Testemunhos para a Igreja 3

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Capítulo 28 — Moisés e Arão

Sobre o Monte Hor morreu Arão e foi sepultado. Moisés, irmão de Arão, e Eleazar, seu filho, acompanharam-no ao monte. Coube a Moisés o dever penoso de remover de seu irmão Arão as vestes sacerdotais e colocá-las sobre Eleazar, porque Deus tinha dito que ele deveria suceder a Arão no sacerdócio. Moisés e Eleazar testemunharam a morte de Arão, e Moisés o sepultou na montanha. Esta cena sobre o Monte Hor transporta nossa mente a alguns dos acontecimentos mais marcantes na vida de Arão. T3 293.2

Arão era um homem de amável disposição, a quem Deus escolheu para estar ao lado de Moisés e para falar por ele; em resumo, ser o porta-voz de Moisés. Deus podia ter escolhido Arão como líder; mas Aquele que conhece os corações, que compreende o caráter, sabia que Arão era inseguro e lhe faltava coragem moral para persistir na defesa do direito sob quaisquer circunstâncias, fossem quais fossem as conseqüências. O desejo de Arão de ganhar a boa vontade do povo algumas vezes o levou a cometer graves erros. Com demasiada freqüência ele cedia a suas súplicas, e assim fazendo desonrava a Deus. Em sua família, a mesma falta de firmeza pelo que é correto resultou na morte de dois de seus filhos. Arão era excelente em piedade e utilidade, mas negligenciou disciplinar sua família. Em vez de cumprir a tarefa de exigir respeito e reverência de seus filhos, permitiu que seguissem suas inclinações. Não os educou acerca da abnegação, mas cedeu a seus desejos. Não foram ensinados a respeitar e reverenciar a autoridade paterna. O pai era o dirigente legítimo da própria família enquanto vivesse. Sua autoridade não devia cessar, mesmo depois de os filhos terem crescido e terem as próprias famílias. O próprio Deus era o Rei da nação, e reivindicava obediência e honra do povo. T3 293.3

A ordem e a prosperidade do reino dependiam da boa ordem da igreja. E a prosperidade, harmonia e ordem da igreja dependiam da boa ordem e perfeita disciplina das famílias. Deus pune a infidelidade dos pais, aos quais confiou o dever de manter os princípios do governo paterno, que se encontram no fundamento da disciplina da igreja e da prosperidade da nação. Uma criança indisciplinada tem freqüentemente prejudicado a paz e a harmonia de uma igreja, e incitado uma nação à murmuração e rebelião. Do modo mais solene, o Senhor ordenou aos filhos o dever de afetuosamente respeitar e honrar seus pais. Por outro lado, Ele requer dos pais que eduquem os filhos e com diligência incessante os instruam quanto às reivindicações de Sua lei e os ensinem no conhecimento e temor de Deus. Estes preceitos que Deus impôs aos judeus com tanta solenidade repousam com igual peso sobre os pais cristãos. Aqueles que negligenciam a luz e a instrução que Deus deu em Sua Palavra quanto a educar os filhos e ordenar suas casas após eles terão terrível acerto de contas. A negligência criminosa de Arão para impor respeito e reverência a seus filhos resultou na morte deles. T3 294.1

Deus honrou a Arão escolhendo ele e sua posteridade masculina para o sacerdócio. Seus filhos ministravam no cargo sagrado. Nadabe e Abiú deixaram de reverenciar a ordem de Deus de oferecer diante dEle fogo sagrado sobre seus incensários com incenso. Deus os tinha proibido, sob pena de morte, de apresentar diante dEle o fogo comum com o incenso. T3 295.1

