Testemunhos para a Igreja 6

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Capítulo 33 — Nosso dever para com o mundo

“Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito.” Ele “enviou o Seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele.” João 3:16, 17. O amor de Deus abrange toda a humanidade. Ao dar a comissão aos discípulos, Cristo disse: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura.” Marcos 16:15. T6 273.1

Cristo pretendia que se fizesse em favor das pessoas uma obra mais vasta do que a que temos visto até agora. Não pretendia que tão grande número preferisse ficar sob a bandeira de Satanás, e fossem alistados como rebeldes contra o governo de Deus. Não era desígnio do Redentor do mundo que a herança comprada por Ele vivesse e morresse em seus pecados. Por que, então, são tão poucos alcançados e salvos? É porque tantos dos que professam ser cristãos estão trabalhando no mesmo sentido do grande apóstata. Milhares que não conhecem a Deus, poderiam estar hoje se regozijando em Seu amor, caso os que professam servi-Lo trabalhassem como Cristo o fez. T6 273.2

As bênçãos da salvação, as temporais bem como as espirituais, são para toda a humanidade. Muitos há que se queixam de Deus porque o mundo está tão cheio de necessidades e sofrimentos; Deus, porém, jamais pretendeu que essa miséria existisse. Ele nunca pretendeu que um homem tivesse abundância das regalias da vida, ao passo que os filhos de outros chorassem por pão. O Senhor é um Deus de beneficência: Tomou amplas providências para as necessidades de todos, e mediante Seus representantes, aos quais confiou os Seus bens, quer que as necessidades de todas as Suas criaturas sejam supridas. T6 273.3

Leiam os crentes na Palavra de Deus as instruções dadas em Levítico e Deuteronômio. Ali aprenderão eles a espécie de educação que era ministrada às famílias de Israel. Ao passo que o povo escolhido de Deus devia ser distinto, santo, separado das nações que O não conheciam, cumpria-lhes tratar bondosamente o estrangeiro. Este não devia ser desprezado por não pertencer a Israel. Os israelitas deviam amar o estrangeiro, porque Cristo morreu para salvá-lo da mesma maneira que para dar a salvação a Israel. Em suas festas de ações de graças, quando contavam as misericórdias do Senhor, o estrangeiro devia ser bem recebido. Por ocasião da colheita, deviam deixar no campo uma porção para o estrangeiro e o pobre. Assim deviam os estrangeiros partilhar também das bênçãos espirituais de Deus. O Senhor Deus de Israel ordenou que fossem recebidos, caso preferissem o convívio dos que conheciam e reconheciam a Deus. Dessa forma aprenderiam a lei de Jeová, e O glorificariam por sua obediência. T6 274.1

Assim, hoje, Deus deseja que Seus filhos, tanto nas coisas espirituais como nas temporais, comuniquem bênçãos ao mundo. Para todo discípulo de Cristo em todos os séculos, foram proferidas as preciosas palavras do Salvador: Dele correrão “rios de água viva”. T6 274.2

Mas em vez de distribuir os dons de Deus, muitos dos que professam ser cristãos acham-se fechados em seus próprios, estreitos interesses, e retêm de forma egoísta de seus semelhantes as bênçãos de Deus. T6 274.3

Enquanto, em Sua providência, Deus tem carregado a Terra com Sua generosidade, e enchido seus tesouros com os confortos da vida, a falta e a miséria encontram-se por toda parte. A liberal Providência tem colocado nas mãos de Seus agentes humanos o necessário para suprir abundantemente as necessidades de todos, mas os mordomos de Deus são infiéis. Gasta-se no professo mundo cristão, em extravagância e ostentação, o suficiente para suprir as faltas a todos os famintos e vestir a todos os nus. Muitos que usam o nome de Cristo estão empregando Seu dinheiro em prazeres egoístas para satisfação do apetite, em bebida forte e dispendiosos artigos finos, casas, mobílias e roupas de custo extravagante, ao passo que aos pobres seres humanos em sofrimento dificilmente concedem um olhar de piedade ou uma palavra de simpatia. T6 274.4

