Testemunhos para a Igreja 3

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Lisonja e falsa compaixão

Não há nada que agradará mais ao povo do que ser louvado e lisonjeado quando está em trevas e no erro, e merece reprovação. Coré ganhou a atenção do povo, e depois sua simpatia, retratando Moisés como líder despótico. Disse que ele era demasiado severo, demasiado exigente e ditatorial, e que ele reprovava o povo como se fossem pecadores quando eram um povo santo, consagrado ao Senhor, e que o Senhor estava entre eles. Coré recapitulou os incidentes da experiência deles em suas viagens através do deserto, onde foram levados a lugares difíceis, e onde muitos deles tinham morrido por causa de murmuração e desobediência. Com seus sentimentos pervertidos, pensavam que viam muito claramente que toda sua aflição podia ter sido poupada se Moisés tivesse seguido uma conduta diferente. Ele era muito intransigente, exigente demais, e determinaram que todos os seus infortúnios no deserto eram atribuíveis a ele. Coré, o líder, professava grande sabedoria em discernir a razão verdadeira de suas provas e aflições. T3 345.2

Nessa obra de deslealdade havia maior harmonia e união de opiniões e sentimentos entre esses elementos discordantes do que jamais se soubera haver existido. O êxito de Coré em ganhar a maior parte da congregação de Israel para seu lado levou-o a sentir-se confiante que era sábio e correto em julgamento e que Moisés estava de fato usurpando autoridade que ameaçava a prosperidade e a salvação de Israel. Ele pretendia que Deus lhe tinha feito compreender o assunto e colocara sobre ele a responsabilidade de mudar o governo de Israel antes que fosse tarde demais. Afirmou que a falta não estava com a congregação, pois eram justos; que o clamor de que a murmuração da congregação estava trazendo sobre eles a ira de Deus era inteiramente errado; e que o povo queria apenas seus direitos; queriam independência individual. T3 346.1

À medida que a percepção da paciência abnegada de Moisés forçasse entrada à mente deles, e seus esforços desinteressados em favor deles enquanto estavam sob o jugo da escravidão se lhes fossem apresentados, a consciência deles ficaria um tanto perturbada. Alguns não estavam inteiramente com Coré em sua opinião sobre Moisés e procuraram falar a seu favor. Coré, Datã e Abirão deviam dar alguma razão diante do povo por que Moisés desde o começo tinha demonstrado tão grande interesse pela congregação de Israel. A mente egoísta deles, que tinha sido corrompida como instrumento de Satanás, sugeriu que afinal tinham achado a causa do aparente interesse de Moisés. Ele planejara mantê-los vagueando no deserto até que todos, ou quase todos, perecessem e ele entrasse na posse de seus bens. T3 346.2

Coré, Datã, Abirão e os duzentos e cinqüenta príncipes que se tinham unido a eles primeiro se tornaram ciumentos, depois invejosos e finalmente rebeldes. Tinham falado a respeito da posição de Moisés como governante do povo até que imaginaram que era uma posição muito invejável, que qualquer um deles podia preencher tão bem como ele. E se entregaram ao descontentamento até que realmente enganaram a si mesmos e pensaram que Moisés e Arão haviam se colocado na posição que ocupavam em Israel. Disseram que Moisés e Arão se exaltaram sobre a congregação do Senhor ao se apoderarem do sacerdócio e do governo, e que este cargo não devia ser conferido somente à casa deles. Disseram que lhes bastava se estivessem no mesmo nível que seus irmãos; pois não eram mais santos do que o povo, o qual era igualmente favorecido com a presença e proteção especiais de Deus. T3 346.3