Aqui se vê o resultado de uma disciplina frouxa. Como os filhos de Arão não tivessem sido educados para respeitar e reverenciar as ordens do pai, pois desrespeitavam a autoridade paterna, não compreendiam a necessidade de seguir de maneira explícita as determinações de Deus. Quando condescendiam com seu apetite por vinho e ficavam sob seu estímulo excitante, sua razão tornava-se anuviada e não podiam discernir a diferença entre o sagrado e o comum. Contrariando as indicações expressas de Deus, eles O desonraram oferecendo fogo comum em lugar de fogo santo. Deus os visitou com Sua ira; saiu fogo de Sua presença e os destruiu. T3 295.2

Arão suportou sua severa aflição com paciência e humilde submissão. Pesar e profunda agonia lhe amarguraram o coração. Ele foi convencido de haver negligenciado o dever. Era sacerdote do Altíssimo, a fim de fazer expiação pelos pecados do povo. Era sacerdote de sua casa, e contudo tinha sido inclinado a deixar passar por alto a insensatez de seus filhos. Havia negligenciado o dever de dirigi-los e educá-los na obediência, abnegação e reverência para com a autoridade paterna. Mediante sentimentos de condescendência mal aplicada, deixou de moldar-lhes o caráter com elevada reverência pelas coisas eternas. Arão não viu — não mais do que vêem muitos pais cristãos agora — que seu amor mal aplicado e sua condescendência para com os seus filhos naquilo que estava errado preparavam-nos para o desagrado certo de Deus e Sua ira a irromper sobre eles para sua destruição. Enquanto Arão negligenciava exercer sua autoridade, a justiça de Deus se despertava contra eles. Arão precisava aprender que suas gentis advertências, sem o firme exercício da correção paterna, e sua imprudente ternura para com os filhos eram extrema crueldade. Deus fez justiça com as próprias mãos e destruiu os filhos de Arão. T3 295.3

Quando Deus chamou Moisés para que subisse a montanha, passaram-se seis dias antes de ser recebido na nuvem, na presença imediata de Deus. O cume da montanha estava incandescente com a glória de Deus. Contudo, enquanto os filhos de Israel contemplavam essa glória, a descrença lhes era tão natural que descontentes começaram a murmurar porque Moisés estava ausente. Enquanto a glória de Deus indicava Sua presença sagrada sobre a montanha e seu líder estava em conversa íntima com Deus, eles deviam estar-se santificando através de um exame profundo do coração, humilhação e fervoroso temor. Deus tinha deixado Arão e Hur no lugar de Moisés. Em sua ausência, o povo devia consultar e aconselhar-se com estes homens designados por Deus. T3 296.1

Aqui se vê a deficiência de Arão como líder ou governador de Israel. O povo suplicou-lhe que fizesse deuses para irem adiante deles ao Egito. Aqui estava uma oportunidade para Arão mostrar sua fé e confiança inabaláveis em Deus, e com firmeza e decisão enfrentar a proposta do povo. Mas seu desejo natural de agradar e concordar com o povo o levou a sacrificar a honra de Deus. Pediu que lhe trouxessem seus ornamentos, fabricou para eles um bezerro de ouro e proclamou diante do povo: “Estes são teus deuses, ó Israel, que te tiraram da terra do Egito.” Êxodo 32:4. E a esse deus insensível ele fez um altar e proclamou para o dia seguinte uma festa para o Senhor. Toda restrição parecia removida do povo. Ofereceram ofertas queimadas ao bezerro de ouro, e um espírito de leviandade tomou posse deles. Eles condescenderam com orgia vergonhosa e bebedeira; comeram, beberam e “levantaram-se a folgar”. Êxodo 32:6. T3 296.2

Apenas poucas semanas haviam se passado desde que fizeram um concerto solene com Deus para obedecer Sua voz. Tinham ouvido as palavras da lei de Deus pronunciadas em grandiosidade terrível do Monte Sinai, em meio a trovões e relâmpagos e tremor de terra. Tinham ouvido a declaração dos lábios do próprio Deus: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de Mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque Eu, o Senhor, teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que Me aborrecem e faço misericórdia em milhares aos que Me amam e guardam os Meus mandamentos.” Êxodo 20:2-6. T3 296.3

