Testemunhos para a Igreja 3

48/94

Elias reprova Acabe

O povo de Israel tinha gradualmente perdido seu temor e reverência por Deus até o ponto de Sua palavra através de Josué não ter peso para eles. “Em seus dias, Hiel, o betelita, edificou a Jericó; morrendo Abirão, seu primogênito, a fundou; e, morrendo Segube, seu último, pôs as suas portas; conforme a palavra do Senhor, que falara pelo ministério de Josué, filho de Num.” 1 Reis 16:34. T3 273.1

Enquanto Israel estava apostatando, Elias permaneceu como um leal e verdadeiro profeta de Deus. Seu coração fiel foi grandemente afligido ao ver que a incredulidade e infidelidade estavam rapidamente separando de Deus os filhos de Israel, e orou para que Ele salvasse Seu povo. Suplicou para que Deus não rejeitasse inteiramente Seu povo pecador, mas que por juízos, se necessário, Ele os estimulasse ao arrependimento e que não permitisse que fossem ainda mais longe no pecado, e assim O provocasse a destruí-los como nação. T3 273.2

A mensagem do Senhor veio a Elias para ir ter com Acabe com anúncios acerca de Seus juízos por causa dos pecados de Israel. Elias viajou dia e noite até chegar ao palácio de Acabe. Não solicitou admissão e não esperou ser formalmente anunciado. De modo inesperado para Acabe, Elias se apresenta diante do espantado rei de Samaria, nas vestes rústicas comumente usadas pelos profetas. Não apresenta desculpa por seu aparecimento brusco, sem convite; mas, levantando as mãos ao céu, ele afirma solenemente pelo Deus vivo, que fez os céus e a Terra, os juízos que viriam sobre Israel: “Nestes anos nem orvalho nem chuva haverá, senão segundo a minha palavra.” 1 Reis 17:1. T3 273.3

Esse espantoso anúncio acerca dos juízos de Deus por causa dos pecados de Israel caiu como um raio sobre o rei apóstata. Ele parecia paralisado de surpresa e terror; e antes que pudesse recobrar-se de seu espanto, Elias, sem esperar ver o efeito de sua mensagem, desapareceu tão depressa como havia chegado. Sua obra era de pronunciar a palavra de calamidade da parte de Deus, e ele imediatamente se afastou. Sua palavra tinha trancado os tesouros do céu, e sua palavra era a única chave que os podia abrir de novo. T3 273.4

O Senhor sabia que não havia segurança para Seu servo entre os filhos de Israel. Ele não o confiaria ao Israel apóstata, mas mandou que procurasse asilo numa nação pagã. Encaminhou-o a uma viúva que estava em tal pobreza que mal podia manter a vida com a mais escassa porção de alimento. Uma mulher pagã vivendo sob a melhor luz que possuía estava em condição mais aceitável a Deus do que as viúvas de Israel, que tinham sido abençoadas com privilégios especiais e grande luz, e que todavia não viviam segundo a luz que Deus lhes dera. Como os hebreus tinham rejeitado a luz, foram deixados em trevas, e Deus não podia confiar Seu servo a Seu povo, que Lhe provocara a ira. T3 274.1

Agora se apresenta uma oportunidade para o apóstata Acabe e a pagã Jezabel porem à prova o poder de seus deuses e demonstrar ser falsa a palavra de Elias. Os profetas de Jezabel contam-se às centenas. Contra todos eles está Elias, sozinho. Sua palavra trancou o céu. Se Baal pode dar orvalho e chuva, e fazer a vegetação florir; se ele pode fazer que os riachos e ribeiros corram como de costume, independentemente dos tesouros do céu na queda da chuva, então que o rei de Israel o adore e que o povo diga que ele é Deus. T3 274.2

“Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós.” Tiago 5:17. Sua missão a Acabe e seu terrível anúncio dos juízos de Deus requeriam coragem e fé. Em seu caminho a Samaria os rios correndo perpetuamente, as colinas cobertas de verdor, as florestas com suas árvores majestosas e florescentes — tudo sobre o que seus olhos repousavam florescendo em beleza e glória — naturalmente sugeririam descrença. Como podem todas estas coisas na natureza, florescentes agora, ser queimadas pela seca? Como podem estes ribeiros que regam a terra, e que ao que se saiba nunca deixaram de correr, tornar-se secos? Mas Elias não acariciou descrença. Partiu para sua missão com o perigo de sua vida. Cria plenamente que Deus humilharia Seu povo apostatado e que pela visitação de Seus juízos o levaria à humilhação e arrependimento. Arriscou tudo na missão à sua frente. T3 274.3

