Testemunhos para a Igreja 3

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Capítulo 41 — O amor do mundo

A tentação apresentada por Satanás a nosso Salvador no cimo da elevada montanha é uma das mais poderosas que a humanidade tem de enfrentar. A Cristo foram oferecidos por Satanás os reinos deste mundo com sua glória, sob a condição de que lhe desse a honra devida a um superior. Nosso Salvador sentiu a força dessa tentação; enfrentou-a, porém, em nosso favor, e saiu vitorioso. Ele não teria sido testado nesse ponto se o ser humano não tivesse de ser provado pela mesma tentação. Em Sua resistência, deu-nos o exemplo do caminho que devemos seguir quando o inimigo nos ataca individualmente, a fim de desviar-nos da integridade. T3 477.2

Homem algum pode ser seguidor de Cristo e pôr ainda nas coisas deste mundo as afeições. Em sua primeira epístola, João escreve: “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele.” 1 João 2:15. Nosso Redentor, que enfrentou esta tentação de Satanás em toda a sua força, conhece o perigo em que está o homem de ceder à tentação de amar o mundo. T3 477.3

Cristo identificou-Se com a humanidade suportando a prova nesse ponto, e vencendo em favor do homem. Com advertências protegeu Ele os próprios pontos em que o inimigo seria mais bem-sucedido ao tentar a criatura. Sabia que Satanás obteria a vitória sobre o homem, a menos que este se guardasse especialmente no sentido do apetite e do amor às riquezas e honras mundanas. Diz Ele: “Não ajunteis tesouros na Terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no Céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam, nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.” “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.” Mateus 6:19-21, 24. T3 477.4

Cristo nos apresenta aí dois senhores, Deus e o mundo, e mostra claramente que nos é simplesmente impossível servir a ambos. Se nosso interesse e amor pelo mundo predominam, não apreciamos as coisas que, acima de todas as outras, são dignas de nossa atenção. O amor do mundo excluirá o amor de Deus, fazendo com que nossos mais altos interesses sejam subordinados às considerações mundanas. Assim o Senhor não ocupa em nossa afeição e devoção o exaltado lugar tomado pelas coisas do mundo. T3 478.1

Nossas obras manifestarão a extensão exata ocupada pelos tesouros terrestres em nossas afeições. Devota-se o máximo cuidado, ansiedade e esforço aos interesses mundanos, ao passo que as considerações eternas têm lugar secundário. Nisto Satanás recebe dos homens aquela homenagem que reivindicou de Cristo, sem o conseguir. É o amor egoísta do mundo que corrompe a fé dos professos seguidores de Cristo, tornando-os fracos em força moral. Quanto mais amam suas riquezas terrenas, tanto mais longe se afastam de Deus, e tanto menos participam de Sua natureza divina, a qual lhes comunicaria a percepção das corruptoras influências do mundo e dos perigos a que se acham expostos. T3 478.2

Com suas tentações, Satanás tem o intuito de tornar o mundo muito atrativo. Por meio do amor às riquezas e honras mundanas, exerce um fascinante poder para atrair as afeições até do professo mundo cristão. Grande parte dos cristãos professos farão todo sacrifício para adquirir riquezas; e quanto mais bem-sucedidos forem nesse objetivo, menos será o amor que consagram à preciosa verdade, e menor o interesse por seu progresso. Perdem o amor a Deus, e procedem como loucos. Quanto mais prosperarem na aquisição das riquezas, tanto mais pobres se sentirão por não terem mais, e menos empregarão na causa de Deus. T3 478.3

As obras desses homens possuídos de insano amor às riquezas mostram que não lhes é possível servir a dois senhores, Deus e Mamom. O dinheiro, eis seu deus. Ao poder do mesmo rendem eles homenagem. Para todos os efeitos, servem o mundo. Sua honra, que lhes é o direito de primogenitura, é sacrificada pelo ganho deste mundo. Esse poder dominante lhes controla a mente, e transgredirão a lei de Deus a fim de servir aos interesses pessoais e aumentar o tesouro terrestre. T3 479.1

Muitos podem professar a religião de Cristo, sem amar nem dar ouvidos à letra ou aos princípios de Seus ensinos. Dão o melhor de suas energias aos empreendimentos mundanos, curvando-se diante de Mamom. É alarmante ver tantos iludidos por Satanás, tendo a imaginação estimulada por suas brilhantes perspectivas de lucro mundano. São absorvidos pela perspectiva de felicidade perfeita se conseguirem seu objetivo de adquirirem honras e fortuna neste mundo. Satanás os tenta com o fascinante engano: “Tudo isto te darei” (Mateus 4:9), todo esse poder, toda essa riqueza, com a qual podes fazer grande soma de bem. Uma vez alcançado seu objetivo, no entanto, não têm comunhão com o abnegado Redentor que os tornaria participantes da natureza divina. Apegam-se a seus tesouros terrestres, e desprezam a abnegação e o sacrifício exigidos por Cristo. Não têm nenhum desejo de separar-se dos queridos tesouros terrestres em que puseram o coração. Mudaram de senhor; aceitaram Mamom em lugar de Cristo. Mamom é seu deus, e a Mamom servem. T3 479.2