Arão e seus filhos tinham sido honrados ao serem chamados ao monte para ali testemunhar a glória de Deus. “E viram o Deus de Israel, e debaixo de Seus pés havia como uma obra de pedra de safira e como o parecer do Céu na Sua claridade.” Êxodo 24:10. T3 297.1

Deus tinha designado Nadabe e Abiú para uma obra santíssima; portanto, Ele os honrou de um modo maravilhoso. Deu-lhes uma visão de Sua excelente glória, para que as cenas que vissem no monte ficassem com eles e os qualificassem melhor para ministrar em Seu serviço e para render-Lhe aquela honra exaltada e reverência diante do povo que lhes dessem concepções mais claras de Seu caráter e despertassem neles a obediência e a reverência devidas a todos os Seus preceitos. T3 297.2

Antes de Moisés deixar seu povo para ir ao monte, leu para eles as palavras do concerto que Deus tinha feito com eles, e eles a uma voz responderam: “Tudo o que o Senhor falou faremos.” Êxodo 19:8. Quão grande deve ter sido o pecado de Arão, quão grave aos olhos de Deus! T3 297.3

Enquanto Moisés recebia a lei de Deus no monte, o Senhor o informou sobre o pecado do Israel rebelde e pediu-lhe que os abandonasse, para que Ele os destruísse. Mas Moisés intercedeu com Deus pelo povo. Ele era o homem mais manso que jamais viveu; todavia, quando os interesses do povo sobre o qual Deus o havia designado como líder estavam em jogo, ele perdeu sua timidez natural e com persistência singular e maravilhosa ousadia pleiteou com Deus a favor de Israel. Não consentiria que Deus destruísse Seu povo, embora Deus prometesse que na sua destruição Ele exaltaria a Moisés e levantaria um povo melhor do que Israel. T3 297.4

Moisés prevaleceu. Deus concedeu sua petição sincera de não destruir Seu povo. Moisés tomou as tábuas do concerto, a lei dos Dez Mandamentos, e desceu do monte. A orgia e a confusão da bebedeira dos filhos de Israel alcançaram seus ouvidos muito antes de chegar ao acampamento. Quando viu sua idolatria, e que tinham quebrado do modo mais marcante as palavras do concerto, foi tomado de tristeza e indignação por causa de sua vil idolatria. Confusão e vergonha tomaram posse dele, e jogou ali as tábuas e as quebrou. Como tinham quebrado seu concerto com Deus, Moisés, quebrando as tábuas, indicou-lhes que Deus também tinha quebrado Seu concerto com eles. As tábuas sobre as quais fora escrita a lei de Deus foram quebradas. T3 298.1

Arão, com sua disposição amável, tão mansa e agradável, procurou apaziguar Moisés, como se nenhum pecado muito grande tivesse sido cometido pelo povo acerca do qual devesse sentir tanto. Moisés replicou irado: “Que te tem feito este povo, que sobre ele trouxeste tamanho pecado? Então, disse Arão: Não se acenda a ira do meu senhor; tu sabes que este povo é inclinado ao mal; e eles me disseram: Faze-nos deuses que vão adiante de nós; porque não sabemos que sucedeu a este Moisés, a este homem que nos tirou da terra do Egito. Então, eu lhes disse: Quem tem ouro, arranque-o; e deram-mo, e lancei-o no fogo, e saiu este bezerro.” Êxodo 32:21-24. Arão quis que Moisés pensasse que algum milagre maravilhoso tinha transformado seus ornamentos de ouro na forma de um bezerro. Não contou a Moisés que ele, com outros artífices, tinham feito aquela imagem. T3 298.2

