Testemunhos para a Igreja 6

Capítulo 29 — Responsabilidades dos obreiros médicos

O quarto capítulo da epístola aos efésios contém lições que nos foram dadas por Deus. Nesse capítulo está falando alguém sob inspiração divina, alguém a quem Deus ofereceu instruções por intermédio de santa visão. Descreve o autor a distribuição dos dons de Deus aos obreiros, dizendo: “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo.” Efésios 4:11-13. Aqui nos é mostrado que Deus atribui a cada pessoa a sua obra, e ao cumpri-la está o homem preenchendo a sua parte no grande plano de Deus. T6 243.1

Essa lição deve ser cuidadosamente considerada por nossos médicos e missionários da área médica. Deus estabeleceu Seus representantes entre um povo que reconhece as leis do divino governo. Os enfermos devem ser curados através da combinação dos esforços humanos e divinos. Todo dom, toda capacidade prometidos por Cristo aos discípulos, derrama Ele sobre os que O servem fielmente. Aquele que outorga capacitação mental, e que confia talentos aos homens e mulheres que são Seus por criação e por redenção, espera que tais talentos e habilidades cresçam pela utilização. Todo talento precisa ser empregado em abençoar outros, redundando assim em honra a Deus. No entanto, os médicos têm sido levados a crer que suas habilidades representam propriedade individual deles próprios. Os recursos a eles concedidos para a obra de Deus, eles os têm aplicado em linhas de trabalho que Deus não lhes indicou. T6 243.2

Satanás age, a cada momento, procurando encontrar uma oportunidade para defraudar. Diz ao médico que seus talentos são demasiado valiosos para se vincularem aos adventistas do sétimo dia, que se ele for verdadeiramente livre, conseguirá realizar trabalho muito mais amplo. O médico é tentado a sentir que dispõe de métodos que ele poderá levar a cabo de modo independente em relação ao povo, acerca do qual Deus disse que seria colocado acima de todos os outros povos sobre a face da Terra. Que não pense o médico, entretanto, que sua influência será aumentada se ele se separar desse trabalho. Insistindo ele em levar a cabo seus planos, não desfrutará de sucesso. T6 244.1

O egoísmo, introduzido em qualquer grau na obra ministerial ou médica, constitui infração da lei de Deus. Quando os homens se gloriam em sua capacidade, fazendo com que o louvor humano se dirija a finitos seres criados, isso desonra a Deus, e Ele removerá aquilo que os faz gloriarem-se. Os médicos associados a nossos hospitais e à obra médico missionária foram pela providência de Deus vinculados a este povo, que recebeu dEle a incumbência de ser uma luz ao mundo. A obra desses médicos é devolver tudo aquilo que Deus lhes deu — não como uma influência entre muitas, mas como a influência que, através de Deus, tornará efetiva a verdade para o tempo presente. T6 244.2

Deus nos outorgou uma obra especial, obra que nenhum outro povo pode realizar. Prometeu-nos o auxílio de Seu Santo Espírito. A corrente celestial flui para a Terra tendo em vista empreender a própria obra que nos foi indicada. Que esta corrente celestial não seja posta de lado em virtude de nossos desvios do reto caminho que nos foi indicado por Cristo. T6 244.3

Os médicos não devem supor que sejam capazes de abarcar o mundo com seus planos e esforços. Deus não determinou que eles utilizem tanto meramente os seus esforços. O homem que investe sua capacidade em muitas linhas de trabalho não pode assumir a administração de uma instituição de saúde, e fazê-lo corretamente. T6 244.4

Se os obreiros do Senhor assumem funções que os sobrecarregam naqueles aspectos em que deveriam comunicar luz ao mundo, Deus não recebe através de sua atividade a glória que deveria ser atribuída a Seu santo nome. Quando Deus chama alguém para realizar determinado trabalho em Sua causa, não deposita sobre essa pessoa fardos que outras deveriam carregar. Essas podem ser essenciais; entretanto, de acordo com Sua sabedoria, Deus reparte a cada um o seu trabalho. Não deseja Ele que a mente de Seus homens de responsabilidade seja extenuada por ter de assumir muitas frentes de trabalho. Se o obreiro não assumir a tarefa que lhe foi indicada, aquela que o Senhor sabe estar ele mais bem preparado a desempenhar, estará ele negligenciando deveres que, se adequadamente atendidos, resultariam na proclamação da verdade e preparariam os homens para a grande crise diante de nós. T6 245.1

Deus não poderá outorgar em maior medida a capacidade, tanto física quanto mental, àqueles que trazem para cima de seus ombros fardos que Ele não lhes indicou. Quando os homens assumem para si tais responsabilidades, não importa quão boa possa ser a obra, suas forças físicas são exigidas em excesso, sua mente torna-se confusa, e eles se incapacitam para o mais elevado sucesso. T6 245.2

