História da Redenção

2/232

Capítulo 1 — A queda de Lúcifer

Lúcifer no Céu, antes de sua rebelião foi um elevado e exaltado anjo, o primeiro em honra depois do amado Filho de Deus. Seu semblante, como o dos outros anjos, era suave e exprimia felicidade. A testa era alta e larga, demonstrando grande inteligência. Sua forma era perfeita, o porte nobre e majestoso. Uma luz especial resplandecia de seu semblante e brilhava ao seu redor, mais viva do que ao redor dos outros anjos; todavia, Cristo, o amado Filho de Deus tinha preeminência sobre toda a hoste angélica. Ele era um com o Pai antes que os anjos fossem criados. Lúcifer invejou a Cristo, e gradualmente pretendeu o comando que pertencia a Cristo unicamente. HR 13.1

O grande Criador convocou as hostes celestiais, para na presença de todos os anjos conferir honra especial a Seu Filho. O Filho estava assentado no trono com o Pai, e a multidão celestial de santos anjos reunida ao redor dEles. O Pai então fez saber que por Sua própria decisão Cristo, Seu Filho, devia ser considerado igual a Ele, assim que em qualquer lugar que estivesse presente Seu Filho, isto valeria pela Sua própria presença. A palavra do Filho devia ser obedecida tão prontamente como a palavra do Pai. Seu Filho foi por Ele investido com autoridade para comandar as hostes celestiais. Especialmente devia Seu Filho trabalhar em união com Ele na projetada criação da Terra e de cada ser vivente que devia existir sobre ela. O Filho levaria a cabo Sua vontade e Seus propósitos, mas nada faria por Si mesmo. A vontade do Pai seria realizada nEle. HR 13.2

Lúcifer estava invejoso e enciumado de Jesus Cristo. Todavia, quando todos os anjos se curvaram ante Jesus reconhecendo Sua supremacia e alta autoridade e direito de governar, ele curvou-se com eles, mas seu coração estava cheio de inveja e rancor. Cristo tinha sido introduzido no especial conselho de Deus na consideração de Seus planos, enquanto Lúcifer não participara deles. Ele não compreendia, nem lhe fora permitido conhecer, os propósitos de Deus. Mas, Cristo era reconhecido como o soberano do Céu, Seu poder e autoridade eram os mesmos de Deus. Lúcifer pensou em si mesmo como o favorito entre os anjos no Céu. Tinha sido grandemente exaltado, mas isto não despertou nele louvor e gratidão ao seu Criador. Aspirava à altura do próprio Deus. Gloriava-se na sua altivez. Sabia que era honrado pelos anjos. Tinha uma missão especial a executar. Tinha estado perto do grande Criador e o resplendor incessante da gloriosa luz que cercava o eterno Deus tinha brilhado especialmente sobre ele. Pensava como os anjos tinham obedecido a seu comando com prazeroso entusiasmo. Não era seu vestuário belo e brilhante? Por que devia Cristo ser assim honrado ante ele? HR 14.1

Ele deixou a imediata presença do Pai, insatisfeito e cheio de inveja contra Jesus Cristo. Dissimulando seu real propósito, convocou as hostes angélicas. Introduziu seu assunto, que era ele mesmo. Como alguém agravado, relatou a preferência que Deus dera a Jesus em prejuízo dele. Contou que dali em diante toda a doce liberdade que os anjos tinham gozado estava no fim. Pois não havia sido posto sobre eles um governador, a quem deviam de agora em diante render honra servil? Declarou que os tinha reunido para assegurar-lhes que ele não mais se submeteria à invasão dos direitos seus e deles; que nunca mais ele se prostraria ante Cristo; que assumiria a honra que lhe devia ter sido conferida e que seria o comandante de todos aqueles que se submetessem a segui-lo e obedecer a sua voz. HR 14.2

Houve controvérsia entre os anjos. Lúcifer e seus simpatizantes porfiavam por reformar o governo de Deus. Estavam descontentes e infelizes porque não podiam perscrutar Sua insondável sabedoria e averiguar o Seu propósito em exaltar Seu Filho e dotá-Lo com tal ilimitado poder e comando. Rebelaram-se contra a autoridade do Filho. HR 15.1