Arão pensara que Moisés tinha sido muito intransigente com os desejos do povo. Pensou que se Moisés tivesse sido menos firme, menos resoluto às vezes, e que se tivesse feito um compromisso com o povo e condescendido com seus desejos, ele teria tido menos problema, e havido mais paz e harmonia no acampamento de Israel. Ele, portanto, tinha adotado essa nova política. Dera expressão a seu temperamento natural, cedendo aos desejos do povo, para poupar insatisfação e preservar sua boa vontade, e desse modo evitar uma rebelião, que pensava certamente ocorreria se não cedesse a seus desejos. Mas se Arão tivesse permanecido inabalável a Deus; se tivesse enfrentado a exigência do povo para que lhes fizesse deuses que fossem adiante deles ao Egito com a justa indignação e horror que a proposta deles merecia; se lhes tivesse mencionado os terrores do Sinai, onde Deus tinha pronunciado Sua lei em tal glória e majestade; se lhes tivesse lembrado de seu concerto solene com Deus de obedecer a tudo que Ele mandasse; enfim, se tivesse lhes dito que não cederia a suas súplicas, mesmo com o sacrifício da própria vida, teria tido influência sobre o povo para prevenir uma terrível apostasia. Mas quando, na ausência de Moisés, sua influência foi requerida para ser usada na direção certa, quando devia ter ficado firme e intransigente como Moisés, para impedir que o povo seguisse uma conduta pecaminosa, sua influência foi exercida na direção errada. Foi fraco em fazer sua influência ser sentida em defesa da honra de Deus pela guarda de Sua santa lei. Mas do lado errado ele exerceu uma forte influência. Ele ordenou, e o povo obedeceu. T3 298.3

Quando Arão deu o primeiro passo no caminho errado, ele foi imbuído do espírito que tinha atuado sobre o povo, e tomou a dianteira e comandou como um general, e o povo foi obediente de modo singular. Aqui Arão sancionou de modo decisivo os pecados mais graves, porque era menos difícil do que ficar firme em defesa do direito. Quando se desviou de sua integridade consentindo com o povo em seus pecados, parecia inspirado por decisão, fervor e zelo novos para ele. Sua timidez pareceu subitamente dissipar-se. Com um zelo que nunca tinha manifestado na defesa da honra de Deus contra o erro, tomou os instrumentos para transformar o ouro na imagem de um bezerro. Ordenou que um altar fosse construído, e, com convicção digna de melhor causa, proclamou ao povo que no dia seguinte haveria “festa ao Senhor”. Êxodo 32:5. Os trombeteiros tomaram as palavras dos lábios de Arão e ressoaram a proclamação de companhia em companhia dos exércitos de Israel. T3 299.1

A calma segurança de Arão em uma conduta errada deu-lhe maior influência com o povo do que Moisés poderia ter tido em conduzi-los a uma conduta certa e em subjugar sua rebelião. Que cegueira espiritual terrível deve ter sobrevindo a Arão para que trocasse luz por trevas e trevas por luz! Que presunção de sua parte de proclamar uma festa ao Senhor ligada com o culto idólatra da imagem de ouro! Aqui se vê o poder que Satanás tem sobre mentes que não são inteiramente controladas pelo Espírito de Deus. Satanás tinha erguido seu estandarte no meio de Israel, e este foi enaltecido como o estandarte de Deus. T3 300.1

“Estes”, disse Arão sem hesitação ou vergonha, “são teus deuses, ó Israel, que te tiraram da terra do Egito.” Êxodo 32:4. Arão influenciou os filhos de Israel a ir mais longe na idolatria do que tinham intenção. Não mais se preocuparam se a glória ardente como fogo flamejante sobre o monte tivesse consumido seu líder. Pensaram que tinham um general que os satisfazia, e estavam prontos a fazer o que quer que ele sugerisse. Sacrificaram a seu deus de ouro; ofereceram ofertas pacíficas, e se entregaram ao prazer, orgia e bebedeira. Imaginaram então que não fora por culpa deles que tinham tido tanta aflição no deserto; mas a dificuldade, afinal, estava com seu líder. Não era o homem certo. Era intransigente e mantinha seus pecados continuamente diante deles, advertindo, reprovando e os ameaçando com o desfavor de Deus. Uma nova ordem de coisas tinha vindo, e estavam satisfeitos com Arão e satisfeitos consigo mesmos. Pensaram: Se Moisés tivesse sido tão amável e manso como Arão, que paz e harmonia teriam prevalecido no acampamento de Israel! Não mais se preocupavam se Moisés descesse ou não do monte. T3 300.2