Os médicos de nossas instituições não deveriam engajar-se em numerosos empreendimentos, permitindo assim que seu trabalho enfraqueça, num tempo em que deveria repousar sobre corretos princípios e exercer influência de âmbito mundial. Deus não determinou que Seus coobreiros abarquem tantas coisas, que estabeleçam planos tão grandiosos, ao ponto de fracassarem no lugar que lhes foi designado para a realização do grande bem que Ele espera façam eles, ao difundirem a luz ao mundo, e ao atraírem homens e mulheres enquanto Ele os conduz em Sua suprema sabedoria. T6 245.3

O inimigo acha-se determinado a contrafazer os desígnios de Deus em beneficiar a humanidade através da revelação daquilo que constitui a verdadeira obra médico-missionária. Tantos interesses têm sido envolvidos que os obreiros não têm conseguido realizar todas as coisas de acordo com o modelo mostrado no monte. Fui instruída de que a obra indicada aos médicos em nossas instituições é suficiente para eles, e que o que o Senhor requer deles é sua íntima ligação com os missionários evangélicos, e que realizem fielmente o seu trabalho. Ele não pediu a nossos médicos que assumam tão grande e variado trabalho como alguns têm posto sobre si próprios. Não designou ele que fosse obra especial dos médicos labutarem pelos que se acham nas densas trevas da iniqüidade, nas grandes cidades. O Senhor não requer coisas impossíveis de Seus servos. O trabalho por Ele outorgado aos nossos médicos deveria simbolizar perante o mundo o ministério do evangelho através de obra médico-missionária. T6 245.4

O Senhor não põe sobre o Seu povo todo o fardo de trabalhar por uma classe tão endurecida pelo pecado que muitos deles jamais serão beneficiados ou beneficiarão a outros. Se há homens que podem assumir o trabalho pelos mais degradados, se Deus põe sobre eles o fardo de trabalhar pelas massas de várias maneiras, que vão e reclamem do mundo os meios requeridos para esse trabalho. Não devem depender dos recursos que Deus destina ao sustento da obra da terceira mensagem angélica. T6 246.1

Nossas instituições de saúde necessitam da capacidade da mente e do coração, que outros tipos de trabalho lhes têm roubado. Satanás fará tudo que puder para multiplicar as responsabilidades de nossos médicos, pois sabe que por esse meio enfraquecerá, em vez de fortalecer, as instituições às quais eles se encontram vinculados. T6 246.2

Grande cuidado deve ser exercido com relação ao trabalho que assumimos. Não devemos tomar grandes encargos no cuidado de crianças pequenas. Essa obra está sendo feita por outros. Temos um trabalho especial no cuidado e educação de crianças maiores. Famílias que podem fazê-lo adotem as crianças pequenas, e receberão uma bênção por assim fazer. Existe, porém, uma obra mais elevada e especial a merecer a atenção de nossos médicos na educação dos que cresceram com caracteres deformados. Os princípios da reforma de saúde devem ser apresentados diante dos pais. Eles precisam converter-se, a fim de poderem atuar como missionários em seus próprios lares. Esse trabalho tem sido e poderá prosseguir sendo realizado por nossos médicos, contanto que não sacrifiquem a si próprios desempenhando tantas e tão variadas responsabilidades. T6 246.3

O médico-chefe em qualquer instituição ocupa uma difícil posição; deveria, portanto, manter-se livre de responsabilidades menores, pois estas não lhe permitiriam tempo para repouso. Deve poder contar com auxiliadores dignos de confiança, pois a ele cabe o desempenho de trabalhos difíceis. Deve ajoelhar-se em oração com os que sofrem, conduzindo seus pacientes ao Grande Médico. Se, na qualidade de humilde suplicante, buscar a Deus pedindo sabedoria para lidar com cada caso, sua força e influência será grandemente aumentada. T6 247.1

Por si mesmo, que poderá fazer o homem para realizar a grande obra posta diante dele pelo Deus infinito? Cristo diz: “sem Mim nada podereis fazer.” João 15:5. Ele veio ao mundo para mostrar aos homens como realizar a obra que Deus lhes outorgara, de modo que nos diz: “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma. Porque o Meu jugo é suave, e o Meu fardo é leve.” Mateus 11:28-30. Por que é suave o jugo de Cristo e leve o Seu fardo? Porque Ele suportou esse peso na cruz do Calvário. T6 247.2

A religião pessoal é essencial a cada médico que pretenda ser bem sucedido no cuidado dos doentes. Necessita ele de um poder mais elevado que sua própria intuição ou habilidade. Deus almeja que os médicos se unam a Ele e saibam que cada alma é preciosa à Sua vista. Quem depende de Deus, compreendendo que unicamente Aquele que fez o homem sabe como dirigir, não fracassará como obreiro indicado por Ele para a cura das enfermidades físicas, ou como médico das almas pelas quais Cristo morreu. T6 247.3

Alguém que carrega as pesadas responsabilidades de médico necessita das orações do ministro do evangelho e deve ter seu espírito, mente e corpo ligados à verdade de Deus. Será então capaz de falar no devido tempo uma palavra ao aflito. Vigiará pela salvação das pessoas como alguém que delas terá de prestar contas. Poderá apresentar a Cristo como o Caminho, a Verdade e a Vida. As Escrituras aflorarão de modo claro à sua mente, e ele falará como quem conhece o valor das pessoas com as quais está lidando. T6 248.1