Aprendam do Amigo de pecadores como ministrar aos enfermos pelo pecado. Lembrem-se de que na vida dos Seus seguidores deve ser vista a mesma devoção, a mesma sujeição ao trabalho de Deus, de todas as reivindicações sociais, de todo afeto terrestre, que foi visto na Sua vida. As reivindicações de Deus sempre devem ser tornadas o padrão. O exemplo de Cristo deve inspirar-nos a avançar no sentido de empreendermos incessante esforço para o bem de outros. T8 47.1

Deus chama todo membro da igreja para entrar no Seu serviço. Verdade que não é vivida, que não é compartilhada com outros, perde seu poder vivificador, sua virtude curativa. Todos têm que aprender a trabalhar e a ocupar seu lugar como portadores de fardos. Toda adição à igreja deveria ser mais uma agência para concluir o grande plano de redenção. A igreja inteira, agindo como uma só pessoa, irmanada em união perfeita, deve ser uma agência missionária ativa, movida e controlada pelo Espírito Santo. T8 47.2

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Não é só por meio de homens em posições de alta responsabilidade, não só por meio de homens que ocupam cargos em comissões, não só pelos gerentes de nossos sanatórios e editoras que será feito o trabalho que levará a Terra a encher-se do conhecimento de Deus, como as águas cobrem o mar. Essa obra só pode ser realizada pela igreja inteira, desempenhando sua parte sob a orientação e poder de Cristo. T8 47.3