Quando Moisés viu a idolatria de Israel e sua indignação foi assim despertada por seu vergonhoso esquecimento de Deus, ele lançou por terra as tábuas de pedra e as quebrou. Arão permaneceu mansamente ao lado, suportando a censura de Moisés com louvável paciência. O povo estava encantado com o espírito amável de Arão e estava desgostoso com a severidade de Moisés. Mas Deus “não vê como vê o homem”. 1 Samuel 16:7. Ele não condenou o ardor e a indignação de Moisés em vista da vil apostasia de Israel. T3 300.3

O verdadeiro general toma então sua posição por Deus. Viera diretamente da presença do Senhor, onde tinha pleiteado com Ele para desviar Sua ira de Seu errante povo. Agora tem outra obra a fazer, como ministro de Deus, para defender Sua honra perante o povo, e fazer que vissem que pecado é pecado, e retidão é retidão. Ele tem uma obra a fazer para anular a influência terrível de Arão. “Pôs-se em pé Moisés na porta do arraial e disse: Quem é do Senhor, venha a mim. Então, se ajuntaram a ele todos os filhos de Levi. E disse-lhes: Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: Cada um ponha a sua espada sobre a sua coxa; e passai e tornai pelo arraial de porta em porta, e mate cada um a seu irmão, e cada um a seu amigo, e cada um a seu próximo. E os filhos de Levi fizeram conforme a palavra de Moisés; e caíram do povo, aquele dia, uns três mil homens. Porquanto Moisés tinha dito: Consagrai hoje as vossas mãos ao Senhor; porquanto cada um será contra o seu filho e contra o seu irmão; e isto para Ele vos dar hoje bênção.” Êxodo 32:26-29. T3 301.1

Aqui Moisés define consagração genuína como obediência a Deus, erguer-se em defesa do direito e demonstrar prontidão para executar o propósito de Deus nos deveres mais desagradáveis, mostrando que as reivindicações de Deus são mais elevadas do que as reivindicações de amigos ou a vida dos parentes mais próximos. Os filhos de Levi se consagraram a Deus para executar Sua justiça contra o crime e o pecado. T3 301.2

Arão e Moisés ambos pecaram em não dar glória e honra a Deus junto às águas de Meribá. Estavam ambos cansados e irritados pelas queixas contínuas de Israel, e, em uma ocasião quando Deus estava para demonstrar Sua glória ao povo, para abrandar e subjugar-lhes o coração e levá-los ao arrependimento, Moisés e Arão reivindicaram para si o poder de fender a rocha para eles. “Ouvi agora, rebeldes: porventura, tiraremos água desta rocha para vós?” Números 20:10. Aqui estava uma oportunidade áurea para santificarem o Senhor no meio deles, para mostrarem-lhes a longanimidade de Deus e Sua terna compaixão por eles. Tinham murmurado contra Moisés e Arão porque não podiam encontrar água. Moisés e Arão tomaram estas murmurações como uma grande provação e desonra para si mesmos, esquecendo-se de que era Deus a quem estavam entristecendo. Era a Deus que estavam desonrando e contra Ele pecando, não contra aqueles que tinham sido designados por Deus para executar Seu propósito. Estavam insultando seu melhor Amigo atribuindo suas calamidades a Moisés e Arão; estavam murmurando contra a providência de Deus. T3 301.3

O pecado desses nobres dirigentes foi enorme. A vida deles podia ter sido notável até o fim. Tinham sido grandemente exaltados e honrados; não obstante, Deus não desculpa o pecado dos que estão em posições elevadas mais do que desculpa o daqueles que estão em posição mais humilde. Muitos cristãos professos consideram homens que não reprovam nem condenam o pecado como homens de piedade e cristãos de verdade, ao passo que pensam que aqueles que se levantam ousadamente na defesa do direito e que não cedem sua integridade a influências não consagradas precisem de piedade e espírito cristão. T3 302.1