Que miséria existe no próprio centro de nossos chamados países cristãos! Pense nas condições dos pobres de nossas grandes cidades. Há, nessas cidades, multidões de seres humanos que não recebem tanto cuidado e consideração quanto se dispensa aos animais. Há milhares de crianças miseráveis, desprotegidas e subnutridas, tendo estampados no rosto o vício e a depravação. Arrebanham-se famílias em promiscuidade em míseros casebres, muitos deles escuros celeiros cheios de umidade e de imundícia. As crianças nascem nesses terríveis lugares. A infância e a juventude nada vêem de atrativo, nada de beleza natural das coisas criadas por Deus para deleite dos sentidos. As crianças são deixadas a crescer e formar o caráter segundo os baixos preceitos, a miséria e os maus exemplos que vêem em torno de si. O nome de Deus só ouvem proferir de maneira profana. Palavras impuras, o cheiro das bebidas e do fumo, a degradação moral de toda espécie, eis o que se lhes depara aos olhos e perverte os sentidos. E dessas infelizes habitações partem lamentáveis clamores por pão e roupa, clamores saídos de lábios que nada sabem acerca da oração. T6 275.1

Há uma obra a ser feita por nossas igrejas, da qual muitos mal fazem uma idéia, obra até aqui nem tocada, por assim dizer. “Tive fome”, diz Cristo, “e destes-Me de comer; tive sede, e destes-Me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-Me; estava nu, e vestistes-Me; adoeci, e visitastes-Me; estive na prisão, e fostes ver-Me.” Mateus 25:35, 36. Pensam alguns que, se dão dinheiro para essa obra, isso é tudo quanto deles se requer; mas isso é um erro. A dádiva do dinheiro não pode tomar o lugar do serviço pessoal. É direito dar de nossos meios, e muitos mais deveria ser feito; porém, é exigido deles o serviço pessoal segundo suas oportunidades e suas forças. T6 275.2

A obra de recolher o necessitado, o oprimido, o aflito, o que sofreu perdas, é justamente a obra que toda igreja que crê na verdade para este tempo devia de há muito estar realizando. Cumpre-nos mostrar a terna simpatia do samaritano em acudir às necessidade físicas, alimentar o faminto, trazer para casa os pobres desterrados, buscando de Deus todo dia a graça e a força que nos habilitem a chegar às profundezas da miséria humana, e ajudar aqueles que absolutamente não se podem ajudar a si mesmos. Isso fazendo, temos favorável ensejo de apresentar a Cristo, o Crucificado. T6 276.1

Todo membro de igreja deve considerar seu especial dever o trabalhar pela vizinhança. É preciso imaginar a melhor maneira de auxiliar os que não têm interesse nas coisas religiosas. Ao visitar amigos e vizinhos, deve-se manifestar interesse em seu bem-estar temporal e espiritual. Apresentar a Cristo como o Salvador que perdoa o pecado. Convidar os vizinhos para virem a sua casa, e ler com eles a preciosa Bíblia e os livros que lhes explicam as verdades. Isso, aliado a hinos singelos e fervorosas orações, vai lhes tocar o coração. Que os membros da igreja sejam preparados para assim fazer. Isso é tão essencial como salvar as pessoas em trevas nos campos estrangeiros. Enquanto uns sentem a preocupação pelos que estão distantes, tomem os muitos que se acham na pátria sobre si o encargo de cuidar das preciosas almas que os rodeiam e trabalhem diligentemente por sua salvação. T6 276.2

As horas tão freqüentemente passadas em diversões que não refrigeram o corpo nem a mente devem ser gastas em visitar os pobres, os doentes e os aflitos, ou em ajudar alguém que se ache em necessidade. T6 276.3