Os anjos que eram leais e sinceros procuraram reconciliar este poderoso rebelde à vontade de seu Criador. Justificaram o ato de Deus em conferir honra a Seu Filho, e com fortes razões tentaram convencer Lúcifer que não lhe cabia menos honra agora, do que antes que o Pai proclamasse a honra que Ele tinha conferido a Seu Filho. Mostraram-lhe claramente que Cristo era o Filho de Deus, existindo com Ele antes que os anjos fossem criados, que sempre estivera à mão direita de Deus, e Sua suave, amorosa autoridade até o presente não tinha sido questionada; e que Ele não tinha dado ordens que não fossem uma alegria para a hoste celestial executar. Eles insistiam que o receber Cristo honra especial de Seu Pai, na presença dos anjos, não diminuía a honra que Lúcifer recebera até então. Os anjos choraram. Ansiosamente tentaram levá-lo a renunciar a seu mau desígnio e render submissão ao Criador; pois até então tudo fora paz e harmonia, e o que podia ocasionar esta voz discordante, rebelde? HR 15.2

Lúcifer recusou ouvi-los. Então voltou-se dos anjos leais e sinceros, denunciando-os como escravos. Estes anjos, leais a Deus, ficaram pasmados ao verem que Lúcifer era bem-sucedido em seu esforço para incitar a rebelião. Prometia-lhes um novo e melhor governo do que então tinham, no qual todos seriam livres. Grande número expressou seu propósito de aceitá-lo como líder e principal comandante. Ao ver que seus primeiros passos foram coroados de sucesso, vangloriou-se de que ainda devia ter todos os anjos ao seu lado, e que seria igual ao próprio Deus e que sua voz autoritária seria ouvida no comando de toda a hoste celestial. De novo os anjos leais advertiram-no, alertando-o quanto às conseqüências se ele persistisse; que Aquele que pôde criar os anjos tinha poder para retirar-lhes toda a autoridade e de alguma assinalada maneira punir-lhes a audácia e terrível rebelião. E pensar que um anjo pudesse resistir à Lei de Deus que era tão sagrada como Ele mesmo! Exortaram os rebeldes a cerrar os ouvidos às razões fraudulentas de Lúcifer, advertindo-o e a todos os que tinham sido afetados que fossem a Deus e confessassem seu engano, mesmo por admitirem um pensamento que punha em dúvida Sua autoridade. HR 16.1

Muitos dos simpatizantes de Lúcifer estavam inclinados a ouvir o conselho dos anjos leais e se arrependeram de sua insatisfação, e de novo receberam a confiança do Pai e Seu amado Filho. O grande rebelde declarou então que estava familiarizado com a lei de Deus e se se submetesse a uma obediência servil seria despojado de sua honra. Nunca mais poderia ser incumbido de sua exaltada missão. Disse que ele mesmo e os que com ele se uniram tinham ido muito longe para voltarem, que arrostaria as conseqüências, que nunca mais se prostraria para adorar servilmente o Filho de Deus; que Deus não perdoaria, e que agora eles precisavam garantir sua liberdade e conquistar pela força a posição e autoridade que não lhes fora concedida voluntariamente.* HR 16.2

Os anjos leais apressaram-se a relatar ao Filho de Deus o que acontecera entre os anjos. Acharam o Pai em conferência com Seu Filho amado, para determinar os meios pelos quais, para o bem-estar dos anjos leais, a autoridade assumida por Satanás podia ser para sempre retirada. O grande Deus podia de uma vez lançar do Céu este arquienganador; mas este não era o Seu propósito. Queria dar aos rebeldes uma oportunidade igual para medirem sua força e poder com Seu próprio Filho e Seus anjos leais. Nesta batalha cada anjo escolheria seu próprio lado e seria manifesto a todos. Não teria sido seguro tolerar que qualquer que se havia unido a Satanás na rebelião, continuasse a ocupar o Céu. Tinham aprendido a lição de genuína rebelião contra a imutável Lei de Deus e isto era irremediável. Se Deus tivesse exercido Seu poder para punir este sumo rebelde, os anjos desafetos não se teriam revelado; portanto, Deus tomou outra direção, pois queria manifestar distintamente a toda hoste celestial Sua justiça e juízo. HR 17.1