Aqueles que se levantam na defesa da honra de Deus e mantêm a pureza da verdade a todo custo terão muitas provações, como teve nosso Salvador no deserto da tentação. Aqueles que têm um temperamento complacente, que não têm coragem de condenar o erro, mas que guardam silêncio quando sua influência é necessária para levantar-se em defesa do direito contra qualquer pressão, podem evitar muitas dores de coração e escapar a muita perplexidade; todavia, também perderão um rico galardão, se não a própria alma. Aqueles que estão em harmonia com Deus, e que pela fé nEle recebem força para resistir ao erro e estar de pé na defesa do direito, sempre terão conflitos severos e freqüentemente terão de manter-se de pé quase que sozinhos. Mas preciosas vitórias serão suas enquanto eles fizerem de Deus sua dependência. A graça divina será sua força. A sensibilidade moral deles será aguda e clara, e sua força moral será capaz de resistir às más influências. Sua integridade, como a de Moisés, será da natureza mais pura. T3 302.2

O espírito manso e complacente de Arão e seu desejo de agradar ao povo cegaram-lhe os olhos aos pecados deles e à enormidade do crime que ele estava sancionando. Sua conduta em favorecer o erro e o pecado em Israel custou a vida de três mil homens. Que contraste com esta foi a conduta de Moisés! Depois de ter comprovado ao povo que não podiam brincar impunemente com Deus; depois de lhes mostrar o justo desagrado de Deus por causa de seus pecados, dando o terrível decreto de matar amigos e parentes que persistiam em sua apostasia; depois da obra de justiça para desviar a ira de Deus, a despeito de seus sentimentos de simpatia por estimados amigos e parentes que continuavam obstinados em sua rebeldia — depois disto, Moisés estava preparado para outra obra. Ele provara quem era o verdadeiro amigo de Deus e quem o amigo do povo. T3 303.1

“E aconteceu que, no dia seguinte, Moisés disse ao povo: Vós pecastes grande pecado; agora, porém, subirei ao Senhor; porventura, farei propiciação por vosso pecado. Assim, tornou Moisés ao Senhor e disse: Ora, este povo pecou pecado grande, fazendo para si deuses de ouro. Agora, pois, perdoa o seu pecado; se não, risca-me, peço-Te, do Teu livro, que tens escrito. Então, disse o Senhor a Moisés: Aquele que pecar contra mim, a este riscarei Eu do Meu livro. Vai, pois, agora, conduze este povo para onde te tenho dito; eis que o Meu Anjo irá adiante de ti; porém, no dia da Minha visitação, visitarei, neles, o seu pecado. Assim, feriu o Senhor o povo, porquanto fizeram o bezerro que Arão tinha feito.” Êxodo 32:30-35. T3 303.2

Moisés suplicou a Deus em favor do pecador Israel. Ele não procurou diminuir o pecado deles diante de Deus; não os desculpou em seu pecado. Reconheceu com franqueza que tinham cometido grande pecado e feito para si deuses de ouro. Ele então perde sua timidez, e o interesse de Israel está tão intimamente entrelaçado com sua vida que ousadamente vem a Deus e pede que Ele perdoe Seu povo. Se o pecado deles, ele pleiteia, é tão grande que Deus não os pode perdoar, se seus nomes precisam ser riscados de Seu livro, pede que o Senhor também apague seu nome. Quando o Senhor renovou Sua promessa a Moisés, de que Seu anjo iria diante dele conduzindo o povo à Terra Prometida, Moisés sabia que sua petição fora concedida. Mas o Senhor assegurou a Moisés que, se Ele fosse provocado a visitar o povo pelas transgressões deles, certamente também os puniria por esse pecado grave. Porém, se fossem obedientes daí em diante, Ele apagaria de Seu livro esse enorme pecado. T3 303.3