Satanás conseguiu para si a adoração desses corações iludidos por meio do amor das riquezas. Tão imperceptível foi a mudança, e tão enganoso é o poder satânico, tão astuto, que se acham conformados com o mundo e não percebem haverem-se separado de Cristo, não sendo mais servos Seus exceto no nome. T3 479.3

Satanás trata com os homens mais cautelosamente do que o fez com Cristo no deserto da tentação, pois está apercebido por haver ali perdido a causa. É um inimigo vencido. Não vem ao homem diretamente, exigindo homenagem mediante um culto exterior. Pede-lhes simplesmente que se afeiçoem às boas coisas do mundo. Se for bem sucedido em atrair-lhes assim mente e afeições, as atrações celestes ficam eclipsadas. Tudo quanto ele quer dos homens é que lhe caiam sob o enganoso poder das tentações, para amarem o mundo, amarem a dignidade e a posição, amarem o dinheiro e afeiçoarem-se aos tesouros deste mundo. Isto feito, consegue tudo quanto pretendera de Cristo. T3 480.1

O exemplo de Cristo nos mostra que nossa única esperança de vitória se acha na contínua resistência aos ataques de Satanás. Aquele que triunfou sobre o adversário das almas no conflito contra a tentação compreende o poder de Satanás sobre a humanidade, e derrotou-o em nosso favor. Como vencedor, deu-nos o benefício de Sua vitória, para que em nossos esforços para resistir às tentações de Satanás unamos nossa fraqueza à Sua força, nossa indignidade a Seus méritos. E, amparados em meio da forte tentação por Sua infalível força, é-nos dado resistir em Seu todo-poderoso nome e vencer como Ele venceu. T3 480.2

Foi mediante inexprimível sofrimento que nosso Redentor nos pôs ao alcance a redenção. Neste mundo Ele foi ignorado e desonrado, para que, por meio de Sua maravilhosa condescendência e humilhação, pudesse exaltar o homem para receber as honras celestiais e as alegrias eternas em Seu reino. Murmurará o homem caído porque o Céu só pode ser alcançado por meio de conflito, humilhação e fadiga? T3 480.3

A indagação de muito coração orgulhoso é: Por que preciso andar em humilhação e penitência antes de poder ter a certeza de minha aceitação por Deus, e alcançar a recompensa eterna? Por que não é mais fácil o caminho para o Céu, mais agradável e atrativo? Remetemos todos esses duvidosos e murmuradores a nosso grande Exemplo, a sofrer sob o fardo da culpa do homem, e padecendo as mais vivas angústias da fome. Era inocente e, mais que isto, era o Príncipe do Céu; mas em favor do homem fez-Se pecado por ele. “Foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e, pelas Suas pisaduras, fomos sarados.” Isaías 53:5. T3 480.4

Cristo sacrificou tudo pelo homem, a fim de tornar-lhe possível conseguir o Céu. Cabe agora ao homem caído mostrar o que sacrificará de sua parte por amor de Cristo, de modo a ganhar a glória imortal. Os que têm um justo senso da magnitude da salvação e de seu custo jamais murmurarão por terem de semear em lágrimas, e que abnegação e lutas são a sorte do cristão nesta vida. As condições de salvação para o ser humano são ordenadas por Deus. A humilhação do próprio eu e o levar a cruz, eis as providências tomadas para que o pecador arrependido venha a encontrar conforto e paz. O pensamento de que Jesus Se submeteu a humilhação e sacrifício que o homem jamais será chamado a sofrer deve silenciar toda murmuração. A mais doce alegria sobrevém ao ser humano mediante sincero arrependimento para com Deus pela transgressão de Sua lei e fé em Cristo como Redentor e Advogado do pecador. T3 481.1

Com grande custo trabalham os homens a fim de garantir os tesouros desta vida. Sofrem labuta e suportam dificuldades e privações para obterem alguma vantagem mundana. Por que seria o pecador menos voluntário para sofrer, resistir e sacrificar no intuito de adquirir um tesouro imperecível, uma vida que se prolonga ao lado da existência de Deus, uma coroa de glória perene, imperecível? Os infinitos tesouros do Céu, a herança que ultrapassa em valor a toda avaliação e é um eterno peso de glória, precisam ser alcançados por nós custe o que custar. Não nos devemos queixar por ser preciso abnegação; pois o Senhor da vida e da glória a exerceu primeiro. Não evitemos os sofrimentos, pois a Majestade do Céu os aceitou em benefício dos pecadores. O sacrifício da comodidade e da conveniência não deve suscitar pensamento de murmuração, uma vez que o Redentor do mundo tudo isso aceitou em nosso favor. Fazendo a mais elevada estimativa de toda nossa abnegação, privações e sacrifícios, isto nos custa, em todos os sentidos, incomparavelmente menos do que custou ao Príncipe da vida. Qualquer sacrifício que possamos fazer perde o significado quando comparado com o que Cristo fez por nós. T3 481.2