Testemunhos para a Igreja 3
Capítulo 11 — Trabalho entre as igrejas
No trabalho feito para a igreja de Battle Creek na primavera de 1870, não houve toda aquela dependência de Deus que a importante ocasião exigia. Os irmãos R e S não fizeram de Deus sua confiança, e não agiram em Sua força e com Sua graça, tanto quanto deviam. T3 104.2
Quando o irmão S pensa que alguém está em erro, ele é freqüentemente demasiado severo. Deixa de exercer aquela compaixão e consideração que teria mostrado para consigo mesmo sob circunstâncias idênticas. Também corre grande perigo de julgar mal e errar ao lidar com mentes humanas. Lidar com mentes é a obra mais delicada e difícil dada a mortais. Os que se empenham nessa obra devem ter claro discernimento e boa capacidade de discriminação. A verdadeira independência mental é um elemento inteiramente diverso da precipitação. Essa qualidade de independência que leva a uma opinião cautelosa, piedosa e deliberada não deve ser abandonada facilmente, pelo menos não antes que a evidência seja suficientemente forte para nos dar a certeza de que estamos em erro. Essa independência manterá o espírito calmo e estável, entre os inúmeros erros que prevalecem, e levará os que ocupam posição de responsabilidade a considerar cuidadosamente a evidência, sob todos os ângulos, sem ser arrastados por influência de outros, ou pelo ambiente, a firmar conclusões sem a devida compreensão e completo conhecimento de todas as circunstâncias. T3 104.3
A investigação de casos em Battle Creek assemelhava-se muito à maneira como um advogado critica uma testemunha. Notava-se uma ausência decisiva do Espírito de Deus. Havia uns poucos unidos nesta obra que eram ativos e zelosos. Alguns eram justos aos próprios olhos e auto-suficientes, e apoiavam-se em seus testemunhos, e sua influência controlava o discernimento dos irmãos R e S. Por causa de uma falta insignificante, as irmãs T e U não foram recebidas como membros da igreja. Os irmãos R e S deviam ter tido critério e discernimento para ver que essas objeções não tinham suficiente peso para manter essas irmãs fora da igreja. Ambas tinham permanecido há muito na fé e sido fiéis na observância do sábado por dezoito ou vinte anos. T3 105.1
A irmã V, que levantou essas coisas, deveria ter apresentado contra ela mesma razões mais fortes para não se tornar membro da igreja. Estava ela sem pecado? Foram seus caminhos sempre perfeitos diante de Deus? Fora perfeita em paciência, abnegação, gentileza, tolerância e de temperamento calmo? Se ela estivesse livre das fraquezas comuns entre as mulheres, então poderia lançar a primeira pedra. Aquelas irmãs que foram deixadas fora da igreja eram dignas de um lugar na mesma; eram amadas de Deus. Mas foram tratadas de modo imprudente, sem suficiente razão. Houve outros cujos casos foram tratados sem maior sabedoria celestial e mesmo sem critério sadio. O critério do irmão S e seu poder de discernimento foram pervertidos durante muitos anos pela influência de sua mulher, que tem sido um dos mais eficientes instrumentos de Satanás. Tivesse ele possuído a qualidade genuína de independência, teria tido respeito próprio e, com a devida dignidade, teria edificado a própria casa. Quando assumia uma conduta voltada a impor o respeito de sua família, geralmente levava a questão longe demais, era severo e falava de modo áspero e despótico. Algum tempo depois, tornando-se consciente disso, ia então para o extremo oposto e abria mão de sua autonomia. T3 105.2
Nesse estado mental, recebia informações de sua mulher, abandonava seu discernimento e era facilmente enganado pelas intrigas dela. Algumas vezes ela fingia estar em grande sofrimento e contava que suportara privações e sofrera negligência da parte dos irmãos, na ausência do marido. Suas mentiras e ardis para controlar a mente do marido têm sido grandes. O irmão S não tem recebido plenamente a luz que o Senhor lhe deu no passado com respeito a sua mulher, ou não teria sido enganado por ela como tem acontecido. Ele tem sido escravizado muitas vezes por seu espírito porque o próprio coração e vida não foram consagrados plenamente a Deus. Seus sentimentos se inflamaram contra seus irmãos e ele os oprimiu. O eu não tem sido crucificado. Ele deve procurar seriamente sujeitar todos os seus pensamentos e sentimentos à obediência de Cristo. Fé e abnegação teriam sido para o irmão S fortes ajudadores. Se ele tivesse se revestido de toda armadura de Deus e escolhido como única defesa aquela que o Espírito de Deus e o poder da verdade lhe dão, ele teria sido forte no poder de Deus. T3 106.1