Ao Acabe recobrar-se, até certo ponto, de sua grande surpresa ante as palavras de Elias, o profeta tinha desaparecido. Ele indaga diligentemente por ele, mas ninguém o vira nem podia dar qualquer informação a seu respeito. Acabe informa Jezabel da palavra de calamidade que Elias pronunciara em sua presença, e a ira dela contra o profeta é expressa aos profetas de Baal. Eles se unem a ela em denunciar e amaldiçoar o profeta de Jeová. As novas do pronunciamento do profeta espalharam-se pelo país, despertando o temor de alguns e a ira de muitos. T3 275.1

Depois de alguns meses a terra, não refrescada pelo orvalho e a chuva, torna-se seca, e a vegetação murcha. Os ribeiros, que segundo se saiba nunca haviam deixado de correr, diminuem, e os riachos secam. Os profetas de Baal oferecem sacrifícios a seus deuses e os invocam dia e noite para refrescarem a terra com orvalho e chuva. Mas os encantamentos e enganos praticados outrora para enganar o povo não dão resultado agora. Os sacerdotes fizeram tudo para acalmar a ira de seus deuses; com perseverança e zelo dignos de melhor causa, eles se demoram em volta de seus altares pagãos, enquanto as chamas do sacrifício queimam em todos os lugares altos, e os gritos terríveis e súplicas dos sacerdotes de Baal são ouvidos noite após noite através da condenada Samaria. Mas as nuvens não aparecem no céu para encobrir os ardentes raios do sol. A palavra de Elias fica firme, e nada do que os sacerdotes podem fazer a mudará. T3 275.2

Passa-se todo um ano, um outro começa, e ainda não há chuva. A terra está crestada como se o fogo tivesse passado sobre ela. Os campos floridos estão como o deserto ressequido. O ar torna-se seco e sufocante, e os torvelinhos de pó cegam os olhos e quase param a respiração. Os bosques de Baal estão sem folhas, e as árvores da floresta não dão sombra, mas parecem esqueletos. Fome e sede têm seu efeito sobre homens e animais com terrível mortandade. T3 275.3

Toda essa evidência da justiça e do juízo de Deus não desperta Israel ao arrependimento. Jezabel está cheia de loucura insana. Não se curvará diante do Deus do Céu nem cederá. Os profetas de Baal, Acabe, Jezabel e quase todo o Israel atribuem sua calamidade a Elias. Acabe mandou procurar em todo reino e nação o estranho profeta, e exigiu juramento dos reinos e nações de Israel de que nada sabiam a respeito dele. Elias tinha trancado o céu com sua palavra e levara consigo a chave, e ele não podia ser encontrado. T3 276.1

Jezabel então decide que, como não podia fazer Elias sentir seu poder sanguinário, ela se vingaria destruindo os profetas de Deus em Israel. Ninguém que professasse ser profeta de Deus viveria. Essa mulher resoluta e furiosa executa sua obra de loucura matando os profetas do Senhor. Os sacerdotes de Baal e quase todo Israel estão tão iludidos que pensam que, se os profetas de Deus fossem mortos, a calamidade sob a qual estão sofrendo cessaria. T3 276.2

Mas o segundo ano passa, e o céu sem piedade não dá chuva. A seca e a fome estão fazendo sua triste obra, e mesmo assim os israelitas apostatados não humilham o coração altivo e pecador diante de Deus, mas murmuram e se queixam contra o profeta de Deus que trouxera essa situação horrível sobre eles. Pais e mães vêem seus filhos perecer, sem poder aliviá-los. E, no entanto, o povo está em escuridão tão terrível que não pode ver que a justiça de Deus é despertada contra ele por causa de seus pecados e que essa horrível calamidade lhe é enviada misericordiosamente para livrá-lo de negar e de esquecer o Deus de seus pais. T3 276.3