Ao tentar ajudar o pobre, o desprezado e abandonado não é correto trabalhar por eles como se fosse do alto de um pedestal de dignidade e superioridade, pois dessa maneira nada se conseguirá. É preciso estar verdadeiramente convertido, tendo aprendido dAquele que é manso e humilde de coração. Cumpre-nos ter sempre o Senhor diante de nós. Como servos de Cristo, devemos dizer sempre, para que nunca o esqueçamos: “Fui comprado por preço.” T6 277.1

Deus pede não somente nossa beneficência, mas um semblante satisfeito, palavras de esperança e um aperto de mão. Ao visitar os aflitos do Senhor, encontraremos alguns a quem a esperança já abandonou; levemos a eles de volta os seus raios. Outros há que carecem do pão da vida; leiamos para eles a Palavra de Deus. Há em outros uma enfermidade que bálsamo algum terrestre pode amenizar, nenhum médico pode curar; oremos por esses e os levemos a Jesus. T6 277.2

Em ocasiões especiais, alguns cedem ao sentimentalismo, o qual leva a movimentos impulsivos. Talvez eles pensem estar prestando grande serviço a Cristo, mas não é assim. Seu zelo logo diminui, e então é negligenciado o servir a Cristo. Não são serviços intermitentes que o Senhor aceita; não é por acessos emocionais de atividade que podemos fazer bem a nosso próximo. Os esforços esporádicos para fazer o bem resultam muitas vezes mais dano que benefício. T6 277.3

Cumpre considerar cuidadosamente e com oração os métodos de ajudar os necessitados. Precisamos buscar em Deus sabedoria, pois Ele sabe mais que os limitados mortais como cuidar das criaturas que fez. Alguns há que dão indiscriminadamente a todos quantos lhes solicitam o auxílio. Nisso eles erram. Ao procurar ajudar o necessitado, devemos cuidar em conceder-lhes a justa espécie de auxílio. Pessoas há que, uma vez ajudadas, continuarão a tornar-se especiais objetos de necessidade. Dependerão enquanto virem alguma coisa de que depender. Dando a essas pessoas tempo e atenção, estimularemos a preguiça, a incapacidade, o desperdício e a intemperança. T6 277.4

Ao darmos aos pobres, convém considerarmos: “Estou eu estimulando o desperdício? Estou eu os ajudando, ou os prejudicando?” Ninguém que possa ganhar a subsistência tem direito a depender de outros. T6 278.1

O provérbio: “O mundo me deve a subsistência”, encerra a essência da falsidade, da fraude e do roubo. O mundo não deve a subsistência a nenhum homem capaz de trabalhar e ganhar sua manutenção. Mas se nos chega à porta alguém pedindo pão, não o devemos mandar embora com fome. Sua pobreza pode ser resultado de infortúnios. T6 278.2

Cumpre-nos ajudar aqueles que, tendo uma grande família a sustentar, têm de lutar constantemente com a debilidade e a pobreza. Muita mãe viúva, carregada de filhos órfãos, trabalha muito além de suas forças a fim de manter consigo seus pequeninos, e prover-lhes alimento e roupa. Muitas dessas mães têm morrido de excesso de trabalho. Toda viúva necessita do conforto de palavras esperançosas, de animação, e muitas, muitas há que devem receber considerável ajuda. T6 278.3

Homens e mulheres de Deus, pessoas de discernimento e sabedoria, devem ser designados para cuidar dos pobres e necessitados, dando o primeiro lugar aos domésticos da fé. Essas pessoas deveriam se reportar à igreja e aconselharem-se quanto ao que deve ser feito. T6 278.4

Em vez de animar os pobres a pensarem que podem receber sua comida e bebida de graça, ou quase de graça, precisamos colocá-los em situação de se ajudarem a si mesmos. Devemos esforçar-nos por prover-lhes trabalho e, se necessário, ensiná-los a trabalhar. Ensine-se os membros de famílias pobres a cozinhar, a fazer e remendar suas roupas, e cuidar devidamente do lar. Ensine-se aos rapazes e meninas algum ofício ou ocupação útil. Precisamos educar os pobres a dependerem de si mesmos. Isso será um real auxílio, pois não somente os faz capazes de se manterem por si, como os habilitará a ajudarem aos outros. T6 278.5