Mas o irmão S é fraco em muitas coisas. Se Deus pedisse que expusesse e condenasse um vizinho, que reprovasse e corrigisse um irmão, ou que resistisse e destruísse seus inimigos, seria para ele um trabalho comparativamente natural e fácil. Mas uma guerra contra o eu, sujeitando os desejos e afeições do próprio coração, e sondando e controlando os motivos secretos do coração, é uma guerra mais difícil. Quão indisposto é ele em ser fiel num tal combate! A guerra contra o eu é a maior batalha jamais travada. Submeter o eu, entregar tudo à vontade de Deus e ser revestido de humildade, possuindo o amor que é puro, pacífico e fácil de ser conciliado, cheio de mansidão e bons frutos, não é uma tarefa fácil. E contudo é seu privilégio e dever ser um perfeito vencedor aqui. O coração precisa submeter-se a Deus antes de poder ser renovado em conhecimento e verdadeira santidade. A vida e o caráter santos de Cristo são um exemplo fiel. A confiança em Seu Pai celestial era ilimitada. Sua obediência e submissão eram sem reservas e perfeitas. Ele “não veio para ser servido, mas para servir” a outros. Mateus 20:28. Não veio para fazer Sua vontade, mas a vontade dAquele que O enviou. Em todas as coisas Ele “entregava-Se Àquele que julga justamente”. 1 Pedro 2:23. Dos lábios do Salvador do mundo foram ouvidas estas palavras: “Eu não posso de Mim mesmo fazer coisa alguma.” João 5:30. T3 106.2
Ele “Se fez pobre” e “aniquilou-Se a Si mesmo”. 2 Coríntios 8:9; Filipenses 2:7. Teve fome e freqüentemente sede, e muitas vezes Se cansou em Sua labuta; mas não tinha “onde reclinar a cabeça”. Mateus 8:20. Quando as sombras frias e úmidas da noite O cercavam, a terra era freqüentemente Sua cama. Apesar disto Ele abençoou aqueles que O odiavam. Que vida! Que experiência! Podemos nós, os professos seguidores de Cristo, suportar alegremente privação e sofrimento como fez nosso Senhor, sem murmurar? Podemos tomar o cálice e “ser batizados com o batismo”? Mateus 20:22. Se podemos, poderemos partilhar de Sua glória em Seu reino celestial. Se não, não teremos parte com Ele. T3 107.1
O irmão S precisa obter uma experiência, sem a qual seu trabalho causará verdadeiro dano. Ele é muito afetado por aquilo que outros lhe dizem acerca dos que erram; inclina-se a decidir segundo as impressões feitas sobre sua mente, e age com severidade, quando uma conduta mais gentil seria muito melhor. Não leva em conta a própria fraqueza, e é muito difícil questionar sua conduta, mesmo quando está em erro. Quando decide que um irmão ou irmã está em erro, é propenso a resolver o assunto e impor sua censura, embora assim fazendo prejudique a si próprio e ponha em perigo a salvação de outros. T3 107.2
O irmão S deve evitar julgamentos na igreja e não envolver-se em ajustar dificuldades, se puder evitá-lo. Ele tem um dom precioso, que é necessário na causa de Deus. Mas deve separar-se de influências que lhe afetam as simpatias, confundem-lhe o discernimento e o levam a decisões imprudentes. Não deve nem precisa ser assim. Ele exerce pouca fé em Deus. Demora-se demais sobre suas enfermidades físicas e fortalece a incredulidade cultivando sentimentos negativos. Deus tem força e sabedoria em reserva para aqueles que O buscam fervorosamente, crendo com fé. T3 107.3
Foi-me mostrado que o irmão S é um homem forte em alguns pontos, enquanto que em outros é tão fraco como uma criança. Sua maneira de tratar com os que erram tem tido uma influência divisiva. Ele tem confiança em sua capacidade de esforçar para endireitar coisas que pensa serem necessárias, mas não vê corretamente a questão. Ele mistura em seus trabalhos o próprio espírito, e não discerne, mas freqüentemente age sem ternura. Existe o que se considera exagero em impor a obediência estrita aos indivíduos. “E compadecei-vos de alguns que estão na dúvida; salvai-os, arrebatando-os do fogo; quanto a outros, sede também compassivos em temor, detestando até a roupa contaminada pela carne.” Judas 22, 23. T3 108.1
A imposição da obediência estrita tem uma irmã gêmea: a bondade. Se ambas estiverem unidas, ganhar-se-á uma vantagem decisiva; mas se a obediência estiver separada da bondade, se terno amor não é misturado com a obediência, haverá um fracasso, e muito dano será o resultado. Homens e mulheres não querem ser empurrados, mas muitos podem ser ganhos pela bondade e o amor. O irmão S tem erguido o chicote do evangelho, e suas próprias palavras têm sido com freqüência o estalo do chicote. Isto não tem tido uma influência para estimular outros a maior zelo e a motivá-los para boas obras, mas tem despertado sua combatividade para repelir a severidade dele. T3 108.2
Se o irmão S tivesse andado na luz, não teria cometido tantos erros sérios. “Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo. Mas, se andar de noite, tropeça, porque nele não há luz.” João 11:9, 10. O caminho da obediência é o caminho da segurança. “Quem anda em sinceridade, anda seguro.” Provérbios 10:9. Ande na luz e, “então, andarás com confiança no teu caminho, e não tropeçará o teu pé.” Provérbios 3:23. Aqueles que não andam na luz terão uma religião doentia e atrofiada. O irmão S deve sentir a importância de andar na luz, embora mortificante para ele. É esforço sério, motivado por amor aos pecadores, que fortalece o coração e desenvolve os dons. T3 108.3