Custou a Israel sofrimento e grande aflição o ser levado àquele arrependimento que era necessário a fim de recobrar sua fé perdida e o claro senso de sua responsabilidade para com Deus. Sua apostasia era mais horrível do que seca ou fome. Elias esperou e orou com fé durante os longos anos de seca e fome para que o coração do povo de Israel, através de sua aflição, se voltasse de sua idolatria à lealdade para com Deus. Mas, apesar de todo seu sofrimento, permaneceram firmes em sua idolatria e consideravam o profeta de Deus como a causa de sua calamidade. E se pudessem ter Elias em seu poder o teriam entregue a Jezabel, para que ela se vingasse tirando-lhe a vida. Porque Elias teve a coragem de pronunciar a palavra de calamidade que Deus lhe ordenara, ele se fez o objeto do ódio deles. Não podiam ver a mão de Deus nos juízos sob os quais estavam sofrendo por causa de seus pecados, mas os atribuíram a Elias. Não aborreceram os pecados que os trouxeram sob a vara do castigo, mas odiaram o profeta fiel, o instrumento de Deus para denunciar seus pecados e a calamidade. T3 276.4

“E sucedeu que, depois de muitos dias, a palavra do Senhor veio a Elias no terceiro ano, dizendo: Vai e mostra-te a Acabe, porque darei chuva sobre a terra.” 1 Reis 18:1. Elias não hesitou em iniciar sua viagem perigosa. Por três anos ele tinha sido odiado e perseguido de cidade em cidade a mandado do rei, e toda nação tinha jurado que ele não podia ser achado. E agora, pela palavra de Deus, ele deve apresentar-se a Acabe. T3 277.1

Durante a apostasia de todo o Israel, e enquanto seu senhor é um adorador de Baal, o mordomo da casa de Acabe provou-se fiel a Deus. Ao risco da própria vida, ele preservou os profetas de Deus, escondendo-os em uma caverna, em grupos de cinqüenta, e os alimentando. Enquanto o servo de Acabe está procurando por todo o reino fontes e riachos de água, Elias se apresenta diante dele. Obadias reverenciava o profeta de Deus, mas, ao Elias enviá-lo com uma mensagem para o rei, ele se assusta grandemente. Vê perigo e morte para si mesmo e para Elias. Ele suplica que sua vida não seja sacrificada, mas Elias lhe assegura com juramento que ele veria Acabe naquele dia. O profeta não vai ter com Acabe, mas como um mensageiro de Deus, para impor respeito, ele envia uma mensagem por Obadias: “Eis que aqui está Elias.” 1 Reis 18:8. Se Acabe deseja ver Elias, tem agora a oportunidade de vir a ele. Elias não irá a Acabe. T3 277.2

Com espanto misturado com terror, o rei ouve a mensagem de que Elias, a quem ele teme e odeia, veio para encontrá-lo. Há muito que ele procurara o profeta para que pudesse destruí-lo, e sabe que Elias não exporia a vida para vir ter com ele a menos que estivesse protegido, ou com alguma denúncia terrível. Ele se lembra do braço ressequido de Jeroboão e decide que não é seguro levantar a mão contra o mensageiro de Deus. E com temor e tremor, e com grande comitiva e impressionante exibição de armas, ele se apressa para encontrar-se com Elias. E ao encontrar face a face o homem que há tanto procurara, ele não ousa feri-lo. O rei, tão irascível e cheio de tanto ódio contra Elias, parece fraco e desarmado em sua presença. Ao encontrar o profeta, ele não pode evitar de falar a linguagem de seu coração: “És tu o perturbador de Israel?” 1 Reis 18:17. Elias, indignado e cheio de zelo pela honra e glória de Deus, responde à acusação de Acabe com ousadia: “Eu não tenho perturbado a Israel, mas tu e a casa de teu pai, porque deixastes os mandamentos do Senhor.” 1 Reis 18:18. T3 278.1

O profeta, como mensageiro de Deus, tinha reprovado os pecados do povo, invocando sobre eles os juízos de Deus por causa de sua iniqüidade. E agora, de pé sozinho em inocência consciente, firme na sua integridade, cercado por uma comitiva de homens armados, Elias não demonstra timidez, nem demonstra a menor reverência ao rei. O homem com quem Deus tinha conversado, e que tem uma clara percepção de como Deus considera o homem em sua depravação pecaminosa, não tem desculpa a apresentar a Acabe nem homenagem a lhe prestar. Como mensageiro de Deus, Elias agora ordena e Acabe imediatamente obedece como se Elias fosse o rei e ele o súdito. T3 278.2