É desígnio de Deus que o rico e o pobre estejam intimamente ligados pelos laços da simpatia e da assistência. Manda-nos que nos interessemos em todo caso de sofrimento e necessidade que nos venha ao conhecimento. T6 279.1

Não julguemos abaixo de nossa dignidade o servir à humanidade sofredora. Não olhemos com indiferença e desprezo os que arruinaram o templo da alma. Tais pessoas são objeto da compaixão divina. Aquele que criou a todos, de todos também cuida. Mesmo os que caíram mais baixo, não se acham além do alcance de Seu amor e piedade. Se somos verdadeiramente Seus discípulos, manifestaremos espírito semelhante. O amor, que é inspirado por nosso amor a Jesus, verá em toda pessoa, rica ou pobre, um valor que não se pode medir pela estimativa humana. Que nossa vida revele um amor mais alto do que pode ser expressado por palavras. T6 279.2

Muitas vezes o coração dos homens se endurecerá em face da censura, mas não pode resistir ao amor que lhes é expresso em Cristo. Devemos convidar o pecador a não se sentir um rejeitado de Deus. Convidá-lo a olhar a Cristo, o único a poder curar a alma da lepra do pecado. Mostremos ao sofredor desesperado e abatido que ele é um prisioneiro da esperança. Seja a nossa mensagem: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.” T6 279.3

Fui instruída de que a obra médico-missionária descobrirá, nas próprias profundezas da degradação, homens que, se bem que se tenham entregue à intemperança e hábitos dissolutos, corresponderão a um trabalho feito pela maneira correta. Precisam, porém, ser reconhecidos e animados. Serão necessários esforços firmes, pacientes e sinceros a fim de erguê-los. Eles não se podem recuperar sozinhos. Podem ouvir o chamado de Cristo, mas têm o ouvido por demais embotado para lhe apreender o significado; seus olhos se acham demasiado obscurecidos para ver qualquer coisa boa a eles reservada. Acham-se mortos em ofensas e pecados. Todavia mesmo esses não devem ser excluídos do banquete evangélico. Devem receber o convite: “Vinde.” Embora se sintam indignos, o Senhor diz: “Forçai-os a entrar.” Lucas 14:17, 23. Não demos ouvidos a qualquer desculpa. Com amor e bondade, vamos atraí-los. T6 279.4

“Mas vós, amados, edificando-vos a vós mesmos sobre a vossa santíssima fé, orando no Espírito Santo, conservai-vos a vós mesmos na caridade de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna. E apiedai-vos de alguns, que estão duvidosos; e salvai alguns arrebatando-os do fogo.” Judas 20, 23. Impressionemos a consciência deles com os terríveis resultados da transgressão da lei de Deus. Mostremo-lhes que não é Deus que causa dor e sofrimento, mas que, por sua própria ignorância e pecado, o homem trouxe sobre si essas condições. T6 280.1

Devidamente dirigida, essa obra salvará muitos pecadores negligenciados pelas igrejas. Muitas pessoas que não pertencem a nossa fé, estão anelando o exato auxílio que os cristãos têm o dever de dar. Caso o povo de Deus mostrasse genuíno interesse em seu próximo, muitos seriam alcançados pelas verdades especiais para este tempo. Coisa alguma dará, ou jamais poderá dar reputação à obra, como ajudar o povo indo ao seu encontro onde se acham. Milhares de pessoas poderiam estar hoje regozijando na mensagem, se aqueles que professam amar a Deus e guardar Seus mandamentos trabalhassem como Cristo trabalhava. T6 280.2

Quando o obra médico-missionária ganhar homens e mulheres para um conhecimento salvador de Cristo e Sua verdade, nela se poderão empregar com segurança dinheiro e diligentes esforços, pois é uma obra que permanecerá. T6 280.3