Meu irmão, você é independente por natureza e auto-suficiente. Pensa que sua habilidade para agir é muito maior do que ela realmente é. Você ora ao Senhor para humilhá-lo e qualificá-lo para Seu serviço, e quando Ele responde à sua oração e o põe sob a disciplina necessária para a realização do objetivo, você freqüentemente cede a dúvidas e desânimo, e pensa que tem razão para desalento. Quando o irmão W o advertia e o impedia de meter-se em dificuldades na igreja, você freqüentemente achava que ele o estava restringindo. T3 109.1
Foram-me mostrados seus trabalhos em Iowa. Houve uma falta evidente em ajuntar com Cristo. Você distraiu, confundiu e espalhou as pobres ovelhas. Tinha “zelo..., mas não com entendimento”. Romanos 10:2. Seu trabalho não foi feito com amor, mas com rigor e severidade. Você era exigente e dominante. Não fortaleceu a fraca nem enfaixou a que mancava. Ezequiel 34:4. Sua aspereza imprudente empurrou algumas para fora do aprisco que jamais poderão ser alcançadas e trazidas de volta. “Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo.” Provérbios 25:11. Palavras impróprias são o contrário. Sua influência é como a chuva de pedra que devasta. T3 109.2
Você ficou descontente sob restrição quando o irmão W o advertiu, o admoestou e o reprovou. Pensou que, se pudesse estar livre e agir por conta própria, poderia fazer um trabalho bom e grandioso. Mas a influência de sua esposa tem prejudicado bastante sua utilidade. Você não tem governado bem a própria casa, falhando em ordenar a família segundo seu exemplo. Pensou que entendia como controlar os negócios de seu lar. Mas como tem sido enganado! Tem freqüentemente seguido os impulsos de seu espírito, o que tem resultado em perplexidades e desalento, e estes obscureceram seu discernimento e o enfraqueceram espiritualmente, de modo que seus trabalhos têm sido marcados por grande imperfeição. T3 109.3
Os trabalhos dos irmãos R e S em _____ foram prematuros. Estes irmãos tinham diante de si a própria experiência passada com seus erros, o que devia ter sido suficiente para guardá-los de envolver-se em um trabalho para o qual não estavam qualificados. Havia bastante a ser feito. Era um lugar difícil onde levantar uma igreja. Influências adversas os cercavam. Toda decisão devia ser tomada com a devida cautela e oração. T3 110.1
Estes dois irmãos foram advertidos e censurados repetidas vezes por agirem imprudentemente, e não deviam ter assumido as responsabilidades que assumiram. Oh, quão melhor teria sido para a causa de Deus em _____ tivessem eles labutado em novos campos! O trono de Satanás está em _____, bem como em outras cidades ímpias; e ele é um inimigo ardiloso com quem lutar. Havia elementos desordeiros entre os guardadores do sábado em _____, que eram um impedimento para a causa. Mas há um tempo apropriado para falar e agir, uma oportunidade áurea que dará os melhores resultados ao trabalho efetuado. T3 110.2
Se as coisas tivessem sido deixadas a amadurecer antes de serem tocadas, teria havido uma separação dos desordeiros e não consagrados, e não teria havido um partido contrário. Isso devia ter sido evitado se possível. Seria melhor a igreja ter sofrido muito aborrecimento e exercido mais paciência do que estar com pressa, precipitar as coisas e provocar um espírito combativo. Aqueles que realmente amavam a verdade por amor da verdade deviam ter seguido sua conduta visando à glória de Deus e deixado que a luz da verdade brilhasse diante de todos. T3 110.3
Eles podiam esperar que os elementos de confusão e de insatisfação entre eles lhes causassem aborrecimento. Satanás não ficaria quieto vendo um grupo sendo formado em _____ para defender a verdade e desfazer enganos e erros. Sua ira seria despertada, e declararia guerra contra aqueles “que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus”. Apocalipse 12:17. Mas isso não deveria ter tornado impacientes ou desanimados os crentes fiéis. Estas coisas deviam ter tido uma influência para tornar o crente verdadeiro mais cauteloso, vigilante e devoto — mais terno, compassivo e amando aqueles que estavam cometendo tão grande erro com respeito às coisas eternas. Como Cristo suportou, e continua a suportar nossos erros, nossa ingratidão e nosso débil amor, assim devíamos suportar aqueles que provam nossa paciência. Serão os seguidores de Jesus, que negou a Si mesmo e Se sacrificou, tão diferentes de seu Senhor? Os cristãos devem ter coração bondoso e paciente. T3 110.4